Issam Saado: “Wanderlei planeja um governo comprometido com o povo”

06 novembro 2022 às 14h51

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O deputado estadual Issam Saado (Republicanos), relator do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), revela que teve uma boa surpresa ao analisar criteriosamente a proposta enviada à Assembleia Legislativa pelo Executivo. Segundo ele, o governo elaborou um projeto contemplando todas as áreas. “Têm diversos serviços que entraram no orçamento, principalmente a preocupação com as estradas, estou vendo previsão de investimento na área social, tem previsão de recursos para moradia, então tem inúmeras ações que representam a preocupação do governo com o cidadão tocantinense”, garante o deputado.
Issam Saado avalia que a previsão de aumento do orçamento se baseia no bom desempenho da economia local que vem registrando crescimento da arrecadação e que, segundo ele, se deve às boas ações desenvolvidas pelo governo. “O Estado está no caminho certo para o crescimento. O que está faltando para nosso Tocantins é a industrialização para gerar mais emprego, mas qualidade de vida para o povo”, defende o parlamentar que recomenda ao governo atenção especial com o turismo, cujo potencial do Tocantins tem condições de contribuir para acelerar o desenvolvimento do Estado.
O deputado, que é sírio-brasileiro, ver o futuro do Brasil com preocupação. Issam observa que o país está dividido politicamente, não por ideologia, mas por razões de fanatismo religioso. Pela experiência do seu país, ele avalia que a interferência religiosa no poder será muito ruim. “Eu nasci em um país [Síria] onde a religião fala muito alto. É um país árabe, de maioria muçulmana, eu sou cristão. Olha pra você ver, lá muçulmano vota em muçulmano. Se representam 80%, então, estão eleitos. Nunca um cristão vai receber um voto deles. E nem um cristão vai votar neles. Então, fica aquela divisão religiosa. E o Brasil está caminhando para isso, pelo que estou vendo. Sou contra. Acho que temos de deixar a religião fora e trabalhar como cidadãos brasileiros pelo melhor para o País.”
Issam Saado é deputado de primeiro mandato, nascido em Maakbara, na Síria. Filho de mãe brasileira e pai sírio, viveu a infância na capital Damasco até vir para o Brasil em 1968, onde começou a trabalhar com os tios no ramo atacadista em Anápolis, até escolher Araguaína como a cidade para investir em seu próprio negócio. Foi professor e comerciante. Foi um dos empresários do norte de Goiás que lutou pela criação do Tocantins. Secretário de Administração de Araguaína por duas vezes, foi também o primeiro diretor de Recursos Humanos da Secretaria Estadual de Administração na implantação do Estado. Na política, ingressou com incentivo do ex-senador João Ribeiro.
Pela proposta do orçamento, podemos dizer que o Tocantins vai bem
Que balanço que o sr. faz do trabalho de relatoria da LDO?
Esse trabalho é rotina dentro da Assembleia. Todo ano nós temos de aprovar um orçamento para o ano seguinte. Eu relatei o Orçamento de 2020 e agora novamente estou relatando o Orçamento para o quadriênio de 2020 a 2023. Pela proposta do orçamento, podemos dizer que o Tocantins vai bem. Na verdade, o Estado tem aumentado a arrecadação. Tanto que o Orçamento de 2022 para 2023 sai de R$ 11,4 bilhões para R$ 12,8 bilhões, um aumento de 12,45%.
Qual avaliação o sr. tem sobre a proposta apresentada pelo governo e na qual agora os deputados têm a oportunidade de propor alterações?
Pelo que eu olhei no orçamento como um todo, senti que o governador Wanderlei Barbosa realmente está preocupado com a área social. Têm diversos serviços que entraram no orçamento, principalmente a preocupação com as estradas, recuperação, abertura e manutenção; estou vendo previsão de investimento na área social; tem previsão de recursos para moradia, então têm inúmeras ações que representam a preocupação do governo com o cidadão tocantinense. Vejo que realmente é um governo que tem compromisso como o povo do Estado. Acho que isso traz segurança para o Estado. Wanderlei é um rapaz novo, tem experiência, foi vereador por vários mandatos, deputado estadual e hoje exerce o cargo de chefe do Executivo. A partir de janeiro, vai contar com novo orçamento, elaborado conforme as prioridades definidas para seu governo e terá mais liberdade e mais condições para manejar esses recursos conforme previsões, mas isso tudo dentro da lei. E a Assembleia não pode faltar com o governador, nesse sentido. Nós também temos de reforçar o Estado, reforçar o governo para ele ter uma administração mais tranquila, serena e hoje não tenho dúvidas que governo vai ter a maioria da Assembleia e mostrar que o governador vem justamente para atender o anseio do povo. Tivemos a alegria de comemorar aumento de arrecadação no Tocantins.
