Ex-senador pelo Tocantins Ataídes de Oliveira fala sobre política partidária, combate à corrupção e gastos excessivos com a pandemia

Natural de Estrela do Norte (GO), Ataídes de Oliveira está radicado no Tocantins há mais de três décadas. É graduado em Contabilidade e Direito. Se tornou empresário no ramo de consórcios e da construção civil, estendendo seus negócios por Goiás, Distrito Federal, Tocantins e Mato Grosso. 

Ex-senador pelo Tocantins, presidiu por muitos anos o PSDB estadual. Em razão de disputas internas – deixou o partido para se filiar ao Progressistas. Pouco tempo depois, migrou para o PROS, do qual se tornou presidente estadual. Foi candidato à reeleição em 2018, contudo, não obteve êxito, mesmo após obter mais de 170 mil votos. 

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção – Tocantins, ele aborda temas como o empreendedorismo, política partidária, combate à corrupção e gastos excessivos com a pandemia, por parte dos gestores públicos.

Uma vez fora da política, após o término do seu mandato de senador em 2018, o Sr. voltou suas atenções novamente para as atividades empresariais. Quais são os novos investimentos que o grupo Araguaia está fazendo do Estado do Tocantins?
Sou pioneiro na capital e fui um dos primeiros a fazer investimentos na construção civil em Palmas. O primeiro consórcio de veículos da cidade, como também, montei a primeira loja de eletroeletrônicos da capital, local onde já gerei mais 10 mil empregos. Em todo Estado já empreguei mais 15 mil pessoas. 

Em Gurupi, nosso foco atual, chegamos à fase final da obra de um shopping, com aproximadamente 20 mil m² – que já era pra ter sido inaugurado – mas fomos obrigados a adiar, infelizmente, em razão da pandemia. Creio, no entanto, que na segunda quinzena de outubro de 2021 conseguiremos inaugurar esse grande empreendimento – o shopping center Araguaia – que vai gerar cerca de 800 empregos diretos. Mesmo com as dificuldades naturais, foram investidos mais de R$ 60 milhões de recursos próprios, sem financiamentos bancários ou alienações. 

Construímos, também, um condomínio fechado, de alto padrão, numa área centralizada, denominado “Parque Resedá”, com 286 lotes, todos acima de 400 m² – os quais algumas unidades ainda estão à venda – contando com toda infraestrutura necessária e, o melhor: localizado ao lado do referido shopping.

E quais as razões para direcionar os investimentos para Gurupi?
Sou um empreendedor por natureza e vislumbrei ótimas oportunidades naquela cidade, principalmente pela sua localização estratégica. Na verdade, o Tocantins como um todo é muito rico e creio que a grande maioria dos investimentos feitos por aqui, trazem bom retorno. 

O ex-prefeito Laurez Moreira fez um bom trabalho, preparou a cidade para receber investimentos que, como disse, está à margem da BR-153, à margem da Ferrovia Norte-Sul e muito próxima da Ferrovia Leste-Oeste. Por isso, os investimentos na região são seguros e tenho certeza que terão rentabilidade. 

Muito próximo de Gurupi encontra-se a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, cujo projeto para sua travessia arrasta-se por anos e anos a fio. Essa ligação permitiria que a produção do Mato Grosso chegasse à plataforma multimodal da Ferrovia Norte-Sul em Gurupi, chegando facilmente ao porto de Itaqui no Maranhão, ao invés de ser transportada, pela via terrestre, por mais de três mil quilômetros até o porto de Santos. Na condição de ex-senador e empresário, qual a sua visão sobre esse tema?
Essa travessia na BR-242 é de crucial importância para o Pará, Mato Grosso e Tocantins. Vai trazer desenvolvimento para o país, essa é uma realidade. Entretanto, especificamente em relação ao projeto que corta a ilha do bananal, em que pese ser muito bonito e moderno, particularmente não o contemplo. Por duas razões: a primeira, porque vai estraçalhar o meio-ambiente, a natureza, o ecossistema e destruir uma beleza natural inigualável; a segunda, pelo alto custo econômico e financeiro. Essa obra custaria aproximadamente R$ 1 bilhão e, logicamente, o governo federal não teria recursos para tal empreendimento. Já a iniciativa privada, também não teria interesse, uma vez que o retorno seria muito lento. 

Portanto, vejo aquele projeto como inviável. É mais fácil atravessar o rio Araguaia em outro ponto, mais estreito, cuja construção da ponte não alcançaria nem R$ 100 milhões e atingiria o mesmo objetivo. Repito: é importante integrar o Mato Grosso com o Tocantins, através de uma ponte sobre o rio que os divide, mas não por intermédio da travessia da ilha do bananal. 

