“Se há corrupção, os responsáveis têm que ser punidos”

12 março 2016 às 10h12

COMPARTILHAR
Deputada federal peemedebista diz que ainda não se decidiu na questão do provável impeachment da presidente Dilma Rousseff

Dock Junior
O PMDB do Tocantins está pacificado. A afirmação é da deputada federal Josi Nunes, com certo alívio, referindo-se aos momentos de turbulência que o partido passou e que quase inviabilizaram a candidatura vitoriosa de Marcelo Miranda ao governo em 2014. Ela também fala de seu trabalho no Congresso Nacional, onde ocupa importantes comissões, e de sucessão municipal.
Entre um voo e outro, cumprindo apertada agenda no Congresso sem esquecer a sua base no Tocantins, a parlamentar concedeu entrevista ao Jornal Opção no saguão do aeroporto de Palmas, enquanto aguardava o avião que a levaria de volta à Brasília, para exercer suas atividades. A deputada deixou claro seu “caso de amor” com o PMDB, reforçou seu compromisso com o povo tocantinense, enfatizando que o municipalismo norteia o seu mandato.
Josiniane Braga Nunes, de 52 anos, é tocantinense de Porto Nacional. Sua vocação para a vida pública é herança de seu pai, Jacinto Nunes, ex-prefeito de Gurupi, e também de sua mãe, Dolores Nunes, a primeira mulher eleita deputada estadual e federal pelo Tocantins e atual vice-prefeita da mesma cidade. Josi Nunes foi deputada estadual por quatro mandatos, sempre pelo PMDB, e em 2014 foi eleita deputada federal.
O impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) voltou a ganhar força com a eclosão de mais escândalos mostrados pela Lava Jato, inclusive com a revelação de que dinheiro de propina do petrolão pode ter financiado a campanha dela. Como a sra. se posiciona em relação ao possível impeachment?
Ainda estou amadurecendo a ideia em relação a isso. O processo de impeachment teve força no ano passado e depois se esvaiu. Agora, em razão de novas descobertas feitas pela polícia e justiça federal, está reacendendo esse movimento no Congresso. Eu preciso sentir a vontade popular, afinal eu sou representante do povo, e por consequência, voto de acordo com a vontade dele. O ideal seria que cada governo começasse e terminasse seus mandatos, mas sei que isso, às vezes, é impossível e providências são necessárias. Hoje, posso dizer que não há um consenso na casa de leis acerca do impeachment, alguns são contrários, outros favoráveis. É um conjunto de ações e opiniões e, em breve, vou me posicionar, após ouvir as minhas bases políticas.
No plano nacional, o seu partido vive um momento esdrúxulo. Tem altos cargos, como a presidência do Senado, com Renan Calheiros (AL), a presidência da Câmara dos Deputados, com Eduardo Cunha (RJ), a vice-presidência da República (Michel Temer/SP) e vários ministérios, como a Agricultura (Kátia Abreu/TO), por exemplo. Renan e Cunha enfrentam processos éticos e criminais e muitos peemedebistas querem sair da aliança com o PT. Como a sra. avalia a sigla em termos nacionais? Há uma crise de identidade?
Sem dúvida, há uma crise de identidade sim. Não que isso seja absurdo, mas a crise existe. É um partido muito grande, com muitas tendências, muitos líderes. Por um lado é isso é bom, mas às vezes proporciona uma certa fragmentação. Há uma discussão sobre união da sigla, de seguir os princípios previstos no regimento interno.
Há divisão no partido?
O PMDB está dividido em nível nacional. Há um grupo que deseja manter a aliança com o PT e outro que deseja romper o pacto. O vice-presidente é do PMDB, logo, somos governo, não há como negar. Na convenção prevista para o dia 12, após os debates, definiremos nosso posicionamento. Se for para ficar na base, que abracemos a causa; se for para romper que também o façamos como um todo, em bloco. Se for para sair, teremos que entregar todos os cargos e nos postarmos, de fato, como oposição.
