Deputado da situação avalia que Sandoval Cardoso é o melhor nome do governo,
mas diz que é preciso saber como sua administração está sendo avaliada pela sociedade

tocantins entrevista

Ruy Bucar

Ele é um dos parlamentares mais coerentes no plenário da Assembleia Le­gislativa e por isso mesmo um dos mais polêmicos. Quando usa a tribuna da Casa costuma provocar risos, mas também reflexão. O deputado José Bonifácio, do PR, é um parlamentar diferente e que destoa da maioria e incomoda tanto o governo quanto a oposição, pois não tem papas na língua e não poupa críticas a quem quer que seja.

Para o deputado a rejeição das contas do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB), como manobra para torná-lo inelegível, é um assunto encerrado. “Eu acho que essa decisão não tem grande validade jurídica, não tem peso político para tornar A ou B elegível ou inelegível”, ressalta, apontando que a decisão da Assembleia foi equivocada, atendendo a interesses momentâneos.

José Bonifácio adverte aos governistas que as tentativas de eliminar Marcelo Miranda da disputa estão surtindo efeito contrário: em vez de desgastá-lo está fortalecendo o seu nome junto às bases. “Cada tentativa de amordaçar Marcelo Miranda faz ele ficar mais popular e o povo com mais pena dele e cada vez ele se torna mais vítima. Se continuar desse jeito e disputar a eleição vai ter 100% dos votos.”

O deputado republicano diz que ainda não é possível prever como vai ser a disputa pelo governo do Estado. Avalia que está muito embolado tanto para o governo quanto para a oposição e que é preciso aguardar até o dia 30 para saber quem vai poder disputar as eleições. Considera Sandoval o melhor nome do governo, mas acredita que se a eleição fosse hoje Marcelo Miranda seria o governador. Estes e outros assuntos na entrevista a seguir.

Que avaliação o sr. faz do processo que trata das contas do ex-governador Marcelo Miranda, que mais uma vez foi à votação na Assembleia Legislativa?
A tentativa de um deputado fazer decreto desmembrando as contas que não foram individualizadas pelo Tribunal (de Contas do Estado) é letra morta. Primeiro, deputado não faz parecer, vota. Aí vem um deputado, a mando de quem eu não sei, chega e diz que não pode ser junto porque o governador (Carlos Henrique) Gaguim só governou três meses. Ele governou quatro meses, ele foi interino e depois foi eleito, ele governou um terço de um (ano de) mandato, não é pouco tempo. Governasse só um mês não seria pouco tempo, imagine quatro meses. Eu acho que é uma decisão inócua, o Parlamento se agacha mais uma vez. Vi a revolta do deputado Stalin Bucar, líder do Solidariedade, porque apareceram quatros votos favoráveis que seriam de uma pseudo bancada do governo. Você tinha que votar porque era interesse do governo de rejeitar. Para mim o interesse do Parlamento é de fazer justiça, não votar de acordo com alguma conveniência, mas fazer justiça. Dolo não tem como provar que houve, porque o governador não é ordenador de despesa, se houve algum dolo é de secretários. Essa decisão não tem validade jurídica, nem tem peso político para tornar A ou B elegível ou inelegível e ela vai refluir, talvez nos próprios tribunais do Estado, e havendo certa consciência não passa nem daqui. Eu acredito que a decisão daqui é equivocada, atendendo a interesses momentâneos.

Não terá nenhum efeito político?
Acredito que não. E porque a cada tentativa de amordaçar Marcelo Miranda, faz ele ficar mais popular e o povo com mais pena dele, e cada vez ele se torna mais vítima. Se continuar desse jeito e ele disputar a eleição, vai ter 100% dos votos.

Paralelamente a essa questão, como o sr. avalia a votação de uma ação que tramitava no TRE contra o deputado Marcelo Lelis no momento em que ele anunciava uma aliança que, em tese, poderia torná-lo um pouco mais forte na disputa? Não é muita coincidência?
Depende do ponto de vista. Vamos ver a situação do TRE, que votou por maioria, me parece um placar de quatro a dois, um recurso do deputado Marcelo Lelis mantendo uma decisão de primeira instância. Um juiz monocrático já tinha julgado e o tribunal, por dois votos divergentes bem abalizados, manteve uma decisão de primeira instância. Caberia nos perguntarmos, está errado um tribunal que mantém uma sentença de juiz? O tribunal está como órgão de segundo grau e avalizar o que o juiz fez, às vezes mantém, às vezes sapeca a decisão da justiça. Como é um tribunal, às vezes decide por unanimidade, às vezes por maioria, às vezes por maioria apertada de um voto. O tribunal não deveria ser condenado porque manteve uma decisão monocrática, agora ainda cabe à terceira instância, que é o TSE, que tem mudado muitas decisões. O tribunal regional muda decisão do juiz ou mantém, e o TSE mantém a decisão do tribunal ou muda, é a força do peso do Ju­diciário. Eu não vejo como fim do mundo o tribunal manter uma decisão de um juiz.

