O emedebista Rogério Freitas avalia as eleições municipais em tempos de pandemia e a necessidade de se reinventar o modo de fazer campanha

Vereador Rogério Freitas | Foto: Aline Batista

Rogério Freitas é goianiense, mas pioneiro da capital tocantinense, com formação universitária em Letras e pós-graduado em Gestão Escolar. Funcionário público da Educação no Estado do Tocantins, exerceu por alguns anos, o cargo de diretor de escola estadual.

Filiado ao MDB desde 2006, foi eleito vereador em Palmas em 2012, com 3.112 votos (2,59%), exercendo a presidência da Câmara Municipal no biênio 2015/2016, e reeleito em 2016 com 2.253 votos (1,67%). Em 2020, vai tentar sua segunda reeleição. Freitas também prega a unidade do partido ao qual está filiado e acredita que a sigla terá candidatura própria ao Paço Municipal. 

Quais são as preponderantes diferenças que o Sr. vislumbra entre outras eleições disputadas e essa de 2020, que será atingida pela pandemia decorrente do coronavírus?
Anteriormente, as campanhas que se sobressaíam eram aquelas que tinham muito movimento e corpo a corpo. Mas neste ano, em razão da Covid-19, as pessoas estão com medo de saírem para as ruas.

Pesquisas indicam os eleitores estão receosos com o contato físico e isso muda completamente o jeito de fazer política. Tenho ido visitar as pessoas respeitando o distanciamento e utilizando máscaras. É uma segurança que tenho para passar para os eleitores. 

E essa campanha de 2020 passa necessariamente pelas videoconferências?
Tudo é ainda muito novo. As próprias administrações, estadual e municipal, por exemplo, já sentiram muita dificuldade com essa modalidade, para ofertar aulas nas escolas públicas. Não são todas as pessoas que possuem internet banda larga de qualidade e ilimitada. Por outro lado, muitas famílias – em tempos de pandemia – priorizaram outras necessidades e, algumas delas, cortaram ou diminuíram os planos de dados da internet. O mesmo ocorre em relação às conferências políticas. Naturalmente, isso acaba prejudicando a divulgação das ideias e projetos nos bairros mais periféricos ou na zona rural.

Desde sua primeira eleição, o Sr. sempre foi filiado ao MDB. Na última janela de transferências partidárias alguns vereadores de mandato filiaram-se ao seu partido. Como o Sr. recebeu e analisa essas filiações, dentro deste contexto?
A chegada de vereadores com grande potencial de votos nos favorece. A medida tomada pelo Congresso Nacional teve a intenção de fazer com que os partidos crescessem, fortalecendo quem realmente tem base eleitoral. Anteriormente, as siglas nanicas – muitas sem representatividade – acabavam se beneficiando do “jogo eleitoral”. Assim sendo, considerando que para disputar e ganhar as eleições tem que ter votos, quanto mais pessoas com grande apreço popular estiverem no partido, maiores serão as nossas chances. O MDB, pelo seu tamanho, já compreendeu essa nova metodologia e sairemos da campanha eleitoral mais fortalecidos do que entraremos. 

A presidente estadual do MDB, a deputada Dulce Miranda, disse há poucos dias ao Jornal Opção que a sigla vai esperar o pré-candidato Raul Filho até o último dia e que, ele só será o candidato se apresentar documentos que ofereçam segurança jurídica. Qual o seu posicionamento acerca desse tema?
A dona Dulce tem toda legitimidade para falar em nome do partido e discutir a política municipal em Palmas. Ela está sendo prudente. O MDB teve apenas uma candidatura própria em Palmas, disputada pelo saudoso Eudoro Predoza. Nas outras, sempre fizemos coligações e indicamos vice-prefeitos. Ou seja, se não majoritariamente, sempre fizemos parte do processo político da capital.

Neste caso, se conseguirmos ter em 2020 uma candidatura própria, será maravilhoso e fortalecerá a chapa de vereadores. Contudo, se o ex-prefeito Raul Filho não conseguir se desvencilhar das questões jurídicas, tenho certeza que os proporcionais saberão defender a sigla e, certamente, vão se sobressair. Eu exemplifico: em 2018, o MDB abriu mão, pela primeira vez na história, de lançar candidatura própria ao governo do Estado do Tocantins, todavia, se fortaleceu no parlamento ao eleger cinco deputados estaduais – a maior bancada – e uma deputada federal.   

O que o Sr. pensa do grande bloco que se cogita formar, que inclui o próprio MDB, PT, PDT e PCdB?
Se a oposição se manter dispersa, certamente favorece a reeleição da atual prefeita. No diretório metropolitano quem dita as regras é o deputado Valdemar Junior. Se ele está participando dessas reuniões, por certo ele entende que a composição é possível. Creio que as convenções partidárias, que serão realizadas em breve, vão definir o futuro das siglas e dos candidatos. Aquilo que for decidido pela cúpula do partido, eu acatarei e defenderei na  campanha. 

