Mesmo integrando a base do prefeito, vereador admite a possibilidade de seu partido formar coligação com outro candidato na eleição à Prefeitura da capital

Foto: Divulgação
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Dock Junior

Um homem religioso, de princípios cristãos acima de tudo. Assim pode ser definido o vereador Joel Borges (PMN). Suas convicções e sua vida são norteadas pela moral cristã, e, segundo ele, suas decisões passam por três etapas: primeiro, se o ato agrada a Deus e está de acordo com as leis divinas; segundo, se o ato afeta a família, que para ele é sagrada; e, terceiro, como essa atitude vai refletir na sua vida cotidiana. Interessado em fomentar projetos sociais e no bem-estar de seu povo, o parlamentar recebeu o Jornal Opção para uma entrevista, onde se posicionou com ênfase acerca da fidelidade partidária, bem como expôs suas razões para se candidatar à reeleição.

Joel Borges é goiano de Porangatu, casado, três filhos. É empresário e teólogo graduado pela Faetel. Migrou do Estado do Pará para o Tocantins em 1991. Estabeleceu-se em Palmas e foi durante muitos anos assessor e chefe de gabinete de seu irmão, o deputado estadual Eli Borges. Foi secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, entre 2008 e 2010, e posteriormente, secretário de Agricultura de 2011 a 2012. Candidatou-se a vereador de Palmas pela primeira vez em 2012, numa coligação denominada “grupo da morte” e acabou por se eleger, pelo PMDB, com pouco mais de 2 mil votos. Na última janela de transferências se filiou ao PMN e assumiu o diretório metropolitano do partido.

Na janela de transferências o sr. se desfiliou do PMDB para ingressar no PMN. Por que esta mudança?

Foram dois vieses: o primeiro consiste no fato de estar no PMDB há mais de 20 anos, todavia, a sigla é muito grande, muito complexa, de muitas cabeças e decisões. Muitas vezes, enquanto candidatos, ficamos inseguros quanto ao rumo que o partido vai tomar no decorrer das campanhas eleitorais. O segundo viés é que muitas vezes chega-se o momento que somos obrigados a fazermos novas opções, trilharmos novos caminhos. Eu tinha pretensão de comandar um partido político e angariar para ele, pessoas que tivessem os mesmos ideais e pretensões que as minhas, quer seja religiosas, quer seja filosóficas ou ideológicas. Isso não era possível – por agora – na sigla emedebista. Surgiu então a possibilidade de presidir – com total autonomia – o diretório metropolitano do PMN, comandado em âmbito estadual pelo Nuir Junior. Comecei a trabalhar e filiei algumas pessoas com perfil de pré-candidatos para o partido, que já contava com alguns nomes ligados a sindicatos, causas sociais, e creio que conseguiremos lançar uma chapa pura – sem quaisquer coligações – para as eleições proporcionais deste ano.

Quais as razões de o sr. não ter se filiado ao Pros, partido presidido por seu irmão, o deputado Eli Borges, no Tocantins?

Eu poderia ter ido para o Pros antes, meu irmão me convidou à época, mas preferi ficar no PMDB. O Pros metropolitano hoje está sendo comandado por um colega, o vereador Junior Geo, que tem suas convicções e implantou a sua própria estrutura e sistema de administração da sigla. Entendo que dois vereadores na mesma sigla não seria interessante no momento.

Qual é a sua leitura acerca da possibilidade de os parlamentares trocarem de partido nos anos eleitorais, a partir de 2016, sem a perda de mandato?

Vejo como natural. Muitas vezes a eleição por um partido acaba por engessar o parlamentar a seguir as determinações ideológicas dele ou do seu comandante, mesmo tendo cumprido 75% do seu mandato. A lei anterior obrigava o político de forma a seguir no partido, mesmo que não comungasse mais com as mesmas ideias ou ideais. Por isso, numa análise acerca de ser justo ou não, considero que sim.

Paradoxalmente, há também um certo casuísmo. Muitos políticos certamente se utilizaram e utilizarão dessa janela de transferências para tramar jogadas políticas com a finalidade de se reelegerem, ou mesmo se beneficiar de um fundo partidário maior, entre outras possíveis vantagens.

