Hora da verdade na disputa pelo Palácio Araguaia
31 julho 2022 às 00h00
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A partir do dia 5 de agosto inicia uma nova fase do calendário eleitoral das eleições 2022, a campanha eleitoral propriamente. Até aqui tivemos a pré-campanha, o longo período de organização das candidaturas, costuras políticas, articulação de alianças e formação das chapas majoritária e proporcional. Até a última hora é natural que se especule a possibilidade de mudanças. A tradição mostra que acordos improváveis são costurados de última hora. Até o dia 5, portanto, muita coisa ainda pode acontecer – inclusive, nada. Esta frase, repetida por diversas fontes, diz muito. Tudo pode acontecer. Ou nada.
Não se pode descartar que de fato há possibilidade de surpresa, mas essa é cada vez mais remota. O que tinha de acontecer parece já ter acontecido. A grande novidade da pré-campanha ficou por conta do rompimento do grupo do clã Abreu com o governador Wanderlei Barbosa. Um fato importante, que causou uma reviravolta no processo, alterou o contexto da disputa e que ainda está tendo desdobramento. Mas foi só isso.
De acordo com a convocação das convenções partidárias, nada vai acontecer para alterar o rumo atual da disputa pelo Palácio Araguaia, que caminha para consolidar cinco candidaturas. As convenções devem homologar as pré-candidaturas do ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL), do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), do ex-prefeito Paulo Mourão (PT), do deputado federal Osires Damaso (PSC) e do médico Luciano Castro Teixeira (DC). As novidades que ainda podem acontecer ficam por conta apenas da composição das chapas majoritárias. Todas ainda incompletas.
O pré-candidato Luciano Castro foi o que mais avançou na formação da chapa majoritária, ainda que esteja incompleta. Ele terá a advogada Eula Angelin, de Palmas, como pré-candidata ao Senado e a empresária Luciene Mamedes, de Araguaína, como pré-candidata a vice. O DC contará ainda com 25 candidatos a deputado estadual e 9 a deputado federal. Os dois suplentes do Senado devem ser definidos na convenção, marcada para o dia 05. O DC é o único partido nestas eleições a apostar em chapa puro sangue. Luciano, identificado como o pivô do afastamento do ex-governador Carlesse, espera em voto o reconhecimento que, segundo ele, tem recebido nas ruas.
O governador e pré-candidato à reeleição, Wanderlei Barbosa (Republicanos), é o nome que mais se movimentou na pré-campanha. Barbosa chega à convenção, marcada para dia 5, no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues, em Palmas, com uma aliança robusta, formada por uma dezena de partidos liderados pelo Republicanos. A aliança governista inclui ainda o PDT, o Patriota, UB, PTB, SD, dentre outros. Wanderlei compõe chapa com a deputada federal Professora Dorinha (UB), como pré-candidata a senadora, e o ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira (PDT), como vice.
Os eventos de apresentação dos dois, Dorinha, em Palmas e Laurez, em Gurupi, mostram que ambos somam muito para o projeto de reeleição do governador. Foram os maiores eventos políticos desta pré-campanha. O que revela também a capacidade de mobilização das forças governistas. O primeiro e segundo suplentes de senador serão indicados durante a convenção. A base governista deverá contar também com a pré-candidatura ao Senado do pastor Claudemir Lopes (Patriota).
O ex-prefeito Paulo Mourão (PT) tem se esforçado para dar conta do dever de casa, organizar o palanque para o presidente Lula. Mourão foi responsável pela federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB) no Tocantins e manteve diálogos produtivos com os partidos que a apoiam – Rede, Psol e PSB. Não conseguiu ainda envolver de todo os deputados dos partidos da federação – Luana Ribeiro (PCdoB), Ivory de Lira (PCdoB), Cláudia Lelis (PV) e Amália Santana (PT), que integram a base do governo e fazem o jogo duplo: até comparecem aos encontros da federação, mas não deixam de dar declarações de que apoiam o governo. A visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Tocantins, prevista para início de agosto, pode ser o que faltava para a campanha do petista decolar de vez.
O deputado federal Osires Damaso (PSC) foi o pré-candidato que mais capitalizou com o episódio do rompimento do grupo da senadora Kátia Abreu com o governador Wanderlei. O deputado que fazia uma pré-campanha meio morna teve um salto de qualidade quando ganhou o apoio do PSB do ex-prefeito Carlos Amastha. E de uma hora para outra recebeu a adesão de três partidos: o PSD, do senador Irajá Abreu, o PRTB e o Avante, que integram a base do clã Abreu. A partir daí, a pré-campanha do deputado entrou numa crescente. O deputado todo dia recebe declaração de apoio de algum prefeito, de vereadores e líderes políticos. Damaso, nesta reta final ainda pode receber um apoio de peso – o da senadora Kátia Abreu (pP), pré-candidata à reeleição. Aliados dizem que com esses apoios levaram a pré-candidatura de Damaso dobrar de tamanho.
O ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL) está tendo de trabalhar muito para formar uma chapa competitiva. Não foi habilidoso o suficiente nas articulações políticas ou confiou demais em terceiros e perdeu a oportunidade de efetivar alianças pré-estabelecidas. Agora, está tendo de atrair o que sobrou do rolo compressor do governo Wanderlei Barbosa. Nos últimos dias, Dimas mudou de estratégia. Deixou de esperar por parceiros ideais e passou a tentar compor chapa com o que é possível. Conseguiu avançar mais do que todo o período da pré-campanha.
