Humorista de Palmas que faz sucesso no global “Domingão do Faustão”, programa mais caro da televisão brasileira, fala de outros projetos

Humorista Paulo  Vieira: “Gosto de levar o público do riso ao choro e vice-versa”
Humorista Paulo Vieira: “Gosto de levar o público do riso ao choro e vice-versa”

Dock Junior

Paulo Vieira completou 23 anos na terça-feira, dia 10. Nasceu na cidade goiana de Trindade, mas se considera um “tocantinense de coração” por residir na capital tocantinense desde a infância. Ele costuma brincar que além de humorista, é cantor, compositor, ator, diretor… e guardador de carros em grandes eventos. Já atuou em diversos grupos de teatro e produções de cinema do Tocantins, e atualmente leva humor para todo País com seus shows de stand-up comedy. Ao sabor de um suco de graviola, o humorista recebeu o Jornal Opção para falar de sua – inacreditável – introspecção, sua meteórica carreira, além dos seus projetos culturais.
Ele dá a dica para quem quer ser ator: é preciso estudar. “Ninguém nasce bom ou fica bom do dia para a noite. É necessário muita leitura, aprendizagem de técnicas, oficinas de teatro, de mímica, etc., para obter experiência de palco e se tornar um bom comediante. Só talento não resolve.”

A mudança de trajetória, do curso de comunicação social com habilitação em jornalismo, na UFT, para a carreira de humorista, é muito significativa. Como isso ocorreu e por quê?
Ainda é meu objetivo ser um jornalista, seguir carreira. Eu sempre vi na comunicação social um curso que poderia agregar muito para o que eu quero fazer no futuro. Um comediante é, na essência, um comunicador e por isso me interessei. Fui fazer jornalismo porque a UFT não tinha, à época, o curso de artes cênicas. Hoje, percebo que foi bem melhor para mim porque aquilo que aprendi neste curso me foi muito mais útil. É um curso que faço questão de concluir, até mesmo porque eu entendo que a cada dia, o jornalismo migra mais um pouco para o entretenimento. A linguagem bem-humorada no jornalismo é cada vez mais bem-vinda.

O sr. foi o grande ganhador do prêmio Multishow de humor de 2014 e isso impulsionou de vez sua carreira a nível nacional. Qual importância de programas naquele formato para o humorismo no Brasil?
Creio que programas como este se destacam por que são poucas as oportunidades que os novos comediantes têm para mostrar seus talentos. Eu acho que seria muito melhor se houvesse mais aberturas dessa natureza na TV brasileira. Seria surpreendentemente melhor se a televisão fosse mais aberta para a criatividade, mais generosa com quem está chegando, mas não necessariamente começando. Muitos artistas têm histórias longas antes de aparecer TV. Então, o prêmio Multishow de humor é importante por isso, visto que é um dos poucos espaços disponíveis para quem ainda não se consagrou.

"Foi uma surpresa mesmo, eu aparecer vestido de mulher. Eu gosto muito de trabalhar com essa linha tênue do humor, entre a comédia e a emoção”
“Foi uma surpresa mesmo, eu aparecer vestido de mulher. Eu gosto muito de trabalhar com essa linha tênue do humor, entre a comédia e a emoção”

O sr. surpreendeu ao criar o personagem Exuxa numa das últimas etapas do torneio, uma vez que muitos consideravam a imagem da apresentadora Xuxa intocável. Não lhe pareceu que isso pudesse lhe prejudicar no prosseguimento da competição?
Para mim, compor e interpretar a Exuxa foi uma alegria muito grande, principalmente porque rompeu uma barreira, dentro do canal. Eu e o diretor Pedro Antônio tivemos que negociar muito todas as minhas apresentações, na medida em que todas elas eram polêmicas. Exceto a final. Na primeira, eu falei de religião, do Papa, de macumba e sessão de descarrego. Não foi aprovado, lá veio o diretor intervir para ir ao ar. Na segunda, eu falei de sertanejo universitário e o canal Multishow é um dos canais que mais prestigiam o gênero, até mesmo com programas segmentados. De novo, deu trabalho para aprovar esse texto. Na terceira, eu vim brincando com o maior ícone da Rede Globo até então, a Xuxa! O Multishow é um canal da Globosat! O texto brincava com questões praticamente proibidas de serem abordadas, como o pacto com demônio, por exemplo. Resumindo: foi tudo muito difícil de emplacar e talvez seja exatamente por isso, que o prêmio foi muito valorizado.

