Qualquer que for o governador eleito terá um grande desafio pela frente: aplicar um choque de gestão que leve o Estado a recuperar a sua capacidade de investimento e assumir a condição de indutor de um novo ciclo de desenvolvimento

Ruy Bucar

Palácio Araguaia, sede do governo estadual: o lugar cobiçado pelos candidatos na corrida sucessória que já começou Foto: Valmir Grein
Palácio Araguaia, sede do governo estadual: o lugar cobiçado pelos candidatos na corrida sucessória que já começou
Foto: Valmir Grein

Não é segredo para ninguém que o Tocantins vive uma grave crise de falência da gestão pública com forte im­pacto na sua economia. Os co­merciantes sentem na pele os efeitos de um governo desastroso, fazem um balanço altamente negativo desses últimos quatro anos e apontam a gestão pública como responsável pela queda nas vendas e recuo da economia. Dizem que quando o governo não vai bem todos os outros setores da economia sentem as consequências, especialmente o setor produtivo, que perde competitividade.

Os economistas classificam o cenário local como quadro de desequilíbrio econômico-financeiro do Estado, com aumento exagerado das despesas de custeio e redução drástica da capacidade de investimento, aumento da dívida pública e do déficit da previdência social. Uma anomalia resultado da falta de visão de gestores, que movidos por interesses eleitorais colocam em risco a governabilidade, o que leva à crise e à recessão. Alertam que a situação do Tocantins tende a se agravar com os riscos de instabilidade em nível nacional. O Tocantins, que é extremamente dependente do repasse de recursos do governo federal, chegou a perder mais de 30% de receita com a isenção de impostos da linha branca.

Pesquisas de opinião pública encomendadas pelos partidos e veículos de comunicação têm apontado com bastante nitidez o sentimento de mudança da sociedade tocantinense. Profissionais de marketing que trabalham com análises desse tipo de informação garantem que pelos dados se observa que o eleitor não quer apenas mudar de perfil de gestor, mas mudar o modelo de gestão e, por extensão, a prática política que é vista como a fonte do desequilíbrio administrativo.

Pelo discurso os seis candidatos ao governo do Estado — Marcelo Miranda (PMDB), Sandoval Cardoso (SD), Ataídes Oliveira (Pros), Joaquim Rocha (PSol), Carlos Potengy (PCB) e Luis Carlos (PRTB) — parecem comprometidos com as mudanças que a sociedade aspira, às quais eles tiveram conhecimento por meio das pesquisas. O termo mudança já impregnou de tal forma no contexto geral do pleito que se pode prever que será a palavra-chave da campanha.

Talvez por isso torna-se ne­ces­sário observar com maior cuidado o que cada candidato quer di­zer com mudança. Pelo que ob­servamos cada um tem a sua forma de ver e de explicar como vai realizar a mudança em seu go­verno. Poucos seguramente terão condições reais de operar as mudanças que a sociedade exi­ge. O que está no governo, por exemplo, se tivesse que fa­zer mudança faria agora e não teria que esperar vencer as eleições.

O discurso mais apelativo neste sentido é que o que menos sugere mudança. E é curioso observar que o governador Sandoval Cardoso é o primeiro caso de alguém que está no governo e discursa como oposição, pregando mudança. Um efeito de marketing que peca pelo excesso. Uma contradição fácil de ser notada e contribui para banalizar o termo, tirando a sua real importância. No palanque fala de mudança, no governo garante o continuísmo.

O senador Ataídes Oliveira vê na mudança a opor­tu­­nidade de superar um modelo de administração que já não consegue mais dar resposta positiva em termos de desenvolvimento do Estado. O candidato defende que é preciso adotar um verdadeiro choque de gestão acompanhado de medidas de austeridade que sejam capazes de promover mu­dan­ças substanciais, como redução do tamanho da máquina com corte no número de cargos em co­missão e recuperação da capacidade de investimento do Estado.

Ataídes tem consciência de que será um sacrifício muito grande, mas garante que não tem outro caminho para recuperar o equilíbrio das contas do Estado. O candidato é contundente em sua fala. Diz que é preciso um grande esforço para salvar a máquina pública, levaa à falência por irresponsabilidade dos governantes. Ele afirma que têm planos e ideias para retomar o desenvolvimento do Estado com o serviço público sendo suporte estratégico.

Marcelo Miranda é visto pelo o eleitor como o candidato que melhor representa a capacidade de mudança que a sociedade espera. O candidato tem uma receita simples: adotar medidas de austeridades como enxugamento da máquina administrativa, descentralização da administração, sem prejudicar os servidores, e ampliação dos recursos para investimentos. Ele fala em retomada das obras estruturantes, incentivo a industrialização e retomada de programas sociais que atendem os mais carentes e incremento da gestão, que tem reflexo direto no aquecimento da economia.

O médico Joaquim Rocha diz que é preciso mais do que mudança, é preciso reinventar a gestão com projetos criativos e inovadores que possam recuperar a credibilidade do serviço público. Ele prega também uma profunda mudança na prática política, trocando o paternalismo pela participação popular, que dá transparência e maior agilidade ao serviço público, além de forte combate a corrupção, o que segundo ele é a origem de todas as mazelas da gestão pública do Estado.

O jornalista e historiador Car­los Potengy explica que a maior contribuição dos comunistas nesta disputa é oferecer uma opção nova de transformação para o Estado. O candidato cita como proposta a formação do poder popular que permite ao cidadão ser agente de transformação da sua própria história. Para Potengy os comunistas entendem que a melhor mudança é por meio da educação. Educar a sociedade para que ela seja o sujeito de transformação da sua realidade.

O advogado Luis Cláudio anuncia que a prioridade do seu governo são as áreas da saúde e da segurança pública. Ele diz que é preciso acabar com o descaso com a população e má aplicação dos recursos públicos, segundo ele só isso explica o aumento de investimento na saúde e que não se traduz em qualidade do atendimento, pelo contrário, a cada dia o serviço piora. O candidato garante que irá fazer um trabalho de integração das polícias para melhorar a segurança pública, que “virou caso de polícia”.