A candidata a vice-governadora na chapa de Paulo Mourão, a professora Germana Pires (PCdoB), diz que as primeiras atividades da campanha a deixaram bastante entusiasmada, sobretudo, a receptividade do povo nas ruas. “Estou surpreendida positivamente com as manifestações que temos recebido. Tem sido um apoio expressivo, isso é muito bacana, ser recebida com carinho, solidariedade, o que nos tramite confiança nesta eleição”, defende Germana, que observa que o povo quer mudança no governo e que o ex-deputado petista representa essa possibilidade.

Ela aponta que ser candidata a vice-governadora é uma excelente oportunidade de reforçar a participação da mulher na política. “Isso ainda é um desafio muito grande, porque a violência contra a mulher na política ainda é forte. Para além disso, ainda temos outro limitador, que é a desigualdade”, explica a professora, que aponta que “ainda temos um caminho longo para vencer essas desigualdades que nos afeta, que afeta todas as mulheres.”

Educadora, ela ensina que a campanha é um bom momento para conversar com as pessoas e desconstruir as mentiras que foram criadas para gerar desinformação. “Existe toda uma onda de alienação, por meio de um trabalho longo e de muita inteligência, que fez com que muitas pessoas acreditassem em mentiras absurdas. Agora, cabe a nós confrontar essas verdades absolutas. Trazer as pessoas para essa realidade. Trazer à consciência. O que é bem o que é mal? Será que ser a favor da vida, da vacina, da paz, contra armas, contra a violência é mal? E o bom é ser a favor da violência?”, questiona, apontando que é preciso confrontar esses absurdos.

Germana Pires Coriolano é cearense de Fortaleza, com formação em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e doutoranda em Planejamento Urbano Regional pela Universidade de São Paulo (USP). Foi secretária de Planejamento e Gestão de Palmas, secretária de Desenvolvimento Urbano e foi a primeira presidente da Fundação do Meio Ambiente. É professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFT. Em 2018, disputou a eleição para o Senado, na condição de primeira suplente do candidato Paulo Mourão, que ficou em 6º lugar com 10,87%, num total de 137.654 votos. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Germana fala do início da campanha, do apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do desafio de representar as mulheres silenciadas historicamente do protagonismo político.

Qual o balanço que a sra. faz das primeiras movimentações da campanha eleitoral?

Olha, a gente tem recebido muitas manifestações de carinho. Temos uma perspectiva muito positiva, recebido muito apoio, confesso que estou surpreendida positivamente com as manifestações. Tem sido um apoio expressivo, isso é muito bacana, ser recebida com carinho, solidariedade, o que nos tramite confiança nesta eleição. Paulo Mourão é essa figura conhecida do povo tocantinense pela sua ética, pelo trabalho desenvolvido ao longo da história do Tocantins, uma pessoa extremamente comprometida com o seu povo e a gente soma com o trabalho com as mulheres, com ideias sobre desenvolvimento regional, que é o meu objeto de estudo enquanto pesquisadora. Eu e o Paulo já tínhamos trabalhado juntos, na campanha para o Senado. Eu fui a primeira suplente dele e nós temos esse alinhamento, essa conexão de perspectivas, de pensar um Tocantins melhor, de buscar alternativas para romper com este processo de desigualdade que a gente vive. Estou com uma expectativa muito boa desta campanha. Acho que vamos ter um resultado surpreendente. É um momento de mudança, o povo quer mudança. A gente sente no dia a dia das pessoas que a população tem esperança. Somos essa possibilidade.

O Paulo discutiu um projeto de Estado antes de lançar sua campanha

A sra. é professora. Dará ênfase à contribuição técnica? Em uma campanha curta como esta, há espaço para o debate do plano de governo?

O Paulo discutiu um projeto de Estado antes de lançar a sua campanha. Um projeto que já foi discutido amplamente. Nós participamos desse processo, até então eu não era a vice, mas a gente colaborou com a elaboração desse plano de governo para o Estado, que se caracteriza por um conjunto de ações exequíveis, com propostas de políticas públicas, de programas que podem ser executados. O foco está no desenvolvimento, na redução das desigualdades em todos os seus aspectos e na adoção de políticas públicas para as mulheres, combate à desigualdade racial, combate a toda forma de preconceito, enfim, é um plano de governo e uma proposta que atende a todas as áreas em desenvolvimento para fazer face a uma situação de crise em que quase a metade da população do Tocantins vive hoje em situação de vulnerabilidade. Isso é muito grave e reflete a ausência de políticas de promoção social. Essa desigualdade, que é social, vai para educação, saúde, enfim, vai todas as áreas.

