Senadora diz que o Tocantins vive um apagão administrativo e que só um choque de gestão pode tirar o Estado do caos em que se encontra. Para ela,
a crise da saúde é exemplo clássico de incompetência administrativa

Ruy Bucar

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Foto: Valter Campanato/ABr

A senadora e candidata à reeleição Kátia Abreu (PMDB) recorre mais uma vez ao Ministério da Saúde para tentar contornar mais um foco de crise no sistema de saúde do Tocantins. A senadora reclama da falta de agilidade do governo estadual na aplicação de recursos que conseguiu junto ao governo federal para construção, ampliação e melhoria da rede hospitalar do Estado, e afirma de forma categórica que a crise na saúde do Tocantins é exemplo clássico de incompetência administrativa. Segundo ela, não faltam recursos, o que sintetiza bem a situação do governo.

A senadora diz que se sente traída com o fracasso do governo Siqueira Campos, ao qual ajudou a eleger. Primeiro, pelo pífio desempenho que, segundo ela, só tem uma explicação: a terceirização do comando de decisão para o filho (Eduardo Siqueira Campos), que em vez de administrar preferiu usar a estrutura para fazer campanha. Segundo, pelo golpe da eleição indireta que levou o governador Sandoval Cardoso a uma nova campanha. “Nós estamos praticamente há quatro anos de apagão administrativo, vivendo quatro anos de campanha eleitoral. Não há nenhum Estado que segure”, comenta a senadora, indignada com as denúncias de má gestão que pipocam para todos os lados.

Eleita pela sétima vez uma das 100 cabeças mais influentes do Congresso Nacional (única líder do Tocantins nesta lista), Kátia Abreu explica que o segredo de uma boa atuação parlamentar está na obstinação. “Obstinação é a palavra certa. Eu acredito na obstinação em todas as áreas, para quem quer vencer como jornalista, como produtor rural, como um político, etc., a obstinação é tudo”, defende.

Sobre as eleições Kátia Abreu comenta que é hora de renovar as esperanças com a grande possibilidade de mudança, que segundo ela tem todas as condições de acontecer porque é da vontade do povo. “Nós estamos diante de uma possibilidade de mudar tudo isso, de sair de uma constante campanha eleitoral e entrar para efetivar um governo de verdade. Espero que a partir dessas eleições nós possamos ter um governador de verdade”, ressalta.

O que lhe motivou a solicitar intervenção mais uma vez do Mi­nistério da Saúde para tentar contornar crise no sistema de saúde do Tocantins?

Há algum tempo nós fizemos isso com relação ao Hospital e Maternidade Dona Regina, quando os próprios médicos fecharam a UTI neonatal em protesto por não compactuarem com a irresponsabilidade que estava acontecendo naquela unidade. Partindo do princípio de que o Congresso Nacional defende o Estado brasileiro, defende as pessoas e, portanto, também o orçamento público, e os recursos da saúde vêm do Orçamento Geral da União, via SUS, me achei na obrigação de alertar o Ministério da Saúde sobre o que estava acontecendo aqui, partindo de uma ação dos médicos. Isso surtiu efeito de certa forma positivo. Não solucionou definitivamente os problemas, mas foi uma alerta para o governo de que os poderes estão atentos às ações, e agora não é diferente. No Hospital Geral de Palmas os escândalos se repetem todos os dias, inclusive, mostrados no “Jornal Nacional”, não só na imprensa local. Eu achei por bem mais uma vez fazer o meu papel de senadora da República e alertar o ministério para que viesse ver com seus próprios olhos as atrocidades e os desmandos, os descalabros que estão acontecendo no Hospital Geral de Palmas. A população inteira conhece, mas é bom repetir. Um problema foi a UTI no ar que abandonou os serviços por falta de pagamento, e é bom lembrar que esses pagamentos são carimbados pelo SUS, o governo recebeu esses valores que poderiam ter pago a UTI, desviou para outros pagamentos, e isso, com certeza, causou a morte de duas crianças por abandono e por falta de assistência. Depois o lixo do mesmo hospital, em que a empresa, por falta de pagamento, abandonou a coleta. E a ausência de remédios, a falta de plantões, a falta de pagamento dos plantões dos médicos. Então nós chegamos ao fundo do poço. Se fosse falta de recursos nós precisávamos arregaçar as mangas, a oposição, o governo, todos os políticos do Estado, para ir atrás desses recursos, mas ficou provado que o Tocantins recebe recursos, um dos maiores volumes por leito do Brasil. Então fica constatado que o problema é a gestão, a capacidade administrativa, a falta de compromisso.

