“Ordem de serviço para todo lado e serviço em lugar nenhum”
31 maio 2014 às 10h20
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Deputado de oposição diz que a mudança no comando do Palácio Araguaia ficou apenas na aparência. Segundo ele o governador é novo, mas o governo é velho e inoperante como sempre
Ruy Bucar
O deputado José Augusto Pugliesi, do PMDB, acusa o governador Sandoval Cardoso (SD) de seguir receituário do governo Siqueira Campos, assinar ordem de serviço aleatoriamente sem se preocupar com a execução efetiva dessas obras. “Eu não vejo nada de novo. Ordem de serviço para todo lado e serviço em lugar nenhum. Isso nós já assistimos, o governador Siqueira Campos assinando ordem de serviço pra todo lado e as obras não saíam”, lembra o deputado, que diz que o governador é novo, mas o governo é velho.
Sobre a crise do PMDB que dificultava a união das oposições, o deputado admite que a situação interna do partido mudou muito. Ele afirma categoricamente que não existe mais nenhuma resistência por parte do seu grupo contra o ex-governador Marcelo Miranda e a senadora Kátia Abreu, líderes que considera indispensáveis para o partido conquistar o Palácio Araguaia. “Estamos neste processo de amadurecimento e eu nunca tive dúvidas, o PMDB vai chegar unido à convenção e ganhará as eleições. Cada um fazendo a sua parte”, declara o deputado, seguro de que a união já está selada.
Pugliesi assegura que não há mais restrição à senadora Kátia Abreu por parte do seu grupo, que mantinha certa reserva à parlamentar que se filiou ao PMDB junto à cúpula nacional, mas que não buscou um diálogo mais aprofundado com o partido no Estado. “Ficou acordado que do nosso lado o nosso candidato como segunda opção seria o deputado Júnior Coimbra e o nosso senador seria o Gaguim, mas desde que ele tivesse a elegibilidade assegurada”, explica o deputado, dizendo que uma inviabilidade do nome do Gaguim coloca o partido unido em torno do nome de Kátia Abreu.
Para o deputado a renúncia do governador Siqueira Campos, que levou à eleição indireta e à troca de comando do Palácio Araguaia, mudou substancialmente o processo político do Estado. “Ao meu ver, foi um alívio para a sociedade tocantinense a renúncia do então governador Siqueira Campos. Porque, sem sombras de dúvidas, foi o pior governo da história deste Estado”, critica o parlamentar, lamentando que o sucessor tenha optado por fazer um governo de continuísmo, bem distantes das aspirações populares.
O deputado José Augusto Pugliesi aponta que o grande problema do Tocantins é a incompetência que impera na gestão pública por conta dos acordos eleitoreiros que colocam em risco os resultados da gestão. “Não se pode tolerar a incompetência. No governo que saiu e no que chegou é gritante a incompetência. Como é que pode há mais de ano o governo federal mandar os recursos para implantar as cisternas que estão distribuídas em todos os municípios do Sudeste e não se consegue sequer a instalação?”, questiona, concluindo que só mesmo incompetência para explicar. Estes e outros assuntos estão na entrevista a seguir.
O PMDB parece que selou a paz interna, os dois grupos em conflito falam em união. Até onde vai esse discurso e o que mudou?
Na realidade não acho que houve mudança. Acho que houve amadurecimento do processo. Havia uma necessidade do deputado Júnior Coimbra de se colocar como candidato a governador como segunda opção do partido, dado que a questão da elegibilidade ou inelegibilidade do ex-governador Marcelo Miranda é um fato que não é novo. Isso aconteceu no passado quando ganhou as eleições para o Senado e não tomou posse. Há um ano huve essa conversa. Depois, quando se foi para as ruas, foi feito o convite para que Marcelo Miranda pudesse participar se colocando como primeira opção, entendendo-se que se hora das convenções, que já se avizinham, ele não tivesse resolvido este problema, o partido teria criado uma segunda opção. Os parceiros, os amigos, os correligionários tendem a não aceitar uma coisa ou outra e criam-se tantas teorias que atrapalham os entendimentos.
Quando se vai chegando perto de tomar as decisões não há mais que ficar em conversações, passa a ser fato e aí a responsabilidade pesa. É preciso muita ponderação.
O PMDB é o maior partido do Estado e tem o melhor nome para a disputa. A união é o que faltava para o partido mostrar a sua força?
O deputado Júnior Coimbra já percorreu todo o Estado se colocando como a segunda opção, já não tem mais necessidade de um discurso mais ácido, mais contundente. Eu também percorri todo o Estado dizendo que o PMDB precisava se preparar para a guerra iminente. Em política você tem todo prazo para o debate, mas na convenção o que interessa é a definição do candidato. Ou ela acontece ou o partido não tem candidato. Encerrada a etapa das discussões, agora chega a fase das ponderações para que se chegue ao consenso. Vivemos esse momento. Há uma conjunção dos principais líderes na mesma direção, há uma análise criteriosa dos princípios de elegibilidade e, mais do que isso, e é preciso uma avaliação aprofundada para saber como o eleitor está recebendo estas informações. Estamos neste processo de amadurecimento e eu nunca tive dúvidas, o PMDB vai chegar unido à convenção e ganhará as eleições. Cada um fazendo a sua parte. Eu estarei com o PMDB e com o candidato que for escolhido para essa missão de retomar o Palácio Araguaia.