Em relação a sua atual filiação política (PROS) quais são as perspectivas?
Entre 2012 e 2013 ajudei angariar assinaturas e fundar esse partido e disputei as eleições para governador do Tocantins, em 2014, filiado a ele. Há forte elo, portanto. Posteriormente, fui convidado a ingressar no PSDB, a convite do senador Tasso Jereissati. Permaneci naquela sigla por alguns anos, exercendo, inclusive o mandato de senador pelo Tocantins. Agora, retornei à origem e estou novamente filiado ao PROS, partido do qual sou o presidente estadual. Creio que, em breve, também estarei participando da executiva nacional da sigla, mas tudo isso, no momento certo. 

E o Sr. está preparando uma possível candidatura ao governo do Estado do Tocantins em 2022?
Devo dizer que tenho aproveitado meu tempo – depois que encerrei o mandato de senador – a outras atividades, entre as quais, escrever. Está pronto um livro direcionado aos nossos vereadores, cuja distribuição será gratuita. A obra será de grande valia para os Legisladores Municipais, já que o vereador é o “para-choque” da sociedade, afinal, é no município que começa tudo. O lançamento do livro acontecerá no dia 07 de maio, às 9h, em um café da manhã num hotel, em Palmas.

Após esse lançamento – o qual o jornal Opção/Tocantins – está convidado, começarei a percorrer todo Estado, começando pela região do Bico do Papagaio. Visitarei prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e outros líderes políticos comunitários. Naturalmente, já iniciarei as articulações para promover filiações e elaborar uma nominata para deputados estaduais e federais. Esse será o começo de uma grande caminhada para as eleições de 2022. Há muitas composições a serem feitas, mas o certo é que precisamos angariar nomes para fortalecer o partido e crescermos juntos. 

Qual a sua visão sobre o atual governo do Estado do Tocantins?
Percebo que a corrupção no Estado aumentou muito e essa má-gestão me preocupa demasiadamente. Por isso, se queremos mudar os rumos da gestão estadual, é necessário trazer líderes regionais para a sigla, apresentando propostas viáveis para mudar essa realidade. 

Me entristece o fato do nosso Estado ser rico, apresentar bons níveis de produção e 23% do nosso povo fazer apenas uma refeição por dia e, 10%, nenhuma. Essas condições de miserabilidade precisam ser mudadas. 

O Sr. poderia declarar, neste momento, quem são os políticos com os quais pretende fazer alianças ou, pelo menos, conversar sobre a eleição majoritária de 2022?
Há vários nomes, pertencentes aos mais variados grupos políticos. Mas eu poderia citar aqui que já conversei com o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas; vou conversar com o ex-prefeito de Gurupi, Laurez Moreira e, também, com o ex-prefeito da capital, Carlos Amastha. Todos três, por exemplo, são forças políticas de grande envergadura que, assim como eu, não estão satisfeitos com a atual gestão do Estado do Tocantins. 

Pelas redes sociais e quando questionado pela imprensa, o Sr. tem feito críticas severas aos gestores tocantinenses sobre a aplicação dos recursos públicos no período pandêmico. Quais foram, sob sua ótica, os grandes equívocos?
Fizeram uma verdadeira farra com o dinheiro público, não apenas no Tocantins, como em todo o Brasil, sob a alegação que estavam combatendo a pandemia decorrente do novo coronavírus. Acredito que essa CPI, em trâmite no senado federal, que visa investigar os gastos – que, com toda certeza, já ultrapassa R$ 500 bilhões – deve jogar uma luz sobre o tema. 

Para o nosso Estado, por exemplo, já veio mais R$ 300 milhões só para o combate à covid-19. Particularmente, não tenho visto resultados práticos. O caos, gerado pelo ápice da pandemia chegou e nós não estávamos preparados. Só vejo muito dinheiro investido em publicidade, tentando justificar os gastos, mas na prática, o governo é pouco produtivo. 

Com todo respeito aos deputados estaduais, também não tenho visto fiscalização desses gastos por parte do poder legislativo. A fiscalização dos atos do poder executivo é muito frágil e ineficiente. Na minha visão, seria necessário a abertura de uma CPI estadual para que fossem investigados os gastos milionários realizados com o combate à covid-19. A Comissão – se quiser – descobre tudo, pois tem a prerrogativa de quebrar sigilos bancários, telefônicos, telemáticos, econômicos. Isso traria a verdade sobre o destino dos R$ 300 milhões, em nível estadual, como também os R$ 40 milhões recebidos pela Prefeitura de Palmas para essa finalidade. Precisamos urgentemente de transparência e respeito com o dinheiro público. 

O Sr. não está sendo muito cético ou crítico em demasia?
Não, infelizmente não. Afirmo e reitero que, esse governo tem mostrado muita competência, se o quesito for falcatruas. É uma gestão marcada pela “compra” de pessoas e de silêncios e isso é extremamente prejudicial para nosso povo e para nosso Estado. Mas isso há de acabar, o mal não prevalece para sempre. Eu tenho comiseração, porque sei que a maioria dos asseclas, quiçá o próprio governador e prefeitos aliados, estarão num futuro breve, presos. A fé em Deus é que me move e acredito que dias melhores virão, pois nosso quadro atual é tenebroso.