Candidato a deputado estadual, Marcelo Miranda (MDB) avalia que o Tocantins passa por um processo de renovação política importante e que é preciso reconhecer o legado da “velha guarda”, responsável pela criação e implantação do Estado. “Estamos passando por um momento muito importante, em que é preciso reconhecer o legado de quem lutou por este Estado, para se criar oportunidade para quem está aí agora”, defende o ex-governador, que entende que seu lugar agora é na Assembleia Legislativa.

Miranda, que é presidente do diretório estadual do MDB, observa que em eleição polarizada pode ocorrer surpresa. Para ele, o crescimento da candidatura à Presidência da senadora Simone Tebet, sua correligionária, é um alento. “Eu vejo que nós tocantinenses teremos a oportunidade de votar, para presidente, em alguém que possa fazer o Brasil voltar a ser a Nação que todos nós queremos. Sem desmerecer o atual presidente, mas queremos um Brasil melhor para todos”, ressalta.

Com a autoridade de quem foi eleito três vezes ao governo, Marcelo Miranda recomenda ao próximo gestor do Estado que tenha, antes de tudo, humildade. “Eu quero dizer ao próximo governador, torcendo por meu candidato, que é Ronaldo Dimas, que seja governador para todos, não para um partido só, porque a partir do momento em que se assume o governo, passa-se a ser o governador de todos. E ele precisa olhar o ser humano. Eu penso que o mais importante é o ser humano. A obra física será de suma importância, mas a obra humana precisa ser resgatada”, destacada.

A partir de 2 de outubro, quem for eleito não terá tempo para descansar

Que avaliação o sr. faz desta campanha eleitoral, que trouxe algumas inovações, como candidatura isolada de senador?

Essa é uma pergunta que nós fazemos todos os dias. Como está o coração dos tocantinenses – e, por que não dizer, dos brasileiros – numa eleição atípica? Uma eleição onde não esperávamos, desde a majoritária até as proporcionais, que fosse assim. As proporcionais, sem coligações; a majoritária, com candidatura isolada ao Senado, onde governador está dobrando com um candidato ao Senado que não integra a sua coligação. Isso para o eleitor é diferente. Nós, que vivenciamos eleições passadas, ainda não nos acostumamos com este novo formato. Estou convencido de que temos de trabalhar muito. Levar ao eleitor tocantinense a certeza que teremos uma mudança de paradigma com o futuro governador do Estado. A partir do dia 2 de outubro, quem for eleito não terá tempo para descansar, porque a realidade do nosso Estado exige muita dedicação. Então, vejo que quem quer chegar lá tem de cair nas ruas, nas praças, distritos, nos povoados, nos assentamentos e entender a importância do nosso Estado.

Marcelo Miranda concede entrevista ao repórter Ruy Bucar | Foto: Divulgação

O candidato a governador precisa obrigatoriamente conhecer todo o Estado

O período de campanha ficou mais enxuto, bem como o do horário eleitoral. Ainda dá tempo de levar a mensagem de candidato ao eleitor?

A partir do momento que você tem um compromisso com o cidadão que está lá na ponta, dá tempo. O candidato a governador precisa obrigatoriamente conhecer o Estado. Não pode ser um aventureiro. Não estou aqui dizendo de alguém, mas se conhece o Estado a missão fica mais fácil de percorrer os lugares distantes para levar a sua mensagem.

O candidato a governador não pode se aventurar, pois temos um Estado em crescimento, em desenvolvimento, onde os números são favoráveis. O nosso Produto Interno Bruto (PIB) confirma. Nós temos um capital, temos condições de avançar ainda mais. Quanto à eleição, vejo que o eleitor ainda está tendo dúvida em quem votar. Tanto é que no momento temos vários candidatos ao Senado Federal, todos com uma folha de serviços prestados ao Estado, bem como vários candidatos a governador, então há uma divisão que ninguém esperava. Não podemos deixar o eleitor confuso neste momento, em que a sua escolha pode fazer diferença para o futuro do Estado. Para que isso possa acontecer, nós temos de andar. Em 2 de outubro vão chegar aqueles que prestarem um bom serviço, levando um bom projeto à nossa comunidade. Um projeto de Estado, não apenas um plano de governo. Dia 2 está próximo. A partir desta data, estará começando um novo capítulo da história política do Tocantins.