Havia restrição à reeleição da senadora Kátia Abreu. Essa crise também já passou?
Essa questão da senadora Kátia Abreu foi muito mais um problema do modus operandi dela do que restrição ao seu nome, uma restrição digamos, definitiva, ou que alguém tivesse algo intransponível contra ela. Me parecer que por algum motivo ela veio de cima para baixo, não quis conversar com quem faz a política de base e preferiu outra forma de atuação. Isso trouxe um choque no partido. Esse choque naturalmente foi externado. E a situação ficou em determinado momento muito difícil. Ocorre que até o momento o ex-governador Carlos Henrique Gaguim, que era nosso candidato ao Senado, ainda não conseguiu se organizar do ponto de vista documental. Ele tem dificuldade para provar sua elegibilidade. Desde o princípio houve o acordo que do nosso lado o candidato como segunda opção seria o deputado Júnior Coimbra e para o Senado seria o Gaguim, desde que ele tivesse a elegibilidade assegurada. Até o momento o processo dele não foi a julgamento, o que o deixa sem a segurança jurídica para ser candidato. Uma campanha proporcional com liminar é factível, mas numa campanha majoritária não podemos arriscar. Temos o exemplo de Marcelo Miranda, que ganhou e não levou. O PMDB não pode colocar isso isso para a sociedade. Não vejo no PMDB ninguém ostensivamente não aceitando a senadora Kátia Abreu. Já a elegemos ao Senado junto com Marcelo Miranda numa coligação na eleição passada e podemos fazer de novo. O partido está aberto, o que faltou até agora foi discussão, mas ainda há tempo. Nossa disposição é organizar o partido para ganhar o governo do Estado, ganhar o Senado, fazer a maioria da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa, essa é a nossa determinação e estamos aí lutando.
A mudança no comando do Palácio Araguaia, com Sandoval, ajudou a mudar o cenário da disputa?
A entrada do Sandoval mudou substancialmente o processo político. Muito mais no primeiro momento do que agora. A meu ver, foi um alívio para a sociedade tocantinense a renúncia do então governador Siqueira Campos. Porque, sem sombras de dúvidas, foi o pior governo da história deste Estado. Ficou três anos e três meses à frente do governo e não conseguiu dizer a que veio, aliás, ele veio desconstruir o que ele e outros governos construíram com muito sacrifício. Foi um grande atraso para o Estado. A renúncia abreviou aquela forma equivocada de governar. Então trouxe um alento, uma pessoa nova, de outra formação política que poderia assumir e dar outro tratamento para gestão em crise. Mas essa euforia da sociedade com o novo durou pouco. Durou pouco porque o próprio governador eleito Sandoval Cardoso passou a dizer que era um governo de continuidade. Ou seja, o governador era novo, mas o governo é velho.
Como o sr. avalia as exonerações e recontrações de servidores, segue a mesmo receituário do governo Siqueira?
O governo é o mesmo. Sandoval quando sentiu o peso da máquina, do desgaste popular de um governo que não anda, começou a mudar peças. Algumas até muito interessantes. Ocorre que o simples fato de mudar peças, mudar pessoas, e não mudar as diretrizes, também não muda nada. E a principal prática nefasta do governo anterior continua. Gasta-se muito mais com pessoal do que a lei permite. O que assistimos agora? Sandoval demitiu um volume grande de comissionados para quê? Para se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal e não começar uma carreira já inelegível. Mas o que se esperava? Esperava-se que fizesse um enxugamento da máquina, uma requalificação dos servidores e adotasse medidas para que cada secretaria funcionasse de verdade. Para isso é preciso ter força de gestão, servidores qualificados e meta a ser alcançada, tendo o cidadão como o maior beneficiário. Pouco prazo depois assistimos a recontração do mesmo. Ou seja, simplesmente está passando um batom para ir à festa, que é a campanha eleitoral, e acompanhado de quem? Dos mesmos. Volto a afirmar: o governador é novo, mas o governo é velho. A mesma prática do governo Siqueira Campos para fugir da LRF está em vigor neste governo. Não vejo nada de novo. Ordem de serviço para todo lado e serviço em lugar nenhum. Isso já assistimos, o governador Siqueira Campos assinando ordem de serviço pra todo lado e as obras não saíam. Estamos caminhando para o mesmo rumo neste governo que se diz novo. Vemos na imprensa as estradas que já estavam com ordem de serviço assinada e as obras não andaram. Então, é mais do mesmo. O PMDB tem que ter a responsabilidade de se entender e entender o que é melhor para o Estado. A oposição deve se unir numa chapa majoritária boa, com um programa de governo realista, mas ousado que seja capaz de realizar um choque de gestão para reduzir os custos da máquina e melhorar a qualidade dos serviços prestados, que hoje é muito ruim. O Tocantins é o Estado da federação brasileira que mais gasta com custeio da máquina. E dinheiro gasto com custeio, que não está no investimento, não chega na ponta. É a burocracia comendo aquilo que poderia ser o desenvolvimento e oportunidade para as pessoas. Nós do PMDB temos que denunciar essa inversão de prioridades. O PMDB tem um plano de governo moderno e inovador que vai recolocar o Tocantins nos trilhos do desenvolvimento.
