5 melhores livros sobre Ciência para explicar a vida e o universo

13 agosto 2025 às 10h44

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por Bárbara Noleto, Giovanna Campos e Italo Wolff
O Gene Egoísta — Richard Dawkins, 1976
Quando foi publicado, em 1976, O Gene Egoísta foi polêmico e revolucionário. Na época, havia divisão entre os biólogos que acreditavam que a seleção natural e a evolução atuavam principalmente no nível do indivíduo e aqueles que descreviam os processos no nível das espécies. A visão individualista explicava a seleção sexual, em que os exemplares competem com seus pares para propagar seus genes; e a visão de grupo explicava o altruísmo presente em muitas espécies.
Com prosa simples, Richard Dawkins uniu as visões propondo uma terceira alternativa inovadora. Seu modelo afirma que a seleção e a evolução acontecem no nível dos genes. Por exemplo: os indivíduos são altruístas porque seus genes estão presentes em outros indivíduos também (em especial os parentes — quanto mais próximo o parente, mais cuidados são devotados).
A narrativa histórica da evolução dos genes explica outras questões interessantes no caminho. O Gene Egoísta justifica, por exemplo, a razão de os espermatozoides serem pequenos e os óvulos grandes em todas as espécies; a razão de predadores e presas coexistirem; as razões por trás das estratégias de se ter muitos ou poucos descendentes. O livro usa ainda a teoria dos jogos (o dilema do prisioneiro) para o comportamento de agredir ou cooperar.
Ao descrever os organismos (incluindo os humanos) como veículos, máquinas construídas pelos genes por interesse da propagação dos próprios genes, Richard Dawkins conseguiu ao mesmo tempo apaziguar discussões e incendiar o campo com novas ideias. Escrito de forma rigorosa mas amigável aos leigos, o biólogo usa matemática e estatística para escapar da irritação causada ao público pela sugestão de que os indivíduos têm menos livre arbítrio do que gostam de acreditar. É ainda importante por ter cunhado o termo meme, embora a ideia tenha sido modificada na era da internet.

Armas, Germes e Aço — Jared Diamond, 1997
Um livro que explica por que o mundo é como é — como as nações ricas ficaram ricas, por que os colonizados não exploraram os colonizadores, quais tendências organizaram a geopolítica da forma como vimos ao longo da história. Com enorme ambição, Jared Diamond recorre a diversas disciplinas (economia, história, geografia, ciências políticas, biologia, análise do comportamento) com precisão e clareza que lhe renderam o Prêmio Pulitzer de 1998.
Ao narrar a evolução do mundo moderno, Armas Germes e Aço desmonta preconceitos e teorias racistas que são repetidas ainda hoje. Diamond explica como civilizações do Crescente Fértil começaram na frente por ter acesso a um conjunto de vegetais nutritivos e fáceis de domesticar que não existiu em outra parte do mundo. Da Europa à Ásia, essas culturas vegetais puderam ser espalhadas pelo fato de que o eixo desses continentes é mais latitudinal, quer dizer, recebe incidência solar semelhante. Além disso, fora da Europa e Ásia, o único animal domesticável era a lhama, que ficava restrita a uma parte dos Andes. Além de ajudar na economia, viver junto com cães, gatos, cavalos, ovelhas, cabras, porcos e gado fez com que vírus e bactérias que se hospedavam nesses animais circulassem também entre os humanos, gerando neles a resistência imunológica. Esse fator explica o fato de a varíola ter sido mortal para os indígenas, mas não para os europeus que a levaram para a América.
O livro foi criticado por cometer “determinismo geográfico” da mesma forma como O Gene Egoísta foi criticado por sugerir que os humanos não têm tanta agência sobre suas próprias ações quanto gostam de acreditar. Entretanto, desde 1997, nem uma outra explicação tão abrangente, lógica e compreensível ao público leigo foi apresentada
A Estrutura das Revoluções Científicas — Thomas Kuhn, 1962

Segundo o físico, filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn (1922-1996), a maior parte da pesquisa científica consiste em buscar pecinhas de quebra-cabeças. Por seu brilhante livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, Thomas Kuhn ficou conhecido como um dos maiores nomes da epistemologia ao confrontar noções comuns do público leigo sobre a atividade de pesquisa, e que muitas vezes são incorporadas pelos próprios cientistas.
Uma dessas ideias comuns é a de que cientistas buscam por descobertas; o momento “eureka!”; a observação de uma anomalia que rompe com todo o conhecimento normal. Esses momentos existem, mas raramente são o objeto da busca das pesquisas, e raramente causam euforia em pesquisadores. Mais frequentemente causam confusão e irritação. Na realidade, a pesquisa que rende resultados muito inesperados é geralmente a raiz de uma grande crise nas áreas do conhecimento impactadas.
A razão é justamente o fato de que, durante a maior parte do tempo, cientistas estão montando um quebra-cabeças. Eles testam diferentes peças (hipóteses) que podem se encaixar em uma lacuna para ajudar a montar a imagem esperada daquele jogo de quebra-cabeças. Se seguirem as regras do jogo, procurando por peças com cores e formatos prováveis para as lacunas (isto é, se os cientistas embasarem-se nos métodos e práticas da ciência em vigor), os resultados vão formar a imagem prevista (vão confirmar o conhecimento previamente acumulado e adicionar robustez à teoria).
Thomas Kuhn ressaltou em “A Estrutura das Revoluções Científicas” um desentendimento do senso comum sobre a prática científica que é ainda mais agressivo para os leigos. Por estranho que pareça, as revoluções não são cumulativas. Isto é, mudanças na forma de ver o mundo não são construídas pouco a pouco. Na verdade, são fruto de uma dramática mudança na visão de mundo imposta por fatos inexplicáveis para as teorias antigas. Esses fatos inexplicáveis só podem ser descobertos pelo minucioso olhar de quem já espera encontrar algo e por quem sabe como e onde procurar.
O Despertar do Universo Consciente — Marcelo Gleiser, 2024

