O prefeito Amastha se diminuiu ao se aliar ao grupo palaciano
16 agosto 2014 às 09h27

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Candidato ao Senado pelo PSol não considera a disputa com os seus adversários ao cargo uma luta desigual, mas “diferente”. “O problema está mais com eles, não comigo, porque eles são políticos tradicionais, fazem a política de troca de favores, de dependência”

Gilson Cavalcante
Para o candidato a senador pelo PSol, professor Élvio Quirino, o prefeito de Palmas, Carlos Amastha (PP), tinha tudo para ser uma nova liderança política; tinha tudo para não se misturar com a velha política. “Aliás, ele deixou isso bem claro durante a sua campanha eleitoral em 2012. Mas quando ele (Amastha) faz aliança com o governo estadual, com o governador Sandoval Cardoso (SD), que tem por trás o grupo siqueirista, que está no poder há mais de 24 anos, revelou-se um político com os mesmo vícios dos velhos políticos.” Na sua avaliação, a população não vai entender isso: “Aliar-se a um governador biônico, que foi eleito numa eleição indireta, na Assembleia Legislativa. O prefeito Amastha, ao aliar-se ao grupo palaciano, se diminuiu. Ele não precisava disso”.
Na entrevista exclusiva que concedeu ao Jornal Opção, em seu comitê eleitoral, Élvio não considera a disputa com os seus adversários ao cargo – senadora Kátia Abreu (PMDB), deputado Eduardo Gomes (PSDB) e Sargento Aragão (Pros) – uma luta desigual, mas “diferente”. “O problema está mais com eles, não comigo, porque eles são políticos tradicionais, fazem a política de troca de favores, de dependência, que não gera autonomia ao cidadão. Nós vamos fazer outro modelo de política, em que as pessoas se sentem úteis e grandes ao participar dela.”
Élvio Quirino foi diretor do campus da Unitins e professor da Universidade do Tocantins durante 11 anos; foi também secretário de Planejamento da Prefeitura de Palmas, diretor executivo da Fundação Científico e Tecnológico da UFT. É professor da UFT desde 2003. É engenheiro agrônomo, especialista em Educação, mestre, doutor em Sociologia e pós-doutor em Desenvolvimento.

