Deputado de oposição defende candidaturas do ex-governador Siqueira Campos e do seu filho Eduardo Siqueira Campos, para permitir, segundo ele, que a sociedade avalie o resultado do governo que foram obrigados a entregar antes do fim

Sargento Aragão: “Se tiver direcionamento na CPI do Igeprev eu saio fora e denuncio na imprensa”
Sargento Aragão: “Se tiver direcionamento na CPI do Igeprev eu saio fora e denuncio
na imprensa”

Ruy Bucar

O deputado Sargentão Aragão (Pros) avalia que a renúncia do ex-governador Siqueira Campos (PSDB) apenas antecipou o término de um governo que já tinha acabado antes do fim. Para ele a renúncia não se trata necessariamente de fim de um ciclo político, mas apenas o fim de um governo que não deu certo. “Quem renuncia a um governo faltando nove meses para o seu término melancolicamente sem apresentar nada durante os quatro anos, eu acho que não pode ser candidato, mas se for é bom, até para a sociedade saber se essa pessoa ainda tem crédito, ainda tem a confiança desse povo”, defende.

Sargento Aragão aponta a recuperação das finanças do Estado como o grande desafio do próximo governo. Ele avalia que o desafio não é pequeno diante da falta de controle deste governo, que vem gerando uma situação ingovernável, e cita como exemplo a crise da Previdência.

“Esse governo, quando iniciou em 2010, a dívida com a Previdência era pouco mais de R$ 2,5 bilhões, ao término dessa gestão ela passa de R$ 14 bilhões. É algo que a gente não consegue acreditar, ele nunca pagou a Previdência”, questiona o parlamentar, que é o autor da proposta de instalação da CPI do Igeprev, que busca investigar as aplicações temerárias que geraram um rombo de R$ 500 milhões nos fundos de previdência do Estado.

O deputado também fala sobre as movimentações dos partidos com vista às eleições. Aragão garante que o Pros terá candidato próprio ao governo do Estado, um compromisso assumido pelo senador Ataídes Oliveira na articulação da legenda e que está sendo cumprido. Ele destaca o trabalho do senador nas caminhadas pelo interior do Estado como candidato do partido. “O Pros não vai seguir nem candidato A, nem candidato B, terá candidato próprio”, ressalta o deputado. Aragão defende que a união das oposições seja uma meta para ser alcançada no segundo turno, pois entende que no primeiro turno todos têm o direito de disputar.

A renúncia do governador e do vice, que provocou eleição indireta, trouxe alguma mudança significativa no cenário político do Estado?
Esse momento deve ser tratado em dois tempos. Primeiro, na eleição indireta, em que os deputados escolhem o governador do Estado para o mandato-tampão. O segundo tempo se dará no dia 5 de outubro e será o povo que vai escolher. E alguém se esqueceu de combinar com o povo na eleição de Palmas, lembra? E acharam que estava tudo certo, no final não deu aquilo que não combinaram com o povo e agora será do mesmo jeito. Eu penso que a renúncia do governador e do vice caracterizou um governo que não conseguiu deslanchar, que não conseguiu dizer a que veio. E acho que a renúncia foi o retrato do seu governo: ‘Estou tão desgastado, eu não consigo fazer nada, vou renunciar ao mandato’. Esse é o meu entendimento. E o que a renúncia do vice e do governador pode trazer de diferente para eleição? Acho que nada, porque se colocar o filho dele (Eduardo Siqueira) será a cara do pai. Ou outra pessoa que vier com o nome Siqueira apoiando, a não ser que quem ganhe a eleição rompa com o grupo do Siqueira. Aí seria outro cenário e teríamos mais uma candidatura posta. Se isso não ocorrer o cenário será o mesmo.

Que avaliação o sr. faz da pré-campanha até aqui? É possível prever como vai ser a disputa?
Ainda é muito cedo para dizer quem está fora do processo e quem está dentro. Nós temos, por exemplo, as condições de elegibilidade. Há candidatos hoje possivelmente inelegíveis, mas na véspera da convenção podem estar elegíveis. Ou o contrário. A política tem disso. Agora eu não vejo ninguém fora do processo. Mas uma coisa eu tenho certeza: ao governo que aí está o povo já deu a resposta, não quer, pode até mudar, mas já deu uma resposta clara.