Nós precisamos levar a sério o turismo. O Tocantins precisa de forte investimento neste setor
Ao que o sr. atribui o crescimento da arrecadação do Tocantins?
O Tocantins avançou muito. Antes de criar o Estado, nós não tínhamos produção de grãos, criação etc. Hoje, se não me engano, o Tocantins é relacionado como quarto ou quinto na produção de soja; a colheita ultrapassou mais de quatro milhões de toneladas. Então, o Estado está no caminho certo para o crescimento. O que está faltando para nosso Tocantins é a industrialização, nós precisamos industrializar o Estado para gerar mais emprego, mais qualidade de vida para o povo. Hoje, 80% da população do Estado depende do governo, não tem nenhum governador que vai atender tudo que o povo deseja. Para isso, é preciso em paralelo ter uma indústria forte, precisamos ter cooperativas fortes. Nenhum dos outros 25 Estados nem o Distrito Federal têm a beleza que tem o Tocantins. E nós precisamos levar a sério o turismo. O Tocantins precisa de forte investimento nesse setor. Não adianta ir para o Jalapão, botar uma tenda e dizer “agora posso receber turistas”. Precisa ter investimento sério, estrutura, rede hoteleira. Precisa ser tudo de primeira, com restaurantes bons, conforto e tudo o mais, porque é assim que vamos conseguir aumentar o fluxo turístico no Tocantins. Caso contrário, nós vamos ter nome, mas não vamos receber turista. E turismo é moeda forte.

Está na hora do governo criar uma comissão em nível internacional para divulgar o potencial do Tocantins na área do turismo
O povo está fugindo de grandes centros, querem sossego, paz. E o Tocantins está pronto. Nós temos dois grandes rios. Tanto o Araguaia como o Rio Tocantins cortam o Estado de ponta a ponta, tem [os rios] Manoel Alves Grande, Manoel Alves Pequeno, a beleza natural do Tocantins supera tudo. Eu conheço uma parte do Brasil, mas posso dizer com certeza o Tocantins não fica atrás de nenhum outro lugar. O que falta é que nós precisamos ter propostas para os empresários em nível nacional e mesmo internacional. Vejo que é a hora do governo criar uma comissão em nível internacional que deve visitar todas as embaixadas que existem no País, apresenta um projeto mostrando o que o Tocantins tem para oferecer na área do turismo.
A proposta de Orçamento enviada pelo governo contempla essa ideia de desenvolvimento do turismo como o sr. coloca?
No contexto do orçamento o turismo foi bem contemplado. O governador se preocupou com todo o processo produtivo do Estado. Tenho certeza de que essa é uma área que o governador vai investir, pois ele tem consciência. Eu gostei da proposta, vou ser sincero. Vejo o orçamento mais completo. Neste orçamento de 2022 para 2023, a equipe do governo trabalhou para que os recursos públicos atinjam ao máximo as necessidades do povo. Fiquei feliz em observar que tem previsão de verbas para as mais diferentes áreas. A tendência, na minha opinião é que a arrecadação no Tocantins continue aumentando. Temos de corrigir alguma coisa em relação aos incentivos fiscais, para manter equilíbrio com os Estados vizinhos.
O sr. é um parlamentar de primeiro mandato, que balanço o sr. faz de sua atuação?
Primeiro, agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de ser representante do povo tocantinense aqui na Assembleia Legislativa durante estes quatro anos. Eu me sinto satisfeito com o dever cumprido. Quem quer ser parlamentar, quer seja em nível municipal, estadual, ou federal, se pensa que ao chegar à Assembleia ou à Câmara vai realizar o sonho todo, já começa errado, pois não consegue. Se você conseguir realizar 10% ou 20% de seu sonho, se pensar bem, já está sendo herói. Aqui na Assembleia são 24 deputados, cada parlamentar tem um jeito de ver o Estado, você está mexendo com gente, se um projeto serve para mim, talvez não sirva para os outros deputados, aí não é fácil estabelecer um consenso. Quando o projeto é bom, atende a todos. Eu tenho feito vários projetos os quais tive a felicidade de ver aprovados por todos, porque são bons. A maioria sancionados. Eu consegui realizar este trabalho e me sinto feliz em ter conseguido ajudar o meu Estado nessa área.
