Wanderlei enfrenta crise na composição da chapa majoritária
10 julho 2022 às 00h00
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Possibilidade de adesão da Professora Dorinha (UB) desagrada a grupo da senadora Kátia Abreu (pP)
A menos de um mês do prazo final das convenções os pré-candidatos intensificam as negociações em busca da composição da chapa majoritária ideal. O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), após assumir o comando do Palácio Araguaia, conseguiu rapidamente montar uma estrutura partidária invejável que soma pelo menos quatro grandes partidos – Republicanos, PP, PSD, PDT – e mais dois – pequenos PRTB e Avante. E pode contar ainda com adesão do União Brasil, da deputada Professora Dorinha. O governador conseguiu reunir ainda 22 dos 24 deputados estaduais, 7 dos 8 deputados federais e 2 senadores.
Essa engrenagem política que aglutina quase todos os parlamentares em torno do governo está se tornando uma grande dor de cabeça para o pré-candidato a reeleição. É que muitos deputados que apoiam seu governo integram partidos que estão na base de outros pré-candidatos. Pelo menos seis deputados – Vanda Monteiro (UB), Cláudia Lelis (PV), Ivory de Lira (PCdoB) Luana Ribeiro (PCdoB), Jair Faria (PL) e Amália Santana (PT) – vivem esta situação que gera dubiedade. Dizem que apoiam o projeto dos seus partidos com candidatura própria a governador, mas não desgrudam do atual ocupante do Palácio Araguaia.
Na semana passada ficou evidente a crise interna na base do governo. Pelo menos dois partidos, PRTB e Avante, e o senador Irajá Abreu, que preside o PSD, anunciaram apoio ao pré-candidato Osires Damaso (PSC). O manifesto dos partidos e do senador Irajá Abreu obrigou a senadora Kátia Abreu (pP) a vir a público se explicar. Mais do que isso, ela, em seu pronunciamento sobre o assunto, fez questão de afastar qualquer entendimento de que se trata de alguma manobra para fortalecê-la. Mas foi justamente isso que ficou parecendo.
A explicação da senadora por si só é muito interessante, pois, ao mesmo tempo em que tenta desfazer qualquer interpretação que leve a ideia de insatisfação do grupo com entendimentos políticos para a composição da chapa majoritária, deixa claro que respeita a decisão do filho, Irajá Abreu (PSD), e dos partidos de seu grupo, PRTB e Avante. Isso significa praticamente dizer que sua base de apoio estaria dividida. Algo inadmissível, pois jamais vai acontecer, principalmente porque estão em jogo mais oito anos de mandato no Senado. O sucesso eleitoral do clã se deve em muito à união na busca dos objetivos. Todos estarão juntos em torno da reeleição da senadora, portanto, estarão todos no palanque onde ela estiver. A saída de alguns prenuncia início de rompimento.
Deve-se ressaltar que os dois partidos da base do governo que aderiram ao projeto de Damaso, segundo seus dirigentes, não estão rompendo com o clã Abreu. Pelo contrário, estão se mobilizando no sentido de fortalecer ainda mais a aliança da qual fazem parte. Pode-se concluir que esses partidos não deixaram a base do governo por decisão própria: foram orientados a “esquentar” a pré-candidatura de Damaso. Não é um ato isolado de um partido pequeno em busca de visibilidade. É um ato planejado, estrategicamente, para alcançar o máximo do resultado desejado. E que resultado seria esse?
Tudo que se pode concluir desta manifestação é que há insatisfação no grupo da senadora Kátia Abreu. E por que esta insatisfação? Só uma coisa a deixaria tão irritada ao ponto de imaginar um rompimento: ser preterida na escolha para concorrer ao Senado. É possível que a senadora não vá romper, mesmo que a vaga do Senado seja preenchida por outro nome que possa agregar mais à chapa governista.
O que a senadora não vai abrir mão, no entanto, é de lutar para que esse processo leve em consideração o peso de seu grupo na base do governo, que é considerável. É essa a fatura que a senadora deseja cobrar do governador, antes da indicação do candidato ao Senado.
Kátia Abreu não tem nenhum interesse no enfraquecimento da pré-candidatura do governador Wanderlei Barbosa, pelo contrário. Só ao seu lado e com o governador reeleito ela tem chances reais de conquistar o terceiro mandato consecutivo para o Senado Federal.
Para que o governador não diga que não compreendeu o recado, Kátia deixa claro em sua manifestação ao tratar do assunto que “nós temos 34 candidatos a deputado estadual e federal, uma candidata ao Senado; 33 prefeitos, vários ex-prefeitos, dezenas de líderes e vereadores que gostariam também de participar dessa decisão”.
É bom ressaltar que a possibilidade de adesão do UB e da professora Dorinha não é nenhuma novidade. Deputados dos partidos fazem parte da bancada governista e a própria deputada Dorinha também se inclui na base do governo. Dorinha também nunca deu declaração afirmando que seria pré-candidata ao lado de Dimas. Quem tem afirmado que esse acordo já teria sido selado são aliados do postulante do PL ao governo.
Outro dado importante é que desde o início do governo Wanderlei Barbosa parte dos seus aliados demonstram resistência à indicação de Kátia Abreu como pré-candidata ao Senado. O próprio presidente da Assembleia Legislativa Toinho Andrade (Republicanos) chegou a anunciar a articulação de um movimento para indicar o nome da Professora Dorinha, o que obrigaria Kátia Abreu a aceita ser candidata a outro cargo – deputada federal ou até deputada estadual.
