Palmas chega aos 34 anos ostentando beleza, razoável índice de qualidade de vida, funcionalidade e vigor. Permanece como uma das cidades que mais crescem no Brasil, em ritmo menos acelerado que num passado recente, mas ainda acima da média nacional. Tem crescido, diversificado a economia e assumido novas funções.

No princípio, era a cidade administrativa que iria inspirar o desenvolvimento do novo Estado do Tocantins, assim dizia o ex-governador Siqueira Campos, que iniciou a construção da cidade. Uma espécie de nova Brasília, em dimensões mais acanhadas, mas com a mesma função política, erguida entre duas grandes belezas naturais, o Rio Tocantins (transformado em grande lago da Usina Luiz Eduardo Magalhães) e a Serra do Carmo.

Uma cidade planejada, pensada nos mínimos detalhes para oferecer o máximo em praticidade e segurança. Estruturada ao longo de dois grandes eixos – as Avenidas JK e Teotônio Segurado, esta última com 150 metros de largura e três pistas – e tendo como diferencial, as rotatórias, um equipamento urbano que dispensa semáforos e reduz riscos de acidentes de trânsito.

Projetada para abrir mais de 1 milhão de habitantes no traçado urbano denominado de Plano Diretor, a especulação imobiliária criou um desastroso processo de vazios demográficos no centro e crescimento desordenado de bairros fora do traçado planejado. Com uma população de cerca de 350 mil habitantes, ocupa um traçado urbano longitudinal sentido norte-sul ao longo de 50 quilômetros, o que encarece os serviços públicos e dificulta a vida dos moradores, que clamam por transporte coletivo eficiente. 

No dia 20 de maio de 1989, apenas cinco meses de implantação do Tocantins, o então governador Siqueira Campos, acionou os tratores e deu início à construção do que chamou de Capital Ecológica do Ano 2000, a última planejada do século 20. Projeto moderno e ousado brotando do Cerrado para alavancar o desenvolvimento do novo Estado. De imediato, inaugurou uma corrente migratória para o Centro-Norte do País. 

Com o tempo, a cidade administrativa foi conquistando outras funções e experimentando novas vocações. Primeiro, cidade administrativa; depois, polo de educação, polo de saúde, centro de comércio atacadista, capital do agronegócio e sede do Matopiba, até se consolidar como a nova metrópole do Cerrado, com forte vocação para se impor como cidade do conhecimento.  

Para o economista Valdecy Rodrigues, pesquisador da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Palmas, depois de tantas vocações, está conseguido se firmar como uma cidade que presta serviço de maior valor agregado. O que significa dizer que apresenta ambiente favorável para o desenvolvimento da ciência, pesquisa, tecnologia e inovação, atividades que a caracterizam como uma cidade do conhecimento.

Isso resultou naturalmente na alta concentração de instituições de ensino superior e institutos de pesquisa. Palmas conta com mais de dez faculdades e universidades. São as mais importantes a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), o Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra), a Universidade Federal do Tocantins (UFT), o Instituto Federal do Tocantins (IFTO), a Universidade Católica do Tocantins (Unicatólica), o Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC/Palmas), o Centro Universitário Itop (Itop), a Faculdade de Palmas (Farpal), a Faculdade Serra do Carmo (Fasec), e o Instituto de Ensino e Pesquisa Objetivo (Iepo).  

“Palmas é uma cidade que presta serviços públicos, mas também vem oferecendo outros serviços privados. A saúde é um exemplo, comércio varejista e atacadista é outro, também tem uma vocação muito grande para o conhecimento, para prestar serviços na área de ciência, tecnologia e inovação”, explica o economista, que aponta que Palmas continua mantendo altos índices de crescimento acompanhados de diversificação da sua economia.

Valdecy Rodrigues observa que Palmas atende uma região vasta do Brasil, que é o Centro-Norte, onde a cidade preenche esse espaço para atender a população desse território, mas também assiste a própria economia que necessita dessa prestação de serviço. Segundo o economista, é uma cidade que atende as funções de moradia e de lazer, “a cidade tem de encontrar efetivamente seu caminho, mas baseada em serviço de alto valor agregado”, recomenda o pesquisador complementando: “Palmas é uma cidade média com uma importância muito grande para uma região vasta do Brasil”.

