Paulo Mourão e Osires Damaso rejeitam papel de coadjuvante e avançam suas posições na disputa pelo governo do Estado

Paulo Mourão (PT) e Osires Damaso (PSC) não podem ser considerados simplesmente azarões | Foto: Reprodução

Os pré-candidatos ao governo do Estado Paulo Mourão (PT) e Osires Damaso (PSC), que integram o que se chama de terceira via, deram um passo importante para não apenas se consolidarem na disputa, mas para sonhar com uma vaga no segundo turno. Os dois estão conseguindo costurar alianças estratégicas que ampliam suas possibilidades eleitorais que o tornam mais competitivos. Os dois, cada um a seu modo, acreditam que podem chegar ao segundo turno e, então, vencer as eleições.

Pela movimentação nos últimos dias, se pode afirmar que Mourão e Damaso estão deixando de ser pré-candidatos dos seus partidos apenas, como iniciaram a caminhada, para representar um projeto mais amplo, de uma frente partidária, com maior capacidade de mobilização e de alcance eleitoral. Osires Damaso já reúne os partidos PSC, PSB e PRTB. O pré-candidato avalia que pode somar mais legendas neste projeto que começa a ganhar visibilidade no processo sucessório.

Paulo Mourão conta com apoio declarado dos partidos da Federação Brasil Esperança, formada por PT, PV e PCdoB, e trabalha para atrair os partidos aliados em nível nacional – Rede, Solidariedade, PSOL e PSB. O PSOL tem candidato próprio e o PSB anunciou apoio a Damaso. Mourão garante que respeita a decisão das duas legendas, mas mantém o diálogo permanente em busca do apoio dessas legendas para o projeto da federação em nível estadual, visto que PSB e PSOL estão comprometidas com a eleição do ex-presidente Lula.

O deputado federal Osires Damaso entrou na disputa como quem deseja testar o nome e ver o que vai dar. Recuar na hora certa para se fortalecer no caso de reeleição ou mesmo aceitar composição com outro projeto político. Não foi o caso. Desde o último dia 7, quando pediu afastamento da Câmara Federal para se dedicar à pré-campanha, Damaso tem dado demonstração, mais do que convincente, de que sua postulação é para valer. A partir do afastamento, sua pré-campanha ganhou novo fôlego.

O entendimento político para o afastamento já representou um ganho importante na disputa. Viu a possibilidade de conquistar a adesão de um partido forte no contexto da disputa estadual. Damaso ao deixar o cargo, abriu vaga para o suplente Tiago Andrino (PSB) assumir a cadeira na Câmara Federal. A partir daí, teve início a negociação para apoio integral do PSB comandado pelo ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha, padrinho político de Tiago Andrino. Amastha em 2018 foi para o segundo turno com o governador Mauro Carlesse, perdeu as eleições, mas saiu das urnas como uma promessa de futuro.

Ao conquistar a adesão do PSB, Damaso ganhou apoio de uma chapa forte de candidatos a deputados estadual e federal. E ainda o candidato ao Senado Vanderlei Luxemburgo, tido no partido como um puxador de votos. Entre os candidatos a deputado federal consta o presidente da legenda, Carlos Amastha, e o juiz federal aposentado Marlon Reis.

A partir do apoio do PSB, a postulação de Damaso ganhou consistência no meio político, contribuindo para adesão de outras legendas. O Partido Reformador Trabalhista Brasileiro (PRTB) anunciou na quarta-feira, 29, que manterá aliança do PSC em torno de Damaso. O presidente da legenda no Tocantins, Freed Lustosa, explica que o partido se reuniu e avaliou todos os pré-candidatos ao governo. Damaso foi no nome de consenso. “Damaso representa qualidades de gestão, crescimento e resiliência necessários para governar o Estado”, declarou, durante encontro com a presença do pré-candidato.

O que chama atenção é que o PRTB já estava na base do governo, integrando o bloco de partidos dominado pelo clã Abreu – PSD, PP, Avante –, conforme declaração do próprio presidente da legenda Freed Lustosa.

Paulo Mourão tenta pela terceira vez ser candidato a governador pelo PT. Em 2014 e 2018, o ex-deputado colocou seu nome à disposição do partido para concorrer ao Palácio Araguaia. O partido achou que o melhor seria formação de aliança priorizando a eleição de parlamentares. Em 2014, o partido conseguiu eleger o suplente de senador Donizete Nogueira na chapa da senadora Kátia Abreu e três deputados estaduais – Paulo Mourão, Amália Santana e Zé Roberto Lula – e nenhum deputado federal. Nogueira teve oportunidade de exercer o cargo durante licença da senadora para exercer o cargo de ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff (PT).

