Operação da PF provoca estrago na gestão de Cinthia Ribeiro
27 agosto 2023 às 00h01
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A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), está às voltas com uma crise política sem precedentes que pode descambar para uma crise jurídica imprevisível. Já tem pedido de impeachment tramitando na Câmara e vereador falando aos quatro ventos em afastamento da chefe do Executivo. A própria Polícia Federal (PF) se apressou em explicar que a prefeita não tem nenhuma relação de responsabilidade com as irregularidades. Mas poder ser muito cedo para se afirmar. Pelo que se observa, há muito barulho e pouca evidência, mas é bom lembrar que 2024 é ano de eleição municipal e nesse período os escândalos se tornam mais ruidosos.
Esse é, indiscutivelmente, o maior desafio enfrentado pela prefeita Cinthia desde que assumiu o comando da Capital, em 3 abril de 2018, substituindo o então prefeito, Carlos Amastha (PSB), que renunciou ao cargo para ser candidato a governador. Ela vem fazendo um governo acima da média com problemas pontuais, como o transporte coletivo, mas com uma presença firme e corajosa no enfrentamento aos adversários que tentam a todo custo diminuir a sua liderança e a sua capacidade de gestão.
Vale registrar que Cinthia, por não ter um grupo político seu e ter tido a coragem de romper com o antigo aliado, Carlos Amastha, que a queria como fiel seguidora e não como uma liderança autônoma capaz de decidir por suas próprias convicções, tem enfrentado um tipo de crítica corrosiva e destrutiva. Para os críticos, não importa se as denúncias procedem ou não, o que interessa é provocar o máximo de desgaste.
A prefeita tem pelo menos um grande problema político para resolver se não quiser ser surpreendida: ampliar a maioria frágil no Legislativo. O seu candidato a presidente da Câmara, vereador José do Lago Folha Filho (PSDB), venceu a disputa com o vereador Juscelino Rodrigues (PSDB), por 10 a 9. Embora Juscelino integre o partido da prefeita, desde que foi derrotado, se juntou de vez à oposição que lhe garantiu voto para confrontar o candidato governista.
Sem uma maioria tranquila a prefeita fica à mercê dos interesses dos vereadores, que mudam conforme as expectativas de poder. Neste sentido, a possibilidade de impeachment ganha força. Lembremos que o ex-governador Carlesse (Agir) contava com apoio dos 22 dos 24 deputados que integram o parlamento estadual e, de uma hora para outra, passou a ter todos os deputados contra. E deu no que deu, foi obrigado a renunciar para não sofrer o impeachment.
Investigações isentam prefeita até o momento, mas oposição não perdoa
Cinthia Ribeiro está correndo atrás para tentar conter os estragos provocados pelas operações da Polícia Federal deflagradas no último dia 10, e que resultou da prisão em flagrante do secretário de Desenvolvimento Urbano e Serviços Regionais, Edmilson Vieira das Virgens.
A suspeita da PF é de lavagem de dinheiro. Isso provocou um escândalo com forte repercussão no meio politico de Palmas e do Tocantins. Junto com o secretário, foram apreendidos R$ 3,6 milhões em dinheiro vivo e caixas de joias. Edmilson era considerado um homem forte na gestão Cinthia, indicado da sua conta pessoal.
As operações buscaram aprofundar investigações relacionadas a contratações de empresas de forma direta pela Secretaria Municipal de Educação de Palmas, que, de acordo com as investigações, caracterizam a prática dos crimes de contratação direta ilegal, corrupção e lavagem de dinheiro. Policiais cumpriram 14 mandados de busca e apreensão.
As investigações começaram a partir de denúncias que levantaram suspeitas sobre contratos irregulares. Um deles envolveu a contratação de uma empresa para fornecer kits pedagógicos para as escolas, sem passar por um processo de licitação. O outro caso foi a da contratação de uma empresa de forma emergencial, também sem licitação, para realizar o transporte escolar de alunos da zona rural. Os contratos em questão somam mais de 30 milhões de reais.
As operações foram nomeadas como “Segundo Plano” e “Plano Inserto”, pois suspeita-se que as contratações não foram feitas com o propósito de melhorar a qualidade da educação ou o transporte escolar na cidade, mas com o objetivo oculto de permitir o enriquecimento ilícito dos envolvidos.