Na quarta e última apresentação daquela temporada, na qual foi declarado campeão, o sr. surpreendeu a todos se apresentando vestido de mulher, como se fosse sua própria mãe, falando mal de si mesmo e implorando para que os jurados não lhe dessem o prêmio. Por unanimidade, foi consagrado vencedor. De onde surgiu uma ideia tão arrebatadora e ao mesmo tempo tão original?
Ninguém sabia, exceto o diretor, o que eu iria fazer na apresentação final. Foi uma surpresa mesmo. Eu gosto muito de trabalhar com essa linha tênue do humor, entre a comédia e a emoção. Eu gosto muito de referências como Charles Chaplin e Renato Aragão, que conseguiam fazer muito bem as passagens da comédia para o emocionante, trazendo um lado lúdico para as cenas.

O paradoxal é que eu me considero uma pessoa mais triste, mais melancólica que uma pessoa feliz. Então faz parte do meu estilo, o meu humor estar carregado de momentos emocionantes. Gosto de levar o público do riso ao choro e vice-versa, em apresentações curtas. Ao mesmo tempo, sou um crítico voraz de mim mesmo. Sempre reflito depois se a apresentação não poderia ter sido melhor. Acabo sendo um escravo dessa impiedosa autocrítica.

As brincadeiras com as próprias limitações, com características pessoais ou familiares, criando verdadeiros estereótipos, é uma fórmula que vem dando certo. Você acredita que chegará o dia em que será obrigado a mudar o estilo?
Não sei te responder… mas eu acho que todas as pessoas passam por mudanças. Eu brinco, por exemplo, com a simplicidade da casa onde eu moro, todavia, a partir do momento que eu ganhar mais dinheiro e melhorar a casa, essa piada vai perder a graça. É algo natural e passa até mesmo pelo estilo do veículo de comunicação que você vai se apresentar. Eu estou na Rede Globo agora e eles estão tentando fazer um trabalho para popularizar o meu humor. Há um entendimento que meu estilo de piadas é mais universitário, humor de teatro, stand-up com timing mais rápido. Foi preciso suavizar um pouco isso. No programa do Faustão, eu falo com o Brasil todo, de analfabetos a graduados, além de tradições culturais totalmente opostas, existentes de norte a sul. Eu não faço stand-up lá. Eu faço humor, brincadeiras com o público, paródias, etc. Não mudei o estilo dos palcos, apenas me adaptei para esse trabalho.

Depois de tanto sucesso, hoje como ator consagrado, você tem contrato com a Rede Globo de Televisão, com participação efetiva no “Domingão do Faustão”. Como o sr. tem visto a receptividade do público de outras regiões do Brasil?
A partir do momento que se tem a chance de falar para tanta gente e ter esse retorno, é gratificante. Eu já era bem conhecido em São Paulo, Curitiba e Brasília fazendo shows de humor, no entanto, a massa que o programa do Faustão atinge é algo que impressiona. É o programa mais rentável da Rede Globo e para se ter uma ideia, entre os publicitários, o programa dele é considerado como “tiro de canhão”. Uma campanha publicitária na atração dominical, por exemplo, é o minuto mais caro da TV brasileira. Atinge, de uma vez, cerca de 30 milhões de pessoas. Ora, se eu sou uma das atrações deste programa, não tem como eu não estar feliz. Todos artistas que eu conheço gostariam de ocupar o espaço que atualmente ocupo.

Outras oportunidades também surgiram como o canal Portas dos Fundos disponível no portal Youtube, que é sucesso em todo país. O episódio com a atriz Júlia Rabelo, onde ela é a cliente de um restaurante e que apresenta uma espécie de cleptofobia, e o sr. um garçom, teve mais de 1 milhão e oitocentos mil acessos. Essa repercussão ainda te assusta?
Já não me assusta mais. O que eu ainda tenho muita dificuldade em lidar, são as críticas da internet. Elas raramente são construtivas, e não obstante isso, encobertas pelo anonimato. Por exemplo, certa vez eu li: “Gordo, idiota e ridículo! Quem falou que isso é engraçado?!?”. Acho essa liberdade da internet exacerbada e desnecessária. Isso traz insegurança, eu acho que ainda tenho muitas limitações enquanto comediante. Eu ainda tenho necessidade de aprovação, e esse tipo de abordagem me fere. E não se trata de falsa modéstia, mas sim pelo fato de eu começar a refletir se a crítica do internauta não tem um fundo de verdade ou um pouco de razão. Mas eu estou tentando trabalhar isso!