Novamente bateu à porta do MDB. Da primeira vez ouviu um não. Fez um convite direto para a deputada federal Dulce Miranda ocupar sua vice. Dulce declinou do convite por priorizar a reeleição à Câmara. Agora Dimas formalizou convite ao partido, para indicar o nome. Depois de um exaustivo debate interno o MDB chega a um nome. O escolhido foi o ex-deputado Freire Júnior. Um nome experimentado na vida pública. Filho do ex-deputado José dos Santos Freire, co-autor da emenda que criou o Estado do Tocantins.
A indicação do MDB chega num momento decisivo para Dimas. Sua pré-campanha entrou em crise desde que a deputada federal Professora Dorinha (UB) fez opção por compor chapa com governador Wanderlei Barbosa, contrariando acordos e conversações conduzidas pelo senador Eduardo Gomes (PL) em Brasília, que previa a aliança entre PL e União Brasil. Dimas acertou quando pensou em Dorinha para a vaga do Senado. A maioria dos prefeitos a quer como candidata. Dorinha tem o respeito dos trabalhadores da educação, o segmento mais representativo do Estado. Dimas errou em não efetivar a parceria com a deputada, quando Wanderlei ainda era uma possibilidade remota.
A indicação de Freire Júnior consolida a aliança com o MDB, um dos partidos mais tradicionais da política tocantinense. A aliança é um passo importante para consolidar a candidatura de Dimas. É bem verdade que o partido anda meio esvaziado, sobretudo depois que quatro deputados trocaram a legenda pelo Republicanos, da base do governo. A aliança com o PL, porém, dividiu o partido. Integrantes do segmento autênticos, Moisés Avelino e Derval de Paiva criticam a decisão e anunciam que não vão caminhar com o partido nesta escolha. Mais um desafio para Dimas, que ainda não encontrou um nome para o Senado.
Depois da novela do vice, Dimas ainda precisa encontrar um nome forte para o lugar que nunca foi da Dorinha. Para o Senado, Dimas pode escolher entre o deputado Eli Borges (PL), o ex-governador Mauro Carlesse (Agir), a senadora Kátia Abreu e o ex-senador Ataídes Oliveira (Pros). Eli é uma solução quem vem de Brasília. Tem a seu favor a fidelidade do segmento evangélico. Carlesse passou a ser recomendado por aliados como resposta pela recusa da Dorinha.
Kátia Abreu pode ser uma opção dentro da ideia de chapa forte a partir da união das oposições. Kátia lidera quatro partidos e mais do que nunca está sendo provocada a mostrar força, após ser rejeitada pelos governistas. Ataídes é o mais cotado, segundo ele próprio, em qualquer chapa que compor soma muito, pois já reúne em torno do seu projeto o apoio declarado de mais de 800 vereadores em todo o Estado. Talvez seja o nome que falta ao Dimas para completar o seu time. Para quem começou liderando a corrida, ter dificuldade para montar a chapa majoritária é passar recibo de fraco.
União das oposições
Nos últimos dias os senadores Eduardo Gomes (PL) e Irajá Abreu (PSD) passaram a perseguir uma ideia que possivelmente não vai vingar no primeiro turno, mas que pode ser fundamental para o segundo: a união das oposições. Os senadores estão em campo conversando com todos os pré-candidatos ao governo e ao Senado fora da aliança governista para tentar montar o que chamam de chapa forte, que segundo eles, sairia da união das oposições. Para tanto, já se encarregaram de promover encontro entre os pré-candidatos Osires Damaso e Ronaldo Dimas.
Os senadores calculam que os dois pré-candidatos juntos podem formar uma chapa que terá o apoio dos três senadores – eles próprios e mais a senadora Kátia Abreu –, quatro deputados federais – Dulce Miranda (MDB), Tiago Dimas (Podemos), Eli Borges (PL) e Tiago Andrino (PSB) – e mais de cem prefeitos. A chapa contaria com uma estrutura partidária considerável – PL, Podemos, pP, PSD, PRTB, Avante, PSC e PSB. Irajá explica que o objetivo é tentar essa união até o último momento das convenções
Não há dúvida que uma chapa com essa musculatura seria muito forte. O problema é convencer um dos pré-candidatos Dimas e Damaso a abrir mão da cabeça de chapa, nessa altura do processo, para ser vice do outro. A proposta é boa, mas precisa antes de tudo convencer os dois da importância da união. Dificilmente um dos dois abre mão de ser candidato. Em algum momento essa união será necessária para contrapor a força da máquina ou a ideia que se faz dessa estrutura chamada governo que parece mobilizar todas as organizações políticas do Estado em sua volta.
Reta final
A partir do dia 5 de agosto, final do período das convenções, finalmente se pode falar em campanha eleitoral e em candidatos, oficialmente escolhidos em seus partidos para disputar os cargos de governador, vice-governador, senador, que formam a chapa majoritária, que inclui ainda o primeiro e segundo suplentes de senador, e deputado estadual e federal, que integram a chapa proporcional. Mais de 700 nomes vão as urnas nestas eleições para disputar 37 cargos eletivos, de deputado estadual a governador.
A partir desta data a campanha começa para valer. E terá pouco tempo. Menos de 60 dias. A briga será acirrada e a decisão, ao que tudo indica, será no segundo turno. A qualidade dos pré-candidatos indica isso. Dimas, Mourão e Damaso estão brigando em pé de igualdade para chegar ao segundo turno. Pelo que se viu na pré-campanha, qualquer um dos três que chegar lá não será nenhuma surpresa. Daí a importância do trabalho liderado pelo senador Irajá Abreu, em garantir agora a união dos três no segundo turno para fazer frente ao governador Wanderlei Barbosa, que inevitavelmente estará no segundo turno.