A saída do governador Siqueira Campos antecipando o fim do governo também antecipa o fim de um ciclo político e o início de um novo ciclo?
Eu não diria fim de um ciclo político. Às vezes, aquele que parece estar no fundo do poço, como foi Iris Rezende, em Goiás, volta à cena política. Mas quem renuncia a um governo faltando nove meses para o seu término, melancolicamente, sem apresentar nada durante os quatro anos, não pode ser candidato, mas se for é bom, até para a sociedade saber se essa pessoa ainda tem crédito, ainda requer a confiança desse povo. Eu acho que deveria ser candidato ele (Siqueira Campos) ou o filho dele (Eduardo Siqueira), até para tirar essa dúvida, e espero que seja. É o candidato que nós queremos enfrentar.

Como o sr. avalia o projeto do Pros de candidatura própria ao governo do Estado?
Primeiro, o Prós é comandado pelo senador Ataídes que tem mandato até janeiro de 2019. E depois o senador colocou muito claro: o partido terá candidatura própria sim e não vai seguir nem candidato A, nem candidato B, terá candidato próprio. É verdade que as oposições em alguns setores podem estar unidas, mas nem sempre está unida 100%. Então vai ser algo diferenciado. É claro que sozinho você não chega, mas é possível com dois ou três, quatro, cinco partidos, mesmo pequenos, mas que o povo tenha simpatia. É algo que a gente vai testar junto à sociedade, mas eu repito, o Pros terá candidatura própria e o senador Ataídes é o nosso pré-candidato a governador.

As pesquisas indicam que as oposições unidas têm chances reais de vencer as eleições. Porque é tão difícil juntar os partidos de oposição em torno de um mesmo projeto eleitoral?
É um processo democrático. A oposição pensa, diverge, converge e isso que é o bonito na democracia. Já a base do governo nem diverge, só converge. O governo diz o candidato é esse e tem que ser mesmo. Nós temos opção de escolha e a liberdade de dizer vamos para esse lado, va­mos para o outro, ficamos de fren­te. O governo não pode dizer is­so, ele lança o candidato e todo mundo é obrigado a apoiar, é di­ferente das oposições. No segundo turno será outra eleição e aí sim as oposições têm que estar unidas com o projeto daqueles que disseram que era oposição, e mesmo assim cada um tem o livre arbítrio de optar e fazer o que achar melhor para a sociedade.

O Estado hoje enfrenta uma crise de gestão. O grande desafio do próximo governador será controlar as finanças do Estado, buscando recuperar a capacidade de investimento e reduzindo despesas de custeio?
É um desafio grande. Vou dar um dado, esse governo, quando iniciou em 2010, o débito previdenciário, a dívida com a Previdência era pouco mais de R$ 2,5 bilhões, ao término desse governo essa dívida passa de R$ 14 bilhões. É algo que a gente não consegue acreditar, ele nunca pagou a Previdência. Você sai de um débito de pouco mais de R$ 2 bilhões e pula para R$ 14 bilhões, quem vai pagar? Será o próximo governador. Sem contar o que fizeram no Igeprev, estou falando daquilo que o Estado arrecadou do servidor em contrato, em cargos comissionados, em função gratificada, arrecadou do servidor e não repassou para o INSS. E agora, quem vai pagar? É o próximo governo. Quem ganhar terá que saber que vai enfrentar isso mesmo, até porque quem ganhar o governo e for olhar para o retrovisor, igual esse olhou, não faz nada. O próximo governador terá de olhar para frente e resolver os problemas e amenizar a situação. É isso que o novo governante deve pensar e fazer.