Esses contratos midiáticos lhe tiraram do teatro e do stand-up, pelo menos temporariamente?
Não, de modo algum. Continuo fazendo shows embora meu foco seja televisão, eu ainda tenho tempo para o teatro e cinema. Estou morando em Palmas e também em São Paulo (SP) e lá divido o apartamento com duas amigas comediantes. Eu não conseguia mais morar em hotéis, eu ficava muito sozinho e isso me entediava. Eu estava tão freguês do hotel que já estava rolando broncas da camareira: “…e essa toalha molhada jogada em cima da cama? Que isso, rapaz…?!?” (risos). Eu sou o tipo do cara que tem que ter uma casa, uma referência. Quanto à correria, sábado farei uma apresentação em Gurupi, sigo para São Paulo, onde farei três shows no domingo.

"Falar para tanta gente e ter esse retorno, é gratificante. Eu já era bem conhecido em São Paulo, Curitiba e Brasília fazendo shows de humor, no entanto, a massa que o programa do Faustão atinge é impressionante”
“Falar para tanta gente e ter esse retorno, é gratificante. Eu já era bem conhecido em São Paulo, Curitiba e Brasília fazendo shows de humor, no entanto, a massa que o programa do Faustão atinge é impressionante”

Antes de fazer sucesso a nível nacional, o sr., o Bruno BBB e o Júnior Foppa já eram bem conhecidos em terras tocantinenses. Os episódios do candidato a vereador Willyãn da Ilha, bem como da sofrida Dorisdei foram um verdadeiro sucesso. Como vê esse humor regional? Não há muitos atores por aqui com potencial para ser explorado?
Esse projeto junto com SuperOito, que também estava começando, tinha o intuito de fazer com que as pessoas do Tocantins nos conhecessem. Interessante é que esses vídeos deram tão certo, que agora ninguém tem mais tempo de fazê-los! (risos) Mas tirando a brincadeira, esses vídeos postados no Youtube foram muito importantes para nossa carreira, sem dúvida.
Quanto ao humor regional, falta a criação de um mercado e também um público consumidor no Estado do Tocantins. É muito complicado trabalhar com cultura por aqui. Os empresários são reticentes em investir. Inobstante a isso não houve ainda uma política cultural por parte do governo que fosse duradoura. Sempre que se troca de governador ou prefeito, há um hiato por algum tempo. O Governador Marcelo teve recomeçar tudo, pois este setor estava parado. Agora que está reestruturando novamente. Já a prefeitura de Palmas há algum tempo vem mantendo as políticas públicas voltadas para a cultura. Mas para mudar a realidade, esses incentivos têm que ser contínuos por dois, três ou quatro mandatos. Outra coisa: se o sujeito resolveu ser ator a primeira coisa é estudar. Ninguém nasce bom ou fica bom do dia para a noite. É necessário muita leitura, aprendizagem de técnicas, oficinas de teatro, de mímica, etc., para obter experiência de palco e se tornar um bom comediante. Só talento não resolve.

O sr. foi convidado pelo governo do Estado para abrir e fechar a edição do salão do livro deste ano. Essa atitude governamental não demonstra vontade política para incentivar a cultura no Estado?
A música tema do salão do livro é de minha autoria. Compus com 12 anos. Tive a chance de cantar, pela primeira vez para o público, minha própria composição. Foi emocionante. Porém, mais do que essa atitude do gestor do Executivo, é necessário que ele fomente a cultura, lançando novos editais e os pague regiamente. Que seja sempre zeloso com a idoneidade na seleção dos artistas. Esta é a melhor forma de incentivo. Já dizia Bob Dylan: “…a melhor coisa que você pode fazer por alguém é inspirá-la…” e eu ouso completar: a pior, é desestimulá-la! E o que a gente via nos dois governos anteriores, tanto estadual quanto municipal, era a figura apavorante do “matador de sonhos”. Ora, é responsabilidade governamental proporcionar cultura e lazer, por isso, o poder público tem débitos com os artistas do Tocantins.

Quais são os planos para o grupo Tô na Comédia que o sr. praticamente criou com seus amigos tocantinenses?
Eu gosto muito de me apresentar em grupo, não sou adepto de shows solo. Quero continuar com o grupo originário do Tocantins por que os caras são grandes amigos, estamos a cinco anos juntos. Temos vários projetos em estudo: um deles é montar uma peça teatral de Shakespeare aproximando-o da linguagem popular. Queremos também montar um espetáculo só de improvisação e posteriormente, outro com personagens. Há muito ainda para ser feito e precisamos de tempo, todavia, nesse momento, os três estão muito ocupados com projetos paralelos. Em que pese o Bruno ser chato para caramba, o grupo Tô na Comédia terá vida longa! (risos).

