Candidato a governador afirma que a eleição indireta que levou Sandoval Cardoso ao Palácio Araguaia não afastou os Siqueira do poder. Para ele, Eduardo continua dando as ordens como no governo do pai 

Foto: Marcos Oliveira
Foto: Marcos Oliveira

Ruy Bucar

Candidato a governador pela coligação Reage Tocantins (Pros-PTN- PCdoB-PMN-PPL- PSDC-PTdoB), o senador Ataídes Oliveira diz que a renúncia do ex-governador Siqueira Campos (PSDB) foi uma operação meticulosamente montada para fazer Eduardo Siqueira governador, mas que falhou por incompetência do filho, que na última hora, diante da alta rejeição, desistiu da empreitada.

“Este moço foi e continua sendo a pedra fundamental do quebra-cabeça do ex-governador, só que felizmente não conseguiu fechar todo o projeto danoso ao Estado, porque o filho não teve competência nem para ser o candidato ao governo que era o sonho do pai”, avalia Ataídes, que considera Sandoval Cardoso um mero batedor de carimbo do siqueirismo.

Para o senador a eleição indireta que levou Sandoval ao governo não trouxe nenhuma mudança, apenas aprofundou a crise que já era grave e que, segundo ele, tem jeito, mas a custo de muito sacrifício. “A primeira coisa é estancar a sangria do dinheiro público, ou seja, nós temos que acabar com a corrupção, esse é o primeiro ponto. Não tem como você iniciar se não for por aí. Segundo, nós temos que equilibrar as contas do Estado”, afirma o candidato, dizendo que é impossível manter uma folha de pagamento que consome 56% da receita do Estado.

Qual o balanço dos primeiros dias de sua campanha?

De sucesso. Nossa coligação “Reage Tocantins” tem sete partidos com tempo de televisão acima de cinco minutos, suficientes para que possamos levar ao povo do Tocantins o nosso projeto de governo e não de poder, as nossas propostas. Nestas eleições não serão mais só A e B; vai ter o C além do Psol, do PCB.

O sr. não compôs nem com governo nem com oposição. É a terceira via?

Aqui não é terceira via. Aqui não é alternativa, aqui é a verdadeira oposição às mazelas deste governo. Aqui sim é a verdadeira oposição, o resto todo mundo já esteve por lá. Eu não. Um blog disse que o Ataídes rompeu com o Siqueira, eu nunca rompi com o siqueirismo porque nunca estive com o siqueirismo. Ajudei o governador Siqueira financeiramente em 2009, início de 2010, em março de 2010 eu me afastei do Siqueira, antes das eleições, e nunca pedi a ele uma tampa de caneta sequer, graças a Deus.

Analistas preveem uma eleição judicializada. O sr. teme ser penalizado também por essa perseguição do governo contra as candidaturas de oposição?

Impugnações devem ocorrer. Os blogs dizem que o PSDB na eleição de 2010 cometeu um erro contábil quando duas aeronaves de minha propriedade estavam voando para nossa campanha e a contadoria do partido colocou como doação aquelas duas aeronaves que estavam voando e isso gerou uma multa, que não importa o valor, é pequeno, e o próprio PSDB pediu a retificação da prestação de contas, uma vez que eles mesmos perceberam que haviam cometido erro contábil. Porém eu acreditando em nossas instituições, e não posso deixar de acreditar, até como advogado que fui, nós sabemos que nas nossas instituições há instabilidade jurídica no Tocantins, mas eu continuo acreditando nas nossas instituições, porque há muitas pessoas honestas, sérias e competentes. Estamos aguardando para ver o que vai acontecer, mas eu sempre afirmei e afirmo, sou um homem sério, honesto e limpo. Se quiserem ver a minha história de vida é só vir até a mim ou clicar o meu CPF e saberão quem eu sou. Eles podem até tentar fazer alguma coisa, mas não vão conseguir.

O sr. faz duras críticas ao governo e coloca o inchamento da máquina como principal problema. Será uma responsabilidade muito grande para o próximo governador reorganizar uma máquina cara e ineficiente?

