“Reforma política não é a salvação para todos os níveis de corrupção”
06 dezembro 2014 às 09h37
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Deputada federal eleita não vê dificuldade para a relação do prefeito de Gurupi — que apoiou Sandoval Cardoso — com Marcelo Miranda
Gilson Cavalcante
Para a deputada estadual Josi Nunes (PMDB), que agora vai assumir uma cadeira na Câmara Federal, a reforma política não pode ser feita sem ser melhor discutida com os segmentos sociais. “Eu espero que ela não seja feita de forma açodada e que achem que será a tábua de salvação para todos os níveis de corrupção no Brasil. Não é. A reforma política ter que ser feita com calma, com tranquilidade, ouvindo não somente a OAB e CNBB, mas principalmente os segmentos sociais, os representantes das minorias, para ser bem representativa. Acho que a proposta tem que melhor amadurecida”, defende a parlamentar, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção. A questão se será realizado um plebiscito ou apenas um referendo, Josi Nunes entende que a proposta da reforma tem que, primeiro, apresentar todas as informações essenciais à comunidade, para que ela possa opinar com consciência sobre o processo. “Em 2015 temos de levar (a reforma) ao conhecimento à sociedade, para que ela tenha maturidade para participar do processo.” A deputada federal eleita se diz favorável a mexer na reeleição e na duração do mandato para os cargos Executivos. “Estamos vendo aí o alto índice de corrupção no Brasil e não temos ainda maturidade para ter reeleição. Eu entendo que a proposta deve ser o fim da reeleição, com mandato de cinco anos”, sustenta.
A sra. tem noção do impacto financeiro na folha de pagamento dos servidores estaduais, com a aprovação desse pacote de benefícios encaminhados à Assembleia Legislativa e aprovado a toque de caixa pelos parlamentares?
Na verdade, todas essas alterações geram um impacto, mas a valorização do servidor público e a qualidade dos serviços prestados é que devem ser o grande foco. O nosso foco aqui é corrigir distorções. Na categoria dos policiais militares e dos bombeiros havias policiais com mais de 20 anos de carreira que nunca tinham tido promoções e a aprovação dessas medidas vem dar um certo equilíbrio. É importante que qualquer governo do Estado possa valorizar o seu servidor, que faz a máquina administrativa funcionar. O que tem que fazer mesmo é uma grande reforma administrativa, analisar a situação de todas as categorias, criar uma situação de maior equilíbrio, não deixar uma categoria mais privilegiada que outra.
Nesse caso, a sra. defende a isonomia salarial para corrigir as distorções?
A isonomia salarial é um imperativo. Às vezes, há discrepâncias muito grandes entre determinadas categorias, com servidores que exercem a mesma função recebendo salários diferentes. Tem que se levar em conta a carreira, as promoções, a qualidade dos serviços prestados, a estrutura física, tudo isso tem que ser analisado, para que nosso servidor possa ter tranquilidade e segurança para exercer bem a sua função.
Em Gurupi, o prefeito Laurez Moreira, do PSB, apoiou o candidato-governador Sandoval Cardoso, mas fechou a com a sra. na disputa à Câmara Federal. Como vai ficar a relação do prefeito com o governo de Marcelo Miranda, levando em conta que a vice-prefeita do município é a sua mãe (Dolores Nunes)? A cidade vai ganhar com isso?
Agora que passaram as eleições, espero que cada um assuma as suas escolhas mediante compromissos firmados. O prefeito de Gurupi tinha os seus compromissos com o governo do Estado, eu sempre tive o compromisso com o PMDB, com o então candidato Marcelo Miranda, trabalhamos (eu e o prefeito Laurez Moreira) separados na eleição majoritária. A eleição passou e a perspectiva agora é de que todos se sentem à mesa e priorizem as ações nos municípios. Quem mora nas cidades é que deve ser prestigiado e valorizado. Brigas políticas tem que ser deixadas de lado nesse momento. Prefeito e governador eleito terão que se relacionar e o que eu puder colaborar para que Gurupi (principal base eleitoral da deputada) e todos os municípios que eu represento e o Estado do Tocantins cresçam, eu vou fazer, independentemente da posição partidária daquele prefeito, daquela liderança. Temos que olhar para o futuro e construir um novo caminho.
Ainda está distante a sucessão municipal de 2016, mas como a sra. vislumbra o cenário político em Gurupi? O prefeito Laurez deve disputar a eleição. PSB e PMDB, com outros partidos, podem se coligar novamente?
Não discutimos ainda a questão das eleições municipais. Acabamos de sair das eleições estaduais. Fazemos parte da administração do prefeito Laurez porque ajudamos a elegê-lo, mas não houve nenhuma conversa quanto o pleito de 2016. Estamos nos preparando para a diplomação e tomar posse em fevereiro. As discussões sobre a sucessão municipal começam mesmo no segundo semestre de 2015. Vejo é que Gurupi está sendo bem administrada, melhor do que outros gestores que passaram pelo comando do município recentemente. Gurupi tem melhorado em muitos aspectos, mas tem ainda muitos desafios, apesar da cidade ter o segundo IDH do Estado. Existem alguns desafios que o prefeito ainda não conseguiu solucionar, porque carece também de investimentos por parte do governo estadual. Eu quero agora, como deputada federal, trazer recursos para Gurupi.
