O deputado estadual reeleito Professor Júnior Geo (PSC) avalia que a eleição mais concorrida da história do Tocantins, para todos os cargos, foi também a eleição com maior volume de recursos financeiros oriundos de caixa 2. “Nós tivemos um volume financeiro de caixa 2 derramado escancaradamente aqui no Estado e que infelizmente os órgãos de fiscalização não tiveram pessoal para avançar e tentar combater tudo o que aconteceu”, aponta o deputado.

Júnior Geo aponta que a fragilidade dos órgãos de fiscalização tem contribuído para o aumento dos abusos eleitorais durante a campanha. “Nós tivemos denúncia de candidato a deputado estadual que somente em Palmas contratou 20 mil pessoas. Uma jornalista publicou em seu Twitter informando que determinada pessoa que foi candidata a deputada estadual tem 20 mil contratos em Palmas”, observa o parlamentar, que aponta a necessidade de maior controle dos gastos e redução do volume do Fundo Partidário.

Sobre as eleições de 2024, o deputado admite disputar a Prefeitura de Palmas. “Eu vejo a necessidade de termos uma capital bem administrada, de ter uma pessoa que tenha compromisso com o cidadão que está lá na ponta. Daquele que mais precisa dos serviços públicos até aquele que aparentemente precisa em menor quantidade. Nós precisamos de alguém que tenha capacidade de gestão e interesse em fazer isso”, declara o deputado, que adianta que na hora certa vai tratar do tema, buscando formar um grupo político que possa construir uma nova proposta de gestão da capital.

Qual balanço o sr. faz destas eleições, as mais concorridas da história do Tocantins para todos os cargos?

Foi uma campanha com número excessivo de candidatos. Nós tivemos um aumento de quase 50% de candidatos a deputado estadual em relação ao pleito de 2018. E, naturalmente, se tem um aumento significativo de candidatos a tendência é reduzir a votação. É mais gente querendo voto. Nós tivemos ainda um outro viés, que foi um volume financeiro de caixa 2 derramado escancaradamente aqui no Estado e que, infelizmente, os órgãos que envolvem o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não tiveram pessoal para alcançar e tentar combater tudo isso que aconteceu. No Legislativo, isso aí correu solto, mas era o Executivo, acredito, a preocupação maior da fiscalização. Não foi uma eleição fácil, foi uma eleição muito concorrida e graças a Deus, conseguimos avançar, sobreviver a mais essa etapa e inclusive melhorando um pouco nossa votação, o que também não era nada fácil acontecer com pouca estrutura financeira. É assim que nós sabemos fazer. Não sabemos trabalhar com estrutura financeira gigantesca porque não dispomos disso. Então vamos trabalhar com o que temos, do jeito que a gente acredita que é certo.

Deputado Junior Geo fala ao repórter Ruy Bucar | Foto: Divulgação

O volume financeiro do Fundo Partidário é muito desigual, em diversos aspectos

O fundo partidário bilionário nas mãos dos candidatos de certa forma não legitima a compra de votos, com atividades legais como contratação de pessoas para trabalhar na campanha e distribuição de requisição de combustíveis?

Na realidade, essa requisição de combustíveis não é permitida por lei, mas fazem. A Polícia Federal e sabe se lá quais outras esferas de poder que deveriam promover uma fiscalização de forma intensa, pelo jeito, não conseguiram, por mais que a gente visse filas nos postos de gasolina. O volume financeiro do Fundo Partidário é muito desigual, em diversos aspectos. Primeiro, os partidos que têm maior número de deputados federais possuem montante maior. Então, os candidatos desses partidos vão ter um volume muito maior que outros. Já começa aí a desigualdade. Teve candidato a deputado estadual que recebeu mais de R$ 1,2 milhão, assim como teve candidato a deputado estadual que não recebeu R$ 20 mil. Fica difícil fazer uma competitividade mantendo a igualdade de condições. Nós temos ainda outro viés. Por mais que o partido seja hipoteticamente considerado grande, pelo número de representantes na Câmara Federal, é um partido cujo recurso é encaminhado para o seu Estado e distribuído pelo presidente do partido conforme sua vontade. Uns recebem 100% do volume permitido e outros não recebem 10% do limite. Por que essa desigualdade, quais são os critérios utilizados? Não existe uma regra para determinar quando cada candidato deve receber. É muito subjetivo, fica a critério de quem é o presidente do partido. E assim eles [dirigentes] vão buscar trabalhar para eleger quem eles quiserem, utilizando o fundo. O Fundo Partidário deveria ter um regramento muito maior e deveria sofrer uma redução de forma drástica, porque muito desse dinheiro se perde em função da forma como se faz campanha. Todos sabemos disso e cabe aos órgãos competentes fiscalizar a aplicação desses recursos.

Quem compra voto não tem compromisso com o eleitor 

No final, fica sempre a dúvida sobre ter muito dinheiro derramado na campanha, que poderia financiar compra de voto, o que é algo absolutamente inaceitável e que me parece muito flagrante no momento. O que fazer para eliminar essa prática que corrompe a democracia?