Como tirar proveito das realizações do governo do PT no Tocantins, que, ainda hoje, são lembradas como as grandes obras estruturantes do Estado?

Temos essa obrigação de mostrar ao eleitor que o governo do Paulo Mourão integra o projeto nacional do presidente Lula. É o mesmo projeto. Precisamos lembrar que, pós-golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT), nós tivemos uma série de retrocesso em todas as áreas. Tanto relacionados aos direitos dos trabalhadores como na redução de investimentos em áreas importantes e prioritárias. Estou falando de política educacional, política de saúde, política habitacional. Os governos do PT, Dilma e Lula tiveram como centro a realização do sonho da casa própria, para permitir o giro da roda da economia. Boa gestão da economia com a geração de emprego, renda, casa para o povo. Assim, se resolve um problema social e se aquece a economia ao mesmo tempo, fazendo a roda da economia girar, colocando recursos no mercado. Também o programa Bolsa Família sempre foi um programa também de aquecimento da economia, ao incluir um contingente importante da sociedade no mercado consumidor. Se aumenta o poder de compra, isso influencia diretamente nos indicadores econômicos, no consumo e na arrecadação de impostos. O projeto do Paulo é um projeto que segue essa mesma linha. É um Estado que pensa o seu desenvolvimento local e regional a partir de políticas públicas que possam ampliar a oferta de emprego e renda. Quando se constroem rodovias, ferrovias, hospital, habitação, escolas, universidades etc., se criam condições para o desenvolvimento. Quando unimos um projeto de desenvolvimento econômico ao cuidado com o social, geramos não apenas crescimento, mas desenvolvimento. O projeto do Paulo traz esta perspectiva. O presidente Lula dotou o Tocantins de uma série de obras estruturantes, base do seu desenvolvimento. Nós precisamos retomar esse processo. Junto com Lula, temos condições de retomar o desenvolvimento do Estado, com a garantia de investimentos, o que só vamos conseguir se tivermos um governo federal que tenha a sensibilidade de projetos, de investimentos para áreas indispensáveis e não um governo que privatize as políticas públicas. 

Será que ser a favor da vida, da vacina, da paz, contra armas, contra a violência, é mal?

Como é fazer campanha nesse contexto de polarização que resvala para a disseminação de ódio e apelo à violência?

É um grande desafio, porque estamos num momento em que a internet e as redes sociais possibilitam a circulação de mentiras e de fake news de uma forma muito rápida. A maneira como as fake news entraram na eleição, de 2018, foi avassaladora, com vídeos bem elaborados para disseminar informações falsas. É uma estratégia muito perigosa para a democracia. É um desafio, mas é um desafio que a gente precisa enfrentar, com urgência. Temos o papel, enquanto cidadãos e seres políticos, de buscar a sensibilização e a conscientização da população. De trazer à luz o que é o bem o que é o mal, de refletir com as pessoas, elas são inteligentes. As pessoas conseguem perceber.

Existe toda uma onda de alienação, por meio de um trabalho longo e de muita inteligência que fez com que muitas pessoas acreditassem em mentiras absurdas. Agora, cabe a nós confrontar essas verdades absolutas. Trazer as pessoas para essa realidade. Trazer à consciência. O que é bem o que é mal? Será que ser a favor da vida, da vacina, da paz, contra as armas, contra a violência, é mal? E o bom é ser a favor da violência? Acho que trazer isso para as pessoas, de uma forma de retomar a consciência que já existe nelas, de provocá-las para essa responsabilidade, isso é fundamental.

Eu sinto que as pessoas são mais tolerantes nas ruas que nas redes sociais

Nas ruas, as pessoas são mais tolerantes do que parecem nas redes sociais?

Eu sinto que as pessoas são mais tolerantes nas ruas que nas redes sociais, isso é fato.  As redes trazem essa máscara, as pessoas acham que podem falar qualquer coisa. Podem agredir, podem falar o que quiser. Existe toda uma rede de ódio nessas conexões. Nas ruas, as pessoas se expõem menos. Nós fizemos um ato de mulheres em defesa de Lula em Taquaralto [Palmas], no dia 13, e tivemos muito retorno positivo. Muita manifestação favorável, mas tivemos também alguns contrários. O interessante é que a pessoa que questiona fica lá longe. Passa no carro, faz algum gesto, mas não vem dialogar.

Quando a gente fala dessa rede de ódio disseminada pelo presidente [Bolsonaro], é uma rede de ódio às mulheres também

O Tocantins tem duas mulheres candidatas ao governo, três a vice e pelo menos quatro ao Senado. Na contagem geral, o quantitativo é pouco representativo. Dos 52 candidatos majoritários, só 14 são mulheres, menos de 30% obrigatório no caso das vagas para os cargos proporcionais. Que avaliação a sra. faz da importância da ocupação desse espaço da política?