Temos de continuar respeitando o governador Siqueira Campos, por seu trabalho e sua dedicação

Nestas eleições, todos os candidatos a governador disputam o cargo pela primeira vez. Qualquer que for o resultado é possível afirmar que estará começando um novo ciclo do poder no Tocantins? 

Pergunta bastante oportuna. Nós temos de continuar respeitando o governador Siqueira Campos por seu trabalho, sua dedicação. Temos de continuar respeitando aqueles homens e aquelas mulheres que, junto com Siqueira, ergueram esse patrimônio que nós estamos hoje desfrutando. A história do Tocantins se confunde com a história de todos nós. Lamento muito ter perdido meu grande amigo, meu pai [Brito Miranda], em 33 anos, essa é a primeira vez que ele não participará de uma eleição no Estado. Era o mestre dos mestres, me permita com muita humildade dizer. Não era melhor que ninguém, mas deu sua contribuição para a criação e estruturação do Tocantins. Registro aqui meu respeito pelo ex-governador Moisés Avelino, governadores que assumiram interinamente que tiveram a oportunidade de dar a sua contribuição, prefeitos, vereadores, todos que ajudaram a construir este Estado. Acho que estamos passando por um momento muito importante, em que é preciso reconhecer o legado de quem lutou por este Estado, para se criar oportunidade para quem está aí agora. A sociedade tem a oportunidade de sufragar um novo nome, um novo líder, ou novos líderes, para o comando do Tocantins. Eu tive a oportunidade de ser governador três vezes. De exercer três mandatos de deputado estadual, de ser presidente da Assembleia durante quatro anos, e volto a ser candidato a deputado estadual. Por que isso? Eu fui governador, sei o que é ser governador de um Estado, mas agora a Assembleia Legislativa é o meu lugar. Estou trabalhando para chegar a esse meu lugar. E vamos chegar. Eu creio que as novas gerações terão a oportunidade de inaugurar novos caminhos. Todos os que estão aí como candidatos já tiveram a oportunidade de dar sua contribuição, mas querem dar mais, mas só vão conseguir também se realmente tiver fincando os pés no solo tocantinense.

Se tive aval em três eleições é porque juntos fizemos muita coisa

Sua candidatura a deputado estadual, depois de três mandatos de governador, ainda que dois deles não concluídos, é um gesto de humildade ou de sobrevivência política?    

Todos sabem que a minha mulher [Dulce Miranda] é deputada federal por duas vezes e candidata à reeleição. Estou com 60 anos de idade. Descer dois degraus não é demérito para ninguém. Eu dei minha contribuição. Eu vislumbrei a Assembleia Legislativa como meu lugar. Eu quero chegar à Assembleia Legislativa. Eu fui o melhor governador do Tocantins? Poderia até ter sido o melhor governador desse Estado, mas se eu tive aval em três eleições é porque nós juntos fizemos muita coisa. Agora, a Assembleia é o meu lugar. Há 32 anos eu iniciava a minha trajetória rumo ao Parlamento estadual. Hoje é diferente. Eu serei julgado pelo que eu fiz e acho que fiz muito. Mas tenho o direito de continuar me dispondo a contribuir com o desenvolvimento de meu Estado. Quero voltar à Assembleia para dar a esse povo uma palavra, exercer o direito de manifestar minha gratidão por tudo que me permitiram construir juntos. E que vão me oportunizar agora começar de novo, para que eu possa contribuir muito mais ainda. Antes eu recebia, agora quero ser recebido.