A ideia é defendida inclusive por aliados da senadora que avaliam que ela não merece mais uma derrota. Em 2018, na eleição suplementar para governador a senadora ficou em quarto lugar na disputa pelo Palácio Araguaia, com 15,66% dos votos. E que, para evitar isso, dizem que Kátia poderia ser candidata a deputada estadual, com certeza seria eleita e poderia assumir a presidência do Parlamento, ocupando lugar de destaque na linha sucessória.
Quanto a Dorinha, para onde ela pender pode ajudar a vencer as eleições. Tudo indica que sua opção seja reforçar o projeto de reeleição do governador Wanderlei Barbosa e não na oposição, como se tem aventado. A deputada tem demostrando alinhamento com o governador, pelo menos até aqui. O problema é que a vaga, como vimos, parece definida para a senadora Kátia Abreu (PP), a primeira liderança de peso a manifestar apoio ao governador. Como incluir Dorinha sem perder o clã Abreu? O dilema dos governistas que terão de fazer uma escolha.
O ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL) polariza a disputa com o governador Wanderlei Barbosa até na composição da chapa majoritária. Aliados do ex-prefeitos avaliam que o melhor lugar para Dorinha é na oposição ao lado de um candidato competitivo. Dizem que a deputada teria discurso para se eleger coerente com o sentimento dos seus eleitores que estão votando por mudança. Dimas que lidera as pesquisas até aqui possui estrutura partidária forte, liderada pelo PL e PMDB e conta como certo a adesão do União Brasil, comandado pela deputada Professora Dorinha, que ainda anunciou oficialmente sua posição no contexto estadual.
O grande articulador da pré-candidatura de Dimas é o senador Eduardo Gomes (PL), líder do governo no Congresso Nacional e que tem feito empenho para mobilizar prefeitos e líderes políticos em torno do ex-prefeito que aposta no discurso da mudança. Gomes apregoa que contra o improviso na administração, diz que o Estado “merece um governo de verdade”, que tenha projeto e capacidade de realização. Segundo ele, Dimas é o nome.
Ronaldo Dimas continua a busca por nomes representativos que possam agregar ao seu projeto. A deputada federal Dulce Miranda (MDB), cotada para ser vice declinou do convite e deve ser candidata à reeleição. Dimas conta ainda com o apoio do ex-governador Marcelo Miranda que mudou de planos e agora é (pré) candidato a deputado estadual. Um nome que agrega em função do trabalho realizado no Estado ao longo de três governos. Pode ser um dos deputados mais bem votados na história política do Tocantins.
Dos seis pré-candidatos ao governo do Estado – Ronaldo Dimas (PL), Laurez Moreira (PDT), Wanderlei Barbosa (Republicanos), Osires Damaso (PSC) e Dr. Luciano do Osvaldo Cruz (DC) – apenas o último já tem chapa majoritária composta. Dr. Luciano pretende concorrer com chapa pura, tendo como vice a empresária de Araguaína Luciane Mamedes (DC) e como pré-candidata ao Senado, a advogada Eula Angelin (DC).
Enquanto os líderes enfrentam crise na escolha da chapa majoritária, os pré-candidatos da terceira via, Paulo Mourão (PT) e Osires Damaso, vão conquistando novas adesões. Ainda é cedo para se comemorar. Tudo indica que essas movimentações sejam parte de um processo ainda maior e mais complexo e que não é conclusivo. O senador Irajá Abreu manifestou apoio a Damaso, mas não mencionou a adesão do PSD, que ele dirige. Os partidos do clã Abreu que aderiram ao projeto de Damaso foram apenas do Avante e PRTB que não faz nenhuma falta para a aliança governista.
A composição da chapa majoritária é uma etapa da campanha tão importante quando a escolha do partido e o programa de governo. A tendência é que haja afunilamento dos nomes colocados, o que pode mudar completamente o cenário da disputa.
Laurez Moreira (PDT) deve ser o primeiro pré-candidato a governador a desistir de disputar o cargo para se juntar a outro projeto, no caso, a reeleição do governador Wanderlei. O ex-prefeito já se filiou ao PDT mediante acordo com o Palácio Araguaia. Isto está claro desde as primeiras manifestações políticas, após mudança de partido. Antes de tomar alguma decisão Laurez se reúne com o governador.
A negociação inicial reservava ao pedetista a vaga de vice. O processo evolui e é provável que Laurez tenha perdido essa condição. O ex-prefeito deve aceitar um outro papel, secundário, talvez suplente de senador ou até mesmo coordenador-geral da campanha. O partido apresentará chapa completa de deputado federal e estadual, mas não há nenhuma obrigação do presidente da legenda disputar eleição.
Entre especulações, articulações e pretensões, algumas mudanças estão em curso. Os últimos acontecimentos mostram que não será fácil para Wanderlei Barbosa e Ronaldo Dimas montarem a chapa ideal. A legislação eleitoral em vigor e os interesses de grupos impedem entendimentos que representem de fato o sentimento do eleitor, que é votar num projeto capaz de promover um choque de gestão no governo do Estado. Até o dia cinco de agosto muita coisa ainda vai acontecer. É processo normal de depuração das eleições. O resto deixa por conta do eleitor.