O novo administrador vai pegar uma herança terrível e o povo sabe disso. Por causa das mazelas, nós passamos a estar no “Jornal Nacional” quase sempre. Somos o penúltimo Estado da federação viável para investimentos; o terceiro pior avaliado em termos de gestão. Nos últimos quatro anos nós tivemos oito governadores. Temos uma das energias mais caras do País, agora então acabou de aumentar acima da inflação, quase 11%. A corrupção tomou conta, campeia. Este governo pegou uma dívida de R$ 600 milhões e pouco e está deixando de R$ 4 bilhões, pegou uma dívida com a Previdência Social de R$ 2 bilhões e pouco e está deixando de 14,5 bilhões, se não me falha a memória. Tudo isso e muito mais, a história do Igeprev (desvio de recursos do fundo de previdência), evidentemente que o governo mais cedo ou mais tarde vai ter que fazer um tremendo aporte disso, de mais de R$ 12 bilhões. Não há dúvida de que esse novo administrador terá de ter muita competência, muita vontade e disposição, muita coragem porque ele vai pegar um grande desafio. Nosso Estado está na UTI, olha como está a nossa saúde. Não temos segurança. Há poucos dias acabou uma greve de professores exigindo direitos adquiridos; não houve investimento em segurança este ano, o investimento foi zero; não houve investimento em infraestrutura, em saneamento básico. Nossa economia vai ter um decréscimo este ano. Somos literalmente reféns do governo federal, ou seja, é realmente um grande desafio. Tenho pedido muito a Deus que dê sabedoria ao povo do Tocantins para escolher uma pessoa competente, e modéstia à parte eu posso dizer que tenho essa competência. A prova está nos meus 30 anos como empresário, tudo que eu fiz foi com muita ética, com muita responsabilidade, com muita dedicação, e graças a Deus eu tive sucesso em tudo.

Esse quadro grave que o sr. aponta tem solução?

Tem como reverter esse quadro terrível que esse governo está deixando. Por onde devemos começar a fazer essa mudança? A primeira coisa é estancar a sangria do dinheiro público, ou seja, temos que acabar com a corrupção, debelar essa maldita corrupção, esse é o primeiro ponto, não tem como iniciar se não for por aí. Segundo, nós temos que equilibrar as contas do Estado, a máquina está inchada, está para explodir, o que vai acontecer a qualquer momento. Não dá para ter uma folha de pagamento com quase 56% da receita do Estado, isso é impossível, é um crime porque a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) determina que 49% da receita já é muito. Não se pode gastar nem mesmo esse limite. Quase 15 mil cargos comissionados e terceirizados, é uma irresponsabilidade do administrador. Temos que equilibrar as contas, é outro ponto fundamental. Essas 23 secretarias têm de ficar no máximo 12, esses 15 mil cargos de confiança e terceirizados têm de ser puxados para 5 mil. Essas despesas com transporte aéreo para fazer favores, carregar namoradas de jato, diárias caríssimas e tantas outras rubricas, temos que meter o facão e cortar isso de imediato, é fundamental. Feito isto, em síntese já começa a sobrar dinheiro, dinheiro para a saúde, para a educação, para segurança, para infraestrutura e saneamento básico, aí já começa e muda todo o quadro, estou falando como empresário que sou. Outro ponto, alavancar a economia do Estado, mas primeiro temos que estancar a sangria do dinheiro público. Então agora vamos alavancar a economia, o que não é do dia para a noite, mas nós podemos imediatamente dar o start. De que forma nós pretendemos alavancar a economia? Sabemos que o nosso carro chefe é o agronegócio e temos que investir nisso. O minério é outra fatia de mercado não explorada pelo Tocantins, a nossa Serra do Carmo, aqui do lado, é uma das maiores jazidas de minério de ferro do Brasil, a segunda ou terceira maior, isso vai gerar milhões de empregos e bilhões de reais. Então no agronegócio e no minério temos que investir imediatamente, fazendo o dever de casa, investir em infraestrutura, saneamento básico. Logisticamente temos que investir muito, temos a BR-153 que vai ser asfaltada duplicada até Aliança e a presidente Dilma Rousseff nos disse que também será duplicado de Aliança, Paraíso, Palmas. A Ferrovia Norte-Sul está pronta, ou seja, aí então temos que fazer centros de convenções, para que os o empresários possam vir aqui fazer seus congressos. Aí mostraremos nossas potencialidades de negócio, no turismo ecológico. Isso é só um ponto de partida para que possamos alavancar a nossa economia.

Com o sentimento de mudança da população até o candidato do governo adotou o tema, é uma impropriedade?

Sim. Esse governo aí é meramente batedor de carimbo. Esse moço, Sandoval, foi e continua sendo a pedra fundamental do quebra-cabeça do ex-governador (Siqueira Campos), só que felizmente ele não conseguiu fechar com essa pedra todo o projeto arquitetonicamente danoso ao Estado, porque o filho não teve competência nem para ser o candidato ao governo, o que era o sonho do pai. Então eu cheguei a brincar esses dias que esse batedor de carimbo que está ali todo dia de manhã vai até o siqueirinha (Eduardo Siqueira) perguntar qual é a dose de oxigênio que ele tem para respirar durante o dia, ou seja, o que esse moço vai fazer? Quem vai continuar governando é o Eduardo Siqueira, que deixou esse Estado exatamente nessas condições que hoje se encontra. Ele vai continuar administrando. Esse moço (Sandoval Cardoso) não será o governador e eu espero que o povo enxergue isso e não o eleja porque estaria elegendo o governo anterior na pessoa do Eduardo Siqueira Campos.