O sr. reclama da submissão dos poderes em relação ao Executivo. Aqui o TCE e a Assembleia, na reprovação das contas do governador Marcelo Miranda, deram essa demonstração e o sr. reclamou bastante. Agora o TRE também se manifesta claramente numa votação que prejudica um pré-candidato. O vê ligação com as eleições?
Num Estado muito novo como o nosso vai demorar alguns anos para que haja autonomia dos poderes. Ela vai sendo conquistada aos poucos. Se nós observarmos as conquistas que teve o próprio Legislativo com o problema dos remanescentes de Goiás, essas conquistas de servidores, a Assembleia às vezes forçando o governo a apresentar projetos que resolvam as situações, os remanescentes passaram mais de 20 anos e a Assembleia que forçou a solução. As instituições vão se fortalecendo aos poucos, até porque no início do Estado elas foram criadas pelo governador inicialmente e totalmente submissas, sem orçamento, sem verbas, sem servidor, sem nada e era uma submissão total. Até para abastecer um carro dependia do poder Executivo. Mas à medida que o tempo vai passando elas vão se fortalecendo e daqui a alguns anos estarão totalmente independentes. Hoje eu não digo que sejam submissas, mas ainda sofrem influências do poder Executivo.

O Parlamento cumpriu bem a sua obrigação, o sr. sempre foi crítico com relação ao orçamento impositivo dizendo que a Assembleia Legislativa perdeu uma grande oportunidade de ganhar autonomia. O que ficou de saldo?
Nós tivemos muitos altos e baixos, o Parlamento poderia ter saído consagrado inclusive com o orçamento impositivo. Acredito que ainda vamos conquistar daqui para o final do ano, agora com a votação da Câmara Federal. Nós estamos batalhando nas comissões para aprovar a emenda do deputado Freire Junior, do orçamento impositivo, que é mais um passo para a autonomia do legislativo, dos deputados. Na relação de emendas liberadas e autorizadas não são de todos os deputados. As emendas colocadas aqui no orçamento, me parece que no tempo do governador Marcelo Miranda, naquela época elas foram colocadas como o verdadeiro passo de ré para submeter os parlamentares à vontade do governo. Eu vi muitos prefeitos e deputados se aliarem ao governo em função de emendas, e eram prefeitos bons, verdadeiros líderes. O orçamento impositivo serve para libertá-los. É a conquista da autonomia que o Legislativo, as instituições irão ter da influência do Executivo.

As eleições vão esvaziar o plenário?
Acho que vai funcionar normalmente. Geralmente as campanhas, os comícios são nos finais de semana e nós trabalharemos praticamente no mesmo ritmo, a não se quando arrochar mesmo, mais para o final, quando poderemos fazer um recesso branco.

A Copa do Mundo altera alguma coisa na agenda política ou está praticamente encerrando e não altera nada?
A Copa está começando, agora que vamos partir para as oitavas de final, e grandes seleções deram o adeus. Com jogos numa quarta ou quinta-feira não tem sessão.

É possível prever como vai ser a disputa eleitoral deste ano no Tocantins?
Está tudo enrolado, embolado. A gente vê a situação do PMDB, com uma comissão executiva nacional decretando intervenção para avalizar as candidaturas de Marcelo Miranda e da senadora Kátia Abreu. O presidente destituído inconformado faz uma convenção e eu pergunto como? Ah, mas a convenção estava marcada, tudo bem, mas se estava marcada e foi adiada quem teria o múnus público para presidir? Não seria o destituído, teria que ser o atual, então mesmo a convenção marcada foi realizada por pessoas incompetentes no sentido legal para presidir aquela convenção. Vamos pensar o seguinte, como ele vai enviar os documentos para o TRE, presidente destituído fulano de tal? É esdrúxulo, então está tudo muito nublado.

