Ex-primeira dama de Palmas assume mandato na Assembleia, lembra que é oposição ao governador Marcelo Miranda, mas promete atuar de forma responsável

Solange Dualibe, em 2011 | Foto: Aleto

Dock Júnior

Com o pedido de licença do parlamentar Eduardo Siqueira Campos (DEM) para tratamento de saúde, assumiu, na condição de primeira suplente, Solange Duailibe (PR), que obteve 11.295 votos nas eleições 2014, ainda pelo Partido Solidariedade. Natural de São Miguel do Araguaia (GO), mas criada em Araguaçu (TO), a parlamentar é graduada em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFT.

Sua trajetória política está marcada por ações sociais, no que ela diz ser a busca incessante por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. Foi deputada estadual por três mandatos consecutivos no período de 2003 a 2014. Suas ações e projetos estão voltados ao aprimoramento das áreas de saúde, educação, habitação e qualificação profissional. Solange Jane Tavares Duailibe de Jesus também exerceu o cargo de secretária de Assistência Social e foi primeira-dama do município de Palmas, uma vez que é mulher do ex-prefeito da capital Raul Filho (PR).

A sra. exerceu o mandato de deputada estadual por 12 anos (2002 a 2014), e após um hiato de dois anos, está de volta ao parlamento. Qual o seu sentimento nesse regresso e qual será a sua linha de conduta durante os 121 dias de licença do titular, Eduardo Siqueira Campos?
Tanto eu como meu marido, Raul Filho, sempre fizemos política por ideal. Sempre nos identificamos com a vida pública, desde quando ele, muito jovem, assumiu a Prefeitura de Araguaçu, nosso berço político. Meu pai foi vereador na cidade por várias vezes, inclusive durante o mandato do Raul e, portanto, há certa tradição familiar na política, que também me influenciou a seguir na vida pública.

Posteriormente, o Raul Filho se tornou deputado estadual e mais adiante, enquanto ele exercia o cargo de prefeito de Palmas – por dois mandatos –, tomei assento numa das cadeiras da Assembleia Legislativa. Foram três mandatos sempre numa linha muito oposicionista, contudo propositiva. Estive na base parlamentar de apoio ao governo apenas durante o curto período exercido por Sandoval Cardoso (SD). Sempre pautei minha atuação na casa legislativa de forma muito responsável. Sempre lutei e busquei melhorias para a vida da população tocantinense, defendendo o bem comum, a ética, a consciência política, enfim.

Regresso ao parlamento com os mesmos propósitos, mas sem dúvida, mais madura e experiente, mesmo porque há um ponto positivo nas derrotas: elas não duram para sempre… É necessário ressaltar que em todas as eleições disputadas, desde a primeira ainda pelo PPS, sempre estive entre os 24 candidatos mais bem votados, contudo, face ao coeficiente eleitoral, não assumi o cargo em 2015. Isso não significa que eu seja contra essa metodologia. Acredito que se assim não fosse, os pequenos partidos e coligações menores jamais teriam representatividade, uma vez que não conseguiriam vencer a força do poder econômico.

Em termos de posicionamentos políticos na bancada, qual será sua conduta?
Por questões de conjecturas partidárias, nunca estive ao lado do governador Marcelo Miranda (PMDB). Não tenho nada contra a pessoa dele, contudo, sempre trilhamos caminhos opostos, politicamente falando. Agora não é diferente, todavia, não tenho a mínima intenção de atrapalhar a governabilidade ou fazer oposição irracional. Tenho responsabilidade política com o povo tocantinense e os bons projetos que entrarem em pauta de votação, no período que eu estiver exercendo o cargo de deputada, independentemente da autoria, mesmo do governo, votarei favoravelmente. Ressalto, entretanto, que se for o caso, não deixarei de criticar, fiscalizar ou denunciar, e estarei aqui cumprindo o meu papel de parlamentar.

Nesse curto período em que a sra. exercerá o mandato, há algum projeto que faz parte da sua plataforma de campanha na última eleição, passível de ser apresentado e implementado?
É muito diferente quando se é o titular da cadeira no parlamento e quando se é apenas suplente, que assumiu o exercício do mandato em razão de um acontecimento inesperado, como o problema de saúde que acometeu o deputado Eduardo. Fui comunicada de surpresa e tomei assento apenas seis dias depois de ser convocada.

