Alan Barbiero (Podemos) fala sobre a atual gestão de Palmas e expõe suas razões para candidatura à prefeito

Alan Barbiero é agrônomo com doutorado em Sociologia e Economia do Desenvolvimento, além de professor universitário da UFT, da qual foi reitor por dois mandatos. Empreendedor no agronegócio, produz grãos e sementes na região central do Estado do Tocantins e no Estado do Pará. Suplente de deputado estadual, exerceu o cargo entre fevereiro de 2017 e janeiro de 2018, com a licença do titular Ricardo Ayres (PSB),

Nesta entrevista, ele fala sobre a atual gestão de Palmas, expõe suas razões para candidatura à prefeito, apresenta propostas para administrar a capital do Tocantins, bem como aborda suas perspectivas acerca do pleito eleitoral de 2020.

Quais razões o levaram a migrar do PSB para o Podemos?
Creio que tomei a decisão acertada. Hoje o Podemos tem uma identidade em Palmas. Fizemos algo que muitos partidos não conseguiram: montamos um bom e completo time de candidatos a vereador. Pessoas comprometidas com a cidade, propositivas e dispostas a discutir soluções para a nossa capital. O presidente estadual da sigla, Ronaldo Dimas, foi muito firme e deu todo o respaldo, resistindo às possíveis pressões. Ele acreditou no projeto e, por isso, hoje a minha candidatura a prefeito de Palmas é uma realidade. 

A condução e o enfrentamento à pandemia, por parte do governo municipal, foi muito criticada, principalmente pelos comerciantes. Qual é a sua visão acerca desse tema?
Creio que houve erros grotescos. O enfrentamento deveria ter sido feito com diálogo, transparência e olhar sistêmico de 360º. É necessário o foco na vida e na saúde, mas não os outros aspectos não podem deixar de ser considerados, porque todo fenômeno social tem várias vias. Se fosse prefeito, teria criado equipe multidisciplinar, com pessoas ligadas à saúde, à economia, ao social, entre outras, para enfrentar o problema e sua complexidade. 

Em Palmas se tomou a medida mais simples e menos inteligente: no primeiro dia, sem nenhum caso e contágio comunitário, decretou-se um “lockdown”, confinando as pessoas em casa e fechando o comércio. Três meses depois – exatamente quando a cidade passava pelo epicentro da pandemia – teve que reabrir o comércio, porque os comerciantes estavam quebrando. Acredito, portanto, que não houve planejamento. Com o aporte de recursos que foram enviados para Palmas, seria possível comprar testes, fiscalizar fronteiras, erguer hospitais de campanha e até mesmo uma parceria com o “Hospital do Amor”, deixando um legado para a cidade no pós-pandemia. Nada disso foi feito. E para onde foram esses recursos? Faltaram testes, medicamentos, leitos hospitalares, entre outros. Metaforicamente, é como se houvessem engessado a perna antes dela quebrar e, depois, tentaram retirar o gesso com a fratura exposta. 

Fiz questão de convidar a Micheline Cavalcante para ser minha candidata a vice, exatamente porque ela é professora universitária, doutora em saúde pública e servidora de carreira do município, com mais de 20 anos de experiência no SUS. O convite a ela foi feito por questões técnicas e não por conchavos políticos – gerando alianças contraditórias – como ocorreu com outras candidaturas.  

O Sr. tem larga experiência na educação, pois praticamente implantou a UFT na condição de reitor, como também como empresário e político, uma vez que já exerceu o cargo de deputado estadual. O que isso pode trazer de positivo para Palmas caso seja eleito?
Meu passado, experiência, maturidade e, principalmente equilíbrio emocional, me credenciam. Me sinto preparado para administrar a cidade promovendo o diálogo com as pessoas. Vejo a administração de Palmas isolada e indiferente às demandas da sociedade. Esse medo da crítica denota insegurança. Quando se tem medo de delegar responsabilidades, não se pode cobrar resultados e isso é incapacidade de gestão. 

Passei por várias experiências e fui reitor de uma universidade, o ambiente mais crítico que se pode enfrentar. Fui eleito com 82% dos votos e, posteriormente, reeleito com 91%. Isso significa que correspondi às expectativas de quem votou a primeira vez. Esse consenso foi fruto de uma gestão participativa, que ouvia as pessoas. É esse o projeto que tenho para Palmas, porque o município precisa de um prefeito que saiba que todos são importantes e o conhecimento de cada pessoa deve ser valorizado. 

Um prefeito “encastelado”, dentro de um gabinete rodeado de bajuladores, não tem tempo para ouvir o que a população da cidade quer. Vejamos o exemplo do Shopping a céu aberto, na avenida Tocantins, em Taquaralto. Um projeto aparentemente bonito, mas que sem a participação popular, não atendeu as expectativas e deixou os comerciantes insatisfeitos. Isso tem que ser evitado. 

Os gestores estaduais pontuam que a prefeitura de Palmas não faz a parte dela – no que concerne à atenção básica – ficando todo encargo para Estado do Tocantins. Estando os partos relacionados à atenção primária, não seria o caso da capital contar, pelo menos, com uma maternidade?
A cidade de Araguaína, que tem orçamento equivalente a menos da metade de Palmas, conta com um hospital municipal. Todas as capitais do Brasil também tem, menos a do Tocantins. O município tem essa responsabilidade com seus cidadãos. Conversei muito com o prefeito Dimas e ele disse que mantém, com certa tranquilidade, o hospital municipal porque faz uma gestão eficiente. Os recursos oriundos do SUS contribuem sobremaneira para isso. Assim sendo, acredito ser plenamente possível Palmas ter ser próprio hospital, basta haver vontade, gestão e responsabilidade com o cidadão. 

