Tocantins_1885.qxdDeputado e pré-candidato ao Palácio Araguaia pelo PV diz que a propaganda oficial até tenta, mas não consegue descolar o novo governador do velho,
pois o governo continua o mesmo, de mal a pior

Ruy Bucar

O pré-candidato ao governo do Estado deputado Marcelo Lelis, do PV, está convicto que o eleitor tocantinense irá às urnas no dia 5 de outubro com o firme propósito de promover mudanças efetivas e não apenas levar à alternância de poder. Ele avalia que o desejo de mudança é o sentimento mais latente na sociedade neste momento. “Há uma decisão coletiva tomada pelo povo tocantinense de norte a sul, de leste a oeste, que é a decisão por mudança, as pessoas estão ansiosas para participar do processo eleitoral e registrar e materializar esse desejo de mudança”, explica o deputado.

O deputado observa que, diferentemente do que a propaganda oficial tenta transparecer, não houve nenhuma mudança na condução do Palácio Ara­guaia, nem na elaboração nem nas práticas políticas, o que levar a concluir que não há co­mo desvincular o novo, San­do­val Cardoso, do velho, ex-go­vernador Siqueira Campos: “A rigor são a mesma coisa”. Lelis aponta o caos na saúde e a falta de comando na segurança pública como as mais graves distorções que o governo Sandoval Cardoso herdou do governo Siqueira Campos.

Marcelo Lelis acaba de encerrar uma peregrinação de 90 dias em que percorreu 102 dos 139 municípios do Estado. Nos encontros o pré-candidato revela que mais ouviu do que falou e que o resultado das manifestações será a elaboração de plano de governo verdadeiramente popular. “A proposta do PV para o Estado está sendo construída pelas cabeças dos tocantinenses de todas as regiões do Estado, está sendo escrita pelas mãos do nosso povo, que participou conosco de todos esses eventos que aconteceram em todas as regiões do Estado.”

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção o pré-candidato fala ainda das conversações com a cúpula nacional do PSB com vistas formar palanque para o pré-candidato a presidente da República Eduardo Campos, e garante que a oposição vai estar unida, ainda que tenha dois candidatos no primeiro turno. Marcelo Lelis, que agora se dedica em tempo integral a formação de uma aliança forte, acredita que a vitória é certa.

Qual o balanço que o sr. faz da sua peregrinação pelo Estado?
No ano passado nós rodamos 80 municípios com outro projeto do partido, chamado PV na Estrada, uma experiência muito rica, mas foi um movimento mais simples do que este que a gente viveu agora. Eu viajava no meu carro com algumas pessoas, visitando os municípios, tentando formar o Partido Verde onde ele não existia e também buscando demanda para o trabalho parlamentar na Assembleia. O movimento Por uma Alterna­tiva de Mudança, iniciado há 90 dias, já era um projeto mais estruturado, mais organizado. Rodamos nos últimos 90 dias 102 municípios, realizamos 11 encontros regionais no Estado. Foi uma das experiências mais ricas da minha vida pública.

O que mais chamou sua atenção nesta peregrinação pelo Estado?
O formato dos encontros, a maneira como fizemos o convite. Por exemplo, Araguaína, que tem 14 cidades que gravitam em seu entorno, a gente saía daqui geralmente na terça-feira e visitava todas as cidades convidando os líderes para estarem conosco no evento na cidade-sede, que sempre acontecia nos sábados, às 9 horas da manhã, nas câmaras de vereadores, e nesses eventos a gente falava pouco e escutava muito. Os microfones ficavam nas mãos dos convidados, que colocavam para fora a sua indignação, anseios, sonhos, propostas, ideias. Isso tudo foi registrado, gravado. Mais de 6 mil pessoas estiveram nos eventos, mais de 900 pessoas usaram a palavra e registraram suas manifestações. E 465 vereadores estiveram conosco nesses eventos. Foi algo extraordinário e tudo isso foi registrado e gravado e está aqui na sede do PV, em Palmas. Uma equipe técnica já está filtrando essas informações. A nossa proposta para o Tocantins está sendo construída pelas cabeças dos tocantinenses de todas as regiões do Estado, está sendo escrita pelas mãos do povo, que participou conosco nesses eventos em todas as regiões do Estado.