O quo o sr. pensa da fidelidade partidária? Tem ligação direta com ideologias, dogmas ou acertos políticos momentâneos?

Usando da mais pura sinceridade, os partidos políticos hoje são apenas os mecanismos que as pessoas se utilizam para se eleger. Poucos leem os estatutos das siglas partidárias e seus princípios ideológicos e por isso, não firmam o compromisso. Isso deveria ser diferente, os dogmas deveriam ser considerados. Se pensarmos no conceito de partido político como um grupo de pessoas que caminham na mesma direção visando os mesmos projetos, só é possível atingir os objetivos se todos pensarem e agirem com os mesmos propósitos. Mas isso no Brasil hoje é utópico, uma vez que temos mais de 30 siglas e muitas delas de aluguel. Assim sendo, as pessoas quando votam decidem pelo candidato e não pelo partido.

Eu fiquei mais de 20 anos no PMDB, sou adepto da fidelidade partidária, contudo quando fui ingressar no PMN, fiz um estudo do estatuto, me preocupei com as causas que o partido defendia e se elas não entrariam em choque com as minhas posições.

Qual é a posição do seu atual partido para as próximas eleições na capital?

O partido me deu autonomia para decidir isso no limite do município. Hoje estou na base do prefeito Amastha e há, naturalmente, uma tendência a apoiar sua reeleição. Entretanto, faremos várias reuniões com filiados da sigla para definirmos o que será melhor para o partido, analisando os nomes que forem lançados para a eleição majoritária. Se a maioria decidir por apoiar o atual prefeito, vou acatar, mesmo porque já faço isso. Se a decisão unânime for no sentido de apoiar outro candidato, terei tranquilidade para homologar e apoiar.

O nome sugerido pelo Palácio Araguaia – Claudia Lelis ou Valdemar JR – ainda é uma incógnita. Meu irmão Eli Borges seria também um bom nome dentro do PMDB, interessante e de coalizão dentro do grupo, contudo, penso que o governador não vê desta forma. Há que se respeitar esse posicionamento.

Após a debandada de vários vereadores da base do prefeito, um novo quadro político se formou na Câmara Municipal a partir de agora. Especificamente em relação à suas ações parlamentares, qual conduta será adotada?

Não vou entrar no mérito se os vereadores que saíram da base o fizeram por livre e espontânea vontade ou se foram tirados, mas o certo é que o prefeito já não possui tantos vereadores como outrora. Agora somos apenas 12. É natural que aqueles que saíram e adotaram outras posições, esbravejem, façam discursos calorosos ou entrem em debates com uma nova visão. Cada qual busca seu lugar e estes ajustes acontecerão com o decorrer do tempo, faz parte do princípio democrático. O que eu lamento e acho que não é salutar são os embates pessoais, como estão ocorrendo. Na questão do trancamento da pauta, por exemplo, houve citações pessoais que considero desnecessárias. Vamos sentar, conversar, convergir ideias e pensar na cidade, de forma que ela não sofra as consequências das nossas eventuais divergências.

Naturalmente, o sr. já declarou indiretamente que será pré-candidato à reeleição. Sua base eleitoral será a mesma – o povo evangélico – ou pretende cooptar votos em outros locais ou comunidades?

Por incrível que pareça a informação não é tão óbvia assim. Se esta pergunta fosse feita em dezembro de 2015, eu diria que talvez não concorresse no próximo pleito. A bem da verdade, com toda sinceridade do mundo, os eleitores do Brasil não estão preparados para lidar com políticos que prezam por ideais de dignidade ou pela honestidade acima de tudo. Hoje ainda é necessário fazer uma campanha alto nível e isso traz consequências financeiras terríveis. Fiz em 2012 uma campanha eleitoral muito cara – levando em consideração minhas posses – e como não participei de “esquemas”, fiquei pagando juros por muito tempo.

Os mesmos eleitores que pregam honestidade na política são os mesmos que exigem que o candidato ou o parlamentar eleito lhe proporcione algumas benesses. Ele, na verdade, exige honestidade, entretanto acaba por se corromper. Se os eleitores brasileiros querem exigir honestidade, eles devem ser os primeiros a desonerar os candidatos ou o político eleito. Por não ser favorável a esta espécie de “troca” pensei em desistir da carreira política no ano passado. Não queria passar mais quatro anos engessado, pagando dívidas de campanha. Aliás, o financiamento público das campanhas eleitorais deveria ser um tema a ser discutido e pensado. Todavia, com a possibilidade do caixa dois, é quase impossível implantar esse sistema no Brasil, porque a Justiça Eleitoral nunca vai conseguir aferir e investigar tudo.

