Responsável pelas denúncias que derrubaram Carlesse, médico revela que muitos dos envolvidos em desvios ainda ocupam cargo no governo

Dr. Luciano do Oswaldo Cruz é pré-candidato ao governo pelo DC | Foto: Ruy Bucar

O médico e empresário Luciano Castro Teixeira, que agora prefere ser chamado de Dr. Luciano do Oswaldo Cruz, revela que já iniciou a caminhada pelo interior como pré-candidato ao governo do Estado, por seu novo partido, o Democracia Cristã (DC), antigo PSDC. O médico comenta que nas primeiras viagens que fez descobriu ser mais popular do que imaginava. Conta que tem sido reconhecido nas ruas como o médico responsável pelo afastamento do ex-governador Mauro Carlesse, realidade que, segundo ele, permite prever que poderá se transformar na grande surpresa das próximas eleições.

Luciano aponta que os integrantes do Parlamento estadual fizeram vistas grossas aos atos do governador e devem ser considerados cúmplices dos desmandos. “Todos sabiam da corrupção que estava acontecendo. Eu entreguei à Assembleia um pedido de impeachment em 6 de março de 2020. Tenho cópia da entrega e foto do livro da Assembleia. Não fizeram nada, o documento nem foi para a mesa diretora. Ficou engavetado. Então, isso é uma vergonha. Eu, na carta, ainda falava que poderia processar os deputados por prevaricação. É muito triste, porque quem poderia fiscalizar nada fez. Estavam do lado de um ente tão corrupto”, questiona.

O médico reconhece que o afastamento do governador e a ascensão do vice provocou instabilidade institucional, em função das mudanças inerentes ao processo. Mas, segundo ele, essa ruptura foi bem melhor do que os desmandos do governo que se tinha. “Pior que a ruptura é você ter um governo corrupto, que é muito mais lesivo à economia, à sociedade, à população e a todo o sistema político. Então, um governo corrupto como esse do Carlesse é muito mais destrutivo que qualquer processo de ruptura. Essa é uma ruptura para o bem. Essa ruptura que houve, da “renúncia-queda” – renúncia para não ser cassado, não ser preso –, é muito melhor do que seguir o que tinha aí”, garante.

Luciano Castro Teixeira, de 42 anos, é médico clínico-geral, pós-graduado em Medicina Intensiva, pelo Hospital Sírio-Libanês, e em Cardiologia, pelo Hospital Albert Einstein, ambos em São Paulo. Foi preceptor da residência de Clínica Médica desde o primeiro dia de formação como especialista no Hospital Geral de Palmas (HGP). É também empresário da área da saúde, pecuarista e líder político. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Luciano mantém o tom de denúncia e promete novas revelações. “Ainda tem muita coisa para acontecer. O ano ainda não terminou e vem mais bomba por aí”, alerta.

Como o sr. avalia o reconhecimento público como o médico responsável pelo afastamento do ex-governador Mauro Carlesse?

As denúncias de corrupção no governo Carlesse foram muito marcantes e fundamentais para o desdobramento do afastamento. Não foi só a denúncia em si, foram a denúncia e todo um trabalho sistemático de acompanhamento. Para ter uma ideia, eu entreguei as denúncias na delegacia anticorrupção [Divisão Especializada de Repressão à Corrupção] quatro vezes, para poder andar. Os delegados que abriram o inquérito foram afastados. Eu entrei no Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF), OAB, Decor [Divisão Especializada de Repressão à Corrupção], imprensa, onde você puder imaginar. Fiz denúncias, inclusive, na Promotoria. Denunciei até o promotor que tentava salvar Carlesse, Fábio Lang – eu o representei também. Toda a máquina estava sendo usada contra mim. Para ter uma noção, um sobrinho [do Carlesse], Claudinei (Quaresmin) fez chegar até mim por oficial de justiça uma notificação que, em todos os trâmites, levou 35 minutos. Isto não existe em nenhum lugar do mundo.

