“PMDB não deveria participar desse jogo de cartas marcadas”
26 abril 2014 às 09h50
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Deputada de oposição diz que renúncia do governador e do vice foi um plano arquitetado para tentar manter a família Siqueira Campos no poder e que passa pela eleição de Sandoval Cardoso pela via indireta
Ruy Bucar
Adeputada Josi Nunes (PMDB) afirma que respeita a opinião dos pré-candidatos do PMDB ao governo do Estado na eleição indireta, mas faz questão de deixar claro que é contra a participação do partido neste pleito, por considerá-lo um jogo de “cartas marcadas” em que só o governo pode vencer. “Para mim as cartas estão marcadas, o quadro está definido e eu particularmente defendo, e tenho a mesma ideia do governador Marcelo Miranda, de que o PMDB não deveria participar deste processo”, afirma a deputada, apontando que o foco do partido deve ser as eleições de 5 de outubro e não a eleição indireta criada para tentar salvar o siqueirismo.
Para a parlamentar, Siqueira Campos tinha tudo para fazer o melhor governo da história, mas está deixando o poder de forma constrangedora. “Ele teve o seu papel importante na história do Tocantins, mas infelizmente está fechando a sua história política com um quadro muito negativo, com um governo que não conseguiu cumprir praticamente nada de seus compromissos de campanha e o povo sentiu-se enganado”, observa a deputada, que aponta que o Tocantins vinha tendo um crescimento destacado, mas que neste governo sofreu retrocesso.
Josi Nunes fala com entusiasmo do crescimento da pré-candidatura do ex-governador Marcelo Miranda, que se verifica, segundo ela, por meio de pesquisas, mas também por meio de contatos com líderes políticos e populares pelo interior do Estado nas andanças do PMDB. “Marcelo Miranda fez um governo que deixou uma marca muito positiva e isso é reconhecido pelo povo tocantinense em qualquer área. Ele chama a atenção mesmo, as pessoas desejam, as pesquisas comprovam que o povo do Tocantins quer Marcelo Miranda novamente governador”, defende a deputada, que tem participado dos encontros do partido e pode medir a popularidade de Miranda.
Depois da aprovação da resolução da trata das regras das eleições com pequenas alterações, já se pode prever como vai ser o pleito?
Com essa resolução o quadro fica um pouco mais claro, as regras estão definidas. Claro que continuam os questionamentos sobre prazo de filiação, mas na resolução não fala em prazo, se reporta à Constituição Federal. A Constituição Federal também não fala de prazo de filiação numa eleição indireta como essa, mas fala que pessoas têm de ser filiadas. Isso significa que qualquer pessoa filiada a um partido, independentemente do prazo de filiação, e que for homologada pelo seu partido pode concorrer às eleições indiretas e que o prazo na resolução para o registro de candidaturas é de 72 horas antes da eleição. O quadro já está praticamente definido e teremos vários candidatos, porque o governo já está definido que vai marchar unido em torno do nome do governador que está em exercício, o deputado Sandoval Cardoso. Nas oposições, pelas conversas que temos tido, cada partido já tem o seu candidato e vai concorrer. O PMDB terá convenção para escolher quem será o candidato, porque nós temos três nomes: José Augusto Pugliesi, Benedito Faria, o Dito do Posto, e Luciano Coelho. O PV já tem seu candidato, o PROS, o PT todos já têm, então teremos de quatro a cinco candidatos. O quadro está definido, as regras estão postas e agora é esperar o registro das candidaturas e o dia da eleição e ir à campanha, porque agora cada um vai fazer seu trabalho aqui na Assembleia Legislativa.
Como em 2009, essa é uma eleição em que deputado têm maiores chances?
É provável. Pelo fato de que teremos candidatos que são deputados é provável que isso reforce essas candidaturas. Todos os partidos que colocaram que terão candidato, será deputado estadual, mas teremos outros, e isso tudo depende agora das articulações que estão sendo feitas. Das conversas, estamos ouvindo cada candidato, o deputado José Augusto já pediu apoio, o deputado Marcelo Lelis, Luciano Coelho esteve no meu gabinete se apresentando como candidato do PMDB. Cada um fará a sua articulação e vai depender desse trabalho daqui pra frente. É um processo eleitoral de convencimento e é o que vai acontecer daqui pra frente, com tantos candidatos já colocados.
O governo tem todas as condições de vencer porque tem maioria no plenário da Assembleia, ou não será assim?
Na verdade, eu critiquei muito esse processo de renúncia do vice e do governador e continuo criticando, porque vejo que esse processo é um golpe político realizado para poder manter no poder um grupo familiar, ou pelo menos para dar a chance deste grupo familiar continuar tendo as vias legais de candidatura. Ou seja, o ex-governador, no desejo de seu filho ser o governador, e o próprio filho ser o candidato a governador, só teriam essa chance, mas como renunciar e deixar um vice que não é do grupo, não é da grande confiança? O que ele fez? Convenceu o vice a renunciar primeiro, para lhe dar a garantia e a segurança de que ele também poderia fazer o mesmo, então é tudo um processo político arquitetado para poder dar a possibilidade da família Siqueira Campos se manter no poder. Eu condeno isso. Na verdade, eu sou contra eleições indiretas, mas infelizmente em determinadas situações elas existem. Já tivemos no Tocantins, quando elegemos o governador Gaguim, por um processo judicial e agora por uma livre escolha, isso que eu não concordo, isso quebra todo o processo, foi uma armação utilizada, e nesse sentido eu não concordo. Não é um processo democrático, republicano, o que foi realizado no Estado do Tocantins nessas eleições, eu condeno. Eu particularmente defendo que o PMDB não deveria participar dessas eleições. Na minha avaliação as cartas estão marcadas, o quadro está definido, pode ser que mude, todo processo pode ter alternativas, pode ter mudanças. Eu não vejo isso agora, pode ser que no caminhar desse processo haja alguma alteração, mas eu não vejo. Para mim as cartas estão marcadas, o quadro está definido. Eu defendo e tenho a mesma ideia do governador Marcelo Miranda, de que o PMDB não deveria participar desse processo, mas já que têm candidatos, eles têm direito de garantir e homologar suas candidaturas. Na minha avaliação não deveríamos participar, o nosso foco deveria ser as eleições de outubro, nos centrar nessas eleições.
