Vencedor do 1º turno da eleição suplementar, gestor interino do Estado não confirma candidatura ao governo no pleito ordinário de outubro, mas “até as pedras” sabem que ele irá disputar, a não ser que surja eventual problema com a Justiça

Prestes a disputar o segundo turno das eleições suplementares, o presidente da Assembleia Legislativa e atual governador interino do Estado do Tocantins concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Opção, oportunidade em que falou sobre seu modelo de gestão, municipalismo, alianças partidárias, estabilidade política e econômica, além da expressiva votação recebida do eleitorado tocantinense no primeiro turno do pleito suplementar.

Mauro Carlesse é paranaense de Terra Boa, e migrou para o Tocantins na primeira década do século XXI. Ocupou-se como empresário e agropecuarista no município de Gurupi. Iniciou sua carreira política ao se filiar ao Partido Verde (PV) em 2011, quando então já exercia a presidência do Sindicato Rural de Gurupi. Em outubro de 2014, já pelo PTB, foi eleito deputado estadual. Em julho de 2016, foi eleito presidente da Assembleia Legislativa do Estado para assumir o cargo a partir de fevereiro de 2017.

Ao disputar a eleição suplementar o sr. surpreendeu, uma vez que ficou em primeiro lugar ao final do primeiro turno, angariando mais de 173 mil votos, derrotando figuras exponenciais da política tocantinense, como os senadores Vicentinho Al­ves e Kátia Abreu e o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha. A quais fatores o sr. atribui essa expressiva vo­tação e como classifica essa im­portante vitória na sua vida pública?

A população entendeu a mensagem da estabilidade. Essa eleição suplementar é de transição e o eleitor sabe que não é o momento de mudar o governador. A mudança agora geraria prejuízos incalculáveis e o tocantinense entendeu que estamos levando o Estado para a um porto seguro.

Essa votação foi a vitória da esperança de que o Tocantins tem jeito e que nós representamos o novo e iremos promover as melhorias que o povo tanto espera.

No próximo dia 24 realizar-se-á segundo turno entre o sr. e o senador Vicentinho Alves. Qual é a sua expectativa?

A população já entendeu a mensagem e votou em nossa candidatura no primeiro turno, nos dando mais de 30% dos votos. Agora a corrente está aumentando com pessoas que também querem o bem do Tocan­tins. Continuo fazendo uma campanha com respeito aos adversários. Enquanto eles prometem e nos atacam eu faço as obras que o Estado precisa, gerando oportunidades de emprego e renda ao nosso povo.

Uma vez eleito para cumprir o mandato até 31 de dezembro deste ano, livre das amarras judiciais que impedem o governo interino de realizar várias ações, quais serão os seus maiores desafios? Que projetos pretende implantar à frente do governo estadual para que o seu legado fique registrado na história do Tocantins?

Neste governo de seis meses iremos garantir o funcionamento do Estado e continuar os projetos já iniciados. Com segurança jurídica e es­ta­bilidade iremos preparar o To­cantins para os projetos a longo pra­zo que garantirão uma vida melhor para todos nós tocantinenses.

As eleições ordinárias de outubro de 2018 são uma realidade da qual é impossível, para um agente político, esquecer ou não fazer planos. Se ganhar o segundo turno da suplementar, no cargo de governador o sr. se torna candidato natural à reeleição. E mesmo que não ganhe, teria um recall importante. O sr. será candidato em outubro?

Nossa preocupação agora é com a normalidade e estabilidade do Estado. Outubro é outra história. Até lá vamos trabalhar muito e aí iremos analisar o quadro, todavia, a população pode ter certeza que não abandonaremos nossos ideais de um Estado mais justo e com mais oportunidades para os pais de família, crianças e jovens, que tanto esperaram um governo sério e que respeita a todos, sem distinção.

Várias foram as filiações de deputados — Wanderlei Barbosa, Rocha Miranda, Toinho Andrade —, o que fez com que o PHS se tor­nasse a maior bancada na As­sembleia Legislativa, o que também pode ser considerado um fenômeno. Também se filiaram ao partido diversas lideranças políticas regionais e locais. Há no Tocantins uma unanimidade em torno do seu nome?

Não acredito nem acho confortável uma situação de unanimidade, contudo, entendo que o nosso projeto está conquistando líderes importantes para o PHS, partido que está crescendo nacionalmente e também no Tocantins. Já temos uma bancada forte e o partido cresce a cada dia em todo o Estado, porque traz uma mensagem nova para a população. Já no governo, mesmo interinamente, estamos mostrando que viemos para fazer a diferença, com responsabilidade e, honrando compromissos, estamos colocando o Tocantins nos trilhos para a retomada do crescimento.

