Sandoval pode trair o siqueirismo?

28 junho 2014 às 10h40

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Confronto entre Siqueira e Miranda que muitos gostariam de assistir, o que seria a revanche de 2006, tem cada vez menos chance de acontecer. Mudança no comando do Palácio Araguaia alterou a lógica da disputa de forma irreversível

Ruy Bucar
O governador Sandoval Cardoso (SD) aos poucos vai firmando o seu nome na disputa pelo governo do Estado e se distanciando do siqueirismo. Ainda que seja de forma sutil, quase imperceptível, sem querer querendo. Sandoval vem tentando se equilibrar entre lealdade canina ao velho líder que o criou e a tentativa de montar o seu próprio time, o que necessita para assumir plenamente as rédeas do comando da sucessão. Até aqui tem sido um menino de recado do ex-secretário de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos. Mas até quando vai aceitar o papel?
Sandoval faz um governo de continuísmo, fraco e inexpressivo, sem identidade, que agrada ao siqueirismo, mas desagrada profundamente a opinião pública. Ainda assim é visto pelos governistas e fisiologistas de plantão como renovação. Continuidade renovada, como diria o prefeito de Palmas, Carlos Amastha, o primeiro, mas não único oposicionista a se encantar com o novo governo velho.
Criado para servir de trampolim para a promoção política de Eduardo Siqueira Campos, Sandoval virou a salvação do siqueirismo, mas tem pouco tempo para mudar a realidade do governo, que vai de mal a pior. Por enquanto é a única sustentação da força política governista, que já não tem mais a liderança do velho Siqueira, que ao renunciar ao governo renunciou também à militância política.
Neste contexto de mudanças aparentes e de real continuísmo cabe uma pergunta inevitável. Sandoval pode vir a trair o siqueirismo? Para analistas que acompanham o desenrolar dos fatos políticos do Estado o rompimento do governador com o siqueirismo será inevitável. Embora seja impossível prever quando vai acontecer. Mas tende a acontecer. E é possível que não se deva chamar de traição, mas de sobrevivência política.
É bom lembrar que Sandoval Cardoso chegou ao plenário da Assembleia Legislativa pelas mãos do PMDB como um agropecuarista endinheirado, sem nenhuma tradição política, mas que tinha recursos para injetar na campanha. E o fez. Foi eleito e reeleito. Na primeira oportunidade saltou para o governo, em troca de cargos. Assumiu a Secretaria das Cidades e virou em seguida presidente da Assembleia Legislativa, condição que o levou ao comando do Palácio Araguaia. Sandoval tem sido leal ao siqueirismo na medida em que a lealdade o beneficia. E deve permanecer, mas até quando?
A resposta deve seguir a lógica da política, que indica que neste campo não há espaço vago. Cai um, entra outro no lugar. Pode ser o fim do ciclo político do siqueirismo e certamente o nascimento de outro ciclo político. Que pode ser comandado pelo siqueirista Sandoval, como pode ser por outros nomes que se opõem ao siqueirismo. Se o critério for a vontade popular, que no final é que vai decidir, o novo ciclo político será comandado por forças que se opõem ao siqueirismo. Basta ver a boa aceitação dos nomes que fazem oposição e o enorme desgaste do governo.
Por conta deste dado é que indiscutivelmente Sandoval terá que dar um passo à frente se quiser se manter no processo político. Ainda tem o aspecto administrativo. Se quiser fazer um bom governo Sandoval terá que romper indiscutivelmente com o passado que o levou ao poder e que pode levar à ruína. Não há meio termo. Sandoval ou rompe ou será esquecido, massacrado pela vontade popular que exige mudanças substanciais.
Na verdade esse rompimento já vem acontecendo paulatinamente. Os cargos mais importantes do governo estão sendo ocupados por sandovalsistas. Veja o exemplo da Secretaria de Planejamento entregue ao ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa Joaquim Júnior, um dos mais fieis colaboradores do novo governador desde tempos idos. O novo secretário da Saúde, o odontólogo Luiz Antonio da Silva Ferreira, também é um nome da mais estrita confiança do governador. Ele assume a vaga da ex-secretária Vanda Paiva, que era uma indicação de Eduardo Siqueira Campos.
Vele ressaltar que neste governo a Secretaria de Planejamento voltou a ser uma superpasta tão poderosa que chama atenção. Nesta pasta estão concentradas todas as informações sobre o andamento do orçamento, mas também da área da fazenda, relativo à arrecadação e pagamento. O que isao quer dizer? Que o governador assumiu o controle de tudo e está sentado em cima do cofre.
O grande problema é que Sandoval parece estar deixando o poder lhe subir à cabeça. Prefere fazer política em vez de cuidar com seriedade da gestão. Neste caso além de não ajudar o siqueirismo vai terminar por neutralizar qualquer tentativa de se manter com identidade própria, com projeto próprio. Indiferente a esta realidade que exige pulso forte no comando da gestão, Sandoval Cardoso segue a risca o projeto siqueirista de se manter no poder a qualquer custo, ainda que custe o aprofundamento da crise do Estado com políticas eleitoreiras, em vez de medidas saneadoras.