Evidente que tenho discutido com minha assessoria alguns projetos relevantes para serem apresentados em plenário. Contudo, desde a posse já apresentei requerimentos para a região sul do Estado do Tocantins, como criação e instalação de um campus avançado da Unitins e a criação e instalação de um campus da UFT ou do IFTO, ambos para o município Araguaçu, como também a solicitação de asfaltamento da TO-181, que liga Araguaçu ao município de Novo Planalto, no Estado de Goiás.

Sua base eleitoral é realmente a região do Sul do Estado do Tocantins ou hoje sua maior representatividade é o município de Palmas?
Araguaçu é minha cidade, nunca vou esquecê-la nem tampouco deixar de trabalhar por aquela comunidade e regiões circunvizinhas. Contudo, por ter migrado para Palmas ainda na década de 90, quando houve a implantação na capital, minha base eleitoral, sem dúvida é Palmas. Sempre acreditei no sonho de ver Palmas se tornar uma grande cidade. Ajudei a construí-la e tenho orgulho disso. Inobstante a isso, meu marido foi prefeito dessa cidade por dois mandatos, e, por consequência, fui primeira-dama e participei ativamente da gestão, na condição de secretária municipal de Assistência Social. Conheço todos os problemas, convivi com eles, tentei encontrar soluções. Fizemos muito por Palmas nas áreas da educação, saúde, infraestrutura. Deixamos um legado, isso é inegável. Por isso, meu amor e compromisso com essa cidade.

Pode-se dizer que o grande legado das duas administrações de Raul Filho foi a educação?
Sim, sem dúvida. A construção de escolas de tempo integral e também dos Centros Municipais de Educação Infantil foi de suma importância para o desenvolvimento da cidade. Mudamos a realidade do ensino de Palmas e isso reflete até os dias atuais. Durante aquelas gestões, a educação foi priorizada e os resultados foram grandiosos, face ao envolvimento do prefeito e todos os servidores municipais com essas ações.
Todavia, há de se ressaltar ainda os maciços investimentos em habitação. Muitas pessoas menos favorecidas realizaram o sonho da própria casa. Foram quase mil moradias distribuídas a cidadãos cadastrados. Também merece destaque os investimentos em infraestrutura como a duplicação e iluminação da Avenida Teotônio Segurado no sentido sul, chegando até a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), como também a pavimentação de várias quadras residenciais.

Evidentemente que por estas mesmas circunstâncias, em termos de parceria, a sra. participou ativamente da última campanha para prefeito em 2016, na qual o candidato Raul Filho, mesmo se projetando inicialmente como favorito em razão da sua popularidade, acabou derrotado. Por que esse projeto não obteve êxito?
Raul Filho, inegavelmente, é um grande líder, simpático e popular. Além disso, tem um extenso trabalho prestado à população. Entretanto, atribuo como o principal fator para a derrota, a insegurança jurídica. Passamos toda a campanha tentando provar ao eleitor que ele era candidato, enquanto nossos adversários se utilizavam do caos – causado pela guerra de liminares – enfatizando a inelegibilidade do candidato republicano. Imagine que faltando quatro dias para eleição, eis que surge uma liminar do ministro, que assegurava que Raul não era candidato, em razão de um suposto crime ambiental que ainda discutíamos judicialmente. Essa insegurança jurídica acabou por tornar a candidatura frágil. Mesmo assim, diante de todos os problemas e insurgências – inclusive de parte da imprensa – ainda obtivemos o expressivo apoio popular de mais de 41 mil votos.

Muito se fala, nos meandros da política, que os desencontros e rivalidades se encerram quando as urnas são apuradas. Ao que parece, o ex-candidato a vice-prefeito na chapa de Raul Filho, o pastor João Campos, é adepto dessa máxima, uma vez que há cerca dez dias foi nomeado pelo prefeito reeleito, e até então ferrenho adversário, Carlos Amastha (PSB), como subprefeito da Região Sul da capital. Qual é a visão do seu grupo político acerca dessa cooptação de ex-aliados em tão pouco tempo?
Essa conduta por parte do pastor João Campos nos causou surpresa. Nem bem havíamos digerido a derrota e ele já havia se aliado ao candidato que – utilizando metodologias por nós recriminadas – acabou por ganhar a eleição. Estávamos no mesmo palanque, defendemos as mesmas ideias, que durante a campanha se mostraram extremamente antagônicas às do prefeito reeleito. Entretanto, quem sou eu para julgá-lo? Parti­cularmente, jamais conseguiria adotar tal conduta política, contudo, respeito a decisão e as justificativas dele, inerente à democracia que vivemos em nosso país. Só me resta torcer para que ele – assim como o prefeito reeleito – faça um bom trabalho e ajude as pessoas daquela região.