e estamos preparados para isso” | Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Abr
Quais os motivos que o levaram a se candidatar ao cargo de senador pelo Psol, praticamente sem estrutura e com parcos recursos, disputando com três políticos com mandato?
Na realidade, o Psol é um partido muito especial no Brasil, que tem um senso crítico muito grande sobre sistema político atual. O político hoje está precisando oxigenar-se e o Psol e nós defendemos com veemência uma reforma política. Além disso, o nosso senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) é considerado um dos melhores senadores do País. Tem um desempenho extraordinário. Então, nós queremos ter também uma oportunidade de representar o Tocantins no Senado Federal e estamos preparados. Eu sou uma pessoa qualificada para exercer o cargo de senador. A ideia é a gente fazer a diferença pela qualidade e pela experiência profissional que tenho.
Mas o seu tempo da TV é muito pouco. Qual a estratégia para atingir o maior número de eleitores? Como promover o debate das ideias?
Na verdade são 35 segundos o nosso tempo de televisão. Não é pouco, porque dá para sintetizar o resumo das ideias, visto que são vários programas. Além dos programas, vão veicular as pílulas, as inserções em emissoras de rádios e TV, sem contar com as redes sociais, que são um forte instrumento e mecanismo para atingir o eleitorado. Isso terá uma influência muito grande.
O sr. acha que as redes sociais atingem o grande eleitorado a ponto de decidir uma eleição?
Hoje, em qualquer lugar se acessa a internet. Eu não posso dizer que as redes sociais têm o poder de decidir uma eleição, mas exercem um poder muito grande na hora de escolher os candidatos. E nós temos uma presença muito grande nesse processo. Mas nós vamos fazer também nossas visitas, nossas caminhadas nos municípios, realizando esse corpo a corpo junto ao eleitorado. A nossa candidatura não é uma vaidade, mas uma ocupação de espaço político, para levar as nossas propostas.
E a falta de recursos financeiros?
A gente tem a estrutura mínima, o partido em nível nacional dá a sua contribuição financeira, na medida que ajuda a pagar os programas eleitorais, na parte de impressão gráfica e para a parte de mobilidade, transporte. Aliás, a nossa candidata a presidente da República, Luciana Genro, uma liderança política muito popular no Brasil, deve vir ao Tocantins para incrementar a nossa campanha. Ela e a Marina Silva devem ser as duas mulheres que vão levar a campanha presidencial para o segundo turno. A Marina deve assumir a candidatura à presidência pelo PSB, com a morte do Eduardo Campos. Marina Silva é mais competitiva que Eduardo, visto que ela obteve mais de 20 milhões de votos nas últimas eleições, sem contar que, antes da definição das candidaturas, ela tinha 20% das intenções de voto, contra apenas 6% de Eduardo Campos.
O que o levou a postular a candidatura de senador? Qual a sua experiência política e a sua bandeira?
Ao longo de minha experiência profissional, durante os 24 anos que estou no Tocantins, nós aprendemos e percebemos que o Estado precisa captar mais recursos, com a elaboração de projetos bem fundamentados.
O sr. sabe o caminho das pedras para conseguir recursos?
Temos muita experiência, porque quando diretor-executivo da Fundação de Apoio Científico e Tecnológico da UFT, captamos muitos recursos para levar para o orçamento da universidade, para implantar os cursos de medicina, implantar a área de saúde e os projetos e pesquisa e extensão da instituição, elevando muito consideravelmente o orçamento da universidade. Nós fizemos e sabemos fazer isso. Trata-se de uma alternativa para melhorar o desenvolvimento econômico e social do nosso Estado. Portanto, estamos bem preparados para essa missão.
O sr. não considera uma luta desigual disputar uma eleição de senador com Kátia Abreu, Eduardo Gomes e Sargento Aragão, todos com mandatos e com estrutura financeira de peso?
Não acho desigual. Eu diria que é uma luta diferente. O problema está mais com eles, não comigo, porque eles são políticos tradicionais, fazem a política de troca de favores, de dependência, que não gera autonomia ao cidadão. Nós vamos fazer outro modelo de política, em que as pessoas se sentem úteis e grandes ao participar dela. Não tem troca de favores, não tem compra de votos no nosso projeto. Portanto, nesse caso, não vejo a candidatura deles como adequada à sociedade, porque não representam os segmentos sociais. É preciso pessoas como eu e como os demais eleitores do Tocantins, gente de bem e com capacidade de representar o nosso Estado à altura que ele merece. A outra opção era a gente ficar em casa, sentado no sofá, só criticando os políticos. Isso não é correto para quem quer um Tocantins e um Brasil melhores. Então, eu entrei na política partidária para mudar as leis eleitorais e ajudar a promover uma reforma política de peso, o que os políticos que estão hoje no poder não fizeram ou não vão fazer, porque não têm interesse em mudanças, já que o poder econômico fala mais forte, devido à estrutura vigente da legislação eleitoral. Se não houver uma reforma política, o Tocantins e o Brasil vão ao fracasso. No entanto, reconheço que os três candidatos adversários ao Senado são de grande expressão porque detêm mandatos parlamentares. Mas eu quero dizer que, segundo pesquisas, as pessoas querem mudar os políticos que estão no poder. O eleitor vai procurar nas urnas candidatos que se propõem a fazer algo novo e diferente, que sejam éticos. É com esse propósito que apresentamos a nossa candidatura como alternativa ao eleitor.
Qual a sua análise sobre o posicionamento do prefeito Carlos Amastha em aliar-se ao candidato a governador do Palácio Araguaia, uma vez que, em seu primeiro ano de mandato, não se entendia política e administrativamente com o siqueirismo?
O prefeito Carlos Amastha tinha tudo para ser uma nova liderança política. Tinha tudo para não se misturar com a velha política. Aliás, ele deixou isso bem claro durante a sua campanha eleitoral em 2012. Mas quando ele (Amastha) faz aliança com o governo estadual, com o governador Sandoval Cardoso, que tem por trás o grupo siqueirista, que está no poder há mais de 24 anos, revelou-se um político com os mesmo vícios dos velhos políticos. A população não vai entender isso, aliar-se a um governador biônico, que foi eleito numa eleição indireta, na Assembleia Legislativa, devido a uma renúncia de um vice-governador, o que ficou caracterizado como uma grande manobra política. O povo entende isso como uma tramoia, porque fizeram um arranjo político para colocar uma pessoa como governador, sem nenhuma representatividade político-administrativa para o cargo. O prefeito Amastha, ao aliar-se ao grupo palaciano, se diminuiu. Ele não precisava disso.
A candidatura do senador Ataídes, do Pros, ao governo seria um blefe?
Eu não diria um blefe, mas uma candidatura muito forçada, muito apressada. Ele precisaria ter um desempenho político melhor no Senado nos próximos quatro anos, para ganhar mais visibilidade.
Não seria uma jogada política para favorecer o candidato governista?
Acaba sendo, porque nesse caso ele quer aparecer na mídia e ser mais conhecido. Por isso ele entrou no processo sucessório, mas não tem muita chance de êxito nas urnas. É uma jogada política para ficar mais conhecido. Acho que o mais indicado seria ele (Ataídes) se dedicar ao exercício de senador nos próximos quatro anos, construir uma identidade e depois ir para uma nova disputa eleitoral. Bem, é uma decisão pessoal dele e, talvez, não caberia a nós fazer qualquer avaliação sobre sua decisão.
A sua candidatura ao Senado não seria uma estratégia política para se tornar mais conhecido e, com isso, postular a prefeitura da capital em 2016?
Não se trata de uma estratégia, mas o Psol pensa em disputar a Prefeitura de Palmas, futuramente.
Mas o Psol está isolado, foi para a disputa eleitoral sem nenhuma composição com outro partido…
Aliança se faz mediante um entendimento político. Os outros partidos é que não quiseram fazer coligação conosco, por exemplo, o PCB, o PSTU. Nós procuramos esses partidos, mas não foi possível. Mas para a sucessão municipal em 2016, vamos propor aos partidos de esquerda uma aliança nesse sentido.