O governo federal passa por problemas. Pessoas ligadas ao PT, ao PMDB e outros partidos estão sendo investigadas. Eu acho isso muito positivo. Se há corrupção, os responsáveis têm que ser punidos. Nós temos que passar um pente fino, uma filtragem e mostrar para a sociedade que ninguém está imune nem acima da lei. O povo precisa voltar a ter orgulho de ser brasileiro, cidadão, e ter fé nos seus representantes, hoje tão desacreditados no seio da população. O PMDB é parte integrante desse processo. Não vai ser fácil tomar essa decisão, todavia, a convenção definirá os rumos a seguir. (Obs.: convenção do PMDB estava prevista para esse sábado, 12)
Após quatro legislaturas como deputada estadual, a sra. foi eleita em terceiro lugar como deputada federal, com mais de 50 mil votos. Sua base política fica nos municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro do Estado. Como avalia sua trajetória política e o seu partido em termos regionais, considerando que o governador é do seu partido?
A minha história dentro do partido é longa, desde quando era MDB. O meu pai ajudou a consolidar o partido nessa área que hoje é o Tocantins. Venho participando do processo político desde quando aqui era Goiás. Meu pai foi prefeito em Gurupi e desde cedo tenho interesse por essas atividades, mesmo porque fazer o bem e ajudar as comunidades mais necessitadas é gratificante. Por isso, digo que veio de berço, é familiar.
Depois, me graduei em psicologia pela Universidade Católica de Goiás (UCG, hoje PUC) e fui ministrar aulas na Unirg [Centro Universitário de Gurupi], naquela época Fafic. Isso abriu para mim o campo da educação, além da área social que já estava presente face às ações da minha mãe, Dolores Nunes.
Resolvi fazer essa diferença nestas áreas e me candidatei a vice-prefeita de Gurupi e, posteriormente, deputada estadual, quando obtive êxito em quatro eleições. Em 2014, tentei a vaga na Câmara Federal e também fui vitoriosa. Creio que esse retorno da população está ligado ao bom trabalho desenvolvido.
Quanto ao partido, especificamente no Tocantins, é notório que passou por uma crise interna por mais dois anos, entre os líderes da sigla. Havia divisões internas que nos desgastaram, com o risco, inclusive, de o governador Marcelo Miranda não ser candidato ao governo.
Felizmente, o diretório nacional tomou providências e interviu no diretório local, viabilizando a candidatura do Marcelo. O resultado foi positivo: elegemos além do governo, uma senadora, três deputados federais e três deputados estaduais. Após essa crise, nos organizamos e isso está possibilitando criar diretórios em todos os municípios do Estado. Hoje, sob a direção de Derval de Paiva, reina a paz, uma tranquilidade para trabalharmos as questões político-partidárias para que voltemos a ser o maior partido do Tocantins.
O seu contato com o Palácio Araguaia é muito estreito, sua afinidade com o governador é muito grande. Como vem se dando essa parceria entre a sra. e o chefe do poder executivo, Marcelo Miranda?
Primeiro quero parabenizá-lo pelo governo democrático que ele vem implantando no Estado do Tocantins. Na semana passada, ele abriu espaço na agenda para receber no auditório do palácio mais de 100 líderes e representantes dos municípios que estavam comigo na campanha eleitoral. O governador ouviu as reivindicações, debateu sobre questões políticas, enfim, definiu as prioridades de cada cidade. Nesse encontro, todos foram unânimes em solicitar ao Marcelo a construção, manutenção e recuperação das rodovias. Essa foi a questão prioritária. Ele argumentou que já obteve um financiamento capaz de fazer frente a essas demandas. Relatou que já abriu o processo licitatório para estas obras, e, em breve, as iniciará, atendendo aproximadamente 90% do território tocantinense.
Essa é uma forma de o governo estar próximo da comunidade e eu, particularmente, priorizo isso. Eu fiquei muito feliz de proporcionar esse encontro, porque essa proximidade com o governo é muito saudável. Agora cabe a mim acompanhar a execução das demandas que surgiram neste evento.
Depois participei de outra reunião no Palácio Araguaia em que houve a sanção de uma lei importante que proporciona benefícios fiscais a empreendedores do setor de logística. Estavam presentes empresários estabelecidos no ecoporto, de Praia Norte, que trouxeram demandas específicas como iluminação e pavimentação, mas que também prestigiaram a sanção da lei que beneficia a região como um todo.
Especificamente sobre sua trajetória política, a sra. poderia enumerar as conquistas mais importantes obtidas nos seus mandatos como deputada estadual?