Gurupi tem potencial para ser um grande polo industrial. Os projetos nesse sentido paralisaram no tempo. O que pode ser feito para tornar esse sonho antigo em realidade?
Pode sim. Queremos discutir juntos todos os esses projetos de desenvolvimento para Gurupi. Coloco o meu trabalho à disposição de Gurupi e do Estado do Tocantins, para que a gente possa trazer recursos, que ainda estão muito centralizados no governo federal.
A sra. já tem em mente de como será sua atuação parlamentar na Câmara Federal? Que bandeiras vai defender?
Na campanha eleitoral eu fiz alguns compromissos. E um dos nossos principais focos é a pauta municipalista. Todas as bandeiras importantes para fortalecer os municípios eu estarei presente dando respaldo e apoio. Por exemplo, agora o Congresso aprovou um aumento no índice do porcentual do FPM. Bandeiras como essa podem contar comigo, para que os municípios sejam fortalecidos. Além disso, trazer, através de emendas parlamentares, os recursos. A outra questão que será um grande foco nosso é a melhoria dos serviços públicos. Por isso, vou propor ideias, discutir para que os serviços nas áreas de saúde e segurança e educação, por exemplo, sejam de qualidade. Vou ter um foco muito especial para educação e saúde. Educação principalmente, porque sou professora. Vou fazer também um trabalho de incentivo fiscal para que o nosso Estado possa se desenvolver economicamente, atraindo novos investidores. Com isso, a geração de emprego e renda terá novo alento.
O Tocantins vai ganhar muito com a senadora Kátia Abreu assumindo o Ministério da Agricultura? A representação da mulher tocantinense no Congresso colocará o Tocantins em destaque no cenário nacional, uma vez que a bancada do Estado contará com três deputadas federais?
Acredito que sim. Tivemos um acréscimo na participação da mulher na política. Mas o objetivo geral de todos os parlamentares tocantinenses no Congresso Nacional é fortalecer o Estado do Tocantins, o que vai depender muito de nossa atuação no Congresso.
E qual a importância da senadora Kátia Abreu assumir o Ministério da Agricultura para o Tocantins?
É importante qualquer participação de lideranças tocantineses no governo federal. É uma posição de destaque para o Estado, não só representar, mas ter ações concretas que venham beneficiar o Tocantins.
Como o governador eleito Marcelo Miranda deve agir para tirar o Estado da crise em que se encontra?
Na minha perspectiva, tem que ser feito uma grande avaliação da máquina do Estado, o que realmente é necessário ter de estrutura, de pessoal, de material, de equipamentos. Temos áreas carentes de pessoal e outras com um número maior de pessoas trabalhando; há áreas em que a estrutura física é um caos. Tem que se fazer um estudo e equipar a máquina do Estado. Essa avaliação está sendo feita. Mas isso não é de um dia para o outro, tem que ser gradativo, não tem nenhuma mágica, e aos poucos, o governador Marcelo Miranda cumprirá as metas que estabelecer, melhorando os serviços públicos. Não pode mais perdurar esse caos na infraestrutura do Estado, com as rodovias e estradas sem manutenção, a saúde com sérios problemas, o mesmo com a educação e diversas ouras áreas. Marcelo Miranda tem uma sensibilidade muito grande e eu tenho certeza que ele vai desenvolver as ações necessárias para fazer o Tocantins novamente crescer e ser pujante social e economicamente.
A sra. vai sugerir ou já sugeriu algum nome para a montagem da equipe de auxiliares de Marcelo Miranda?
Não. Eu vou participar na condição de deputada federal, em Brasília, colaborando, trazendo recursos, dando sugestões, mas não temos nenhuma indicação de nome para o novo secretariado.
Como é o relacionamento da sra. com a deputada federal eleita Dulce Miranda, também do PMDB?
É um relacionamento bem estreito. Estamos sempre juntas, quando ela não pode ir a Brasília eu vou. Sempre estamos trocando ideias. O líder atual do PMDB faz reuniões toda semana com os deputados eleitos e tem nos convidado. Nas reuniões da bancada do PMDB em Brasília, já estão presentes os atuais deputados e aqueles que irão assumir em fevereiro do ano que vem. Temos feito uma série de discussões sobre a reforma política. Esse é o grande tema que o PMDB quer adotar para 2015. Está sendo feito uma grande pesquisa nacional, estamos coletando sugestões dos companheiros do PMDB para que possamos encaminhar essa síntese ao PMDB nacional. E, depois da síntese, será encaminhada para o Congresso, para o presidente da Câmara e do Senado, para servir de sugestões.
O principal foco dessa tão propalada reforma política é o financiamento de campanha. Seria esse o grande viés da reforma?