Em O Despertar do Universo Consciente, Marcelo Gleiser transforma a narrativa científica do universo em uma reflexão profunda sobre quem somos e para onde vamos. Ao recontar a história cósmica — do Big Bang à vida na Terra —, ele propõe que nos reconheçamos como parte de uma única e longa história, em que cada escolha humana influencia os próximos capítulos. O livro rompe com a visão fragmentada e individualista, defendendo que o futuro não será nem utópico nem distópico por natureza, mas fruto direto de nossas ações e decisões coletivas. Essa abordagem biocêntrica — que vê a vida e o planeta como sagrados — dá ao texto uma dimensão filosófica que vai além da ciência.
O autor percorre a trajetória do Homo sapiens , desde os primeiros passos na evolução, quando desenvolvemos linguagem, ferramentas e cultura, até o momento em que passamos de nômades a sociedades agrícolas, evoluindo radicalmente o ambiente. Gleiser não ignora o lado destrutivo dessa história: a dessacralização da Terra, o avanço da exploração de recursos e a chegada à chamada Sexta Extinção. Ao mesmo tempo, lembra que já fomos capazes de revoluções transformadoras e que ainda podemos redirecionar nosso curso, adotando uma postura de reconexão com a natureza e de responsabilidade compartilhada pela biosfera.
O que torna a leitura tão marcante é a união de rigor científico, sensibilidade histórica e urgência moral. Gleiser apresenta uma “visão pós-copernicana”, na qual o reconhecimento de que não estamos no centro do universo é apenas o primeiro passo; o próximo é compreender que nossa sobrevivência depende da preservação do equilíbrio da vida na Terra. Ao propor um “Manifesto para o futuro da humanidade”, o autor não entrega respostas prontas, mas inspira um engajamento real. Por isso, o livro encanta: ele amplia a consciência cósmica do leitor e, ao mesmo tempo, convoca à ação, transformando a curiosidade científica em compromisso com o bem comum.
Breves Respostas para Grandes Questões — Stephen Hawking, 2018

Stephen Hawking deixou ao mundo não apenas uma obra científica extensa, mas também um legado de curiosidade e provocação intelectual. Em Breves Respostas para Grandes Questões, publicado postumamente, o físico britânico reúne suas reflexões derradeiras sobre alguns dos maiores mistérios do universo.
O livro é estruturado em dez capítulos, cada um formulado como uma pergunta direta: Existe um Deus? Como tudo começou? Existe vida inteligente além da Terra? Podemos prever o futuro? O que há dentro de um buraco negro? Viagem no tempo é possível? Sobreviveremos na Terra? Deveríamos colonizar o espaço? A inteligência artificial vai nos superar? Como moldaremos o futuro?
A proposta de Hawking é ambiciosa: traduzir conceitos complexos da física, da cosmologia e da tecnologia para uma linguagem acessível, sem abandonar a profundidade científica. O autor combina rigor teórico com metáforas e exemplos que aproximam o leitor leigo do pensamento científico, sem deixar de provocar reflexões éticas e existenciais. Em meio a explicações sobre o Big Bang, buracos negros ou a possibilidade de vida extraterrestre, surgem alertas contundentes sobre riscos que a humanidade enfrenta — da crise climática ao uso irresponsável da inteligência artificial.
A leitura é marcada por um tom pessoal, resultado do envolvimento da família e de colaboradores próximos na organização dos textos deixados pelo físico. O prefácio do ator Eddie Redmayne, que interpretou Hawking no cinema, a introdução do físico Kip Thorne e o posfácio de Lucy Hawking ampliam o sentido de despedida e homenagem. Ao longo dos capítulos, percebe-se o esforço de encorajar novas gerações a fazerem perguntas e buscar respostas, lembrando que a ciência é, antes de tudo, uma jornada coletiva de curiosidade e descoberta.
Mais do que um “amontoado” de respostas, Breves Respostas para Grandes Questões funciona como um testamento intelectual e moral. Ao unir ciência, filosofia e uma visão otimista sobre o potencial humano, Hawking nos convida a pensar no futuro não apenas como um destino, mas como algo que podemos — e devemos — moldar.