Um bom exemplo de celeridade da justiça quando há algum interesse…

Muito célere. Toda a máquina, todo o rolo compressor da máquina estatal foi usado contra mim. Eu sofri denúncias até no Estado, pois eu sou concursado. Em numa delas, o diretor do Hospital Geral de Palmas (HGP), o chefe de enfermagem e o maqueiro disseram que uma paciente teve uma parada cardíaca e eu não a atendi. Houve outras “n” denúncias, as quais provei serem todas falsas. Sobre essa denúncia de que eu não atendi a paciente, se o acompanhante dela não tivesse me dado a filmagem de eu a atendendo e a carregando nos braços, descendo as escadas do HGP porque não tinha um elevador funcionando, seria a palavra dos três contra a minha. Eu iria perder. Então, tudo foi usado contra mim. Mas eu fui até o fim. Carlesse, com seus sequazes, marcaram uma reunião no Centro Médico Empresarial para me obrigar a fazer uma retratação e para que eu fosse expulso do Estado do Tocantins. Então, minha luta foi muito grande. Ameaças de morte, ameaça de “amanhecer com formiga na boca”, de “fazer picadinho” meu. Então, não foi só a denúncia em si. Muita coisa ainda está em segredo de justiça e outras ainda vão aparecer, não é fácil. E muitos dos capangas e comparsas desse grupo ainda estão aí, em órgãos de poder, de onde deveriam ser retirados.

Como o sr. avalia todo este processo que terminou com a renúncia do governador Carlesse para evitar uma cassação?

O Oswaldo Cruz ainda não recebeu o dinheiro e eu não acredito em coincidências. Para mim, toda dificuldade vem precedida de uma venda de facilidade. Eu espero que o governador Wanderlei (Barbosa) pague, até porque ele deu a palavra que ia pagar os prestadores (de serviços) e o Oswaldo Cruz. Então, eu espero que pague, acredito que vá pagar, não é? Se não pagar, vou brigar até o final. Este é um Estado rico, rico em recursos minerais, em posição geográfica, logística, potencial energético, potencial agropecuário, o que falta às vezes é mão de obra. E existe também uma necessidade de evitarmos que as pessoas saiam daqui para buscar oportunidades, que todos os tocantinenses fiquem por aqui e que sejamos um polo atrativo de novos investidores.

“Carlesse matou a economia do Estado”

Mas o investidor que está aqui, o empresário que está aqui, o pecuarista que está aqui precisa ser valorizado, não pode ser tirada sua oportunidade por grupos escusos que vem de fora. Boa parte de pessoas ligadas a Carlesse não pertenciam ao Tocantins. Isso é fato e todos sabem disso. Nosso Estado estava sendo exaurido e graças a essa luta e o afastamento de Carlesse hoje os servidores estão recebendo data-base, as progressões e retroativos. Dinheiro tinha, tanto era assim que o Wanderlei pagou. Carlesse matou a economia do Estado. Não precisa dizer quantos meses os proprietários de caminhão-pipa ficaram tentando receber do governo o que lhes deviam. Esse Estado passou por um período de escuridão, de trevas, na mão desse governador que agora mesmo foi intimado sobre R$ 4,7 milhões de sonegação no Pará. Mas tem muito mais coisa para acontecer e a gente não pode parar de lutar. Ganhando para governador, quem trabalhou e fez vai receber. O empresário vai receber, o industrial vai receber, porque eu sei que toda dificuldade de pagamento é meramente para haver uma venda de facilidades.

Qual a sua motivação para ser candidato ao governo do Tocantins?

É a possibilidade de contribuir para a transformação da estrutura do Estado. Nós temos um potencial muito grande, mas pouco explorado. Os últimos governadores que nós tivemos a formação era de nível médio. Você acredita que uma pessoa que não tem tanta instrução pode investir pesado na educação? Eu sou médico há 20 anos aqui. Ajudei a construir o [hospital] Oswaldo Cruz, desde a fundação. Trabalhei toda a minha vida médica dentro do Oswaldo Cruz, eu abri a UTI de lá, a UTI que teve o menor índice de mortalidade por Covid-19 nesta pandemia. Também abri a especialidade de Clínica Médica. Lutei até conseguir abrir para formar especialista e nós tivemos de fechar por conta das perseguições e do não pagamento por parte de Carlesse. Fui o primeiro preceptor do curso de Medicina da UFT [Universidade Federal do Tocantins] dentro do HGP. Inaugurei junto com os meus colegas o HGP, estou lá desde o dia em que abriu.

