Mudança de legenda no ano da eleição faz parte da disputa por melhor posição e mais recursos do generoso fundo partidário 

Esta semana a corrida pelo Palácio Araguaia, sede do governo do Tocantins, começou a esquentar e ganhar novos contornos. Começou a temporada de troca-troca de partido que no momento, embaralha o jogo da sucessão, mas com o tempo, tende a clarear o cenário da disputa. A mudança de legenda, nesta altura da disputa é uma estratégia de aglutinar forças e minar possíveis adversários e direito a mais recursos do generoso fundo partidário.

A jogada mais ousada foi protagonizada pelo pré-candidato Laurez Moreira que trocou o nanico Avante, por um partido grande, de expressão nacional, o velho PDT de Ciro Gomes e que em breve, tudo indica, será também do governador Wanderlei Barbosa. Wanderlei ainda não é filiado, mas é esperado como o grande trunfo do partido para estas eleições. O que chama atenção é que Laurez decidiu se filiar a um partido o qual foi prometido a outro pré-candidato ao governo, no caso Wanderlei Babosa, que também está em campanha.

Laurez Moreira | Foto: Ruy Bucar

Sobre essa escolha é pertinente algumas indagações. Que segurança o governador Wanderlei Barbosa terá ao se filiar em um partido comandado por um pré-candidato ao mesmo cargo, a qual almeja? Laurez chegou com o aval da direção local e nacional para comandar o partido com direito de escolher que cargo deseja disputar. Na hora da escolha Laurez vai preferir o seu nome ou o do governador? Afinal, como presidente da legenda, tem poder para influenciar na escolha.

Só um acordo maduro e bem construído pode evitar esse tipo de dúvidas que nenhuma pré-candidato gostaria de ter. E esse acordo foi feito. O que se pode concluir é que seguramente entre Laurez e Wanderlei existe um tipo de acordo que garante segurança aos dois. Neste caso é fácil concluir que os dois integram uma mesma chapa, representam um mesmo projeto político e trabalham para alcançar o mesmo objetivo, chegar ao Palácio Araguaia juntos. A posição de cada um na chapa não altera o resultado final. O mais importante é o propósito, a decisão de compor uma chapa.

Isso é tão evidente que a movimentação preocupou possíveis concorrentes. Ronaldo Dimas (Podemos) não apenas assimilou a filiação do colega como golpe que tentou revidar. Ao saber das negociações do parceiro ideal para uma aliança norte-sul, esteve em Gurupi dando declaração sobre a péssima qualidade dos asfaltos realizados nos últimos anos na cidade. Na ausência de Laurez no sul, Dimas acenou para a prefeita de Gurupi, a carlessista Josi Nunes (PSL).

Laurez e Wanderlei estão juntos e trabalhando para aglutinar em torno deles, novas forças e pode contar com apoio de peso de líderes de outros partidos para a formação de uma grande frente anti-carlesse. Ainda que cada um esteja cuidando do seu próprio projeto. Pela empolgação dos governistas com a filiação de Laurez significa dizer que o ex-prefeito já escolheu o lado. O lado é contra Carlesse e ao lado do governador Wanderlei. Que cargo vai disputar? Isso não interessa agora, mais importante é botar um projeto na rua para ganhar musculatura e depois na hora certa, definir os papeis da cada um nesse projeto de poder.

Laurez e Wanderlei juntos, agora só falta mais dois nomes para compor uma chapa competitiva e geograficamente representativa. Como são das regiões centro e sul, o mais provável é que o terceiro nome venha do norte, de Araguaína ou do Bico do Papagaio e o quarto nome do sudeste. Está aí a composição de uma chapa competitiva e eleitoralmente atrativa em todo o Estado. Principalmente de esses nomes vierem de partidos do campo ideológico do centro ou da direita.

Outra novidade, mas nem tanto assim, foi o anúncio do deputado federal Vicentinho Júnior, de que estaria deixando PL, do deputado Valdemar Costa Neto e agora também do presidente Bolsonaro para se filiar ao PP, atendendo a um convite da senadora Kátia Abreu (PP/TO) e do senador Ciro Nogueira (PP/PI), ministro-chefe da Casa Civil e líder maior do Centrão, o bloco parlamentar que dá sustentação ao governo Bolsonaro.