A eleição indireta mostrou o que apenas os líderes políticos sabiam e que agora nem o governo consegue esconder: a crise financeira do Estado. Como debelar esta crise?
Não vejo como fazer campanha política séria sem abrir a caixa preta dos números da economia do Tocantins. O que nós estamos assistindo atualmente na gestão do Estado são condutas vedadas ao gestor. O novo governador em pouco prazo já está proporcionando aumento para todas as categorias de servidores sem, no entanto, dizer de onde vêm os recursos. O que já estava acima da Lei de Responsabilidade Fiscal agora está numa crescente. Com este modelo o Estado quebra em menos de quatro anos. Quebra de tal forma que não vai dar conta de pagar a folha. Vamos ter intervenção porque seguramente vai se descumprir a lei. O PMDB não quer isso. Vamos ter que abrir essa caixa preta, mostrar para a sociedade a realidade do Estado e mostrar como vamos executar o melhor programa de governo. É simples, mas precisa reduzir custo. E como reduzir custos? Reduzindo o número de contratados, qualificando aqueles que já prestam serviço para o Estado de forma efetiva, buscando os talentos para a gestão pública no meio da sociedade, estabelecendo tarefas que precisam ser cumpridas e sendo ostensivo na cobrança de resultado. Precisa melhorar a máquina da arrecadação no sentido de não penalizar quem investe, ao contrário, facilitar ao máximo para os empreendedores que aqui estão para que possam desenvolver, fazer crescer os seus negócios, gerando emprego e renda e melhorando a economia e buscando outros investidores, que atraídos por uma melhor política fiscal possam se instalar no Tocantins.
Porque o governo gasta tanto com custeio para prestar um serviço de péssima qualidade. Na maioria dos órgãos faltam condições mínimas para trabalhar. Não está na hora de colocar em prática um novo modelo de gestão?
Não se pode tolerar incompetência. No governo que saiu e no que chegou é gritante a incompetência. Como é que pode a mais de ano o governo federal mandar as cisternas para serem instaladas, elas estão distribuídas em todos os municípios do Sudeste e não se consegue sequer a instalação das mesmas. Chegando ao ponto de algum vândalo vendo que a sede está eminente e o governo nada faz, botar fogo em quase 300 cisternas que poderiam servir ao povo. Nós assistimos as diversas secretarias de Estado devolvendo dinheiro que o governo federal disponibilizou para resolver problemas sociais e essas pessoas tiveram que devolver dinheiro por incompetência para gastar continuam à frente da gestão. Ou seja, a responsabilidade é do gestor principal que ao aceitar o incapaz o ineficiente aquele que malversa o dinheiro público, está tirando a oportunidade do Estado de se desenvolver. Então isso nós não podemos aceitar.
O sr. falou da responsabilidade do PMDB como maior partido do Estado e que tem os pré-candidatos mais bem avaliados com o processo de mudança do Estado. Com quem o partido conta nesta disputa em termos de coligação?
O PMDB tem clareza da necessidade de união para vencer o atraso do Estado. O PMDB tem condições de ir para a campanha com sangue puro, se precisar ir para o embate sozinho o partido está preparado, tem quadros com prestígio político e densidade eleitoral para isso. Mas nós estamos abertos a todos os partidos que estão na oposição, principalmente os partidos mais tradicionais como PT, o PV que mudou de posição saiu do governo e hoje é oposição; nós temos aí o PP que participou conosco na campanha passada e agora está em outra tratativa, certamente porque não estava vendo perspectivas; nós temos o PDT, nós não temos nenhuma dificuldade com nenhum partido a não ser com os partidos do siqueirismo, esses aí não servem, pois mancham a nossa coligação. Mas todos aqueles que queiram um novo modelo de gestão em que sejam valorizados as pessoas, as competências, a moralização da coisa pública e o desenvolvimento do Estado o PMDB acolhe com parceiro para esta empreitada cívica em defesa do melhor para o nosso Estado. Com o amadurecimento dos principais líderes, com a chegada do tempo das convenções nós estamos vendo que este debate vai se aprofundar, vai se avolumar e as coisas vão se definir.