Antes mesmo da Polícia Federal concluir as operações, a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) já havia exonerado pelo menos três auxiliares investigados. O secretário de Desenvolvimento Urbano e Serviços Regionais, Edmilson Vieira das Virgens; a Secretária da Educação, Maria de Fátima Pereira de Sena e Silva e a Secretária Executiva da Educação, Fernanda da Silva.
As exonerações, segundo o município, visaram proteger o bem público. No início da semana a prefeita realizou uma reforma administrativa às pressas, aprofundando as mudanças. A prefeita trocou seis por meia dúzia, mas acredita ter criado um ambiente novo no Paço Municipal, tendo inclusive editado um decreto tratando do combate a corrupção.
A prefeita Cinthia faz um governo de razoável para bom. Tem sensibilidade, espírito público e desejo de acertar. Tem sido duramente combatida por adversários impiedosos que agora comemoram o desgaste. O ex-prefeito de Palmas, Carlos Amastha, de quem a prefeita já foi vice, foi o primeiro a se manifestar sobre a operação da PF. Amastha explicou que o ex-secretário preso ocupou o cargo de Secretário Chefe da Casa Civil do seu governo justamente por indicação da Cinthia.
A deputada Janad Valcari (PL) também cobrou aprofundamento da investigação, que, segundo a parlamentar, certamente vai encontrar mais envolvidos em irregularidades. Na Câmara, o vereador Mauro Lacerda (PSB) assumiu a responsabilidade pela denúncia que desencadeou na operação. O vereador teria ouvido que agentes públicos do município estariam cobrando propina para liberar pagamento de serviços. O vereador Rogério Freitas (PSD) tem feito pronunciamentos na tribuna prevendo novos escândalos capazes de abalar as estruturas do Paço Municipal.
Impacto na sucessão
Qualquer que for o desdobramento da crise, a prefeita Cinthia de agora em diante terá menos tempo para corrigir pontos da gestão que aos olhos dos palmenses são falhos. Há muita reclamação de que a cidade parece bem cuidada, mas apenas no plano diretor. Ela também é cobrada por uma solução definitiva para o transporte coletivo que parece improvisado, tendo piorado bastante ao ser estatizado.
Com os escândalos, aumentam as críticas da oposição e diminui a paciência do cidadão com “gambiarras” que custam caro e não resolvem os reais problemas enfrentados pelos moradores. O barulho que o episódio causou mostra como vai ser o tom das eleições de 2024. A prefeita não disputa nenhum cargo neste pleito, mas com certeza não gostaria de entregar o comando do Paço Municipal para um adversário.
No momento, três grupos políticos se apresentam com força e disposição para vencer as eleições. O ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) corre pelo centro em um partido de esquerda e que foca sua campanha na desconstrução da prefeita. A deputada estadual Janad Valcari (PL), principal herdeira do bolsonarismo, direita radical, uma adversária ferrenha e que foca sua campanha num combate moralista da gestão tucana, principalmente porque, durante a pandemia, se posicionou contrária a medidas do governo Bolsonaro, que venceu a eleição em Palmas, embora não tenha vencido no Estado.
Um outro grupo que também tem chances reais de conquistar o Paço Municipal é o do governador Wanderlei Barbosa. No momento, o nome mais cotado para liderar os governistas é o deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos), mas dizem nos bastidores que também pode ser a própria deputada Valcari, que também integra o grupo palaciano.
Cinthia estaria tendenciosa a fechar acordo com o governador Wanderlei Barbosa, a quem caberia indicar o vice. A tucana vinha sendo cotada como uma forte candidata a compor chapa com o governador para o Senado em 2026. Com escândalos estourando tudo fica incerto. Daí a grande preocupação da prefeita, que sabe que tem muita coisa em jogo. Ou melhor, muito poder.
O Tocantins passa por um momento de renovação política. E ela sabe que tem um espaço enorme neste novo contexto, mas precisa manter a gestão em alta e acumular capital político e não perder de forma tão banal, como foi este episódio. Ainda há tempo para recuperar o capital perdido. Mas os erros podem ser fatais.