Do PL para o PP
“Comunico que solicitei minha desfiliação dos quadros do PL, com isso começo uma nova fase na minha vida aqui no Tocantins. Recebi o convite do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, e a senadora Kátia Abreu, presidente estadual, a me filiar nos quadros do partido”, escreveu o deputado Vicentinho Júnior, em suas redes sociais, ao comunicar sua decisão de mudar de partido.

Vicentinho Júnior (direita), com Kátia Abreu e Ciro Nogueira | Foto: Divulgação

Vicentinho chega ao PP acompanhando do seu pai, ex-senador Vicentinho Alves, que até há pouco ocupou o posto de Secretário Nacional de Infraestrutura do Ministério do Turismo. O deputado faz questão de ressaltar que a mudança de partido não altera o seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Afirma, categoricamente, que será um bolsonarista dentro do PP. “Registro que continuo a acreditar no nosso governo e em suas bandeiras. Com isso, chego ao PP do Tocantins, para ser um bolsonarista em seus quadros, não abro mão de apoiar o presidente em sua caminhada”, enfatiza.

A filiação vem sendo conduzida de comum acordo entre a direção nacional e a direção regional, em encontros, realizados em Brasília. O ex-senador revela que o desejo é apoiar o governador em exercício Wanderlei Barbosa (sem partido), mas que acordo neste sentido ainda depende de entendimento entre as lideranças do PP e PSD.

“Temos muito respeito pela senadora Kátia Abreu e pelo senador Irajá Abreu (PSD) e vamos intensificar o diálogo em busca de um entendimento para o governo do Estado em comum acordo entre o PSD e o PP”, garante o ex-senador, explicando que o seu grande adversário era o governador afastado Mauro Carlesse (PSL), não o governador em exercício Wanderlei Barbosa, por isso, acredita num entendimento que possa garantir apoio ao governador em exercício.

Senador Eduardo Gomes | Foto: Reprodução

Seguindo a marcha da troca-troca de partido outro peso pesado da política do Tocantins que estaria estudado mudar de partido é o senador Eduardo Gomes, homem forte do governo Bolsonaro. Gomes estaria planejando trocar o MDB pelo PL, com direito a assumir o comando do partido no Estado para formar palanque forte para Bolsonaro (PL). Gomes que é líder do governo no Senado é considerado o nome de confiança de Bolsonaro no Tocantins. O senador seria lançado candidato pelo PL durante visita do presidente Bolsonaro ao Tocantins, que está sendo organizada, ainda sem data marcada.

Ouvido sobre o assunto o senador desconversa, diz que sequer tem definição se será candidato ao governo, mas indica uma data para iniciar as conversações sobre candidatura e troca de partido. Aponta que o período apropriado é março. Gomes considera que uma decisão de mudar de partido não pode ser isolada, passa inevitavelmente por um entendimento com as bases. Gomes confirma os preparativos para a visita do presidente, mas nega a parte política da agenda.

No MDB ou no PL Gomes é um nome de peso na disputa. Tem livre trânsito em todos os segmentos políticos tanto à direita quanto à esquerda e tem carreado recursos para as prefeituras de todo Estado. Para ser competitivo terá que compor com outras forças, no caso partidos da base bolsonarista já que seu projeto político passa por formar palanque para o presidente. A imagem de homem próximo do governador afastado Mauro Carlesse é talvez o que mais dificulta na hora de aglutinar forças para uma candidatura competitiva. Como “pau mandado” de Bolsonaro Eduardo Gomes não tem nada a perder, só a ganhar visto que o sucesso ou fracasso eleitoral, vai ser atribuído ao chefe. Neste sentido sua candidatura pode até não alcançar sucesso eleitoral, mas cumprirá um propósito: ajudar o chefe e de quebra, projetar o seu nome para novas disputas.

Ex-senador Ataídes Oliveira | Foto: Divulgação

Completando o panorama do troca-troca de partido o ex-senador Ataides Oliveira revela contentamento com o convite do presidente do PTB Alex Kawano para se filiar à legenda para disputar o governo. O ex-senador recebeu a intervenção da direção nacional do PROS que o destitui da presidência do partido, como um convite para deixar a legenda.  Ataídes ainda não acertou data para se filiar ao partido de Roberto Jeferson, mas já deu como certa sua saída do PROS. Avança nas negociações com outros pré-candidatos, composição para fortalecer o que chamou de terceira via, que parece não ter muita viabilidade neste Tocantins polarizado, como de resto é o Brasil de hoje.