“Antes do Oswaldo Cruz, todo mundo ia se tratar em Goiânia. Goiânia era o hospital do Tocantins”

Sou concursado desde o Comunitário [Hospital Comunitário de Palmas, primeiro hospital de Palmas, que deu origem ao Hospital Geral de Palmas]. Sou médico clínico-geral, pós-graduado em Medicina Intensiva no Hospital Sírio-Libanês e pós-graduado em Cardiologia pelo Hospital Albert Einstein (SP). Ajudei a formar profissionais, abri o HGP, abri o Osvaldo Cruz, abri a UTI, sou médico de emergência, de internação, de UTI, quer dizer, eu conheço toda a dinâmica da saúde e a vivi em 20 anos. Você acredita que, entre os candidatos, alguém tem maior experiência que a minha? E eu não falo só daqui. Ajudei a formar a saúde daqui e estudei fora, conhecendo as melhores instituições de saúde do País, Einstein e Sírio-Libanês. Então, eu sei os diferentes níveis de investimentos, de necessidades da saúde. E a saúde não é só uma questão de bem estar da população, não, é uma questão de geração de renda, emprego.

Antes do Oswaldo Cruz, todo mundo ia se tratar em Goiânia. Goiânia era o hospital do Tocantins. Isso mudou. Hoje somos referência – para o Tocantins, Pará, Maranhão, Mato Grosso e oeste da Bahia. Recebemos pacientes de todas essas localidades e isso atrai recursos para cá. Quando a pessoa vem se tratar aqui, ela deixa o dinheiro dela, come nos restaurantes daqui, usa os postos de combustíveis, os hotéis. Tudo daqui. E transformar Palmas em referência em saúde, trazer para cá o turismo da saúde, isso é muito necessário. Porque vai fazer com que a nossa saúde se desenvolva mais, gere emprego, gere recursos para o Estado e a população e gere bem-estar social, além de desenvolver mais rapidamente a saúde.

Como o sr. avalia os desafios do novo governo frente aos sérios problemas do Estado, que vem perdendo sua capacidade de investimento, em meio a um longo processo de instabilidade política?

Qualquer ruptura institucional gera um desgaste e um atraso, porque tem de reorganizar as estruturas e as lideranças que vão definir as políticas públicas para determinadas áreas. Mas muito pior que a ruptura é ter um governo corrupto, como o que a gente tinha. Isso é muito mais lesivo à economia, à sociedade, à população e a todo o sistema político. Então, um governo corrupto como esse de Carlesse é muito mais destrutivo que qualquer processo de ruptura. Essa é uma ruptura para o bem. Essa ruptura que houve, dessa “renúncia-queda” – renúncia para não ser cassado, não ser preso – é muito melhor do que seguir o que tinha aí.

O Tocantins tem hoje mais de 2 mil quilômetros de rodovias pavimentadas necessitando de recuperação urgente, pois são fundamentais para a economia do Estado cuja base é o agronegócio. É um problema de falta de manutenção ou de má qualidade das obras?

Existem projetos, inclusive federais, como a duplicação da Rodovia BR-153, a duplicação da BR-010, que serão marcos importantes no desenvolvimento do Estado. O Tocantins necessita de políticas próprias para construir suas rodovias. Nosso problema é que não existe um sistema bem definido de proteção às rodovias. A gente quando viaja a vê as rodovias com 30 centímetros de acostamento, quando em medições dizem ser um metro. A gente vê todo tipo de barbaridade na infraestrutura logística do Estado, fundamentalmente pavimentação asfáltica. O Estado precisa ter um modelo mais protetor de suas rodovias. Nós vimos, durante o governo Carlesse, principalmente no começo no ano passado e em 2020, o desgaste que tinha ali naquela região de Porto [Nacional] a Brejinho de Nazaré, que era intransitável. O ex-governador deixou as rodovias acabarem e fez algumas recuperações em trechos que aconteceram muitos acidentes com mortes. Não existe um trabalho bem feito. Na maioria das vezes isso só ocorre em anos eleitorais.

Porque a opção pelo DC?

