A menos de 30 dias das eleições, a corrida pelo Palácio Araguaia apresenta um cenário bastante favorável ao governador e candidato à reeleição Wanderlei Barbosa (Republicanos). O candidato governista continua crescendo nas pesquisas de intenção de voto, enquanto seus adversários parecem estacionados, bem distante das projeções que esperavam alcançar. Retrato de um cenário em que a máquina estatal se sobrepôs, garantiu desenvoltura e visibilidade ao candidato governista, deixando os opositores batendo cabeça em busca de apoio para composição da chapa majoritária.

Nas últimas duas semanas, todas as pesquisas divulgadas, aplicadas por diferentes institutos, sob a encomenda de veículos e instituições diversas, apontam a liderança, com folga, do governador Wanderlei Barbosa, somando quase o dobro do segundo colocado, o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL), que até às convenções liderava a corrida. Deve-se enfatizar que Dimas liderou por muito tempo quando a sua candidatura era a única definida e, à medida que outros nomes surgiram, sua liderança foi se diluindo.

O ex-deputado Paulo Mourão (PT) e o senador Irajá Abreu (PSD) brigam pela terceira posição, com índice abaixo dos dois dígitos. Na altura dos acontecimentos, desempenho considerado fraco, principalmente para o petista Paulo Mourão que chegou a sonhar em chegar ao segundo turno.

Irajá entrou na disputa nos últimos momentos das convenções, numa manobra arriscada que praticamente inviabilizou a candidatura do deputado Osires Damaso (PSC), ao deixar de apoiá-lo para lançar para se lançar candidato. O quarto lugar na corrida, encostando no terceiro lugar, está de bom tamanho para quem entrou no processo de forma intempestiva, sem planejamento nem preparação das bases. O empate técnico é ruim para Paulo Mourão, que deixou ser alcançado por um projeto nitidamente improvisado de última hora.  

Nestas condições, observando os dados do momento, Wanderlei seria eleito no primeiro turno.

Um dado que chama atenção nos levantamentos é a trajetória crescente do governador Wanderlei Barbosa, que se mantém ascendente após ultrapassar Dimas, que liderava a corrida até às convenções. Por outro lado, Dimas e Mourão parecem estacionados nos mesmos lugares de quando iniciaram a campanha. Ronaldo Dimas estaria oscilando entre 17% a 22%, bem abaixo dos 25% que conseguiu alcançar nos melhores momentos da pré-campanha, quando a candidatura do então vice-governador, Wanderlei Barbosa, ainda era uma incógnita.

Dimas e Mourão sabiam que teriam de trabalhar muito para fazer frente não a um candidato a governador, qualquer que seja o nome, mas uma instituição poderosa e imbatível chamada governo, que, no Tocantins, como de resto no Brasil inteiro, todos querem ser o tempo topo. Essa sanha governista de nossos representantes ficou evidente na transição de governo.

Mauro Carlesse tinha apoio de 22 dos 24 integrantes da Assembleia Legislativa. Renunciou ao cargo para fugir do processo de impeachment, depois de ser afastado pela Superior Tribunal de Justiça (STJ). Wanderlei assume, realiza uma “profunda” mudança e amplia o apoio, passando a contar com 23 dos 24 deputados.

Impressionante como governos frágeis, resultado de rupturas políticas, conseguem formar coalizões fortes ao seu redor. Talvez porque governos em fase de formação são mais vulneráveis a ceder aos interesses dos parlamentares. O que se pode intuir que o bom desempenho eleitoral do governador Wanderlei Barbosa, até aqui, não se deve propriamente às suas realizações à frente do Palácio Araguaia, nem tão pouco aos apelos da campanha, mas unicamente a ser governo.

Desde 20 de outubro de 2021, quando Wanderlei assumiu o comando do governo, Dimas e Mourão sabiam o que poderiam encontrar pela frente. Se não levam a sério o novo ocupante do palácio, isso é uma outra história, que não vem ao caso agora aprofundar.