Contudo, após várias reflexões com Deus, com minha família e comigo mesmo decidi que não poderia desamparar aqueles que confiaram na minha pessoa no primeiro pleito. A minha base – independentemente do partido – está consolidada e são as pessoas que congregam nas igrejas evangélicas. Tenho um número de eleitores fiéis, que comungam a mesma ideologia e crença, e precisam de um representante na Câmara Municipal. Não posso dizer a essas pessoas, que outrora acreditaram nos meus projetos, que não estou mais interessado. Seria irresponsável da minha parte, e um homem público não pode ser lembrado por esta característica. Por conta desta base, tenho chances reais de ser reeleito e posso fazer muito mais do que já fiz por esse povo, contudo, desde já, deixo claro: não farei nenhuma loucura financeira por conta desse idealismo político.

Sentimento popular é que a gestão do prefeito Amastha não atendeu às expectativas a que se propôs. Como analisa o mandato dele?

Eu creio que gestor Amastha tem uma boa visão de futuro. Classifico que os índices de rejeição dele estão intimamente ligados às brigas — a meu ver, necessárias — que ele “comprou” com os mais diversos setores. Ele enfrentou questões históricas na política tocantinense e isso feriu interesses. Há também um estilo próprio de governar que não é muito político ou amável. Não é adepto do famoso “tapinha nas costas” e isso contribui muito para aparecimento de insatisfeitos. É necessário ressaltar que o país está em crise e todas as prefeituras brasileiras estão endividadas, quebradas. Se analisarmos a Prefeitura de Palmas, com as contas de custeio e folha de pagamento em dia, resta claro que há uma boa saúde financeira. Por isso considero o prefeito um bom gestor dos recursos públicos.

Amastha tem  uma boa visão  de futuro, mas comprou briga com  os mais diversos setores. Ele não é adepto do famoso ‘tapinha nas costas’”  | Foto:  Divulgação
Amastha tem uma boa visão de futuro, mas comprou briga com os mais diversos setores. Ele não é adepto do famoso ‘tapinha nas costas’” | Foto: Divulgação

A sua atuação parlamentar certamente teve ápices e depressões. Quais os projetos que o sr. propôs, ou ajudou ser aprovado, que podem ser classificados como relevantes nesta legislatura?

Um dos pontos importantes do meu mandato foi minha atuação como presidente da Comissão de Segurança Pública. Conseguimos fazer muitos avanços e até o final do ano, há outros projetos interessantes a serem aprovados. A segurança pública não pode ser empurrada para o governo estadual ou federal como se apenas eles fossem obrigados a zelar por isso. Esse é um papel de todos nós. Como representante de uma população que vive atormentada por problemas sociais decorrentes da insegurança, é necessário que eu contribua de alguma forma, na busca constante por soluções.

Quanto ao lago de Palmas, sinto que não é bem aproveitado e poderia nos render muito mais. Apresentei algumas ideias e elas estão em estudo.

Em relação ao meio ambiente, votei e fui plenamente favorável ao projeto “Palmas Solar”. A preservação e a revitalização do meio ambiente é mais do que necessária nos dias atuais. O projeto dá incentivo para que empresas do ramo de energia solar se instalem na cidade, e o melhor, a implantação do sistema pelos contribuintes gera descontos no pagamento de impostos.

Também tenho uma preocupação com o bem-estar e defesa da família. Através da medida provisória que foi transformada em lei, conseguimos contribuir bastante com essa questão da ideologia de gêneros nas escolas, porque a educação moral e sexual deve ser aprendida e discutida no seio familiar e não no ambiente escolar. Não se trata de segregação, mas entender que é uma questão moral. Questionar o que nossas crianças estão aprendendo nas escolas é, sim, parte do nosso trabalho como parlamentar municipal.