E os projetos sociais como aquele show ocorrido recentemente em Porto Nacional?
O grupo sempre teve esse tipo de preocupação com o social, desde o início de nossas carreiras. No primeiro ano, a gente arrecadou mais de cinco toneladas de alimentos, que foram distribuídos a instituições de caridade. Agora a gente se uniu à Fundação Restaurar, uma instituição sem fins lucrativos com um trabalho educacional voltado ao atendimento de crianças carentes que desenvolve suas habilidades com oficinas de músicas, artes cênicas e plásticas, ética, cidadania, produção textual, dentre outras atividades. Estamos muito felizes de poder ajudar, ver o nosso trabalho ganhando força nas vidas de outras pessoas. O Júnior Foppa disse uma coisa muito interessante: “esse show faz rir duas vezes: o público que comparece e a pessoa que recebe o alimento!”. Além de Araguaína e Porto Nacional, também faremos shows e arrecadações em Paraíso do Tocantins, Miracema e interior do Piauí.

Este ano ainda vamos fazer o Mico (Mostra Internacional de Comédia) em Araguaína, especial de natal. Será um festival promovido pela empresa da qual sou sócio, a Mixirica Produções, também com intuito de arrecadar alimentos. Para 2016, ainda falando em projetos sociais, tentarei colocar em prática um projeto denominado Adote um artista. Ele visa fazer com que os empresários de Palmas “adotem” uma determinada criança e banquem seus estudos artísticos, mensalmente. No início, pretendo selecionar 50 crianças para estudar teatro, violino e violoncelo, e para isso, já conseguimos a parceria com a Fundação Restaurar.

Sua participação na película regional “Palmas, eu gosto de tu”, interpretando uma “fofoqueira de plantão” lotou os cinemas da capital enquanto foi exibido. Além disso, o sr. teve participação marcante como compositor e intérprete da trilha sonora do filme. Como avalia sua participação naquele projeto empreendido pela SuperOito Produções Audiovisuais?
Tenho enorme gratidão pela SuperOito, comandada pelo André Araújo e Ricardo Giovannetti, que sempre acreditaram em mim. Essa parceria sempre foi baseada em amizade sincera, admiração recíproca e torço para que seja duradoura. Temos por objetivo filmar um longa-metragem nacional em 2016, o “Comedy Club”. Muitos artistas conhecidos já toparam atuar, como Murilo Couto, Léo Lins, Alexandre Régis, entre outros. Já ganhamos o edital da Ancine/Prefeitura de Palmas para cinema, e agora estamos atrás de outros patrocinadores para dar seguimento ao projeto.

Quanto ao filme “Palmas, eu gosto de tu”, foi gratificante por que eu pude mostrar ao público, pela primeira vez, outro talento que não apenas o de ator. Pude mostrar meu lado musical e fiz toda trilha sonora do filme.

Fiquei muito feliz em participar ativamente daquele projeto. Depois disso, fiz outro filme do André e da SuperOito, o “Ouça-me”, um curta de ficção, que foi produto do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). Aliás, reconheço aqui o excelente trabalho da Fundação Cultural do Município de Palmas nesta gestão. Na condição de artista, sou muito ligado à questão cultural do Tocantins, acompanho de perto. Hoje, eu tenho voz ativa nesse grupo de artistas e também junto à sociedade, então, tenho que reconhecer caso estiver bom. Se um dia não estiver legal, eu também criticarei, como já fiz no passado.

O que o sr. tem a dizer para os seus fãs tocantinenses, leitores do Jornal Opção?
Primeiro exaltar a alegria de ser tocantinense. Apenas nasci em Trindade (GO) e vim para cá ainda criança. Sou feliz em carregar e divulgar nossas raízes e dizer que sou daqui. Não penso em ficar rico, não tenho essas ambições financeiras. Quero apenas juntar um dinheirinho lá no Faustão para ver se eu consigo pagar o reboco a casa da minha mãe… (risos). Uma piscina, quem sabe um dia? Sou simples, gosto de dividir, gosto de pensar coletivamente. É por isso que prefiro ter ou participar de um grupo de stand-up a ter uma carreira solo.

Até as decisões políticas que eu tomo, visam sempre ajudar a coletividade mais necessitada, inclusive a classe artística, que sofre muito com a falta de apoio. Sou feliz pela carreira que construí, sou querido pela imprensa tocantinense, tenho toda a atenção e carinho do público nas ruas ou nos palcos, então, muitíssimo obrigado!!