Trabalhei em várias frentes, várias áreas, mas o foco sempre foram os municípios e seu desenvolvimento. Tentei fortalecer as lideranças municipais e as cidades. Busco entender o que está acontecendo em cada região. Sou, essencialmente, municipalista. Ao mesmo tempo, também me dediquei muito a priorizar o desenvolvimento da educação. Todas as matérias importantes que poderiam valorizar os profissionais desta área contaram com minha presença em plenário e apoio irrestrito. Todas as matérias que versavam sobre as melhorias da educação para nossos jovens e crianças, contaram com meu auxílio parlamentar. Intermediei, muitas vezes, o diálogo dos profissionais com o governo.
A bandeira da saúde e a valorização dos servidores públicos também foram características marcantes. Ajudei a aprovar os planos de cargos, carreiras e subsídios. Entendo que se um Estado tem servidores públicos formados, qualificados e valorizados, eles podem proporcionar um serviço melhor para a sociedade.
E quanto à legislatura federal, qual é o seu balanço até o presente momento? Ainda está intimamente ligado à educação e desenvolvimento social, os direitos da mulher, da infância e da juventude?
Sim, porém é notório que a nível federal é possível ampliar ainda mais o debate e obter mais conquistas. O poder de legislar em Brasília é muito grande. Continuo basicamente com os mesmos focos, contudo, agora o faço a nível de Brasil. Sou titular da Comissão da Educação e temos trabalhado muito essas questões. Também tenho um mote voltado para o municipalismo, a obtenção de recursos para os municípios, através de emendas, acompanhamento de projetos, visitas a órgãos e ministérios.
A ampliação do debate acerca da crise ética, moral, política e econômica se faz necessária. Hoje a grande questão que precisamos resolver é a questão tributária. Infelizmente, o governo brasileiro gasta mais do arrecada. Isso tem gerado muitos debates e enfrentamentos. É um assunto que tem dominado os debates da casa legislativa. Nós, no Congresso, estamos muito preocupados com o povo brasileiro e a alta carga tributária que ele enfrenta, mas estamos somando forças para encontrar as melhores alternativas e soluções.
A forma como a sra. conduz o seu mandato federal, quer seja através de projetos de lei, quer seja através de emendas ou participação em comissões, caracteriza-se como atuante em várias frentes. A sra. integra uma comissão externa de combate a zika, a Secretaria da Mulher, a subcomissão da Assistência Social e a Subcomissão de Indicadores de Qualidade da Educação. Quais são os destaques?
A comissão da zika é temporária, mas muito importante. Estou preocupada com a saúde pública dessas mães e crianças vítimas de microcefalia e os efeitos que isso vai trazer na vida da sociedade daqui a alguns anos. A minha grande preocupação é investigar as linhas de pesquisas para erradicação da doença, os mecanismos de prevenção. Estamos trabalhando muito a conscientização do cidadão, não podemos deixar apenas por conta dos governos estadual e municipal. Os focos estão nas nossas casas. É importante que todos se envolvam.
Já a educação é uma comissão permanente, da qual sou titular, e vem sendo o grande destaque da minha atuação. Solicitei ao líder do meu partido fazer parte da comissão de orçamento. Quero compreender melhor essa área com a finalidade de trazer mais recursos para nosso Estado. Ele disse que é possível, mas ainda não foi concretizada a minha participação.
Vou fazer parte também de outra comissão, cujo tema é importantíssimo: a corrupção. A bancada vai se dividindo, cada qual assume uma área de interesse, atuação ou afinidade e parte para o encontro de soluções.
A sra. preside o PMDB Mulher regional e a Fundação Ulisses Guimarães(FUG) do Tocantins. Quais as conquistas no que concerne as ideologias de gêneros e as vantagens que a referida Fundação traz para o Tocantins?
Com relação ao PMDB Mulher, presidi por muito tempo, todavia encaminhei uma correspondência ao presidente regional pedindo meu afastamento. Vamos formar uma nova comissão e a deputada Dulce Miranda encabeçará essa tarefa, a partir de agora. Contudo, o grande interesse é inserir as mulheres na política. Apesar de sermos a grande maioria da população, o número de mulheres na política no Brasil ainda é muito pequeno, uma vez que sequer atingimos os 30% previstos legalmente. Visando mudar essa realidade, o PMDB faz esse trabalho que é conscientizar, formar e prepará-las para o enfrentamento político, que diga-se de passagem, não é fácil. É um universo muito masculino.
