O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) teve pouco tempo para comemorar o bom desempenho do seu governo, apontado pela pesquisa de opinião pública, realizada pelo Instituto Veritá, como o mais bem avaliado do País no momento. No dia seguinte à divulgação do resultado da pesquisa, repartições públicas estaduais amanheceram tomadas pela Polícia Federal em busca de documentos que comprovem suspeitas de irregularidades.

A operação teve como foco a Secretaria do Estado da Saúde e empresas fornecedoras do órgão. Ao que se sabe, trata-se de uma investigação criminal autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), para apurar suposta prática dos crimes de fraude em licitação e desvio de verbas públicas, organização criminosa e lavagem de capitais. Os mandados foram cumpridos em endereços do secretário de Saúde, Afonso Piva, da superintendente de Vigilância em Saúde, Perciliana Bezerra, e de empresas fornecedoras da secretaria.

A operação transcorreu no mais absoluto segredo de justiça. A PF não divulgou uma nota sequer sobre o assunto. Poucos veículos de comunicação deram a notícia, que ainda não alcançou o grande público. No meio político, nenhum líder quis comentar o ocorrido. O governador segue a agenda de compromissos, indiferente às especulações sobre possíveis repercussões negativas do caso.

A Saúde continua desafiando o governo Wanderlei Barbosa. É a área que tem gerado mais descontentamento e, embora o governador venha tendo a habilidade de lançar obras de construção de hospitais e acelerado o programa de cirurgias eletivas, as reclamações continuam.

O governo ainda não emitiu nota sobre o assunto. O secretário de Comunicação, Márcio Rocha, informou aos jornalistas que o governo ainda não teve acesso aos autos da investigação para se posicionar e que tão logo tenha acesso se compromete a divulgar a posição oficial por meio de nota. A verdade é que, se depender do governo, esse será um episódio que nunca existiu e que será negado enquanto puder. 

É de se notar que, no momento em que o governador conquistou um feito inédito para um gestor do Tocantins – figurar na lista dos governadores mais bem avaliados do Brasil –, ele passa a ser foco de investigação sobre possíveis irregularidades no governo. Wanderlei enfrenta pela primeira vez uma crise grave e séria. E terá, a partir de agora, de lidar com desgastes relativos a suspeitas de irregularidades.

É a primeira grande crise enfrentada pelo jovem governador que fez uma trajetória improvável. Era tido pelos adversários, como um típico exemplo de projeto político fadado ao fracasso. Wanderlei assumiu o governo do Estado em meio a uma crise de instabilidade institucional, em lugar do então governador Mauro Carlesse, que se tornaria o terceiro gestor afastado por irregularidades. Realizou um governo mediano, realista e afinado com os interesses da grande maioria da sociedade tocantinense. Convenceu a população e conquistou a reeleição com uma votação consagradora.

Até aqui, deu aula de fazer política. Wanderlei se mantém nas ruas, pouco comparece ao palácio para despachos burocráticos. Governa perto do povo. A boa avaliação confirma o título de governador mais popular da história do Estado. A operação da PF pode representar um profundo abalo no andamento do governo, mas também uma possibilidade de avanço. Tudo vai depender de como o governador vai encarar o episódio: se como sinal de alerta de que precisa mudar peças para não contaminar o todo ou se como perseguição de adversários. 

Encarando como alerta, o governo tem tudo para promover avanços corrigindo fragilidades na gestão, trocando peças e assumindo mais compromisso com as prioridades reclamadas pela sociedade. A saúde é uma dessas áreas. No passado já houve candidato a governador prometendo virar secretário da Saúde para tentar resolver problemas crônicos da área, como a falta de vagas para internação. Se achar que é mera perseguição política, o governador tende a se cegar e perder a oportunidade de fazer mudanças e sair por cima.

Até aqui foi muito fácil, porque Wanderlei governou sem oposição. Tem o apoio de 24 dos 24 deputados estaduais, 8 dos 8 deputados federais que compõem a representação do Tocantins e 2 dos 3 senadores, além de praticamente todos os prefeitos. A partir de agora, tudo pode ser diferente. Não é possível nem justo antecipar qualquer julgamento. Wanderlei Barbosa faz um bom governo, ágil, correto e coerente com as promessas de campanha.

O governador é um gestor honesto e bem intencionado. Sua trajetória política de mais de 30 anos de vida pública indica isso. Nunca teve nenhum tipo de questionamento ao longo da carreira de cinco mandatos de vereador, dois de presidente da Câmara da capital, dois de deputado estadual, um como vice-governador e dois como governador. O problema não é propriamente a lisura do govenador Wanderlei Barbosa no comando do governo do Tocantins, mas o histórico recente do Estado, que não é bom.

Nos últimos 14 anos, pelo menos três governadores foram afastados do cargo por suspeita de irregularidades que levaram a cassação do mandato. A própria ascensão do governador Wanderlei Barbosa foi em decorrência de um desses casos. A operação da PF pode não alterar em nada a vida política do Tocantins, mas tem o poder de criar interrogações e esfriar pretensões políticas. Fica a sensação de que pode ser mais um governo a seguir o caminho de antecessores. Ainda que pesem dúvidas, não há razão para se desacreditar no governo e no seu bom andamento, como aponta a pesquisa.   

Qualquer que for o resultado da investigação, o governo Wanderlei Barbosa já não será mais o mesmo. Terá de se cercar de mais cuidados com a gestão e enfrentar as críticas da oposição que até então se resumia a vozes isoladas. Agora, certamente as críticas do senador Irajá Abreu (PSD), que vinha insistindo junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para a realização de auditoria na administração estadual, notadamente nas secretarias da Saúde e do Trabalho e Assistência Social (Setas), vão ganhar mais respaldo.

Por outro lado, o governo e seus aliados não podem mais continuar ignorando as críticas e impedindo que elas se manifestem. As críticas são inerentes ao poder. Onde tem poder tem oposição. E isso é saudável.      

Sem tempo de comemorar
Como foi dito, o governador Wanderlei Barbosa não teve tempo para comemorar o melhor momento de seu governo: o resultado da pesquisa que o coloca como o melhor gestor do Brasil. Mas pode aproveitar a boa avaliação para fazer ajustes. Conforme a pesquisa, o governador alcança um índice de aprovação bastante confortável, 87%, bem acima de governadores como Ronaldo Caiado (UB), de Goiás, liderança nacional que vem sendo alçada a pré-candidato à Presidência da República e Mauro Mendes (PSD), do Mato Grosso, ambos também bem avaliados.

Um feito indiscutivelmente notório para um gestor que tem apenas pouco mais de dois anos à frente do cargo, dividido em dois mandatos. Como se sabe, Wanderlei Barbosa assumiu o Palácio Araguaia em outubro de 2021, na condição de vice-governador em lugar do titular, Mauro Carlesse, afastado pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em 2022 foi reeleito. Portanto, bem diferentes de outros que têm quatro anos e meio de mandato. Wanderlei Barbosa sabe que não faz um governo impecável para uma avaliação tão alta, mas sabe que tem o crédito do povo que aprova seu jeito de governar. O questionamento da eleição do filho, deputado estadual Leo Barbosa (Republicanos), a presidente da Assembleia Legislativa foi um sinal de cuidado com acumulação de poder. Agora o sinal parece apontar para necessidade de ajustes na gestão. É preciso ter coragem para avançar.