Sem desmerecer o atual presidente da República, mas nós queremos um Brasil melhor para todos

Como o sr. avalia o desempenho da candidata Simone Tebet (MDB), que vem surpreendendo na disputa à Presidência?

Essa história de eleição polarizada pode ter surpresa. Eu sou presidente do MDB no Estado, todos sabem que nós estamos apoiando a senadora Simone Tebet, nossa presidente. A Simone tem feito a diferença nas suas caminhadas. Prova disso foi no último debate, em que ela prestou um grande serviço ao povo brasileiro, demonstrou competência e conhecimento político, resultado da sua vasta experiência como parlamentar e consequentemente o conhecimento vasto em todas as áreas mencionadas. O Brasil precisa de alternância de poder. Qualquer país precisa, qualquer estado precisa, faz parte do processo de fortalecimento da democracia.

Eu vejo que a Simone Tebet é uma mulher preparada. Respeito quem apoia o presidente [Jair Bolsonaro], respeito quem apoia o ex-presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] e todos os demais candidatos, mas a torcida nossa é de que esta eleição não seja uma eleição sanguinária. Digo sanguinária, não é sangue, não – que seja uma eleição de alto nível, para que nós eleitores possamos votar no melhor. Não desmerecendo os outros, mas aquele que apresentou o melhor projeto para o Brasil. E consequentemente recai sobre os Estados. Então, eu vejo que nós, tocantinenses, teremos a oportunidade de votar num candidato a presidente que possa fazer o Brasil voltar a ser a nação que todos nós queremos. Sem desmerecer o atual presidente da República, mas nós queremos um Brasil melhor para todos.

A saúde é o maior desafio para qualquer governante, em todas as esferas

Qual sua mensagem para o próximo governador do Tocantins?

Primeiramente, recomendo ter humildade. Em segundo lugar, deve tratar a população tocantinense como parte do poder, o elo que legitima o governo. Não apenas o Palácio Araguaia, mas todas as instituições que compõem o governo do Estado, os tribunais, o Ministério Público, enfim todos os integrantes do Poder Legislativo, Poder Judiciário e que realmente o que se falou durante a campanha, não digo que vá cumprir tudo, ninguém cumpre tudo, mas que olhem para os menos favorecidos. Que reduza o desemprego, ninguém vai conseguir resolver o problema da saúde, mas o problema da educação pode ser resolvido. O problema da segurança pode ser resolvido. Lógico que não em 100%.

A saúde é o maior desafio para qualquer governante, nas esferas federal, estadual e municipal. Eu quero pedir ao eminente futuro governador desse Estado que gere mais empregos. Eu passei pelo governo e não consegui vencer este grande desafio, que é a industrialização do Tocantins. Geramos muitos empregos em pequenas, médias e grandes indústrias, mas o que geramos não foi suficiente para diminuir o desemprego no nosso Estado. Então, eu quero dizer ao próximo governador – que torço para ser meu candidato, Ronaldo Dimas – que ele seja governador para todos, não para um partido só, porque a partir do momento que você assume o governo, você passa a ser o governador de todos. E ele precisa olhar o ser humano. Eu penso que o mais importante é o ser humano. A obra física será de suma importância, mas a obra humana precisa ser resgatada. Não podemos mais ver esses bolsões de pobreza que estamos vendo por onde estamos andando. São rodovias que precisam ser recuperadas, mas o que eu mais quero do próximo governador é que a futura primeira-dama possa também estar integrada, principalmente na área social. Eu sei a importância do trabalho social porque tive ao meu lado uma mulher que dedicou a vida toda ao trabalho social, que é a deputada Dulce [Miranda]. Eu acho que essa integração da mulher neste momento é de fundamental importância. Que o próximo governador resgate o nosso jovem. Quando falo em resgate não quer dizer que o jovem está a deus-dará, mas que crie políticas públicas de inclusão do jovem no mercado de trabalho.