Quanto a Fundação Ulisses Guimarães, o foco é a educação política. Temos cursos, palestras, material didático. O objetivo é formar o cidadão, que pode ser candidato ou não, entretanto, promover o conhecimento, a cidadania. A sede da fundação é no meu escritório, localizado na Av. Theotonio Segurado. Quero convidar a todos a conhecerem esse projeto, ressaltando que teremos muitos cursos, através das regionais, para quem quiser ser candidato. Haverá palestras sobre conhecimentos básicos importantes para os pretensos candidatos.
A sra. acredita que em relação à participação no mercado de trabalho e vida política, falta um maior engajamento das mulheres na vida política do País? Dos oito deputados federais pelo Tocantins, três são mulheres. Isso é um reflexo do dispositivo legal que regulamenta as cotas?
Eu acho que a lei de cotas tem contribuído muito para o crescimento das mulheres na política. Ela força o partido a encontrar mulheres dispostas a se engajarem na luta. Muitas vezes essas pessoas descobrem sua vocação e se sobressaem. É claro que apenas a lei de cotas não é suficiente. Queríamos, na última reforma política, fazer alterações na lei acerca de modificarmos a cota de mulheres eleitas e não apenas para candidatas. Assim, por exemplo, gradativamente na primeira legislatura teríamos pelo menos 10% das vagas de eleitas em todos níveis; na segunda 12% e na terceira 15%. Assim, garantiríamos a cota mínima. Nenhuma cidade do país ficaria sem mulheres na política. Infelizmente, perdemos na votação final, por uma diferença pequena de votos. O mundo parlamentar é ainda muito masculino, temos apenas 53 deputadas. A disputa é desigual. Continuamos na luta…
A lei que abre a janela para que políticos troquem de partidos sem a perda do mandato por infidelidade partidária foi promulgada no mês passado. Como o sra. se posicionou?
Considerei importante, havia um clamor muito grande. A questão da fidelidade é importante, uma vez que consolida os partidos, porém, havia um engessamento. Creio que o fato de se abrir uma brecha para candidatos, um mês antes do prazo de filiações partidárias, possa fazer outra escolha, é razoável.
No meu caso, por exemplo, estou bem no meu partido. Recebi propostas para mudar de sigla, contudo respondi que estou no PMDB porque me identifico, por ideologia partidária, mesmo sabendo dos problemas e divergências, que devem ser resolvidos internamente, fazem parte do processo democrático.
Quando da reforma política, defendi também a diminuição de partidos. Creio que existem muitas siglas, só na Câmara há 28 partidos representados. As ideologias, por sua vez, não são prioritárias e sim secundárias. Se houvesse um menor número de partidos, evidentemente, também não haveria tantas trocas.
Vários parlamentares estão trocando de siglas, alguns deles migrando para o PMDB, entre os quais, o deputado Valdemar Jr. e o vereador de Palmas Milton Neris. Como a sra. vê a chegadas de novos correligionários, como também a saída de alguns, como o vereador Joel Borges?
São todos bem-vindos, quero dizer que o partido está de portas abertas, com o objetivo único de tornar o Tocantins melhor. A única coisa que questiono e vejo com certa preocupação, são aquelas pessoas que vêm para o partido, às vezes, para assumir o comando. Não acho isso legal. As pessoas que passam a integrar uma sigla devem vir para somar, construir, contribuir, fortalecer e dentro desse processo e também com o tempo, acabam por conseguir o seu espaço, a sua voz.
Qual a situação do partido na sua base eleitoral, Gurupi e adjacências, em relação a filiados, vereadores, etc?
O partido está bem organizado nas regiões Sul e Sudeste do Tocantins. Elegemos os diretórios, estamos estimulando novas filiações. Nesta janela estão vindo alguns correligionários. Vamos mostrar nas urnas esse diferencial e esse crescimento agora e nas próximas eleições.
Sua mãe, Dolores Nunes, é vice-prefeita de Gurupi. Ela é pré-candidata à prefeitura?
Minha mãe é vice-prefeita, eleita na dobradinha com o prefeito Laurez Moreira. Ainda não está definido, mas há uma tendência, e é minha intenção repetir a parceria, na tentativa de uma reeleição.