O que está acontecendo com o sistema de saúde do Tocantins?
Não gostaria de simplificar numa resposta, mas alguns palpites a gente precisa ter e refletir sobre eles. Se você pegar desde o afastamento do Marcelo Miranda do governo, quando tomou posse o deputado (Carlos Henrique) Gaguim para governar um ano e meio, ele já entrou em campanha, não entrou para governar, ele entrou para se reeleger. Pos­teriormente o Siqueira ganha a eleição e tinha prometido que faria uma administração com a mão muito firme, já que era o seu último mandato ele cortaria na carne no sentido de fazer até algumas ações impopulares, mas em prol do equilíbrio fiscal do Estado. Contrariando o seu compromisso, que ele fez pessoalmente comigo, Siqueira já entregou também o governo a uma campanha do filho Eduardo Siqueira Campos, para que este se viabilizasse governador do Estado. E isso não deu certo, renunciou Siqueira, renunciou o vice numa quase que tragédia no final da carreira de Siqueira Campos, que tanto louvor tem na construção do Estado, teve um fim triste, obrigado emocionalmente pelo filho a fazer essa renúncia, enganado pelo filho, pensando que o filho seria o candidato a governador. Aí Sandoval Cardoso assume o governo e já começa outra campanha. Então nós estamos há quatro anos num apagão administrativo, e estamos vivendo praticamente quatro anos de campanha eleitoral. Não há nenhum Estado que segure, isso é o mesmo que trocar o pneu do carro com o carro andando. Desde Gaguim para cá não há gestão, há apenas campanha eleitoral.

A revista inglesa “The Economist” aponta que o Tocantins figura nos últimos lugares em atrativo para investimentos. Há um declínio dos indicadores econômicos do Estado. É o reflexo de uma gestão que em vez de impulsionar está emperrando o desenvolvimento?

Em oito anos, o ex- governador Marcelo Miranda construiu 40 mil casas, e ele não tinha a força do minha casa minha vida. agora, este governo perdeu a oportunidade de encher o estado de casas novas”
Em oito anos, o ex- governador Marcelo Miranda construiu 40 mil casas, e ele não tinha a força do Minha Casa Minha Vida. Agora, este governo perdeu a oportunidade de encher o estado de casas novas”

O Tocantins está sendo apresentado em nível nacional como um Estado inóspito e isso não é a realidade. A natureza nos ajudou muito, nos deu dois dos cinco maiores rios, nos deu terras férteis, áreas agricultáveis e irrigáveis, que é coisa rara no Brasil, temos o maior espaço irrigável do país; nos deu produtores valentes que aplicam tecnologia, que estão desenvolvendo. E quero aqui registrar que se não fosse a natureza, não fosse a vontade e valentia dos produtores rurais, não fosse os investimentos do governo federal, nós estaríamos praticamente vivendo em estado de calamidade pública. Estamos contando com edital que já está na praça, para duplicação da BR-153 pela presidente Dilma; vemos concluir a Ferrovia Norte-Sul pela presidente Dilma; foi lançada a primeira pedra, o primeiro passo para executar a hidrovia Tocantins pela presidente Dilma. No que dependeu do governo do Estado com relação ao Minha Casa Minha Vida, o grande carro-chefe da presidente Dilma, com mais de 3 milhões de casas, o que o Tocantins fez? Com exceção de Araguaína, Gurupi e Palmas, cidades com mais de 50 mil habitantes, onde os prefeitos tem condição de pessoalmente buscar as suas casas, porque é onde o programa existe, as casas aconteceram. Mas lembro que Marcelo Miranda fez em oito anos 40 mil casas, e ele não tinha a força do Minha Casa Minha Vida. Agora, quantas casas o governo fez nestes quatro anos, mesmo com o Minha Casa Minha Vida? Perdemos uma grande oportunidade de povoar de casas novas o nosso Tocantins a exemplo do Mato Grosso, onde estive com a presidente no lançamento do Plano Safra deste ano. Vi e ouvi o governador de lá agradecer à presidente Dilma as 65 mil casas construídas no Mato Grosso. Comparando com o Tocantins, aquilo fez o meu coração doer, mas não basta ter a senadora atrás dos recursos, não basta um programa da presidente Dilma se o governo do Estado não reage, porque o governo do Estado precisa reagir, fazer os projetos, buscar e executar as licitações e os programas colocados pelo governo federal.
Com relação ao hospital de Gurupi, é outro exemplo clássico da falta de competência administrativa. No primeiro ano do governo Siqueira eu consegui com a presidente Dilma os recursos do Hospital Geral de Gurupi, R$ 41 milhões, em dois anos e meio de governo nós deveríamos estar quase inaugurando aquela unidade, o dinheiro está lá, mas não fizeram a licitação, não cuidaram do projeto, não começaram. Isso quer dizer que o sentimento de urgência está direcionado para a campanha eleitoral e não para a solução dos problemas. Lança-se pedra fundamental, tratando a população como se fosse um circo, tratando a todos nós como se fôssemos palhaços, rindo da nossa desgraça, rindo da dificuldade do povo do Tocantins e lançando pedra fundamental em todo o Estado sem executar nada. Os R$ 500 milhões que a presidente Dilma avalizou pelo Tesouro, a meu pedido, porque o Estado não tinha mais condição de tirar esse dinheiro do BNDES, e consegui tirar isso. A secretária Vanda Paiva, da Saúde, foi testemunha comigo quando eu consegui esse aval para construir o Hospital de Araguatins, construir o de Araguaína, reformar o HGP de Palmas, a maternidade Dona Regina e a maternidade de Porto Nacional, o dinheiro não saiu do lugar, esses recursos estão aprovados há quase dois anos. Então, sinceramente, o nosso Estado não merece o que está passando. Felizmente são quatro anos, eu sei que é muito para a população, mas nós estamos diante de uma possibilidade de mudar tudo isso, de sair de uma constante candidatura e campanha eleitoral e entrar para efetivar um governo de verdade. Agora estamos vivendo um governo de mentira, uma farsa, nós estamos assistindo a um golpe que foi aplicado no povo do Tocantins. Eu espero que a partir dessas eleições nós possamos ter um governador de verdade.

