O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), minimizou o impacto do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no contexto do inquérito da Polícia Federal que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado. Em um evento em São Paulo, na noite de sexta-feira, 23, Caiado destacou que é preciso focar as atenções em outras prioridades.

Para ele, o caso não alteraria seus planos nem as suas preocupações com o governo estadual. “A vida continua. Agora tem dois anos que é só essa discussão no Brasil. O governo não tem uma proposta. Eu sou governador do estado. Se eu fosse ficar preocupado com as pequenas coisas, eu não governaria”, disse Caiado, durante a abertura da 55ª Convenção da Confederação Israelita do Brasil (Conib), realizada no Clube A Hebraica, em São Paulo.

A declaração reflete a postura de Caiado, que segue firme em seus planos de lançar-se à presidência em 2026, mesmo em meio a um cenário político turbulento e com o ex-presidente Bolsonaro, seu aliado, sendo alvo de investigações. O governador goiano confirmou que formalizará sua candidatura depois do Carnaval de 2025 e que iniciará uma série de visitas pelo interior de Goiás já em janeiro do próximo ano, dando continuidade ao seu projeto político.

A decisão de lançar-se à presidência é um reflexo de suas ambições políticas, que se consolidaram especialmente após sua reeleição em Goiás, onde consolidou apoio popular, além de ter um histórico de relação estreita com o presidente Bolsonaro.

Apesar de sua aliança com Bolsonaro, Caiado parece não se preocupar com eventuais repercussões políticas do indiciamento do ex-presidente, embora a relação entre ambos tenha sido marcada por tensões nas eleições municipais de Goiânia, em 2020. Nesse pleito, Bolsonaro apoiou Fred Rodrigues (PL), candidato à prefeitura da capital goiana, que foi derrotado por Sandro Mabel, indicado por Caiado.

Para o governador de Goiás, esse episódio não representa uma ruptura com Bolsonaro, e ele não vê problemas em manter essa parceria, independentemente de seus próprios planos eleitorais para 2026. “Todos sabem que eu sempre apoiei o Bolsonaro, mesmo quando ele lançou um candidato contra mim em Goiânia, mas fomos vitoriosos”, afirmou, destacando que, em sua opinião, é o ex-presidente quem deveria ser questionado sobre eventuais desentendimentos políticos.

O evento também contou com a presença de outros governadores e figuras políticas, como o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que também se manifestou sobre o indiciamento de Bolsonaro. Castro, que tem se alinhado a Bolsonaro e outros líderes de direita, declarou não acreditar que o ex-presidente tenha cometido qualquer ato que configure uma tentativa de golpe de Estado. Para ele, a investigação é uma questão que será esclarecida pela Justiça.

Castro afirmou que o que ocorreu foram “baderneiros” que devem ser punidos, e que confia no trabalho da Procuradoria-Geral da República (PGR), que, segundo ele, agirá com rigor em relação ao ex-presidente, dado o seu status de chefe de Estado.

Além de Caiado e Castro, o evento também contou com a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outras autoridades, como o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Tarcísio, que tem evitado a imprensa desde a polêmica declaração sobre a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) nas eleições, limitou-se a reafirmar seu apoio a Israel e à comunidade judaica, destacando a importância da solidariedade internacional diante do conflito com o Hamas.

Durante a cerimônia, o presidente da Conib, Claudio Lottenberg, ressaltou a presença de figuras políticas como uma demonstração de apoio à comunidade judaica, mas fez uma observação sutil ao não convidar o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), destacando que, “neste momento, o futuro presidente já estava presente”. Embora essa declaração tenha gerado alguma repercussão, ela também evidenciou as divisões políticas presentes no cenário atual.

O evento também foi uma oportunidade para discutir temas como a tragédia climática no Rio Grande do Sul, onde a atuação da comunidade judaica foi destacada, especialmente na ajuda às vítimas das chuvas que devastaram a região em maio deste ano.

O apoio a Israel, tanto por Caiado quanto por Castro e Tarcísio, se alinha ao posicionamento tradicional da direita brasileira, especialmente diante da escalada de violência no Oriente Médio. Os governadores ressaltaram a importância de uma postura firme em relação ao apoio a Israel, diante da intransigência de outros líderes mundiais que não condenam o Hamas com a mesma veemência.

A troca de declarações no evento da Conib refletiu não só o clima político tenso, mas também a preparação de lideranças políticas para a corrida presidencial de 2026. A postura de Caiado em relação a Bolsonaro é apenas uma das muitas questões que marcarão os próximos anos, à medida que o governador busca consolidar sua imagem como candidato à presidência.

Enquanto isso, o ex-presidente segue em meio a um turbilhão de investigações, e o cenário político brasileiro parece seguir sem grandes mudanças, ao menos no que diz respeito ao apoio de figuras como Caiado e Castro, que continuam alinhados com o legado de Bolsonaro.

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