Pré-campanha não empolga e revela desafio a postulantes ao governo

26 junho 2022 às 00h00

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Neste momento, com exceção do governador, nenhum pré-candidato tem conseguido mobilizar o eleitorado além da militância

A campanha eleitoral como conhecemos tradicionalmente com comícios, distribuição de santinhos, propaganda na internet e caminhadas, deverá ocorrer a partir de 16 de agosto, conforme o calendário eleitoral previsto para 2022. Já o horário gratuito de rádio e TV, o chamado horário eleitoral, só ocorrerá de 26 de agosto a 29 de setembro. É quando efetivamente a população terá a oportunidade de conhecer melhor os candidatos e suas propostas.
Até meados de agosto, portanto, é a pré-campanha, o período de organização da campanha propriamente dita. Com exceção do governador Wanderlei Barbosa (e somente por isso), nenhum dos pré-candidatos – Laurez Moreira (PDT), Ronaldo Dimas (PL), Paulo Mourão (PT), Osires Damaso e Dr. Luciano do Osvaldo Cruz – tem conseguido alcançar grande público além da militância. Pelo que se observa, a pré-campanha até aqui não conseguiu empolgar o eleitor, sequer conseguiu mobilizar a opinião pública.
O balanço aponta que os pré-candidatos não estão conseguindo extrapolar a bolha da militância. Um desafio para eles e seus marqueteiros, visto que a campanha tem duração de 60 dias e apenas 33 dias com horário eleitoral gratuito, de 26 de agosto a 29 de setembro.
Até o dia 20 de outubro de 2021, o então vice-governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) não sabia sequer se seria candidato a algum cargo. Trabalhou muito para ser o nome preferido do governador Mauro Carlesse a sua sucessão, mas se viu desprezado solenemente. A relação entre ambos começou a azedar em meados de 2020, quando Carlesse desistiu de bancar a candidatura de Wanderlei à prefeitura de Palmas. Dizem que os números das pesquisas internas sobre a corrida eleitoral na capital e a falta de ambição política do vice-governador teriam sido os motivos.
Desprezado pelos carlessistas, Wanderlei tentava manter as aparências de bom relacionamento com o chefe do Executivo e aproveitava a condição de vice-governador para participar ao máximo de todos os eventos envolvendo o governo. Seu interesse era se manter próximo das lideranças e do povo e aguardar os acontecimentos. Wanderlei contava como certo que Carlesse renunciaria ao cargo para ser candidato ao Senado – ainda que o próprio governador dissesse o contrário, que não renunciaria ao governo por não confiar em ninguém.
Wanderlei se preparava para assumir o governo a partir de abril de 2022 e, no cargo, tentaria se impor como candidato à reeleição, tendo Carlesse como candidato ao Senado, na condição de puxador de votos. Carlesse trabalhava para lançar uma chapa completa de sua preferência e que tivesse como característica principal a lealdade. Wanderlei era visto pelos governistas como um político articulado, mas não possuía as outras características essenciais.
A empáfia de Carlesse que, num determinado momento, chegou a anunciar que apoiaria um nome novo, de fora, à sucessão e com o prestígio político que detinha elegia até um poste se tivesse seu apoio, deu no que deu. Wanderlei se tornaria o candidato governista, tendo à sua disposição um conjunto de obras e recursos que o então governador juntou para tentar se eleger senador.
Como virou candidato meio por acaso, Wanderlei está tendo de “pisar no acelerador”. Aproveita as condições favoráveis para recuperar o tempo perdido. O governador tem mantido uma agenda intensa de viagens e compromissos pelo interior, mas tem data para encerrar essa correria e iniciar outra fase, a da pré-campanha. A partir do sábado, 2, três meses antes da eleição, é vedado aos agentes públicos participar de inaugurações e realizações de governo. Wanderlei terá de mostrar que sua capacidade de mobilização vai além de ter o “poder da caneta”, como dizem.
É preciso ressaltar que todos os pré-candidatos disputam as eleições para o cargo de executivo estadual pela primeira vez. Isso implica dizer que são nomes ainda não consolidados em todo o Estado. São conhecidos em suas regiões, mas encontram certa dificuldade de penetração em outras regiões do Estado, o que possivelmente se deve à pouca participação em chapas majoritárias – apenas Wanderlei, Dimas e Mourão já as compuseram.
Ronaldo Dimas foi candidato a vice-governador de Siqueira Campos, em 2006, tendo perdido a eleição para o ex-governador Marcelo Miranda. Antes dessa participação, Dimas exerceu mandato de deputado federal e posteriormente disputou a prefeitura de Araguaína, em 2008, não se elegendo. Em 2010, voltou a disputar uma cadeira na Câmara Federal, ficando na suplência. Em 2012, se elegeu prefeito de Araguaína, reeleito em 2016, e fez o sucessor, Wagner Rodrigues, em 2020. Em 2018, articulou para ser candidato a governador na eleição suplementar, mas o senador Vicentinho Alves, presidente do PR na época, não garantiu legenda. Foi ele o candidato a governador, e disputou o segundo turno com Carlesse.
Paulo Mourão foi candidato ao Senado em 2010, ficando em 4º lugar na disputa, que tinha apenas quatro postulantes. Naquela eleição, o terceiro colocado, Vicentinho Alves, foi eleito, em função do impedimento do segundo colocado, Marcelo Miranda. Em 2018, Mourão tentou novamente a candidatura ao Senado, e ficou em 6º entre nove candidatos.