Quais são os pilares da sua candidatura?
Defendo, principalmente, uma cidade empreendedora, inclusiva e sustentável. Precisamos tirar a cidade dessa dependência do poder público. É preciso industrializar, mas em segmentos que tenham a ver com a nossa realidade, como alimentos, por exemplo. O projeto São João pode se tornar um grande celeiro para essas indústrias.

É preciso avançar também nas indústrias de medicamentos, tanto para a saúde humana, como veterinária, uma vez que importamos tudo de outros Estados. Já a indústria da construção civil também merece apoio, tornando-se o grande polo fornecedor não apenas para o Tocantins, como para os nossos vizinhos, Bahia, Pará, Mato Grosso e Maranhão. A indústria de máquinas e equipamentos agrícolas também pode ser fomentado. Tenho certeza que com uma política fiscal correta e séria por parte do município, poderíamos trazer sim, empresas dispostas a produzir aqui e fornecer para o Matopiba, por exemplo, uma fronteira agrícola exponencial. 

Podemos também incentivar a indústria educacional, uma vez que Palmas é uma cidade universitária, além da indústria da saúde, tornando nossa capital um grande referencial para o norte do País. 

A cadeia produtiva do peixe também precisa ser melhor explorada. Segundo dados da Embrapa, a utilização de apenas 0,5% da lâmina líquida do lago de Palmas, pode gerar rendas na ordem de R$ 1 bilhão de reais por ano, de forma sustentável. Isso inclui quem engorda e produz os peixes, quem fabrica as gaiolas, quem fabrica ração, quem transporta, como também, quem trabalha no frigorífico, entre outros. E digo mais: caso eleito, me comprometo a adquirir toda produção inicial dos peixes, visando alavancar essa cadeia produtiva, incluindo essa proteína na merenda escolar, melhorando o desenvolvimento dos nossos alunos. 

E outros pilares?
Uma cidade mais humana e solidária. Acredito na economia solidária e acessível e na humanização de uma forma geral, mas principalmente, no trânsito. Precisamos incentivar a contratação de cooperativas para prestar serviços no município, por exemplo. 

Penso numa cidade única, acabando com a divisão entre o norte, plano diretor e região sul. É possível integrar Palmas, através de linha de conexão e parques que possam integrar as regiões.

Já o terceiro pilar baseia-se em uma cidade moderna, inteligente e eficiente. Dentro do meu plano de governo, a segurança pública de Palmas passa por um forte esquema de monitoramento. Há uma infovia – cabeamento de rede de internet de alta velocidade – que cruza a cidade da Embrapa (norte) até a Ulbra (sul). É possível estender até a Agrotins, basta articular do jeito certo no Ministério da Ciência e Tecnologia. 

Essa rede viabiliza montar um sistema de cobertura para monitorar, de forma inteligente, toda a cidade, com o propósito de diminuir a criminalidade. Por essa mesma espinha dorsal, podemos interligar todas as escolas, como também, todas as unidades de saúde.

Na condição de candidato a prefeito, presume-se que o Sr. conhece o orçamento da cidade. O que pensa sobre o IPTU progressivo?
Sou contrário. Não tem como forçar alguém construir um prédio para usar ou alugar, se o mercado não está aquecido ou em recessão. Sou a favor de repensar a política de urbanização de Palmas, pois assim poderemos incentivar a dinâmica econômica e, com isso, incentivar novas construções. Há maneiras inteligentes de revitalizar e fazer com que a planta de valores da cidade fique adequada, alavancando a economia do município.  

Na minha visão, o distrito de Luzimangues só cresceu daquela forma porque nossa cidade ficou travada, cujos imóveis eram muito caros. As pessoas procuraram alternativas se mudaram para lá e, naturalmente, contribuíram ainda mais, para os vazios urbanos. 

Considerando o elevado número de candidaturas a prefeito, aliado ao fato do Sr. ser obrigado a enfrentar máquinas administrativas, como o Sr. pretende se sobressair nesse cenário?
Acredito na renovação. Tenho visto que a população de Palmas está cansada dos políticos tradicionais e profissionais, das contradições, das alianças eleitoreiras, de palanques pesados, além de movimentos de buracos e obras apenas em véspera de eleição. O que mais escuto são pessoas indignadas com essas práticas. As pessoas querem candidatos que transmitam segurança, experiência, capacidade e confiabilidade. Por tal razão, registrei minha candidatura. 

Fazer a nossa mensagem chegar a toda a cidade, em tempos de pandemia, não será fácil. Utilizaremos os meios cibernéticos, as redes sociais e – respeitando o distanciamento social por conta da pandemia – também bateremos de porta em porta para levar nossas propostas, como também, ouvir a população. Temos um bom time de candidatos a vereador e lideranças para nos ajudar nessa tarefa. Serão 45 dias de ritmo frenético, mas sem dúvidas, será gratificante, porque há um firme propósito de transformar essa cidade.