O sr. teve oportunidade de ouvir mais do que falar. Basicamente, o que ouviu de mais interessante de recado do povo?
O primeiro ponto que trago aos leitores, sem nenhum medo de errar, é que há uma decisão coletiva tomada pelo povo tocantinense de norte a sul, de leste a oeste, que é a decisão por mudança. As pessoas estão ansiosas para participar do processo eleitoral e registrar e materializar esse desejo de mudança. Isso é claro. Agora por que essa decisão é tão forte e está estabelecida em todo o Estado? Nós vivemos no Tocantins, andamos pelas estradas tocantinenses e elas hoje estão muito ruins. Por exemplo, se você sai de Campos Lindos para Goiatins, seria melhor que o governo mandasse uma máquina arrancar o pedacinho de asfalto que tem entre os buracos. De Paraíso para Caseara a situação está a mesma. Você vai para o Sudeste, como nós iniciamos e finalizamos o movimento no Sudeste, você sai ali de Dianópolis vai para Taguatinga a situação é calamitosa. São só alguns exemplos. Então essa indignação, esse sentimento de mudança acontece porque os tocantinenses usam as nossas estradas para se locomover. Os tocantinenses usam o sistema de saúde do Estado. Estivemos no Hospital Geral de Araguaína, no Hospital Geral de Gurupi, visitamos os hospitais em todo o Estado e a situação é de calamidade pública mesmo. No de Araguaína vimos cenas horrorosas nos corredores, a agonia dos cidadãos. Na segurança pública, 30 cidades tocantinenses estão sem um policial militar sequer. Nós checamos esse dado na Polícia Militar e vimos as delegacias fechadas. Chegamos a Pau D’Arco, fomos à delegacia e estava fechada, trancada. Ouvimos, por exemplo, o depoimento do ex-prefeito Edmar sobre a história dele mesmo, que foi sequestrado e abandonado a dez quilômetros da cidade. Em Nova Olinda, os vereadores nos contaram e eu fui checar esse dado, foram 16 assassinatos em seis meses. Eu chequei esses dados na Secretaria de Segurança Pública porque duvidei. Pensei que os vereadores pudessem ter se equivocado e se confundido, mas não, 16 pessoas mortas em seis meses numa cidade pequena, próxima a Araguaína. Então eu diria a você que os pontos principais, e não têm jeito de fugir disso, são os básicos, segurança pública, que a população está clamando, colocando como prioridade absoluta, saúde pública e a as estradas. E a educação também. Essa paralisação, 38 dias de greve para que os professores recebessem o mínimo de valorização, para que eles fossem enxergados, é algo que marcou muito os tocantinenses em todas as regiões. A educação tem sido colocada também como pauta principal para o próximo governo. A situação das escolas, por exemplo, estive na escola Nossa Senhora em Sandolândia, unidade que foi construída há 30 anos no governo de Iris Rezende e nunca teve uma reforma. Uma escola feita de placas de cimento sem a mínima condição dos alunos estudarem. Então esses quatro temas são os prioritários para os tocantinenses em todas as regiões.

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Foto: Márcio Vieira

Após a peregrinação pelo Estado, qual o próximo passo do PV?
Tudo aquilo que nós nos propusemos nós fizemos, percorremos o Estado, escutamos a população, temos todas as informações que estão, como eu disse, sendo tratadas para que nós possamos apresentar nossas propostas ao povo tocantinense, o nosso plano de governo. Esse é um ponto. O outro ponto é que encerramos na sexta-feira passada, em Arraias, a nossa peregrinação e vamos ficar em Palmas todo o nosso tempo, toda nossa energia será gasta nas composições partidárias. Nós vamos investir o nosso tempo nas composições e precisamos encontrar as condições partidárias para apresentar ao povo tocantinense um projeto que represente essa alternativa de mudança, essa nova força política, esse novo caminho que queremos apresentar e que o povo tocantinense espera de nós.

Que avaliação o sr. faz da boa aceitação do seu nome?
Tenho que admitir e admito isso com muita alegria, que todas as nossas expectativas, vamos colocar assim, há três meses, eu não posso negar que não tenha passado algumas noites sem dormir, preocupado e pensando se essa era a decisão correta. Foi uma decisão difícil, é um projeto muito ousado, muito corajoso, um projeto muito grande e eu pensei muito. Graças a Deus nós tomamos a decisão correta. Hoje tenho a certeza absoluta que a decisão foi correta e nem nos nossos melhores sonhos podíamos imaginar que as coisas iam acontecer como aconteceram. Nós encontramos um terreno muito fértil no Tocantins, baseado naquilo que eu disse no começo, nesse sentimento consolidado de mudança. Então tudo que a gente podia imaginar foi superado, a gente não podia esperar nem dos nossos melhores sonhos, repito, que a gente pudesse crescer tanto e sermos tão bem recebidos e que as pessoas pudessem aderir ao movimento com a intensidade e da forma que aderiram. Então foi extraordinário.

Isso obrigatoriamente o coloca na disputa?
Eu nunca estive tão decidido, determinado e convicto de que é necessário que nós apresentemos aos tocantinenses essa alternativa. Com todo respeito a todas as forças de oposição, o que eu sinto e o que ouvi de muitos tocantinenses — naturalmente tem gente que não pensa assim —, mas muita gente no Tocantins está pedindo um projeto que não seja de alternância de poder, mas que seja um projeto de mudança política. Então eu me sinto nessa obrigação. Muitas pessoas nessa caminhada nos pararam e nos disseram: olha, não desista, não recue, siga em frente. Então eu sinto que é uma obrigação nossa e eu vou cumprir essa obrigação com muita alegria e determinação, apresentar essa alternativa de mudança, essa nova força, esse novo caminho ao Estado do Tocantins. Estou decidido.

