O sonho de uma união possível, mas improvável
18 abril 2014 às 11h28
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Ex-governador Marcelo Miranda garante que os pré-candidatos de oposição estão unidos em torno de um objetivo comum: vencer o siqueirismo. Há quem negue
Ruy Bucar
Juntos os pré-candidatos de oposição — o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB), o deputado Marcelo Lelis (PV), o ex-prefeito de Porto Nacional Paulo Mourão (PT), o empresário Roberto Pires (PP) e o senador Ataídes Oliveira (Pros) —, todos em fase de crescimento de suas pré-candidaturas, somam mais de 70% das intenções de votos, conforme pesquisas de consumo interno, encomendadas pelos partidos para avaliar o cenário eleitoral. Em tese, juntos, eles podem decidir as eleições de 5 de outubro. Em tese, porque a união que é quase impossível, nem sempre soma.
O presidente do PSD nacional e pré-candidato a governador de São Paulo, Gilberto Kassab, em sua visita ao Tocantins, na semana passada, deixou uma recomendação muita clara para os pré-candidatos de oposição. “Até o dia 30 de junho, Marcelo, Lelis, Roberto Pires, Ataídes e Paulo Mourão precisam estar unidos”, disse ao destacar a condição que considera indispensável para as oposições vencerem as eleições no Estado. Para Kassab a escolha do candidato deve seguir o sentimento popular. Deve ser o melhor cotado nas pesquisas de opinião pública.
Kassab sabe que por melhor que esteja a oposição não é fácil vencer uma máquina governamental disposta a tudo, como se vê no Tocantins. Kassab entende que o papel do PSD no Tocantins é contribuir para a construção do entendimento e recomenda ao presidente da legenda, deputado Irajá Abreu, cultivar o diálogo com todos os partidos de oposição.
O ex-governador Marcelo Miranda lançou o desafio e puxou para si a responsabilidade de liderar este processo. Declarou publicamente em alto e bom som que é pré-candidato ao governo do Estado e que ele e os outros pré-candidatos estão juntos nesta empreitada. Miranda sabe que não será fácil construir este entendimento. Basta avaliar o desafio que enfrenta de boicote interno no seu próprio partido, em que um grupo que se diz majoritário trabalha abertamente para derrotá-lo não apenas na convenção, mas para retirá-lo a qualquer custo das eleições.
Pelo menos um dos pré-candidatos citados pelo ex-governador não se considera incluído na lista de união das oposições. O senador Ataídes Oliveira desautorizou a inclusão do seu nome nesta frente liderada por Marcelo Miranda. O parlamentar usa a desculpa diplomática de que ainda não tratou do assunto com outros pré-candidatos para se eximir dessa responsabilidade. Os outros apoiam a ideia e confirmam o diálogo.
Ataídes Oliveira é oposição e mantém postura crítica ao governo, que considera que virou frustração. A negativa de não ser incluído neste pacote tem a ver com o exercício de sobrevivência política, a tarefa de estruturar um partido, o Pros, do qual é vice-presidente nacional. Na verdade, o senador, que iniciou tarde a caminhada como pré-candidato, não pode dizer sim à aliança das oposições, sob pena de esvaziar o seu projeto político, mas também não pode fechar as portas, pois corre o risco de se isolar e não conseguir alavancar o seu projeto político. Ataídes compõe sim com a oposição, mas não agora.
O prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PP), coordenador da terceira via e que tem certo peso no processo das eleições, também veio a público manifestar sua opinião contrária à união das oposições preconizada por Marcelo Miranda. Amastha declara que Roberto Pires é candidato ao governo e que não tem entendimento com forças políticas tradicionais. Amastha não admite diálogo com o PMDB do ex-governador Marcelo Miranda e da senadora Kátia Abreu.
Amastha pode estar falando sozinho. Tanto o empresário Roberto Pires como o deputado Lázaro Botelho, que dirige o PP, estão participando dos entendimentos e defendem a união de todos os candidatos da oposição. A postura de Amastha é confusa. É uma mistura de briga paroquial com a senadora Kátia Abreu em função da forte oposição que o vereador Iratã Abreu (PSD), filho da senadora, faz na Câmara de Palmas, o que provoca a ira do prefeito e seu desinteresse proposital pelas eleições.
A rigor, a posição de Amastha não altera nada na prefeitura da Capital, de certa forma pode até piorar haja vista que tudo que tem pedido ao governo tem sido atendido.
Se os líderes de oposição ainda têm dificuldade para alinhar o discurso, o governo já não. O governo, de posse dos dados que favorecem amplamente as oposições nestas eleições, decidiu mexer nas peças do tabuleiro para tentar mudar o cenário. A renúncia do governador Siqueira Campos, que foi chamada por ufanistas de plantão de “jogada de mestre”, deve ser creditada a uma leitura criteriosa deste cenário. A renúncia foi pensada como estratégia para dividir e atrasar a oposição, que vinha promovendo um verdadeiro arrastão pelo interior. A promoção do presidente da Assembleia Legislativa, Sandoval Cardoso, à condição de governador tem missão dupla de corrigir os desgastes do governo e tentar atropelar a oposição com um fato novo.
Como governador Sandoval Cardoso (SDD) tem sido um bom presidente da Assembleia Legislativa, ao menos na leitura dos deputados. O ex-peemedebista que aderiu ao governo pelas mãos da senadora Kátia Abreu é um parlamentar mediano, com atuação discreta no Parlamento, cujo principal mérito tem sido a sua obediência cega ao siqueirismo, o que lhe permitiu contar com um orçamento generoso que está servido para fazer agrados aos pares.
No comando do Palácio Araguaia caminha para repetir a estratégia do ex-presidente Carlos Henrique Gaguim (PMDB), que se elegeu governador em eleição indireta dividindo o poder com todos os deputados. Na troca de voto dos parlamentares Gaguim entregou secretarias e outras vantagens aos eleitores e teve uma vitória consagradora — apenas um deputado se absteve de votar, mas não de apoiar o seu governo. Sandoval segue nessa toada, mas sua eleição será mais difícil que a do peemedebista.
O governador interino corre o sério risco de ter a sua candidatura a eleição indireta contestada na Justiça, o que pode levar a cassação, e não poder ser candidato a nenhum cargo. A oposição está certa que a candidatura vai haver como também certa é a impugnação ou cassação. É preciso esperar para saber até onde o governo acertou nesta estratégia complicada que oferece mais riscos que benefícios.
O desastre administrativo que levou o governador Siqueira Campos a renunciar para tentar livrar o governo de desgaste deve ser o primeiro ponto a ser observado na busca de convergências das oposições, que até aqui não tem sabido explorar os pontos fracos do governo. Os rombos do Igeprev e da Celtins – para citar os mais recentes -, que viraram escândalos e são comprometedores, só entram na pauta da oposição quando algum órgão de fiscalização se manifesta sobre os casos. Em outros tempos esses dois escândalos já teriam derrubado o governo, não vamos muito longe, bastaria que Siqueira fosse oposição.
O discurso do ex-governador Marcelo Miranda apesar de óbvio ainda soa um pouco idealista, distante da realidade, mas é um passo importante para a união das oposições, que têm efetivamente todas as condições de vencer as eleições. Basta que haja bom senso, capacidade de articulação, espírito público e disposição para buscar o entendimento com setores aparentemente divergentes, mas que buscam os mesmos objetivos.