Titular da DEMA nega negligência em possível crime ambiental em fazenda às margens do Rio Araguaia
12 outubro 2024 às 10h55
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O delegado Luziano Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (DEMA), denunciou em entrevista exclusiva ao Jornal Opção que as atividades ilegais em torno do Lago Rico, um afluente do Rio Araguaia, constituem um crime grave. Ele fez alusão aos diversos crimes ambientais que ocorrem na propriedade de José Batista Sobrinho, fundador da JBS, em Aruanã, Goiás. “Estamos fazendo nosso trabalho; inquéritos estão sendo elaborados e pessoas estão sendo indiciadas. Não somos omissos”, afirmou o delegado.
Luziano destacou que, assim que tomou conhecimento das possíveis irregularidades por meio de uma matéria publicada no Jornal Opção, imediatamente encaminhou a questão à Polícia Federal (PF), uma vez que envolve captação de água, a qual requer autorização da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Ele explicou que, como a PF já abriu um inquérito para investigar os fatos, não é necessária outra investigação pela DEMA. No entanto, se a PF identificar questões que estejam sob a competência estadual, a DEMA tomará as medidas adequadas. O delegado reforçou que não há dificuldades em indiciar qualquer responsável. “Já produzimos inquéritos indiciando várias pessoas em regiões como Jussara, onde um grande produtor rural captava água do Rio Araguaia sem a devida autorização. Esses inquéritos estão em tramitação na Justiça”, revelou.
Ele garantiu que a DEMA não está omissa, mesmo que o trabalho seja lento e pareça “enxugar gelo”. “Acredito muito no nosso trabalho de conscientização. Não adianta apenas chegar com um discurso de punição; precisamos dialogar e fazer com que as pessoas compreendam a gravidade do problema. É necessário mudar a cultura dessas pessoas”, enfatizou. Luziano ainda defendeu a criação de políticas voltadas para a construção de reservatórios de água. “Por que não criar reservatórios nessas propriedades?”, questionou.
Em relação ao Rio Araguaia, a DEMA lançou recentemente a operação Grito do Rio. Segundo o delegado, “o Araguaia está gritando por socorro”. Ele alertou que, se não houver uma ação imediata, o rio pode secar. “Precisamos ouvir o rio; ele está clamando por ajuda. A destruição é sem precedentes, e já existem milhares de autos de infração”, lamentou.
O delegado informou que o desmatamento devastador às margens do Lago Rico chega a mais de 300 hectares de Área de Preservação Permanente (APP), o equivalente a 420 campos de futebol. Ele explicou que, ao contrário do que muitos pensam, não são os rios que abastecem os lagos, mas sim os lagos que fornecem água para os rios. “Esses lagos são verdadeiros mananciais que fornecem água constantemente”, observou.
O delegado ressaltou que a retirada das matas ciliares dos rios e lagos aumenta significativamente a possibilidade de assoreamento e formação de voçorocas, levando ao desmoronamento das encostas, entupindo as minas e, consequentemente, causando a seca e a extinção de reservatórios de água.
O titular da Dema ainda alertou que o descaso ambiental está presente em praticamente todos os lagos de Goiás. Ele mencionou o caso de Nova Crixás, onde um braço do Rio Araguaia secou completamente. “Quanto custam o Lago Rico, o Lago Luíz Alves, o Lago dos Tigres em Britânia e o Rio Água Limpa, que tem a água mais limpa do planeta, mas que, infelizmente, está sendo desmatado e cercado por pivôs centrais de irrigação?”, questionou.
O Rio Água Limpa é um destino turístico importante no Vale do Araguaia, localizado no noroeste de Goiás, e forma parte do Lago dos Tigres, um dos maiores lagos naturais da América Latina, com mais de 37 km de águas doces e cristalinas. Luziano enfatizou que a retirada de água do lago para irrigação contribui para o seu esvaziamento, defendendo que esses lagos deveriam ser explorados de forma turística. “Estamos destruindo nossas belezas naturais. O Rio Araguaia possui cachoeiras, não se resume apenas a praias”, afirmou.
O delegado também destacou as irregularidades e crimes ambientais presentes nas margens dos rios e lagos, citando um caso específico de captação de água do Lago Luíz Alves, que tem autorização apenas para retirar água do rio. “Essa irrigação é feita por inundação, o que é um absurdo atualmente, quando enfrentamos escassez de água”, criticou.
Por fim, o delegado conclamou a população a colaborar com as autoridades, denunciando supostos crimes ambientais. “Quando me perguntam quantos policiais tenho à disposição, eu digo que tenho milhares. Por isso, peço que as pessoas não deixem de denunciar, como no caso do vídeo que expôs a situação do Lago Rico”, pediu.
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