Em 2018, o partido elegeu um deputado federal – Célio Moura – e dois estaduais – Amália Santana e Zé Roberto Lula – Paulo Mourão foi candidato a senador, tendo alcançado 137.654 votos, correspondendo a 10,80%, ficando em 6º colocado, entre nove candidatos que disputaram duas cadeiras do Senado.

Paulo Mourão aponta que desta vez está sendo diferente. A candidatura do petista passou a ser uma necessidade do partido para fortalecer o palanque do presidente Lula no Tocantins. A pré-candidatura de Paulo Mourão deixou de ser um projeto pessoal para ser um projeto coletivo da federação PT, PV e PCdoB. Seu perfil ideológico de centro-esquerda que antes era visto como um obstáculo, por não um petista tradicional, agora soma para muito visto que o PT precisa avançar sobretudo para o centro para tentar ganhar as eleições para presidente da República já no primeiro turno.

Paulo Mourão conta com essa estratégia da federação em nível nacional para sonhar com a possibilidade de chegar ao segundo turno. Avalia que se o presidente Lula vencer no primeiro turno, o seu candidato no Tocantins terá chances reais de chegar ao segundo turno. No segundo turno tendo Lula presidente eleito em seu palanque garante que vence as eleições. Na quarta-feira, 29, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann esteve em Palmas, durante o primeiro encontro da Federação Brasil Esperança, no Tocantins. O evento de preparação para visita do presidente Lula ao Tocantins, sacudiu a militância dos partidos federados e deixou a mensagem clara de que Paulo Mourão está na briga para chegar ao segundo turno.

O ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira, presidente do PDT, e Dr. Luciano do Osvaldo Cruz (DC) também figuram na lista de pré-candidatos que integram a terceira via. Luciano acaba de entrar na disputa e ainda é tido como uma pré-candidatura alternativa, com pouca chance de brigar pela terceira posição, dado a fragilidade partidária e a existência de militância. O médico, porém, aposta todas as fichas numa única estratégia: ampliar a visibilidade do seu nome, fazendo a ligação com o médico que foi responsável pelo afastamento do ex-governador Mauro Carlesse. Acredita que assim possa se tornar um fenômeno eleitoral, capaz de leva-lo ao segundo turno. Se a estratégia de fato funcionar, Luciano ao menos pode contribuir para levar a decisão das eleições para o segundo turno, o que favorece a terceira via.

Laurez Moreira teria todas as condições de ser o principal nome da terceira via, mas se ele quisesse ser. A verdade é que Laurez desde o início preferiu trabalhar a favor não da sua pré-candidatura, mas para fortalecer o projeto político do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) que disputa com o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, a liderança da corrida pelo Palácio Araguaia. Laurez parece satisfeito com uma indicação para vice do governista, ou quem sabe até a suplência do Senado. O PDT era o partido que o governador Wanderlei tinha escolhido para se filiar. Mudou de ideia ao entregar o comando da legenda para alguém de confiança, para Laurez.

Balanço geral aponta que Osires Damaso e Paulo Mourão conseguiram romper a bolha da militância dos seus partidos e estão se consolidando com alternativa eleitoral, até o momento polarizada entre Wanderlei e Dimas. Damaso ultrapassou a bolha do segmento evangélico, base da sua postulação, e avança tanto à direita quanto à esquerda. Paulo Mourão que desde 2014 tenta ser candidato a governador pelo PT se firma como pré-candidato de uma frente ampla de partidos muito além da federação Brasil Esperança, formada pelo PT, PV e PCdoB, tendo como aliados os partidos PSB, Solidariedade, Rede E PSOL. Mesmo que não consiga reproduzir esta configuração partidária no Estado, Mourão se torna um nome forte na disputa, principalmente na eminência de Lula vencer as eleições no primeiro turno.

Essa arrancada de Mourão e Damaso deve se refletir imediatamente nas pesquisas de intenção de voto. Seguramente nas próximas sondagens Damaso já estará superando os dois dígitos. Neste caso, somando os mais de 20% que Mourão já alcançou é certeza de que a eleição no Tocantins será decidida no segundo turno. Não será nenhuma surpresa se um dos dois – Mourão ou Damaso – alcançar o segundo turno. Será o resultado do trabalho que iniciaram ainda na pré-campanha. Os dois já demonstraram que não estão nesta disputa para desempenhar papel de coadjuvante.