O DC é muito complexo. Todos os candidatos que aí estão dominam pelo menos três partidos. Não existem muitos partidos no Brasil. Com esta restruturação política sobraram aproximadamente 21 partidos. E, se pegarmos os grupos de Ronaldo Dimas [PL, pré-candidato ao governo], Wanderlei [Barbosa, do Republicanos, governador e pré-candidato à reeleição], de Kátia [Abreu PP, senadora e pré-candidata à reeleição] e de Dorinha [Seabra, UB, deputada federal e pré-candidata a senadora], cada um mantém influência em seu partido e em mais dois ou três. Então, esses quatro grupos já tomariam conta de 16 partidos. Não há sobra para sair candidato. Isso não é gratuito, é intencional. Eles sabem que qualquer um que entrar no processo político pode tomar a eleição deles. Porque as pessoas já não aguentam mais o sistema político que está aí. Eu estive recentemente em Araguaína e ouvi muitos dizerem que quem vai ganhar não é nenhum desses que estão se propondo. E Araguaína é a terra do Dimas, que neste momento, em que sofreu com uma ação da Polícia Federal, teve um desgaste muito grande em sua imagem.

A situação dele não é boa, não é boa pra nenhum desses pré-candidatos. Tanto que não se encontraram, não conseguiram formar grupos e estão batendo cabeça até agora. E a nossa receptividade foi muito grande em Araguaína. A gente vê um desejo de mudança. Eu acho que isso vai acontecer e nós vamos surpreender. O Democracia Cristã tem bons nomes para concorrer e isso vem ao encontro do desejo de mudança e transformação que a população do Estado quer.

“Ainda tem muita coisa para acontecer. O ano ainda não terminou e vem mais bomba por aí”

O que o sr. pretende fazer para atrair mais forças políticas para viabilizar sua candidatura ao governo? Ou será possível concorrer com esses grupos bem estruturados tendo apenas um partido?

Possível é. E não sou eu quem provei isto. Bolsonaro, no partido que ele foi candidato que não tinha representatividade, que tinha oito segundos de tempo de TV, provou que era possível. Todos dizendo que ele não ia ganhar, que era uma piada. Isso está provado e a gente não precisa ir muito longe não, em nível nacional; nós tivemos um candidato a prefeito [de Palmas] no passado que começou com 0,1% de intenção de votos, tendo um candidato, Marcelo Lelis, que tinha 59% e perdeu de lavada a eleição. E eu me lembro de uma pergunta de uma repórter: “o sr. acha possível governar ou ganhar uma eleição com três candidatos a vereador?”. O partido dele só tinha três candidatos a vereador. Dos três, ele fez dois, e ganhou [a eleição] e após uma semana já tinha quase toda a Câmara do lado dele.

Então, quem conquistar o poder político vai ter governabilidade sempre. Porque o Executivo é soberano nessas situações. Veja Carlesse, todos sabiam da corrupção que estava acontecendo. Eu entreguei à Assembleia um pedido de impeachment, em 6 de março de 2020, tenho cópia da entrega e foto do livro da Assembleia e nunca fizeram nada. Não foi nem para a mesa diretora. Ficou engavetado. Então isso é uma vergonha. E eu, na carta, ainda falava que poderia processá-los por prevaricação. É muito triste, porque quem poderia fiscalizar nada fez. Estavam do lado de um ente tão corrupto.

Foram cúmplices por omissão?

Acho até que mais do que isso. Como existem coisas andam em sigilo de justiça, em processo, eu vou esperar as coisas se aclararem. Ainda tem muita coisa para acontecer. O ano ainda não terminou e vem mais bomba por aí.

O DC é um partido de direita. Como o sr. se define ideologicamente?

O pré-candidato Luciano tem um perfil cristão. Acho que isso já define muita coisa. Os cristãos em geral são tidos como conservadores, mas temos de entender que temos uma política de desenvolvimento. Com inteligência, com características técnicas, com liberdade e muitas coisas não estão sendo muito claras. Existe uma obscuridade muito grande hoje na política do Brasil, na Justiça. Quando eu falo que enfrentei um processo que em 35 minutos fez todos os trâmites, não posso deixar de dizer que existem coisas escusas. Como não acho correto um ministro do Supremo [Tribunal Federal] abrir um processo em que é a vítima e ser o julgador, não concordo. Têm coisas muitas erradas e o tempo vai corrigir esses erros. Às vezes, para evitar traumas maiores, é preciso esperar um pouco para que se criem condições para mudar. Mas existem problemas graves no Brasil.