Naturalmente, o seu passado como vereador vai lhe proporcionar ou não, votos na eleição de 2020. Como o Sr. avalia sua atuação parlamentar?
A cada quatro anos os políticos são obrigados a se submeterem a um novo vestibular. Só são aprovados nesse certame – através do soberano veredito popular – quem tem história e serviços prestados à comunidade. Eu encaro esse momento com muita tranquilidade, pois tenho consciência que trabalhei muito pela população. Creio que os palmenses saberão avaliar as minhas condutas no parlamento. 

Particularmente, considero o trabalho como satisfatório, pois sou um dos vereadores que mais teve projetos de lei aprovados e, segundo o observatório social, um dos que mais aprovou projetos de relevância social. Sempre me posicionei ao lado dos palmenses naquilo que era interesse da coletividade, como também em relação ao poder executivo, independentemente de fazer ou não, parte da base de sustentação. Não abro mão de expor minha opinião e apresentar propostas. Isso é muito importante para balizar o quê o poder executivo quer e o quê a população precisa. 

Quem não conhece o parlamento acredita que o fato do Sr. fazer gestão para participar de Comissões importantes da Casa Legislativa, é uma questão de “status”. Qual é o grau de importância das Comissões no parlamento?
A CCJ é tão importante como as outras, não há esse “status” para diferenciá-la. A diferença é que a CCJ recebe todos os projetos protocolados na Câmara e analisa a constitucionalidade deles. Após essa “peneira” os projetos são encaminhados para as Comissões que analisam o mérito das matérias. 

No que concerne a conseguir fazer parte de alguma Comissão, passa pelo fato do vereador saber articular politicamente, além de fazer parte de um bloco ou não. Já para ser o presidente, é preciso convencer seus pares que seu nome é o melhor naquele momento. Isso faz parte do processo político e há uma série de debates antes da votação, entre o líder do bloco e os outros pares. 

Como o Sr. viu a condução e o enfrentamento à Covid-19, em todas as esferas de governo, federal, estadual e municipal?
Nunca havíamos vivido uma epidemia que assustasse tanto a população e causasse tantos problemas. O STF incumbiu os Estados e Municípios de tomar decisões que achassem mais corretas para esse enfrentamento. 

Particularmente, acreditei que a quarentena serviria exatamente para que os governos se organizassem, se aparelhassem e adequassem suas redes hospitalares para receber as pessoas doentes, quer seja em grau mais leve ou mais grave. Houve uma quarentena de mais de 100 dias e os leitos não foram ampliados e considero isso um equívoco. As pessoas continuam sendo contaminadas e ainda corremos o risco de termos saturação nos leitos de UTI. Vidas serão ceifadas pela Covid-19, porque faz parte deste contexto, no entanto, o que não é aceitável é o fato dos governantes não oferecerem condições da população lutar pela vida.  

E quanto à economia pós-pandemia?
Dizer para as pessoas ficar em casa apenas, não resolve. É preciso cuidados como a utilização de máscaras e álcool em gel, além do distanciamento. Mas a economia também precisa girar. Pessoas estão sendo demitidas, ficando em casa e passando fome. Por isso, considero que a condução foi equivocada, pois quando essa ajuda do governo federal se findar e a pandemia passar, muitas pequenas e médias empresas estarão quebradas. Isso vai refletir nos próximos quatro ou cinco anos. 

Em relação ao município, por exemplo, achei pouco prudente a Câmara de Vereadores ter sido cerceada de fazer parte do Comitê que trata da Covid-19. Nós, como parlamentares, ouvimos todos os dias os apelos e necessidades das comunidades, no entanto, não tivemos voz no Comitê que decidiu os rumos do enfretamento à pandemia. 

Outro fato a ser esclarecido é a disparidade entre o montante de repasses financeiros que chegaram ao município e o quanto foi empenhado e liquidado. Faltou remédio nas farmácias do município e nos postos de saúde e isso não poderia ter acontecido. Houve algo muito errado nesta questão, mas só podemos emitir opiniões balizadas, com os processos nas mãos. 

Como pré-candidato à reeleição o Sr. ainda não pode pedir votos, mas o que tem a dizer para a população de Palmas?
Esperem de mim o compromisso e o empenho de sempre. Faço política visando o bem-estar das pessoas. Vai ser complicado visitar o eleitorado em função da pandemia, contudo, vamos encontrar mecanismos para falar com a população e apresentar nossas propostas e soluções para os gargalos da cidade. Acredito no futuro e, também, no potencial de Palmas, a cidade de todos nós. Muito obrigado.