“Temos potencialidades que não foram exploradas”
22 abril 2018 às 00h00
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Dono de vasta experiência administrativa, deputado estadual do PPS, que está no quarto mandato, quer se reeleger com discurso desenvolvimentista
Fiel ao seu partido, o deputado Eduardo Bonagura venceu quatro eleições para deputado estadual, todas pelo PPS, figurando sempre entre os mais votados. Envolvido e engajado com o desenvolvimento das regiões interioranas, o parlamentar é um dos defensores do municipalismo e vislumbra que a localização e a logística do Tocantins pode alçar o Estado, em breve espaço de tempo, a surpreendentes níveis de progresso e crescimento sustentável.
Bonagura é paulista de Cravinhos, radicado no Tocantins desde a década de 1990. Graduado em engenharia civil, comandou várias regionais do Departamento de Estradas e Rodagens do Tocantins (Dertins), de onde vem o codinome com o qual foi eleito: Eduardo do Dertins. Elegeu-se deputado estadual pela primeira vez em 2002, tendo sido reeleito em 2006, 2010 e 2014, sempre filiado ao PPS.
Qual é a sua visão sobre o cenário e a instabilidade política que o Estado do Tocantins tem experimentado, passando pela cassação do governador Marcelo Miranda (MDB) e sua vice, Claudia Lelis (PV), que tem causado transtornos de toda sorte para a população, que evidentemente é prejudicada com a ruptura das políticas públicas que estavam em execução?
Vejo com muita tristeza, porque enxergo a política como ferramenta de desenvolvimento de um povo. Não quero julgar os motivos que levam a justiça – não apenas a eleitoral – ser tão lenta, todavia essa morosidade em prolatar decisões traz problemas e conflitos que acabam por prejudicar a sequência dos trabalhos iniciados por qualquer governo.
Creio que deveria haver um zelo maior por parte da Justiça com assuntos tão delicados e tão importantes, que mexe tanto com as nossas vidas. Além disso, essa inconsistência política afasta investidores nacionais e internacionais, deixando de gerar mais emprego e mais renda para nossa população.
Espero que transitoriedade dure o menor tempo possível e que o próximo governador eleito possa ter condições de ter um mandato com início, meio e fim.
O sr. é candidato a reeleição em 2018?
Estou firme no propósito de me reeleger e explico o porquê. Tivemos muitas realizações nestes quatro mandatos. Faço política durante todos os anos da legislatura e não apenas nos três ou quatro meses de campanha. Digo que é necessário continuar esse trabalho idealista de promover o desenvolvimento do Estado do Tocantins, uma terra abençoada, porém, ainda muito pouco desenvolvida e muito pouco aproveitada. Há muitas potencialidades que, se bem estudadas e planejadas, são capazes de gerar resultados magníficos.
O seu partido, PPS, mesmo antes das convenções partidárias, formou uma grande frente com o PP e o PRB. Quais os resultados práticos dessa coalização?
Na verdade, por enquanto, fizemos apenas um pacto. Nessa conjuntura que estamos vivendo, é necessário começar a pensar em uma organização política que possa apresentar projetos que possuam envergadura e deem viabilidade econômica, social e financeira ao nosso Estado. O deputado federal Cesar Halum, eleito, inclusive, pelo PPS e que hoje está no PRB, já fez parte do parlamento estadual, e é o nosso candidato ao Senado. Ele consegue agregar pensamentos convergentes desse grupo político e tem um comprovado trabalho prestado ao nosso Estado.
Já o deputado federal Lázaro Botelho, do PP, será o candidato do grupo à reeleição, pelas mesmas razões. Estou com eles, na condição de candidato a reeleição de deputado estadual. Temos pensamentos bem afinados e conectados e pretendemos levar essa ideia ao eleitor tocantinense, com a finalidade de fortalecer o nosso Estado.
O seu colégio eleitoral se resume às regiões Sul e Sudeste do Estado do Tocantins?
No começo talvez tenha sido, mas hoje já foi estendido. Além das regiões mencionadas, tenho polos eleitorais em Colinas do Tocantins, na região central; Darcinópolis, no extremo norte; Caseara, a oeste; e Mateiros, a leste. Em Gurupi, evidentemente, há uma representação muito forte, pois foi ali que começou a minha carreira política. Tenho carinho e uma preocupação muito grande com aquela cidade e regiões circunvizinhas.
Ali perto, na região de Formoso do Araguaia, há um grandioso projeto que visa construir a travessia da Ilha do Bananal, interligando o Mato Grosso ao Tocantins. Na condição de engenheiro civil e deputado estadual, qual é o seu sentimento em relação a essa obra?
É de crucial importância para alavancar de vez e trazer desenvolvimento não apenas para os dois entes federados, mas para o Brasil. Possuímos aqui no Tocantins, uma jazida de calcário na região de Formoso, matéria-prima que abasteceria por muitos e muitos anos, as propriedades rurais produtivas do Estado do Mato Grosso.
Além disso, somos potenciais produtores de sementes de qualidade, que dificilmente são atacadas por fungos, além do nosso potencial hidrográfico, permitindo que nossa produção seja irrigada, quase não dependente de chuvas para atingir as metas.