É uma grande oportunidade, mas também um grande desafio representar todas as mulheres que não têm voz. Temos uma história de exclusão das mulheres, de invisibilidade, de não participação. Esse lugar que ocupo hoje não é visto como um lugar da mulher, o “estar na política”. Já participei de inúmeras reuniões onde eu era a única mulher. Mesa cheia de homens. Ainda é um desafio muito grande a participação da mulher na política, porque a violência contra a mulher na política ainda é forte. Para além disso, ainda temos outro limitador, que é a desigualdade. Ainda temos um caminho longo até vencer essas desigualdades que nos afetam, que afetam todas as mulheres. É uma honra estar aqui representando todas as mulheres, é um avanço, mas ainda temos muito que avançar. E a gente vai avançar quando tivermos políticas públicas para as mulheres. Políticas voltadas para a igualdade de direitos. Quando a gente fala dessa rede de ódio disseminada pelo presidente [Jair Bolsonaro], é uma rede de ódio às mulheres também, que se acentuou com essas desigualdades. Os machistas se sentiram empoderados para violentar a mulher de forma física, mas também pela violência moral, psicológica. Então, o avanço da violência aumentou muito. E isso acontece também na política. É um desafio muito grande, mas é fundamental que a gente abrace as mulheres que participam, incentive sua participação, para que a gente tenha uma representação cada vez maior das mulheres no processo político.

A presença de Lula no Tocantins está confirmada, provavelmente virá em setembro

Como vai ser o palanque do presidente Lula no Tocantins e qual vai ser a participação dele na campanha de Paulo Mourão?

Essa é uma articulação feita pelo próprio Paulo. Ele esteve com o presidente Lula diversas vezes. Teve toda uma articulação para o presidente ter um palanque aqui no Estado. Lula já era para ter vindo ao Tocantins, mas houve uma mudança de agenda em função da priorização dos maiores centros neste momento inicial da campanha. Sua presença no Tocantins está confirmada, provavelmente virá em setembro, ainda não temos a data definida.

O eleitor quer mudança, ele tem esperança de transformação. Essa mesma esperança que ele tem em Lula tenho também no Paulo

O que a federação Brasil da Esperança no Tocantins está programando para o horário eleitoral?

Vamos mostrar que o Paulo é o candidato mais preparado para governar o Estado do Tocantins. Além de ser preparado, é uma pessoa que tem compromisso ético, político, e espírito público. O grande desafio que a gente tem é conseguir traduzir isso para o povo de forma simples. Mostrar que temos a melhor proposta porque temos apoio e vontade política de executá-la. Nós estamos num Estado em que os últimos governadores não puderem concluir seus mandatos, foram cassados ou afastados. O eleitor quer mudança, ele tem esperança de transformação. Essa mesma esperança que ele tem no Lula, que eu tenho também no Paulo. Esse é o nosso grande desafio no programa eleitoral, mostrar essa conexão e que tem como princípio fundamental a construção de um governo para o povo. Uma pergunta pertinente, o que os últimos governadores fizeram para mudar esta realidade do Estado? A grande questão é que não teremos resultados diferentes fazendo a mesma escolha. Penso que essa é uma perspectiva de mudança, uma perspectiva de esperança de um Tocantins melhor, desenvolvido econômica e socialmente.

Como foi a sua trajetória como profissional, militante de esquerda, professora e gestora até essa condição de política?

Sou cearense de Fortaleza. Meu pai é cearense, minha mãe, mineira. Fui para Goiás muito jovem. Estudei lá, fiz arquitetura e urbanismo. Comecei a militar no movimento estudantil na PUC Goiás e fui do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Terminei o curso e comecei a atuar no movimento pela moradia. Vim para o Tocantins acompanhando meu pai. Chegando aqui, fui trabalhar com movimento pela moradia. Em Palmas, construímos mais de 400 casas. Trabalhei na gestão Raul Filho, quando fui diretora de Planejamento. Entrei para a universidade, mas sempre com uma história de militância. Uma história ligada aos movimentos, à reforma urbana, o sonho de ter cidades mais justas. Eu participo da União Brasileira de Mulheres aqui no Tocantins, em que desenvolvemos um trabalho de conscientização, sobre desigualdade de gênero. Fui secretária de Planejamento e Gestão de Palmas, secretária de Desenvolvimento Urbano e fui a primeira presidente da Fundação do Meio Ambiente. Para mim, é sempre um grande orgulho poder contribuir com políticas públicas, poder ajudar na transformação da sociedade, naquilo que a gente acredita.