Após assumir interinamente o governo do Estado, uma liminar judicial impediu fazer pagamentos não urgentes. Isso dificultou a governabilidade?

As ações judiciais engessaram um pouco nossas ações. Ocorre que não ficamos parados e fomos buscar soluções para os problemas, respeitando, contudo, os limites impostos pela justiça. Com a habilidade de nossos técnicos estamos conseguindo realizar muita coisa em pouco tempo de governo. Negociamos débitos na saúde, educação, segurança pública e infraestrutura e estamos realizando obras e ações emergenciais de grande alcance para a população.

O seu governo apresentou resultados rápidos, como enxugamento dos gastos, pagamento dos servidores no início de cada mês, regularização do Plansaú­de, além do pagamento das verbas atrasadas do Fundeb, como também o início do programa Opera Tocantins, na saúde. Esse modelo de gestão é uma característica pessoal ou isso se deu em razão do “mandato-tampão” ter um período muito curto?

Logo que assumi o governo fui visitar os hospitais regionais e vi de perto as dificuldades enfrentadas. Corredores cheios, pagamentos atrasados com médicos, anestesistas e outros profissionais, filas com quase 6 mil pessoas na espera por uma cirurgia. Era muito descaso e sofrimento e eu não poderia ficar alheio a isso. Então, determinei ao secretário de Saúde que nos apresentasse, imediatamente, uma resposta rápida à população e lançamos o Opera Tocantins. Ao meu ver, é o mais importante projeto já realizado na área da saúde aqui no Estado que, diga-se de passagem, é a prioridade número um de nosso governo.

Contudo, não deixamos de atuar em outras áreas essenciais da administração como a dos servidores públicos com direitos reprimidos há vários anos. Negociamos com os sindicatos e iniciamos o pagamento da data-base, além disso passamos a pagar os salários no início do mês e adotamos as seis horas diárias de trabalho para reduzir custos. Com outras medidas de contenção conseguimos reduzir os gastos da máquina estadual.

No seu histórico político, o sr. disputou uma eleição municipal em Gurupi em 2012, contudo, não obteve êxito. Quais foram os fatores que considera preponderantes para que sua vitória não ocorresse?

Sempre tive vontade de ajudar as pessoas e percebi que a única maneira era entrando na política. Gurupi buscava novidade e naquela época tudo caminhava para uma candidatura única. Então resolvi atender o convite de muitos amigos me candidatando. Grande parte da população entendeu a nossa mensagem e nos deu 42,78% dos votos válidos. Foi uma vitória para quem nunca havia disputado uma eleição.

Após esse percalço, logo depois de se filiar ao PTB em 2013, foi eleito deputado estadual com mais de 12 mil votos. Em julho de 2016 foi eleito presidente da Assembleia Legislativa, assumindo o cargo em fevereiro de 2017. Em razão dessa condição, já em maio de 2018, assumiu interinamente o posto de governador do Estado do Tocantins. Como o sr. avalia essa carreira meteórica na política?

Foi com um trabalho sério e visão de empresário que chegamos até aqui. A população nos elegeu deputado estadual e os parlamentares confiaram a mim a presidência da Casa Legislativa. Acredito que tive capacidade de articulação pois obtive 17 dos 24 votos dos colegas.

Busquei, desde o primeiro momento, a independência do Parlamento valorizando os deputados e discutindo exaustivamente cada projeto apresentado pelo governo do Estado, sempre pensando no melhor para o Tocantins. Implantamos a política municipalista na Assembleia e procuramos atender as demandas de nossos prefeitos. Discutimos e aprovamos financiamentos que distribuem recursos aos 139 municípios tocantinenses.

A ida para o governo do To­cantins foi em cumprimento a determinação constitucional devido a cassação do então governador. Desde o início, trabalho respeitando as leis e buscando a estabilidade do Estado em um momento difícil de transição.

Ainda no exercício do mandato parlamentar, o sr. apresentou, como pro­jeto de destaque, aquele que pro­íbe transposição águas do Rio Tocantins para a bacia do Rio São Francisco. Qual foi a motivação principal para que empunhasse tal bandeira e qual a importância dessa proposição?

Jamais poderíamos permitir um projeto desses que, com toda certeza, destruiria uma de nossas maiores riquezas, o Rio Tocantins. Fizemos essa movimentação e a sociedade logo abraçou a causa da preservação e o projeto da transposição perdeu força. Tenho certeza que não vingará.