Palmas conta com uma população de 334.454 habitantes, segundo dados do IBGE, conforme censo de 2022, mas é inegável sua vocação para exercer o papel de metrópole. Papel que já desenhava no início da construção e que com o tempo foi mudando de perspectiva. Metrópole não no sentido de “grande”, mas na importância como referência regional, resultado da sua capacidade de se reinventar.

Palmas nasceu com uma missão bem definida: ser a cidade administrativa, que deveria irradiar o progresso para o novo Estado. Pelo menos era o que o seu idealizador, o ex-governador Siqueira Campos, dizia na época. A função era muito mais pretensão do que propriamente possibilidade de vir a ser.

Era a justificativa política para a concentração de recursos públicos na construção da capital, em detrimento do restante dos municípios com carência histórica de investimentos em todas as áreas. Era visível o descontentamento dos gestores municipais com aquele projeto que só consumia os parcos recursos do Estado e, de certa forma, se alcançasse sucesso, concorreria para esvaziar as maiores cidades. Por algum tempo, Palmas era vista como uma “teimosia do Siqueira” e não como a cidade que ajudaria a ordenar o desenvolvimento do Estado.

Não há como negar que por muito tempo Palmas cresceu às custas do esvaziamento das cidades de Miracema, Paraíso, Gurupi e Porto Nacional. Algumas enfrentaram um período de desequilíbrio com a fuga de profissionais e de empreendimentos de vários ramos de negócios. A função administrativa ainda é a característica mais acentuada de Palmas, mas a cidade é mais do que sede de órgãos públicos.

Com a inauguração do Hospital Geral de Palmas Francisco Ayres da Silva, em 2005, uma unidade de referência para o Norte do Brasil, e um conjunto de estruturas de saúde que a cidade ganhou a partir dessa grande obra, Palmas passou a ser polo de saúde. Conta com pelo menos mais quatro hospitais de grande porte – Hospital e Maternidade Dona Regina, Hospital da Criança, Hospital Oswaldo Cruz e Hospital Ortopédico – e ainda uma gama de clínicas e outros serviços. Em breve deve ganhar mais um hospital de referência, o Hospital de Amor, ligado à rede Hospital de Câncer, de Barretos (SP).

Com a construção de um novo shopping em 2010, Palmas assume uma nova vocação: polo atacadista. O empreendimento conseguiu atrair para Palmas lojas que só se instalam em cidades com mais de 500 mil habitantes. O argumento usado para convencer as empresas a vir para Palmas é que o mercado consumidor, contando sua área de influência, soma quase 1 milhão de pessoas. A partir do shopping, grandes grupos atacadistas se instalaram, consolidando essa nova vocação.

O ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) defende que Palmas vive seu melhor momento e está plenamente consolidada como a metrópole regional que exerce forte influência em todo o Estado. “Palmas, sem dúvida nenhuma é uma das capitais mais lindas do Brasil e, com certeza, é a capital com maiores potencialidades. Agora, não existe cidade rica com povo pobre ou triste. Nós falamos de uma cidade maravilhosa para o futuro, você tem de olhar na cara de cada palmense e ele se sentir incluído”, defende.

Amastha garante que a cidade mantém um forte ritmo de desenvolvimento e está pronta para o futuro. “Insisto que a nossa cidade está pronta para o futuro, precisamos de uma gestão que implante todos os projetos para que isso aconteça e que a gente realmente cumpra esse sonho que eu tive e acho que passa pela cabeça de muito palmense: fazer desta a melhor cidade do mundo para se viver. Isso é absolutamente possível porque uma cidade que hoje está completando 34 anos não tem absolutamente nada que não possa ser corrigido.

O certo é que Palmas pode ser considerada a metrópole do Cerrado, encravada no coração do Brasil e que impacta o desenvolvimento de toda a região do chamado Matopiba, a nova fronteira do agronegócio do Brasil que contempla regiões oeste da Bahia, sul do Maranhão e sul do Piauí. É a maior e mais importante cidade dessa região.

Aos 34 anos, Palmas segue se reinventando, descobrindo novas possibilidades e mantendo um ritmo de crescimento que ainda hoje chama atenção. Já não tem mais canteiros de girassóis, mas mantém sua simbologia, a cidade onde o sol nasce para todos, literalmente. Disso ninguém pode reclamar.