A sra. se sente traída por ter ajudado a construir um governo que está terminando tão mal, sendo acusado de atrasar o desenvolvimento do Estado?
Me sinto traída, muito contrariada, triste, decepcionada, porque eu jamais apoiaria se não acreditasse que aquilo tudo fosse verdade. Eu ajudei a fazer o plano de governo, acreditei em todas as propostas, acreditei que seria o melhor governo. Nós todos fomos para a campanha, metade do Tocantins acreditou nisso, não foi só eu, e assim como eu cidadã comum como todos, estamos todos decepcionados. Ninguém consegue explicar o que aconteceu com o governo Siqueira Campos, mas nós que estamos mais próximos sabemos que a tragédia foi exatamente essa. Ele terceirizou o governo para o filho e o filho abriu campanha desde o primeiro dia do governo. Não dá para enxugar a máquina, não dá pra economizar, não dá para ser um pai severo que faz as coisas com responsabilidade com campanha na cabeça.
De fato foi uma grande decepção, por isso me afastei do governo no meio do ano passado, depois de avisar várias vezes de que não tinha mais condições de ficar lá, embora só tivesse uma vaga para candidatura ao Senado, e é sempre mais tranquilo estar na sombra do governo, com todas as benesses, mas eu prefiro estar na sombra da minha consciência. Eu não podia compactuar com aquilo. Estando no lado do governo eu preferi ir para a oposição e não compactuar com o que estou assistindo no Estado. Não faz parte da minha personalidade, do meu caráter.
Mais uma vez a sra. figura entre os parlamentares mais influentes do Congresso, o que ocorre há vários anos. Como avalia isso?
Não estou fazendo mais do que a minha obrigação. Quando eu me elegi senadora, em todos os palanques eu disse que ia me esforçar demais para ser uma das melhoras senadoras que o Tocantins teve. Busquei isso, lutei como louca para o povo do meu Estado se orgulhar de mim, para eu ser uma voz do Tocantins no Brasil, para que o Brasil e os países por onde ando no mundo afora pudessem conhecer o meu Estado. Hoje é raro um país onde eu já tenha ido que não conheça o Tocantins com muita clareza. E em todos os lugares do Brasil, os empresários, o Brasil inteiro sabe o que é o meu Estado. Essa representatividade eu busquei para retribuir a honraria de ser senadora da República. E gosto de dizer que são 200 milhões de habitantes, 81 senadores apenas e eu ser uma desses 81, isso não é mole, é muito difícil de acontecer. Você tem que honrar o cargo que recebeu e se eu me reeleger, se o povo entender que eu mereço ser reeleita, com a ajuda de Deus eu vou fazer muito mais do que eu fiz até agora. Se eu promovi meu Estado, se trouxe recursos, se dei orgulho ao Tocantins, é preciso que os tocantinenses saibam que se eu for eleita novamente, eu farei em dobro o que consegui até agora.

Qual o segredo para esse desempenho?
Obstinação. Obstinação é a palavra certa. Eu acredito na obstinação em todas as áreas, nas pessoas que querem vencer como jornalista, como produtor rural, como um político, enfim, a obstinação é tudo. Infelizmente, muitas pessoas enfrentam uma empreitada e só tem o começo ou começo e meio. Precisamos nos doutrinar para tudo na vida ter começo, meio e fim. Às vezes as bandeiras são longas, demoradas, mas você tem que persistir. Cito como exemplo a hidrovia Araguaia-Tocantins, há quantos anos estou batendo e lutando por essa hidrovia. Se eu fosse desistir na primeira hora não tinha saído.
Há obras mais rápidas, obras municipais que você traz para os prefeitos, os hospitais, as creches, os postos de saúde, o ginásio de esportes, mas o importante é você ter ética, princípios, escolher as bandeiras que de fato chegam e alcançam o coração do povo. O político eleito está lá para isso, tem quase a obrigação de adivinhar o que o povo quer para poder desempenhar o seu papel. Não adianta chegar lá e fazer o que se quer, essa identificação e essa busca do ouvido afinado com o povo é o que eu procuro fazer e defender com rigor. Não tenho medo de nada, eu tenho medo apenas de Deus, eu sou fervorosamente temente a Deus e tenho medo demais de quebrar os meus princípios e a minha consciência, fora isso não tem malandragem, não tem corrupção, não tem nada preso na minha vida. E defendo com muita convicção aquilo em que acredito.