Como exemplo, um candidato a deputado estadual tinha o limite de cem pessoas que poderiam ser contratadas por ele. Mas nós tivemos denúncia de candidato a deputado estadual que somente em Palmas contratou 20 mil pessoas. Uma jornalista publicou em seu Twitter informando que determinada pessoa que foi candidata a deputada estadual tem 20 mil contratos em Palmas. De onde é que vem este dinheiro? Porque, se tem mais de 20 mil pessoas contratadas, não está dentro do permitido. É dinheiro de caixa 2. Está tirando de onde? É fruto de corrupção? É patrimônio próprio? Esse patrimônio deveria ser usado na campanha, existe limitação, segundo a lei eleitoral? Quanto realmente se gastou na campanha? O limite de gasto para deputado estadual é um valor “x”, mas determinados candidatos gastam dez vezes mais do que o permitido. Daí, imagina-se, será se esse candidato que está utilizando um volume financeiro tão significativo vai representar o interesse da sociedade ou vai tentar recuperar o dinheiro que investiu na campanha? Quem compra voto não tem compromisso com o eleitor. Quem compra voto quer é recuperar o dinheiro aplicado ali na compra e o eleitor fica quatro anos pagando essa conta por ter recebido 100, 200, 300, 500 reais que seja, em período eleitoral. Será que 500 reais vão fazer diferença quando alguém da sua família precisar de UTI [unidade de terapia intensiva], não tiver vaga e vier a falecer? Será que vai fazer diferença quando alguém próximo precisar de cirurgia e entrar para a fila de espera do HGP [Hospital Geral de Palmas] e ficar com sequelas por não ter feito uma cirurgia que era um procedimento simples? Aí é que vem a pergunta, será que valeu a pena ter recebido 200 ou 500 reais e ter votado em função desse recebimento? Veja o custo desse dinheiro que o eleitor recebe durante o período eleitoral, aceitando ser envolvido num esquema de corrupção. É muito fácil o cidadão falar que é honesto, mas, na hora de provar, aceitar a primeira propina que aparece.

Dos candidatos eleitos, nossa campanha teve o voto mais barato do Estado

O sr. é um dos poucos candidatos que faz campanha propositiva, em que busca ser eleito a partir das ideias que defende. Como é agir assim em meio a tantas ofertas e vantagens materiais para o eleitor?

Em toda cidade tem um percentual da população que não se vende. Em toda cidade tem um percentual da população que tem um voto mais consciente, que sabe o que deseja de seus representantes. A gente tenta procurar este segmento da população que não está no balcão de venda. Enquanto os políticos, a grande maioria rema para onde tem gente querendo se vender, eu vou em outra direção, no público que vota consciente. É para este público que busco apresentar minhas propostas, debater ideias e claro, apresentar também o meu histórico. Porque, se já estou na política, o que eu fiz desde que ingressei na politica até aqui, para receber esse voto de confiança? É o merecimento de um voto de confiança, que na verdade não vai custar para o eleitor um real, mas algo que não tem valor que se pague, que se compra, porque não está à venda. Esse voto de confiança é que eu tenho buscado conquistar e, graças a Deus, tem acontecido. A nossa eleição pode não ser a do candidato mais votado, ou dos candidatos mais votados do Estado, mas, pode ter certeza, foi, dos candidatos eleitos, o voto mais barato do Estado. O que foi gasto na campanha, quantos votos nós tivemos e o quanto custou esse voto?

Na atual legislatura o sr. foi uma voz solitária a cobrar transparência do governo. Na próxima, novamente o governo terá maioria absoluta. Como vai ser sua atuação na nova legislativa?

Inicialmente, eu desejo ao governador eleito, sendo o atual – e se fosse outro qualquer –, a melhor gestão possível para nosso Estado. Isso vai ser o melhor para todos nós. E deixo claro que meu papel na Assembleia é contribuir para o desenvolvimento do Estado. Quando falo em “contribuir” é exatamente continuar o processo de fiscalização, continuar o processo de cobrança, das mais diversas partes do Estado para que as coisas funcionem de forma correta. Muitas vezes, o gestor, seja o atual ou o que iria ser afastado [Mauro Carlesse] a partir de um pedido de cassação de minha autoria, fui o relator [do impeachment] da cassação, mas tenho certeza que o gestor anterior, assim como o atual, não tem conhecimento de tudo que acontece nas esferas administrativas do Estado. Algumas irregularidades, alguns erros, não de forma intencional, mas equivocadamente, o gestor não sabe, não tem conhecimento e cabe a nós, promovendo a fiscalização e recebendo denúncias, apontarmos onde está o erro e sugerir a solução. Agora, se o gestor vai ter interesse ou não em resolver o problema, aí é outra história. Nós vamos encontrar os problemas, correr atrás da fiscalização, vamos apontar possibilidade de solução e vamos recorrer aos órgãos externos. Vou continuar desenvolvendo meu trabalho da mesma forma que eu fazia antes. Não vai mudar, independentemente de quem seja o governador. Qual é a função do deputado, é fiscalizar? Então eu vou fiscalizar. É propor projetos de leis? Vou continuar fazendo, independentemente de quem seja o governo. Para mim, não muda nada. O que muda, na verdade, é que, com o tempo que estivemos aqui, aumentou a maturidade, aumentou o conhecimento. Vamos conseguir desenvolver um trabalho com mais qualidade, com mais eficiência. 