Em relação a gestão do prefeito Amastha, após o Ministério Público de Contas ter obtido liminar para não permitir a majoração do IPTU por decreto, novamente nesta semana, voltou a atuar, impedindo que o gestor gastasse
cerca de 13 milhões de reais em levantamentos aerofotográficos. Como a sra. recebeu tais notícias, oriundas do órgão fiscalizador?
Feliz e aliviada pelo Ministério Público de Contas ter feito a intervenção e evitado o gasto exorbitante. É que na Câmara de Vereadores a oposição é minoria e caso o órgão fiscalizador não intervenha, os absurdos acontecem. Os desmandos deste gestor estão escancarados e isso incomoda e traz um mal-estar à população. Enquanto ele pretendia gastar 13 milhões nesse levantamento, várias famílias passavam e ainda passam por inúmeras dificuldades nas áreas periféricas da cidade.

Esses gastos excessivos, a contratação de outros empréstimos internacionais, em pouco tempo acabarão com a solidez financeira do município. Trata-se, verdadeiramente, de um caso de calamidade pública. As denúncias midiáticas devem continuar acontecendo, a fim de evitar mais desmandos, assim como a atuação firme do Ministério Público, no sentido de coibir tais mazelas.

Em pronunciamento na Assembleia Legislativa, a sra. disse ter atravessado uma petição no processo criminal que tramita contra a sra. e o seu marido, em uma das varas criminais de Palmas, renunciando ao foro privilegiado que o cargo de deputada estadual lhe trouxe. Quais as razões que a levaram a abrir mão desse direito, constitucionalmente garantido?
Tenho a consciência tranquila de que não cometi aqueles crimes. Também não há provas nos autos do processo capazes de incriminar minha pessoa. A prova das alegações cabe a quem as fez e não há elementos suficientes para qualquer condenação. Portanto, qualquer que seja a instância julgadora, os magistrados deverão se ater às provas dos autos e se assim o fizerem, não tenho dúvidas: serei absolvida. A lei é a mesma em qualquer instância.

As pessoas menos acostumadas com os vocábulos jurídicos, imaginam que o chamado “foro privilegiado” seja uma espécie de privilégio que o réu passa a usufruir, quando na verdade, o sentido é bem diferente. Por esta e por tantas outras razões, protocolei a petição e abri mão desta suposta “regalia”, mesmo porque se o processo vier para o Tribunal de Justiça e ficar ali por quatro meses e depois voltar para o fórum da capital, só vai atrapalhar e procrastinar o julgamento do mérito. Tenho interesse sim em ser absolvida o mais rápido possível, mesmo porque tenho uma carreira política pela frente e não há como não refletir que 2018 é um ano eleitoral.

Tenho um eleitorado que espera muito de mim, tenho compromisso com a população de Palmas, até porque tive a honra de obter mais 12 mil votos em 2014.

No que concerne a partidarismo, em que pese a sra. ter disputado a última eleição para deputada estadual pelo SD, agora se enfileira no PR. Quais as razões que lhe levaram a se filiar a esta sigla e como ela está representada em território tocantinense?
O senador Vicentinho foi recentemente eleito líder da bancada tocantinense no Congresso Nacional. Trata-se de um partido forte, com grande representatividade não apenas no Estado do Tocantins, mas em todo o Brasil. A propósito, o senador já está fazendo um trabalho de construção de sua candidatura a governador em 2018. Ele tem uma gama de trabalhos prestados à sociedade tocantinense, não apenas na condição de senador, mas também como deputado federal, deputado estadual e prefeito de Porto Nacional. O projeto é extremamente viável e vamos lutar para que concretize.

A sigla possui base sólida: um senador, o próprio Vicentinho; um deputado federal, Vicentinho Junior; dois deputados estaduais, eu e o José Bonifácio; o prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, e também um vereador atuante em Palmas: Lúcio Campelo. Em outras cidades tocantinenses, também elegemos alguns prefeitos e vice-prefeitos nas últimas eleições.

Em nome do Jornal Opção, desejo-lhe sucesso nessa nova empreitada na Casa Legislativa.
Agradeço-lhe a oportunidade de falar à população, como também já tive em outras vezes neste mesmo veículo de comunicação, e ao ensejo, também desejo-lhes sucesso, enaltecendo a tradição e a credibilidade do jornal, há tanto tempo no Estado do Tocantins. O gabinete estará de portas abertas enquanto durar o meu mandato, não apenas a vocês, como toda a imprensa.