Braga Netto confronta Mauro Cid em acareação sobre trama golpista e o chama de “mentiroso”

24 junho 2025 às 17h30

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Advogados dos réus acusados de tramar um golpe de Estado afirmaram, após as acareações no Supremo Tribunal Federal (STF), que o tenente-coronel Mauro Cid mentiu na delação à Polícia Federal (PF). Cid, que é ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assinou acordo de delação premiada.
As defesas de Bolsonaro e de Walter Braga Netto afirmaram que Cid não conseguiu manter a versão diante de Alexandre de Moraes. A defesa do tenente-coronel, por outro lado, reitera que ele falou a verdade nos depoimentos.
Cid foi questionado pela defesa de Braga Netto a respeito de um suposto repasse de dinheiro para financiar o plano conhecido como “Punhal Verde e Amarelo”. Cid havia afirmado, em depoimentos anteriores, que Braga Netto teria entregado a ele um pacote com dinheiro em uma caixa de vinho. O general questiona essa afirmação, e nega ter envolvimento com a trama.
O defensor do general alega que Cid teria apresentado uma terceira versão de como a suposta entrega de dinheiro havia sido feita. Braga Netto chegou a chamar Cid de “mentiroso” durante a acareação.
“O Mauro Cid ainda se contradisse mais ainda [na acareação]. Estava constrangido, estava de cabeça baixa. Agora, ele trouxe um terceiro lugar que poderia ter sido entregue o dinheiro. Uma hora eu perguntei: ‘Você tem prova disso? Cadê a prova da entrega desse dinheiro?’. Ele não tem prova de nada”, declarou o advogado.
Ambos são réus na ação penal que apura a participação do chamado “núcleo crucial” da organização criminosa que buscava a ruptura democrática no país. Mauro Cid possui um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, o que torna seu depoimento ainda mais relevante.
A acareação é um procedimento jurídico no qual pessoas com depoimentos contraditórios são confrontadas para esclarecer pontos controversos importantes para o processo judicial. Durante essa audiência, são feitas perguntas para que os envolvidos possam esclarecer divergências em suas declarações, contribuindo para a busca da verdade.
Este é um procedimento previsto na legislação penal brasileira, podendo ocorrer entre réus, testemunhas ou entre réus e testemunhas. No caso em questão, o registro da acareação será feito por escrito e as audiências não serão transmitidas ao público.
As acareações foram solicitadas pelas defesas de Anderson Torres e Braga Netto durante a fase de diligências adicionais, logo após os interrogatórios que aconteceram nos dias 9 e 10 de junho.
A defesa de Anderson Torres argumentou que o confronto era necessário para esclarecer contradições entre seu depoimento e o do general Freire Gomes, enquanto a defesa de Braga Netto buscou a acareação para tratar das divergências entre os depoimentos de Braga Netto e Mauro Cid.
O ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou esses procedimentos na terça-feira, 17. O processo penal em análise no STF envolve oito réus do chamado “núcleo crucial”, acusados de liderar uma organização criminosa que planejou o golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições de 2022.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República foi apresentada em fevereiro de 2025 e admitida pela Corte em março. O caso já passou pela fase de instrução processual e atualmente está na fase de diligências adicionais, após o término dos interrogatórios dos réus.
Após essa etapa, o processo seguirá para as alegações finais, quando acusação e defesa apresentarão seus memoriais, documentos que resumem os argumentos para a condenação ou absolvição dos réus.
Posteriormente, será marcada a data do julgamento final, quando os ministros do STF decidirão se o grupo deve ser condenado ou absolvido. Caso sejam absolvidos, o processo será arquivado. Se condenados, serão fixadas as penas para cada um dos réus. Em ambas as situações, ainda cabem recursos.
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