Por falar em Igeprev, o sr. é o autor da proposta de comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Assembleia que ainda não foi instalada. Por que a dificuldade de instalar essa comissão para investigar um assunto extremamente grave?
A bancada que dá sustentação ao governo tem a maioria na Casa, ela é detentora de três blocos, um bloco indica dois. Mas veja bem, o governo tenta esconder a todo custo. Há 15 dias a Churrascaria Porcão, no Rio de Janeiro, foi despejada do Leblon por falta de pagamento do prédio, e um dos investidores da churrascaria Porcão é o Igeprev, a imprensa divulgou isso aqui? Não, e por que não divulgou? Ora, temos que discutir na comissão parlamentar de inquérito. O governo tentou barrar de todas as formas, a gente ia à Justiça como o Senado fez, indo ao Supremo, e chegamos a um acordo que até o dia 15 felizmente será instalada, e terá a sessão inaugural. Tendo a sessão inaugural se elege presidente e relator e membros titulares e aí se segue o caminho da CPI. Eu garanto uma coisa, falta de vontade, disposição desse parlamentar de ir atrás e buscar não vai faltar, até porque também sou servidor daquela Previdência.

Que resultado que o sr. espera dessa CPI?
Primeiro, buscar todo tipo de falcatrua, de dívida, de empréstimo feito por alguém que pegou o dinheiro do Igeprev sem autorização ou com autorização do conselho de administração em aplicações mal feitas. Aquelas aplicações fora da lei não têm nem discussão, os responsáveis serão convocados aqui. Agora, a CPI do Igeprev não vai ser igual a da Saneatins, que convoca o cidadão e ele diz que não vem, na nossa virá, aqui tem força de juiz e será cumprido. Porque nós vamos abrir diligência no primeiro dia e a pessoa vem. Vamos tentar bloquear os bens dessas pessoas que enriqueceram, gente que ganhava mil reais, 2 mil reais por mês, hoje tem patrimônio de 20 milhões, como? Você tem que bloquear esses bens, mas quem faz isso é a Justiça, a CPI apenas indica o caminho para que se possa fazer. O Ministério Público vai estar presente acompanhando e nós vamos fazer. Vamos dar um exemplo, quem é esse Edson Santana Matos, alguém o conhece? Ele foi colocado no Igeprev por quem? Quem nomeou esse rapaz foi o conselho de administração, foi o governador do Estado, foi Eduardo Siqueira Campos, quem nomeou será responsável, não tenha dúvida disso. E o presidente do conselho de administração mais responsabilidade ainda tem. Vou lhe dar um exemplo, o finado Dorival Roriz está com mais de R$ 18 milhões bloqueados em bens, porque era presidente do conselho e do qual nós conhecemos a idoneidade do finado Dorival, não é porque está morto, mas era um homem sério, direito, mas devido ser o presidente do conselho, e foi o conselho que autorizou, mesmo assim os bens dele estão bloqueados. E porque esse príncipe Eduardo Siqueira Campos não pode ter os bens bloqueados? Claro que pode isso é normal, não tem problema nenhum, agora basta ser uma CPI séria e eu vou lhe dizer mais uma coisa, se na sessão inaugural, nos requerimentos apresentados, se a gente ver que existe direcionamento eu saio fora da CPI e vou chamar a imprensa. Vou apresentar os requerimentos que nós solicitarmos e dizer olha, a CPI não quer que investigue isso e se não quiser que investigue eu estou fora.

O sr. tem pela frente um grande desafio, a candidatura a deputado federal. Qual a sua expectativa com esta postulação?
Meu nome foi escolhido dentro de partido, na mudança que nós fizemos. Depois do terceiro mandato como deputado estadual, secretário de Estado e vice-prefeito eleito de Palmas — graças a Deus não assumi e tenho orgulho disso. Antes quando dizia isso as pessoas me criticavam, hoje alguns me dão razão, parabéns ainda bem que você nem entrou. Preciso , colocar isso como plataforma. Por exemplo, eu tenho um projeto que como deputado estadual não consegui apresentar, que é em nível nacional, que é o Fundo Constitucional da Segurança Pública. Na saúde é dever do Estado, está carimbado 12%,. na ducação está carimbado 25%. A segurança pública é dever do Estado, e o que tem carimbado? Nada, é o que sobrar. Então essa é a bandeira, um projeto meu de criar o fundo, e não é só para o Tocantins, é para o Brasil. E é o que me orgulha de dizer que posso fazer isso e fazer com conhecimento de causa, com discussão há mais de dez anos e até hoje ninguém apresentou.