Contudo, ainda é cedo para se afirmar que a eleição vai ser decidida no primeiro turno. Os números das pesquisas são elementos indicativos, mas não são suficientes para sustentar a decisão em primeiro turno. As pesquisas quantitativas retratam um momento, aquele em que foi aplicada. A campanha ainda não terminou. Novos acontecimentos podem influenciar a escolha, sobretudo dos indecisos. Enquanto tiver um dia de campanha, tudo pode acontecer e mudar previsões anteriormente dadas como certas.

É preciso observar as tendências que dizem mais sobre o que pode acontecer, do que dados que retratam o que já aconteceu. Nesse sentido, ainda é cedo para se avaliar o impacto da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV que acabou de começar e dos debates – pelo que se viu do primeiro, os adversários do governador Wanderlei Barbosa vão jogar pesado para mudar o contexto da disputa que neste momento parece consolidado, bem como o desenrolar da campanha que ainda promete esquentar.  

É de se esperar que esse conjunto de fatores traga alguma alteração no panorama da disputa. Dimas diz que tem muito o que mostrar no palanque eletrônico, veículo que alcança a grande massa dos eleitores. E que nos debates vai confrontar o governador Wanderlei Barbosa e mostrar que o Estado não suporta mais ser administrado na base do improviso, sem planejamento nem políticas que possam melhorar a vida das pessoas.

Paulo Mourão tenta mostrar ao eleitor que o Tocantins precisa do apoio do governo federal para acelerar o seu desenvolvimento, e tudo fica mais fácil quando se tem um governador amigo do presidente. Dimas prega mudança segura, sem aventura. Mourão também propõe mudança com apoio do presidente. Os dois têm pouco tempo para convencer os eleitores de suas propostas e virar o jogo.

Segundo turno
Reverter a tendência de decisão no primeiro turno é possível, mas não é tarefa fácil. A possibilidade de segundo turno ainda existe, mas depende de uma combinação de fatores. Primeiro, de uma reação dos candidatos Dimas e Mourão, que alcançam índices abaixo da expectativa. Ambos têm para onde crescer. Os dois são os representantes dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Para ser competitivo, Dimas teria de crescer pelo menos mais dez pontos percentuais, alcançando algo em torno de 30%.

Dimas demorou muito a organizar a chapa majoritária. Tentou várias conformações ideais até chegar à composição possível. Após as convenções, o candidato ganhou musculatura para a disputa. Tinha apoio de meia dúzia de prefeitos. Agora, já se fala em 30 gestores municipais que o acompanham. Dimas é o candidato que mais colou na imagem do presidente Bolsonaro e pode ser beneficiado com o seu prestígio eleitoral no Estado. As pesquisas indicam que Bolsonaro detém 38% de intenções de voto no Estado. Mesmo não sendo o único candidato da base bolsonarista, Dimas tem para onde crescer. Bastar ir a campo, provocar esse apoio. 

Segundo, depende de crescimento das candidaturas, da chamada terceira via, Paulo Mourão (PT) e Irajá Abreu (PSD), que precisam urgentemente ultrapassar os dois dígitos. Assim como Dimas, o ex-deputado Paulo Mourão tem o que explorar. Mourão é o nome do Lula no Tocantins. As pesquisas indicam que Lula tem 40% de intenções de voto no Estado e também que mais da metade dos eleitores do Lula no Tocantins, dizem tender a votar no candidato a governador apoiado por ele. Se Mourão fizer campanha apenas no eleitorado de Lula, já terá condições de chegar a 20 pontos percentuais, no mínimo.

Dimas, Mourão e Irajá somam juntos apenas 35%. Para levar para o segundo turno, eles precisam alcançar aos menos os 42% que se atribui ao governador. A cobrança recaia mais para Dimas e Mourão que têm maior potencial de crescimento.

Se a eleição fosse hoje, Wanderlei estaria eleito no primeiro turno. Mas a eleição não é hoje. E até lá ainda tem muita campanha pela frente – e possibilidade de mudanças.