Em 34 anos que o Tocantins foi criado essa é a primeira vez que um candidato com 15 mil votos fica de fora da Assembleia
A que o sr. atribui não ter sido reeleito?
Pela primeira vez no País há uma mudança total na política, no sistema político brasileiro. Em 2018 tinha coligação. Então você estava num partido sozinho e podia fazer coligação com outro partido. Agora se você estiver sozinho num partido e quiser ser candidato, pode ser candidato. Só que você não vai a lugar algum, porque precisa preencher o coeficiente partidário. Há quatro anos, a coligação facilitava muito a vida dos candidatos. Agora não, os votos todos são do partido. No caso do Republicanos, eu pensei que o governo conseguiria montar a chapa com 25 candidatos, mas não foi possível, lançaram 16. Os 16 candidatos tiveram 205 mil votos. Pegue esses votos e divida pelo coeficiente. O coeficiente deu 34 mil votos. De cara, foram eleitos cinco. Restaram as sobras, que elegeram mais dois. Ao todo, o Republicanos fez sete deputados. Dos nove deputados que disputaram as eleições, dois não se reelegeram. Fiquei eu com 15 mil votos e ficou a deputada Valderez [Castelo Branco] com quase 12 mil votos. E não nos elegemos pelo que falei, o partido não ter conseguido lançar o número candidatos que podia lançar. Isso foi prejuízo para o partido não ter feito mais dois, faria tranquilamente mais dois. Eu fiquei como primeiro suplente. Juntar 15 mil votos não é fácil, não. Em 34 anos que o Tocantins, foi criado essa é a primeira vez que um candidato com 15.021 votos fica de fora da Assembleia. Justamente pela mudança na legislação eleitoral.
Essas alterações na legislação eleitoral podem passar por revisão em função dos questionamentos aos critérios de proporcionalidade?
Está sendo muito questionado. Mas isso só tem um caminho. Não acredito que a coligação volta mais. O que eu acredito é que vão diminuir ao máximo o número de partidos. À medida que os partidos vão diminuindo vai chegar ao ponto que não temos mais “chapinha chantagem”, formada por candidatos que não aceitam nenhum candidato com mandato. Isso virou chantagem. Isso precisa acabar. Você quer ser candidato? Então vai para um partido com deputado ou sem deputado. Porque está sendo humilhação para quem tem mandato. Quem não tem mandato está sendo ouvido, está chantageando quem tem mandato. Acho essa exigência injusta. Nós temos de enfrentar a política sem discriminação. Se eu tenho patrimônio político, eu não tenho medo de ninguém. Se eu tivesse ficado no partido onde estava [PV] tinha sido eleito. Tem deputado com 15 mil votos que foi, mas de outra sigla partidária. Essa mudança não digo que é ruim, veja o exemplo, na eleição passa Lázaro Botelho [PP] com 43 mil votos não foi eleito deputado federal, agora com 13 mil votos volta à Câmara Federal. Para entender esse jogo, não é todo mundo que consegue aceitar o resultado. Acho que podia melhorar o sistema político brasileiro, acabar com esse negócio de proporcionalidade. Quem tiver mais voto, leva.
O Brasil é um país laico, vamos deixar a religião de lado para administrar essa massa
Qual avaliação que o sr. faz do momento político brasileiro?
Isso me preocupa um pouco. O Brasil não é um país violento. É um país de paz, de amor. O povo brasileiro é um povo inteligente. O povo sabe a hora de reagir, de recuar. Hoje, me sinto um pouco triste ao ver a divisão do País. O Brasil está dividido politicamente. Tem gente que fala em ideologia política. No meu entender, não tem ideologia política. Um país que tem quarenta e tantos partidos onde está essa ideologia política? Direita, esquerda, socialdemocracia, até X partidos vai. Eu nasci em um país [Síria] onde a religião fala muito alto. É um país árabe, a maioria é muçulmano, eu sou cristão. Olha pra você ver, lá muçulmano vota para muçulmano. Se eles representam 80%, estão eleitos. Nunca um cristão vai receber um voto deles. E nem um cristão vai votar neles. Então fica aquela divisão religiosa. E o Brasil está caminhando para isso, pelo que estou vendo. Sou contra. Acho que temos que deixar a religião fora e trabalhar como cidadãos brasileiros pelo melhor para o país. Não quero saber qual a sua religião. Adote a religião que quiser. Mas religião no poder traz um problema muito sério. O Brasil é um país laico, vamos deixar a religião de lado, vamos falar como vamos administrar essa massa. A preocupação nossa é com o país, não com religião.