Não apenas isso. Existem muitos outros aspectos que a reforma política deve contemplar. O fim da reeleição ou não, por exemplo, coincidência de mandatos, voto distrital, distrital misto, lista aberta ou fechada. São muitos temas. Na minha avaliação, hoje se fala muito em reforma política, o que eu acho fundamental. Mas eu espero que ela não seja feita de forma açodada e que achem que será a tábua de salvação para todos os níveis de corrupção no Brasil. Não é. A reforma política ter que ser feita com calma, com tranquilidade, ouvindo não somente a OAB e CNBB, mas principalmente os segmentos sociais, os representantes das minorias, para ser bem representativa. A proposta tem que melhor amadurecida. Vejo que as pesquisas são importantes, mas o cidadão comum precisa compreender melhor todos os temas que devem ser contemplados na reforma política. É preciso fazer uma grande discussão nacional e levar essas informações para a comunidade. A presidenta Dilma Rousseff fala em plebiscito, em referendo, mas eu vejo que a sociedade precisa de mais conhecimento para se manifestar com consciência. Então, eu acho que adotar essas medidas agora não é importante. O momento é aproveitar 2015 para levar (a reforma política) ao conhecimento da sociedade, para que ela tenha maturidade para participar do processo.
Particularmente, a sra. é favorável ao fim da reeleição?
Sou favorável sim, com o mandato passando de quatro para cinco anos. É bom ressaltar que na época em que o então presidente Fernando Henrique fez essa proposta da reeleição, a única deputada tocantinense contra a reeleição foi Dolores Nunes, minha mãe. Estamos vendo aí o alto índice de corrupção no Brasil e não temos ainda maturidade para ter reeleição. Eu entendo que a proposta deve ser o fim da reeleição, com mandato de cinco anos.
Outro aspecto que deve ser ponderado na reforma política é o voto de legenda.
Isso também deve ser bem discutido. Ou se continua com a votação proporcional como é agora ou se continua com o voto majoritário, prevalecendo a eleição dos candidatos que obtiverem mais votos. A gente nota observa que existem algumas injustiças. Por exemplo, quando o Eneias foi eleito a deputado federal, ele levou, se não me engano, mais três candidatos, devido a sua alta votação. Na época, teve candidato que foi eleito com 200 votos. Essas distorções têm que ser corrigidas. Qualquer modelo que seja adotado, tem que ser aperfeiçoado.
Qual o destino do PMDB tocantinense, que sempre se caracterizou por brigas internas homéricas, inclusive com tentativas de alguns membros de inviabilizar a candidatura de Marcelo Miranda ao governo do Estado. Como vai ficar o seu partido de agora para frente, para a disputa das eleições municipais a menos de dois anos?
Conseguimos vencer uma grande etapa, na época da convenção. Só conseguimos resolver o problema na convenção quando o diretório nacional viu que tinha que tomar uma medida mais drástica, a intervenção. Nós ainda não regularizamos o partido, que está com a comissão interventora. O partido tem que formar uma comissão provisória estadual para preparar para a formação da nova diretoria estadual definitiva e o diretório organizar o PMDB em todo o Estado.
Quem poderá assumir o partido?
Temos que fazer uma grande discussão. Há muitos nomes em condições de assumir o partido. Temos que chegar a um consenso para que o partido possa estar apaziguado e evitar as eventuais e possíveis dissensões. É fundamental que o partido pare com essas brigas internas, para estar fortalecido para as eleições vindouras. Enquanto o partido não for respeitado, essas brigas existirão. O PMDB briga para que os seus princípios sejam respeitados. Sempre foi assim, porque o PMDB é democrático. Não adianta vir para o PMDB achando que vai mandar. O nosso partido, como o próprio nome diz, é democrático e como tal, tem que respeitar as divergências e construir um caminho para si.
Apesar das tentativas de golpes e casuísmos?
Apesar disso tudo, tem sobrevivido sim, graças à resistência de lideranças importantes. O PMDB precisa de um líder em seu comando que tenha flexibilidade, que seja um bom articulista e contemporizador, com equilíbrio, capaz de transitar em todas as áreas. O importante é não ter vaidade para presidir o partido.
Qual a marca que o governador eleito Marcelo Miranda deve imprimir no seu terceiro mandato?
A grande marca é fazer com que os serviços públicos tenham qualidade. Esse é o grande anseio do povo. O povo quer uma vida melhor, ir ao hospital e ser atendido com dignidade, sem demora. O povo quer um ensino de qualidade, que o professor seja valorizado e que possamos melhorar os nossos índices de avaliação e possamos competir e qualquer outra área. A sociedade quer que a infraestrutura do Estado seja garantida, que as nossas estradas, as nossas cidades estejam melhores estruturadas. O povo que uma cultura de paz e, para isso, precisamos de uma melhor estrutura no setor de segurança pública. E, por fim, impulsionar o desenvolvimento do Estado, atraindo novos investidores, para a geração de emprego e renda.