Precisamos de um governador que tenha essa consciência para fazer com que as pastas tenham autonomia, capacidade e comprometimento

A fila por cirurgias eletivas foi um dos assuntos mais debatidos na campanha. O problema permanece. A saúde é um desafio de difícil solução, ou está faltando empenho?          

Nós tínhamos mais de 5 mil cirurgias eletivas na fila de espera. Eu falo isso porque estive no HGP, fui fiscalizar. Se há 5 mil na fila de espera e o governador era quem foi reeleito, será que agora ele vai resolver esse problema? Esperamos que sim. Vamos cobrar para que isso seja feito. Se o governo hoje não tem capacidade de promover a execução dessas cirurgias pela rede pública, pode promover a compra de lotes de cirurgias em hospitais particulares. Quer dizer, nós temos aí um determinado hospital que tem capacidade de fazer 200 cirurgias num intervalo de 10 dias, então vamos comprar no pacote, fica muito mais barato comprando num volume maior. A permanência do paciente internado, e é por isso que necessita ter um gestor, aguardando cirurgia sem necessidade de estar lá pois a cirurgia já poderia ter sido feita, gera um custo. Qual é o custo da cirurgia e qual é o custo desse cidadão que está 30, 60, 80 dias dentro do hospital? Fica muito mais barato comprar a cirurgia em um hospital particular. É esta capacidade de gestão que nós esperamos do governador e dos seus secretários de saúde, dos servidores que se encontram com capacidade de efetivar resoluções. É essa capacidade que eles têm de demonstrar. O problema que nós temos é que muita gente que ocupa cargo de gestão está lá mais por status e por salário do que por necessariamente, por capacidade ou vontade de fazer ou, quem sabe, até se tem autonomia para fazer. Nós precisamos de pessoas que têm compromisso, capacidade e autonomia. Sem essas características, nada vai andar muito. Precisamos de um governador que tenha essa consciência para fazer com que as pastas tenham autonomia financeira, capacidade e comprometimento.

Eu vejo a necessidade de termos uma capital bem administrada

As eleições de 2024 ainda estão longe, mas como o sr. teve um bom desempenho na eleição passada para a Prefeitura de Palmas, seu nome aparece naturalmente entre os nomes cogitados para a disputa. O que o sr. já definiu sobre essa possibilidade?

Eu vejo a necessidade de ocupar espaço na política, de termos uma capital bem administrada, com uma pessoa que tem compromisso com o cidadão. O cidadão que está lá na ponta, daquele que mais precisa dos serviços públicos até aquele que aparentemente precisa em menor quantidade. Nós precisamos de alguém que tenha capacidade de gestão e interesse em fazer isso. Quando se derrama muito dinheiro numa campanha, a capacidade e o interesse são inversamente proporcionais a essa derrama de dinheiro que acontece. Eu vejo Palmas como um caminho. Um caminho para a gente iniciar um processo de mudança, montagem de um novo grupo político de pessoas que queiram fazer diferente. Seja em aliança com o governo do Estado, seja com deputados, seja em aliança com senadores, mas que venha a montar um grupo com vontade. Se você me perguntar “Júnior, você foi candidato na eleição passada, disputando com 12 candidatos e ficou em segundo lugar, com recursos mínimos de campanha, sem grupos políticos, foi um sinal de que a população de Palmas confiou?”, digo que sim. Foi de fato um sinal de confiança da sociedade em nosso trabalho. Vamos analisar com tempo se daqui a dois anos vamos de fato manter ou não uma candidatura, se vai ser interessante para a população de Palmas esse projeto político. Mas queremos, sim, participar do processo de alternância política dentro da Prefeitura de Palmas.

Nas próximas eleições, Palmas terá segundo turno. O que isso muda? Ajuda em sua definição de ser candidato a prefeito novamente?

Eu escuto muita gente dizendo que, se tivesse tido segundo turno em 2020, eu teria ido para o segundo turno com chances reais de ganhar a eleição. Dizem também que eu preciso costurar alianças pensando num projeto para 2024. Normalmente a aliança que muitos grupos querem é para dividir a fatia por atos de corrupção. Para esse tipo de aliança eu não tenho abertura. Talvez esse tenha sido o motivo por que tive pouco aliados. Eles sabiam, por meio de pesquisa internas, que não conseguiriam me passar. O que nós precisamos é dar espaço dentro da estrutura do Executivo, abrir espaço para que se possa participar ativamente, mas com pré-requisitos. Precisamos de um serviço público funcionando e para isso precisamos colocar pessoas certas nos lugares certos. Nós precisamos de pessoas que queiram e consigam fazer. Então, 2024 é um projeto que nós vamos trabalhar ativamente. Se vai ser com o nosso nome à frente como candidato ou se vai surgir outro candidato nesse grupo, será um excelente nome. A gente pode somar forças, unir para que tenhamos um representante digno da população palmense. Para isso, com certeza, estaremos abertos a nos alinhar até lá.