Você vai para o lado do governo, parece que se cristaliza a candidatura do governador Sandoval Cardoso, que hoje seria o melhor candidato, em termos, mas quem seria o vice? Quem seria o candidato a senador? Eu acho que houve um lançamento do (deputado) César Hallum (PRB), depois do Eduardo Gomes (SD), depois do governador Siqueira Campos, quem seria? Vamos para o PT com PV, Marcelo Lelis com problema no Tribunal que, talvez por coincidência ou não, colocou mais uma pá de cal na sucessão. Sobra o Ataídes Oliveira, estou vendo o PPS, marchando não sei em que rumo, teria uma candidatura, o Mário Lúcio veio para ser candidato e parece que não vai ser. Acho que temos de esperar mesmo o dia 30 para ver como é que fica. Eu estou esperando. Quando uma liderança minha pergunta eu digo vamos esperar mais uns dias. E aí depois que forem escolhidos o nomes é que se vai analisar o caminho que se deve tomar.

O sentimento de mudança está consolidado, vai aparecer nas eleições?
Tudo depende do desempenho do governador Sandoval Cardoso até as eleições. Ele tem imprimido um ritmo de trabalho pesado, muita aparição na mídia e vamos ver o nível de crescimento. Ninguém ganha eleição por antecipação, senão era só apurar as pesquisas e passar a faixa a quem estivesse na frente. Hoje existe um favoritismo muito grande do ex-governador Marcelo Miranda, mas a campanha nem começou. A gente tem exemplo do governador de Goiás, Marconi Perillo, que na convenção (em 1998) chegou com 2% enquanto Iris tinha 70% e o Marconi quase ganha no primeiro turno, ganhou no segundo. Temos aqui o exemplo da eleição do prefeito de Palmas, que também tinha porcentagem irrisória, o Marcelo Lelis estava praticamente eleito, mas perdeu. A campanha pode mudar o rumo das eleições e a tendência no Tocantins, pelos últimos pleitos, é polarizar entre dois candidatos, que seriam os dois maiores da oposição e da situação. Isso aproxima a própria polarização, aproxima as possibilidades, é preciso ver a campanha, ninguém está eleito por antecipação. Mas hoje eu consideraria o governador Marcelo Miranda favorito.

Em relação aos marqueteiros, o Tocantins vai ter grandes profissionais do país desfilando por aqui. Duda Mendonça, Marcus Vinícius, que acaba de fazer uma campanha na Colômbia. Esses marqueteiros contribuem efetivamente para a melhoria da campanha?
Tomara que esses grandes marqueteiros não tragam para cá também os doleiros que já atuaram em outras campanhas. Principalmente nas grandes cidades eles influenciam, um marketing acertado pode transformar uma coisa ruim em boa, mesclar, mascarar, mas eu acho que o eleitorado deveria escolher mesmo pelo próprio sentimento dele, o sentimento de ver o que é melhor para o Estado, para a nossa gente, não deveria ser influenciado pelo marketing, pelas coisas bonitas, as mensagens bonitas e as paisagens bonitas que aparecem na televisão. Dizem que a propaganda é a alma do negócio, grandes marqueteiros talvez possam nos dar grandes campanhas.
Me lembro de criança, naquele tempo era no rádio e o que prevalecia eram as músicas, a música do Janio Quadros, Otávio Lage, Henrique Teixeira Lott, alguma coisa ainda de Juscelino Kubitscheck. A gente ouvia atentamente e decorava pelo rádio. Agora televisão em HD para todo lado, tomara que não sejam espetáculos melancólicos e que agradem o eleitorado tocantinense. O marketing pode influenciar sim.

O sr. é candidato à reeleição, como está se sentindo, qual a sua grande motivação para lutar por mais um mandato?
Eu vou disputar a reeleição confiado principalmente no povo da minha região, da minha cidade (Tocantinópolis). A minha cidade sempre me proporcionou em torno de 60 a 70% de uma eleição e acho que se não houver grandes problemas eu tenho muita chance de ser reeleito. Tem gente que não agrada da minha atuação no Parlamento, mas eu tentei fazer uma atuação sincera, sem mentira, honesta e acredito que isso também possa me trazer alguns frutos eleitorais.
Tenho 63 anos de idade, já tive muitos cargos em quase 30 anos de vida pública, e vou submeter o meu nome novamente ao povo do Tocantins. Acho que não envergonhei o Parlamento e contribuí com muita coisa boa para esse Parlamento, principalmente para tentar dar ou incutir nos meus colegas o sentido mais de autonomia, de responsabilidade, e não de agachamento a quem quer que seja, principalmente ao poder Executivo.