Como o sr. avalia o diálogo com o pré-candidato a presidente da República Eduardo Campos, que o convidou para formar palanque no Tocantins?
Eu fiquei feliz, porque no momento em que o PSB nacional nos procura e abre um diálogo conosco baseado em informações que tiveram sobre o Tocantins, de amigos em comum, e que também apresentam pesquisas em que eles identificaram crescimento expressivo da nossa pré-candidatura e estabelecem conosco esse diálogo, naturalmente ficamos muito felizes. Esse diálogo continua, a possibilidade pode se materializar, como também pode não acontecer, mas o fato é que isso nos deixou muito alegres.

A oposição tem dois grandes desafios: garantir a unidade, indispensável para a vitória, e enfrentar um governo velho que se apresenta como novo. Como não deixar o governo se apropriar do discurso natural da oposição, que é a mudança?
Há uma estratégia de comunicação do governo querendo fazer algo que é muito difícil, ou impossível, que é desvincular o governador eleito num golpe político. No interior eu escutei, o filho do golpe (Sandoval Cardoso) do governo que agiu como agiu para elegê-lo. Com a internet, com as redes sociais, com as informações cada vez mais disponíveis, as pessoas estão absolutamente atentas, têm a percepção que o Sandoval representa a continuidade do governo anterior. Então essa é uma estratégia de comunicação do governo, mas não quer dizer, em minha opinião e pelo que ouvi, que as pessoas estejam entendendo dessa maneira, pelo contrário. Quanto à união das oposições eu tenho certeza que essa união vai acontecer, talvez não no primeiro turno. Eu tenho conversado com muita gente e cada vez mais entendo que estrategicamente é melhor que nós tenhamos duas candidaturas de oposição no primeiro turno, porque é aquela história, que não quer simplesmente a alternância, não é PMDB governo, governo PMDB, muita gente está pedindo um novo caminho. As forças de oposição vão estar unidas no segundo turno, mas estrategicamente entendo que no primeiro turno seja mais eficiente termos duas candidaturas, que automaticamente estarão unidas no segundo turno.

Como o sr. viu a votação do substitutivo apresentado pelo deputado Iderval Silva que separa as contas e exclui o ex-governador Gaguim de responsabilidade no processo e deixa as contas do governador Marcelo Miranda rejeitadas? É uma manobra para criar dificuldades para o registro da candidatura dele? Nesse caso o sr. não teme que esse tipo ação seja desenvolvida contra o sr.?
Sobre a questão dessa separação das contas, os políticos que praticam atos como esses devem entender que a população está atenta. Não tem cabimento isso que aconteceu na Assembleia Legislativa, essa separação das contas desse jeito. Isso é golpe político, essas formas arcaicas de se exercer a política, elas cada vez mais estão sendo percebidas e repudiadas pelos eleitores. É óbvio e é claro que o que aconteceu na Assembleia como foi anunciado, toda classe política sabe disso, a imprensa, todas as pessoas que estão envolvidas no meio sabem que isso ia acontecer. E sabe por que isso aconteceu, para eliminar um forte concorrente, que é o ex-governador Marcelo Miranda. Quanto a mim, eu acredito e espero, e tenho toda a convicção, que o TRE vai agir da maneira correta nesse processo. Os que estão praticando política dessa maneira estão há meses espalhando que vão influenciar no TRE, que vão mudar os resultados e mexer e remexer lá dentro para criar uma dificuldade na nossa candidatura, isso é fato, e todos sabem que isso está acontecendo. Acredito que o julgamento no TRE será isento.

É possível prever como vai ser a disputa destas eleições?
Acredito e trabalho para que tenhamos não uma eleição polarizada, mas uma eleição com mais alternativas para as pessoas. Uma eleição mais democrática com essas alternativas. Acredito veementemente na mudança, e as pessoas estão decididas e vão promover essa mudança, no que estão absolutamente corretas. O Estado tem que passar por uma reformulação total. Já estamos falando por onde temos andado que a nossa proposta será muito forte no sentido da execução dessas mudanças. Nós vamos falar e já estamos falando em redução de secretarias, enxugamento da máquina pública, redução do custeio, em aumento da capacidade de investimento do Estado, que hoje os indicadores indicam tem 1,5 % do seu orçamento de recursos ordinários, que gravitam na ordem de R$ 5 bilhões, e só 1,5 % sobra para investimentos, estamos falando em R$ 75 milhões, que se dividir por 12 dá R$ 6 milhões e pouco por mês. Uma escola de tempo integral custa R$ 10 milhões, então é zero a capacidade de investimento. Além de viajar o Estado estamos estudando o planejamento, os números e vamos propor uma redução em toda a estrutura que vai nos permitir falar no primeiro ano numa capacidade de investimentos na ordem de 10% do orçamento. Aí teríamos R$ 500 milhões para se investir no primeiro ano. Nós vamos para essa prática, vamos falar em meritocracia no serviço público, em todas essas práticas de transparência, de mudança efetiva na forma de gerir e de planejar as ações do Estado.