Inobstante a isso, a Ferrovia Norte-Sul corta todo nosso território, facilitando o escoamento não apenas da nossa própria produção, como, também, poderia dar vazão aos grãos produzidos no Mato Grosso, se houvesse a interligação rodoviária sobre a Ilha do Bananal. A produção mato-grossense é escoada pelo porto de Santos, para se ter uma ideia, o que acaba por encarecer o produto. Caso a exportação fosse pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, esse custo seria infinitamente menor.
Temos toda logística, portanto, e a construção dessa via é de suma importância para a economia brasileira. Chego a comparar o Estado do Tocantins com o Panamá, pequeno país da América Central que é pobre na acepção do termo, mais da metade das terras improdutivas, contudo, investiu pesado em logística e no canal que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico, evitando que as exportações para a Ásia tivessem que dar uma longa volta pela Patagônia, no extremo sul da América do Sul. O Estado do Tocantins pode assumir, proporcionalmente, essa posição logística e estratégica para o Brasil. Esse caminho passa pela construção da travessia da Ilha do Bananal, rompendo essa barreira econômica, para proporcionar riqueza para nosso povo.
Como foi sua chegada ao Tocantins?
Vim trazido pelo meu avô materno, Vicente Loturco, que tinha uma propriedade rural próximo a Alvorada. Ele era um visionário. Já naquela época ele dizia que o Tocantins seria o celeiro do mundo, pois contava com bastante sol, água e solo ideal, em quantidades necessárias para que essa região se transformasse numa grande produtora de alimentos. Entusiasmei com essa ideia, acreditei que havia esse potencial e passei a amar o Tocantins, me radicando aqui algum tempo depois da primeira visita.
Como foi sua experiência como servidor do Dertins, onde praticamente o sr. fez sua carreira?
Em meados da década de 1990, assumi as funções de chefe regional do Dertins na cidade de Gurupi. Desenvolvemos várias frentes, como o Projeto Cacimba, como também em projetos de irrigação em Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão. O Dertins estava intimamente ligado a essas necessidades porque não havia como progredir aqueles projetos sem estradas que os ligassem às vias de escoamento. Fizemos várias estradas que interligavam cidades que estavam isoladas – como, por exemplo, Dueré a Gurupi. O foco do Dertins era sim abrir ou manter estradas que contribuíssem com o desenvolvimento e o potencial do agronegócio das regiões mais afastadas.
Em 1999 fui transferido para Dianópolis. Pude conhecer a região do Mimoso na Bahia, hoje emancipada como Luiz Eduardo Magalhães, localizada num grande planalto que se estende pelo território tocantinense até a região da Garganta. Vislumbrei a hipótese que a nossas terras, por possuir as mesmas características, poderiam produzir grãos tanto quanto a região baiana. Faltava apenas o essencial: estrada para chegar até lá.
Elaboramos o projeto e colocamos em execução a abertura da via, tendo sido, inclusive, parcialmente pavimentada pelo governo do Estado, na época comandado pelo governador Siqueira Campos. Hoje essa via de escoamento representa grande desenvolvimento para a região sudeste.
Posteriormente, fiz trabalho semelhante na regional de Arraias, que engloba a cidade de Combinado, onde estão localizadas glebas de terras muito férteis, mas pouco exploradas, à época. Por idealismo, incentivei projetos para a produção de cana-de-açúcar e, uma vez mais, pude colaborar, através do Dertins, com a abertura de estradas vicinais e pavimentação de trechos de rodovias que colaboraram muito com o desenvolvimento daquela região.
Enquanto gestor do Dertins, o sr. foi um dos precursores e um dos maiores incentivadores do modelo de consórcio entre os municípios pequenos, que muitas vezes têm muitas dificuldades em comprar máquinas ou implementos para executar as obras infraestruturais. Esse modelo de parceria ainda se mostra eficiente?
Fizemos esse modelo de consórcio de Gurupi até Paraíso do Tocantins, passando pelas cidades que margeiam a rodovia BR-153 e outras próximas, como Brejinho de Nazaré, Ipueiras e municípios circunvizinhos. Denominamos, à época, Associação dos Municípios do Centro-Oeste (Amco), e depois incluímos Peixe, Cariri, Talismã, entre outros. O governo estadual já fornecia maquinários e equipamentos e os municípios, de forma interconsorcial, arcavam com as outras despesas, tais como combustíveis, por exemplo. Posso dizer que essa parceria entre municípios e Estado do Tocantins deu muito mais do que certo. Abrimos e recuperamos milhares de quilômetros de estradas, nessa modalidade. Hoje, há alguns modelos de consórcios em atividade no Tocantins, contudo, nenhum apresenta resultados práticos semelhantes àquele grau de eficiência.
Em que circunstâncias se deu o início de sua carreira política no ano de 2002?
Após minha saída do Dertins, quis me envolver na política. Muitos não acreditavam que eu pudesse obter êxito numa eleição para deputado estadual, inclusive o meu superior, à época, o doutor Brito Miranda. Cheguei a ouvir que eu era homem de 100 votos (risos). Contudo, creio que justamente em razão desse trabalho junto às comunidades mais longínquas e desassistidas, tive o respaldo que precisava para representá-los no parlamento. Ao invés de 100 votos, consegui angariar 9.381 amigos. Foram pessoas que acreditaram na minha ideologia, no meu jeito de trabalhar. Atualmente, avaliando tudo que passou, acredito que trilhei o caminho certo, na medida em que fui reeleito pelo povo tocantinense mais três vezes.