Sandoval Cardoso não é o bom moço que tenta vender na propaganda

27 setembro 2014 às 09h50

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O debate da última semana expôs um lado do governador do Tocantins, Sandoval Cardoso (SD), que não foi visto em sua propaganda eleitoral. Além de baixar o nível do debate, o candidato precisou lidar com acusações de que teria comandado um esquema de “mensalão” no Legislativo tocantinense

Sandoval Cardoso (SD) protagonizou um bate-boca pesado com o senador e candidato ao governo, Ataídes Oliveira, do Pros. O parlamentar acusou o governador de distribuir um “mensalão” aos deputados à época em que era presidente da Assembleia Legislativa e quis saber de onde saia o dinheiro para o caixa extra dos deputados. Se esquivando como podia, o candidato governista nem se deu ao trabalho de negar a existência do mensalão e, ao invés de se defender da grave denúncia feita por Ataídes Oliveira, passou a acusá-lo de nunca ter feito nada pelo Tocantins e de ter laços históricos com o siqueirismo, inclusive tendo sido 1º suplente de senador pela chapa de Siqueira Campos, em 2010.
O telespectador mais atento, que acompanha o noticiário político nacional, com certeza ficou se perguntando sobre como funcionaria esse mensalão denunciado pelo senador Ataídes Oliveira e qual seria a fonte pagadora, xplicação talvez adiada para os próximos programas eleitorais do parlamentar do Pros, que tem demonstrado forte indignação com o que ele chama de “desgoverno que pratica uma corrupção danosa”.
Sandoval seria “laranja”?
O senador Ataídes Oliveira também acusou Sandoval Cardoso de ser o maior “laranja” das eleições de 2014. Para o senador, já estava claro para toda a população tocantinense que o governador era signatário de um acordo com Siqueira Campos para que esquentasse a cadeira de chefe do Poder Executivo no Palácio Araguaia até que Eduardo Siqueira Campos pudesse assumir o governo por via indireta. Uma jogada que consistia em articular para que o filho do ex-governador se tornasse presidente da Assembleia Legislativa, como primeira parte da trama, que acabaria com a renúncia de Sandoval mais à frente.
O candidato do Solidariedade, por sua vez, negou a existência do acordo sem, contudo, querer explicar como se deu o processo de renúncia de Siqueira Campos e João Oliveira. E na velha tática de que a melhor defesa é o ataque, o governador, com ares de abatido, disse que quem devia explicações à sociedade era Ataídes Oliveira, por seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Saiu pela tangente!
Machismo e desrespeito
Antes de todo esse embate entre Ataídes e Sandoval, a postulante do PSol, Eula Angelin, havia sido exposta a uma cobrança vexatória de suas contas pessoais, devido ao fato de que movimentou o noticiário do Estado na segunda-feira, 22. No centro da questão: a falência de mais um fundo de investimentos em que o Instituto de Previdência do Tocantins (Igeprev) tinha aplicações. A advogada socialista questionou o governador sobre que providências ele vinha tomando para punir os responsáveis pelo desvio de mais de R$ 300 milhões do instituto.
Visivelmente transtornado, e fugindo ao assunto do Igeprev, Sandoval partiu para cima de Eula Angelin com acusações ríspidas de que a candidata havia se tornado “laranja” do candidato peemedebista, Mauro Miranda. Como se não bastasse, Sandoval desviou imediatamente do assunto do rombo amplamente denunciado do Igeprev para começar a expor a vida privada de Eula Angelin, dizendo que ela devedora do IPTU no município de Palmas. Ou seja, o atual governador desceu a um nível baixo para expor ao constrangimento público uma cidadã, como se esse fosse esse o seu papel.
Desmatamento ilegal
O bate-boca com Eula Angelin rendeu a Sandoval Cardoso mais uma pergunta que o deixou visivelmente transtornado. A candidata do PSol expôs que ele se dizia um homem sem dívidas, mas que havia sido multado pelo Naturatins em mais de R$ 4,6 milhões por desmatamento irregular em área de preservação ambiental, em 2008, e que, segundo constava no processo, apesar de ter sido agraciado com um abatimento, nunca havia quitado seu débito.
O candidato do Solidariedade, numa postura arrogante e de distanciamento, como se estivesse falando com subalternos e não com postulantes ao cargo de governador, não parou de apontar a candidata como sendo “laranja”. Não satisfeito de ter sido um cobrador de impostos municipais chegou ao ponto de acusá-la de ser devedora na compra de roupas íntimas de ambulantes, novamente entrando na seara da vida privada da candidata.
Quanto aos R$ 4,6 milhões da multa não paga ao Naturatins, por mais um crime ambiental (Sandoval já foi investigado pelo Ibama pela morte de uma onça pintada), ele se limitou a dizer que não devia nada, algo que militantes contrários à sua candidatura trataram de desmentir ainda na madrugada de segunda-feira, 22, nas redes sociais, demonstrando os dados do auto de infração do órgão ambiental, com riqueza de detalhes.
Ao fim do debate, ficou a sensação de que ninguém saíra vitorioso, mas a certeza de que o governador Sandoval Cardoso foi o grande perdedor por conta da sua postura arrogante, desrespeitosa e pela insistência em repetir chavões prontos se esquivando a responder aos questionamentos.