Jogo de interesse no valor de R$ 600 milhões

03 junho 2017 às 09h55

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Depois de ser convocado pela Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) para explicar como e onde o dinheiro do empréstimo de R$ 600 milhões, obtido junto ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, seria aplicado, o governo estadual apresentou as planilhas e os detalhamentos à Casa de Leis. Não adiantou muito. A matéria continuou engavetada.
A divisão deste “bolo”, privilegiando obras nesta ou naquela região, seria o pano de fundo para os debates. Seria… Isso porque o projeto sequer foi lido em plenário, pelo presidente da Casa, Mauro Carlesse (PHS). Se não há a leitura, por consequência, aos debates não resta melhor sorte, porque não há como debater e discutir o que não está em pauta.
Alguns deputados se posicionaram, outros mantiveram um silêncio ensurdecedor. A base de sustentação do governo reagiu, esbravejou, mas o presidente Carlesse, propositalmente, insiste em manter uma espécie de ritual, que impõe uma lentidão inimaginável a uma discussão tão importante para o Estado do Tocantins.
É preciso frisar que, caso não seja colocado em votação, o projeto — que tramita em regime de urgência — poderá travar a pauta da Assembleia Legislativa, caso o regimento interno seja avocado. A política da boa vizinhança ainda não permitiu que isso ocorresse, contudo, essa gota d’água está bem próxima de transbordar do copo.
O deputado Jorge Frederico (PSC), perdeu a paciência na sessão matutina de quarta-feira, 31: “Um ou outro cidadão que está trabalhando nas articulações na Casa (para atrasar as matérias), já passou esse tipo de política.
Nós estamos num momento em que ou trabalha ou pede licença, ou sai fora”.
A quem interessa o atraso da análise da autorização do empréstimo? Talvez a muitos parlamentares esse jogo da lentidão signifique moeda de troca, ou mesmo, mais um entrave ao chefe do poder executivo, na medida em que é sabido que obras significam votos, e o pleito de 2018 já começou faz tempo por estas bandas. Todos reconhecem a força do governador sem mandato e em tempos de vacas magras, imagine disputando uma reeleição ou outro cargo, voando em céu de brigadeiro e serviço prestado à população?
A bem da verdade, para o governador Marcelo Miranda (PMDB), escolher apoiar Osires Damaso (PSC) ou Mauro Carlesse seria paradoxalmente o mesmo que escolher entre Dilma e Aécio, ou seja, qualquer um que fosse eleito não seria a melhor opção. Seria melhor ter ficado neutro. Enfatiza-se que, num primeiro momento, o presidente da Aleto desengavetou um pedido de impeachment de Miranda, colocando-o de sobreaviso. Agora, analisa — ao rigor dos protocolos — o empréstimo que promete alavancar o Tocantins, com obras estruturantes, nos mais diversos municípios.
Essa dicotomia de interesses está longe, muito longe de ter fim.
E pensar que a aliada de primeira hora do governador, sua própria esposa – deputada federal Dulce Miranda (PMDB) –, empreendeu todos os esforços, junto à base aliada, para eleger Carlesse à presidência da Assembleia.