Wanderlei Barbosa foi eleito duas vezes vice-governador. Ambas as eleições foram em 2018 – a eleição suplementar, realizada em junho, e a eleição ordinária, em outubro. Antes exerceu cinco mandatos de vereador, sendo um em Porto Nacional e quatro em Palmas e dois mandatos de deputado estadual. Em duas oportunidades, foi presidente da Câmara da capital.
Laurez Moreira, Osires Damaso e Luciano do Osvaldo Cruz ainda não compuseram chapa majoritária. Laurez disputou eleição para vereador, deputado e prefeito de Gurupi. Comemora que nunca perdeu eleição, em oito disputadas: uma para vereador de Dueré, em 1982; três para a Assembleia Legislativa (1994, 1998 e 2002); duas para a Câmara Federal (2006 e 2010); e duas para a prefeitura de Gurupi (2012 e 2016).
O empresário e deputado federal Osires Damaso iniciou a carreira política como candidato a prefeito de Paraíso do Tocantins, em 2000, não sendo eleito. Em 2008, foi candidato a vice-prefeito, formando chapa com o deputado José Geraldo. também não eleito. Damaso ainda disputou quatro eleições para deputado estadual (2002, 2006, 2010 e 2014). Nas duas primeiras, foi suplente e nas outras se elegeu, tendo exercido a presidência da Assembleia Legislativa em duas oportunidades. Em 2018, conquistou uma cadeira na Câmara Federal.
O médico e empresário Dr. Luciano do Osvaldo Cruz (DC) já disputou três eleições, mas ainda não foi eleito. Foi candidato a vice-prefeito de Palmas, em 2016, pelo PEN; a deputado federal em 2018; e a vereador de Palmas, em 2020, pelo PSDB, tendo alcançado 349 votos.
Como se pode ver pelo histórico dos pré-candidatos, todos têm experiência política, já foram testados nas urnas, mas ainda são considerados fenômeno eleitoral de expressão regional. A composição da chapa majoritária ganha uma importância ainda maior. Nesse caso, dois critérios devem ser observados: capacidade de aglutinação político-partidária e densidade eleitoral. Dos seis pré-candidatos, apenas Dr. Luciano já tem chapa formada. O DC vai de chapa pura e tem a empresária Luciene Mamedes como vice e a advogada, de Palmas, Eula Angelin, como pré-candidata ao Senado.
Damaso deu um passo importante para compor uma chapa competitiva ao pedir licença na Câmara Federal, deixando a cadeira para o suplente do PSB Tiago Andrino assumir o mandato. O acordo foi costurado com o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha, que preside o PSB. A sigla tem nomes de peso na disputa: o técnico Vanderlei Luxemburgo, pré-candidato ao Senado; o próprio Amastha; e o juiz federal aposentado Marlon Reis, ambos pré-candidatos à Câmara Federal e tidos como puxadores de voto. Como todos sabem, Tiago Andrino é afilhado político de Amastha. Prosperando o acordo entre PSC e PSB, Damaso poderá ter como vice um nome de Araguaína, onde Amastha teve votação surpreendente. Nesse caso, somaria politicamente e daria maior equilíbrio regional à chapa.
Paulo Mourão não tem nenhuma pressa em completar a chapa majoritária. Busca no momento despertar a militância da federação PT, PV e PCdoB, com foco no fortalecimento popular da pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. A composição virá naturalmente. Os nomes tanto podem ser do PT ou do PV e PCdoB. Os deputados Ivory Lira (PCdoB), Luana Ribeiro (PCdoB) e Cláudia Lelis (PV) são nomes que somam ao projeto eleitoral do PT, por abrir espaço junto ao eleitorado de centro.
Laurez Moreira é o pré-candidato ao governo com menor convicção de que vai levar o projeto até o fim. Cada vez mais fica evidente que o ex-prefeito tem acordo firmado com o governador Wanderlei Barbosa. Pelo que se entende, esse acordo prevê a sua indicação para a vice se não surgir outro nome tão competitivo quanto o seu. Laurez ainda é o dono da vaga, não mais com a mesma garantia de antes. O empresário Edison Tabocão (PSD), cresceu na disputa interna, mas essa indicação permanece aberta. Laurez é tido como o homem do choque de gestão de um possível novo governo Wanderlei Barbosa, e nessa condição aceitaria compor qualquer cargo, inclusive suplência de senador para aglutinar força e garantir a vitória ao grupo governista.
Ronaldo Dimas ainda busca compor a sua chapa. Os nomes em negociação envolvem duas mulheres de luta, que tem trabalho prestado ao Estado e capital político para somar. São duas deputadas federais: Dorinha Seabra Rezende, a Professora Dorinha (UB), que vem sendo cotada para compor a chapa de oposição como candidata ao Senado – um dos nomes mais competitivos, até o momento, pela representação do Tocantins no Senado da República; e Dulce Miranda (MDB), que foi convidada para ser a vice. Dulce está determinada a continuar a caminhada em busca de renovar mandato na Câmara Federal, mas em política tudo é possível. Com Dulce na vice, de quebra, Dimas ganharia o apoio do ex-governador Marcelo Miranda (MDB), que, apesar dos desgastes depois da segunda cassação de mandato como governador, ainda tem voto em função das realizações dos seus governos, considerados os mais progressistas. Marcelo deixaria de concorrer ao Senado para voltar ao plenário da Assembleia Legislativa. Os pré-candidatos tem todo o mês de julho para costurar esses acordos e afunilar a composição final de suas chapas.
A disputa ainda não tem favorito e será acirrada, com possibilidade em aberto e chances da terceira via também emplacar e levar a decisão para o segundo turno, criando um novo cenário e a necessidade de novas composições, o que fortalece os processos democráticos da disputa.