Qual é o impacto da renúncia e da eleição indireta na eleição de 5 de outubro, muda alguma coisa no cenário político-eleitoral do Estado?
Isso muda o quadro, porque o ex-governador, se mantendo como governador, somente ele teria o direito de ser candidato à reeleição, ou outro nome que não fosse da família. Com a renúncia do governador e do vice isso muda o quadro, porque dá o direito de o filho ser candidato legalmente. Dá o direito de ele ser candidato em alguma outra área, o que eu espero que não aconteça, porque ter candidato a governador, candidato a senador da mesma família, na minha avaliação, não é muito positivo. Todo mundo tem seu direito, legalmente todo mundo pode ser, parentes, filhos, mas é uma situação que simplesmente reforça o que nós estamos colocando, que é manter um grupo familiar no poder do Estado do Tocantins desde que ele foi criado. O Tocantins avançou, precisa continuar avançando, precisa ir rompendo com essas estruturas patriarcais, precisa ir vencendo isso, estava crescendo, desenvolvendo e teve um retrocesso com este governo. Esperamos que o povo do Tocantins possa ter a consciência de que foi enganado com o marketing elaborado em cima do ex-governador, com base na sua história dele, que teve papel importante na história do Tocantins. Infelizmente ele está fechando a sua história política com um quadro muito negativo, num governo que não conseguiu cumprir praticamente nada de seus compromissos de campanha e o povo sentiu-se enganado. Então muda o quadro nesse sentido e, além disso, tudo pode acontecer daqui pra frente. Digamos que nas eleições o filho não seja candidato, então terá outro nome, mas quem? É o do deputado Sandoval, ou outro nome? O quadro muda, e por outro lado as oposições estão se articulando, cada partido tem o seu candidato a princípio, isso é natural, é positivo, os partidos têm que se fortalecer. Mas é preciso que as oposições também possam ter um olhar de unidade até para competir com quem está no governo, que tem um peso muito forte. É preciso que as oposições canalizem não somente o projeto partidário, mas o projeto do próprio Estado. E tenha esse olhar de unidade, nós esperamos que as oposições possam caminhar juntas e enfrentemos as eleições com possibilidades reais de vitória.
Os deputados governistas comemoraram a renúncia como uma forma de tirar o palanque da oposição, ou seja, o governo teria condições de se apresentar com um fato novo, já que só oposição estava fazendo campanha. A renúncia e eleição de um novo governador mudaram o panorama político das eleições?
Depende de quem vai se apresentar candidato nas eleições, porque se for o filho (Eduardo Siqueira) o fato continua antigo. Agora podem apresentar até um candidato novo dentro desse processo, mas ele carrega um fardo muito pesado, que é uma administração da qual ele, com certeza, fez parte porque é do grupo e não conseguiu resolver os problemas do Tocantins. Nós da oposição vamos lembrar isso constantemente. Então, mesmo sendo um nome diferente do grupo familiar, caso seja, essa pessoa não é tão nova assim porque ela faz parte do grupo e não conseguiu fazer o Tocantins avançar, pelo contrário, o Tocantins nesses últimos três anos teve um retrocesso em todas as áreas. Se você analisar todas as áreas, os programas sociais, questão de infraestrutura, questão da educação que está aí, os problemas estão acontecendo. Na época dos governos do PMDB tivemos muitos avanços na educação. A saúde piorou e muito, a saúde sempre foi problema no Estado do Tocantins, como é no Brasil, mas piorou. Então mesmo sendo um nome novo ele vai carregar esse fardo pesado, negativo de uma administração que não conseguiu corresponder aos anseios do povo Tocantinense, que se sente enganado.
O ex-governador Marcelo Miranda tem apresentado certidões comprovando que está elegível. Como tem sido esse impacto e que balanço a sra. faz das andanças do ex-governador pelo interior?
Nos encontros que estamos realizando, aonde o Marcelo Miranda vai ele atrai, chama atenção, as pessoas reconhecem o seu governo como um ótimo governo em vários aspectos. Não conseguiu resolver todos os problemas, isso é natural, mas foi um governo que deixou uma marca muito positiva e isso é reconhecido pelo povo tocantinense em qualquer área. Ele chama a atenção mesmo, as pessoas desejam, as pesquisas comprovam que o povo do Tocantins quer Marcelo Miranda novamente governador. Na nossa avaliação, e eu faço parte desse grupo que apoia Marcelo Miranda governador, ele pode e tem todas as condições para ser o candidato. Infelizmente o governo atual e os partidos da base do governo fizeram uma estrutura para desmontar essa possibilidade, ou seja, divulgaram e têm divulgado constantemente que ele esta inelegível. Infelizmente, parte de nosso próprio partido tem colaborado com isso, mas nós estamos também trabalhando no sentido de esclarecer isso para a sociedade. Que o que está sendo falado com relação à impossibilidade da candidatura dele é para criar uma insegurança, criar uma dúvida, o que é favorável ao governo, que quer nos desestabilizar, mas nós estamos gradativamente no nosso trabalho, na nossa caminhada. Com toda organização que vai ser elaborada pelo candidato a governador Marcelo Miranda, vamos desmontar essa mentira que foi criada e fortalecida ao longo dos últimos meses.