Como parlamentar, não há como não reconhecer que a capital tem um gargalo a ser resolvido, qual seja, o trânsito de caminhões pela cidade, em razão de ser a única via de acesso ao pátio modal da Ferrovia Norte-Sul. Qual a solução o sr. entende como viável?

Vejo este problema com muita preocupação. Nossa malha viária não foi idealizada, como também não suporta, o trânsito de cargas pesadas. Não estamos vendo hoje, mas daqui um ano teremos sérios problemas com buracos e deterioração da capa asfáltica. É necessário que haja um trabalho a quatro mãos, de forma que o Estado do Tocantins assuma a responsabilidade de construir, com urgência, o anel viário, visando escoar a produção agrícola. E mais: a ponte sobre o lago também não suportará, em breve, um trânsito tão intenso e acabará se deteriorando, como a ponte de Porto Nacional, que hoje está interditada para o tráfego desses caminhões.

O sr. exerceu o cargo de secretário municipal da Agricultura por dois anos no governo Raul Filho. A sua experiência na área permite afirmar que os investimentos no agronegócio são razoáveis ou estão aquém das necessidades do município?

O agronegócio no entorno de Palmas é muito pouco explorado. Poderia gerar muito retorno, mas os custos da produção são altos, o que inviabiliza a competitividade. A Ceasa de Palmas é apenas um entreposto, uma passagem dos produtos que vêm de outros Estados. Precisamos pensar Palmas por setores, quer seja de hortifrutigranjeiros, quer seja uma bacia leiteira para instalação de laticínios ou mesmo abate de pequenos animais. É necessário um estudo para que o nosso cinturão verde se torne atrativo e competitivo no mercado. Fiz várias emendas, discutidas e aprovadas na Câmara Municipal, para a área da agricultura familiar em Palmas. Esse é um tema que pontuou minha atuação parlamentar nestes três anos de mandato.

Como o sr. se posiciona acerca da revisão do pacto federativo que majora as cotas de FPE (Fundo de Participação dos Estados) e FPM (Fundo de Participação dos Municípios)?

Vejo com bons olhos. Os gestores municipais hoje vivem de pires na mão e sem qualquer autonomia. Quase todas as políticas públicas são executadas pelos municípios, então eles deveriam ser fortalecidos. É preciso rever os índices, sem dúvida, mas se deve também vincular algumas amarrações que atendam à saúde e a segurança pública. É necessário mais eficiência na gestão dos recursos públicos.

É impossível para o poder executivo governar sem o parlamento. A presidente do país perdeu de vez a base de sustentação e está prestes a ser impedida, pelo Senado Federal, de continuar na Presidência. Como o sr. avaliou a votação na Câmara dos De­putados, que determinou a abertura do processo de impeachment que, se aprovado no Senado, tira Dilma do cargo?

A sociedade necessita de respostas e os deputados ouviram a voz das ruas. O governo do PT se perdeu e não tem mais condições de governabilidade. Essa crise política e institucional começou há mais de um ano, quando a presidente não conseguiu entregar à população o que ela havia vendido na campanha eleitoral. Aliás, se existe algo funesto nas campanhas políticas, é o tal marqueteiro. Hoje, há um índice altíssimo de corrupção no governo, que se tornou insustentável. As operações da Polícia Federal devem continuar, de modo a fazer uma limpeza no país, entretanto, também tenho consciência que isso necessita de um longo prazo para se operacionalizar.

Sou um admirador convicto da democracia. Ela tem o poder da depuração, o único problema é que ela é lenta e nossas necessidades são imediatas. Os EUA, por exemplo, têm uma democracia consolidada de mais de 200 anos, e nós estamos engatinhando com pouco mais de 30 anos. Vamos ainda passar por vários percalços, mas o certo é que estado democrático de direito permite manifestações populares, e os parlamentares têm a obrigação de ouvir a voz do povo.

O impeachment é um julgamento mais político do que jurídico, é fato. Sem governabilidade, o afastamento, o Michel Temer e o Eduardo Cunha, este extremamente focado e regimentalista, são males necessários. Hoje o vice-presidente, ao assumir, teria condições e moral política para propor pactos e conseguir governar o país até 2018. Ele é um homem experiente, constitucionalista, conhece bem o parlamento, uma vez que esteve lá por muitos anos. Eu acredito que pode ser muito diferente e bem melhor para o Brasil.