Eduardo Siqueira chega com peso de embaralhar a disputa em Palmas?
02 abril 2023 às 00h45
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O ex-deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (UB) parece cada vez mais empolgado com a ideia de voltar ao comando da prefeitura de Palmas, cidade que dirigiu de 1993 a 1997, tendo ficado na história como o primeiro prefeito eleito da jovem capital, cuja pedra fundamental foi lançada em 20 de maio de 1989. É bom ressaltar que Eduardo chegou ao Paço Municipal pelo voto direto em 1992, mas desde o início da construção de Palmas, o então governador Siqueira Campos buscava uma maneira de tornar o filho gestor da cidade.
Em meados de 1989, o jornalista Gilson Cavalcante publicou um artigo no jornal Correio Braziliense, como correspondente do Tocantins, revelando que o governador articulava meios para nomear o filho gestor da cidade durante o processo de construção. A matéria provocou mal-estar na base do governo e obrigou a mudar de planos. Em vez de nomear um gestor, Siqueira buscou um gestor eleito, no caso Fenelon Barbosa (pai do governador Wanderlei Barbosa), então prefeito de Taquaruçu do Porto, para administrar a cidade a partir do dia 1º de janeiro de 1990, quando Palmas passou a abrigar a capital. Eduardo seria o segundo gestor, e o primeiro a ser eleito.
Em sua passagem pelo comando do Paço Municipal, Eduardo deixou uma boa impressão. Realizou obras importantes para aquele início de construção da cidade, como o Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, o Ginásio Ayrton Sena, o asfaltamento das principais vias, a organização e implantação da arborização e ajardinamento. Eduardo lembra que foi eleito na oposição e conseguiu manter boas relações com o governador Moisés Avelino. “Ganhei na oposição. Mas conquistei a todos. Inclusive o então governador, que, mesmo sendo de oposição, enxergou que eu queria ser um bom prefeito”, garante.
Foi um governo realizador, contudo, apagado no final. Resultado de longas ausências para tratamento de saúde no exterior, sem informações plausíveis sobre a doença. A verdade é que o jovem prefeito, filho do governador, deixou passar a imagem de que parecia exausto com o cargo.
Aliás, o grande adversário de Eduardo Siqueira é o próprio desânimo. Ele começa muito entusiasmado, no meio do percurso sofre apagões e perde o ritmo da empreitada política. Nos dois últimos mandatos na Assembleia Legislativa, parecia disperso e sem entusiasmo pelo cargo. Irreconhecível para o líder político poderoso que, se quisesse, poderia movimentar o Estado inteiro por causas que acredita defender, tendo o desenvolvimento do Estado como síntese.
Foi Eduardo que, no final do governo Siqueira em 2014, forçou a expansão da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) para salvar as fundações municipais de Dianópolis, Araguatins e Augustinópolis da falência. A bandeira da expansão do ensino superior, com abertura do curso de Medicina no Bico do Papagaio, ajudou a elegê-lo deputado estadual e federal. Eduardo não fala mais sobre o assunto.
Qual seria a verdadeira motivação do ex-deputado para querer voltar ao comando da capital 30 anos depois de ter sido eleito prefeito da cidade em sua primeira eleição? Eduardo não deixa claro, diz apenas que não tem vaidade e que não precisa de cargo, mas que não pode deixar de ter a ferramenta para a transformação que Palmas requer no momento, ou seja, o poder.
Eduardo pode ter muitas motivações para voltar a ser prefeito da cidade, que ele faz questão de dizer ter sido construída por seu pai, Siqueira Campos, mas há um fato que salta aos olhos. Eduardo tem uma profunda mágoa do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), por ter sido desprezado na formação do governo. O ex-deputado articulou um manifesto de apoio ao governador com 21 assinaturas dos deputados no dia 11 de março de 2022, logo após a posse de Wanderlei como governador com a renúncia do então governador Mauro Carlesse. Ele não fez isso naturalmente para mostrar o quanto o novo governador era querido pelos parlamentares, mas para mostrar que poderia ocupar uma função de liderança no novo governo. Eduardo revelou com estranheza que foi procurado por pessoas de fora da gestão estadual que buscavam encontrar uma vaga para ele no governo.
Se a principal motivação para a candidatura for o ressentimento político, Eduardo pode não conseguir nem viabilizar sua candidatura. Além do projeto em si, Eduardo precisa de estrutura partidária para concorrer com alguma chance. Atualmente, ele não tem. Está filiado a um partido da base do governo Wanderlei Barbosa, o União Brasil, comandado pela senadora Professora Dorinha (UB). É difícil ver a senadora subindo em palanque em Palmas que não seja do candidato do Palácio Araguaia, que tudo indica ser o deputado Ricardo Ayres (Republicanos), que iniciou a carreira política como suplente de deputado estadual com as bênçãos do filho de Siqueira, que o levou a assumir o mandato. Eduardo não é o único nome da direita nesta disputa. Terá que brigar com a deputada Janad Valcari (PL), que está em pré-campanha, como a candidata da direita conservadora e radical, que busca aglutinar os votos dos bolsonaristas, que formam a maioria em Palmas.
Eduardo tem potencial para ser um candidato competitivo e influenciar a sucessão em Palmas, mas terá que trabalhar arduamente para superar os obstáculos. Na oposição, não é fácil montar uma estrutura partidária, e há um excesso de nomes no governo, o que é um desafio para quem deseja ser visto como um líder influente e poderoso, capaz de agregar a tradição e a vontade de fazer mais pelo estado.
O depoimento do ex-deputado, que circula nas redes sociais, deixa claro sua intenção de voltar aos palanques. A vontade é um bom começo, mas é necessário muito mais. Eduardo sabe que para recuperar o cargo de prefeito de Palmas, terá que ir além do siqueirismo e, cedo ou tarde, terá que confrontar o governador Wanderlei Barbosa. O que resta é o que pode emergir como uma alternativa à direita na disputa pelo comando da capital.
Depoimento
“Em nome do povo desta terra. Dos pioneiros que acreditaram naquele 20 de maio de 1989. Em nome da história de minha mãe, que dá nome a quatro bairros desta cidade. Em nome da luta e do sonho do meu pai, que fundou Palmas e a única coisa que ele tem é a casa onde ele mora e este legado que vai atravessar séculos e séculos como fundador desta capital. Em nome do meu filho [Gabriel Siqueira Campos] que está ali enterrado, faleceu no Morro de Cristo, no dia 14 de janeiro de 2015. Em nome dos meus filhos que estão vivos. Dos filhos daqueles que não tem nome e nem sobrenome. De milhares de rostos que estão esperando por um projeto. Eu não tenho nenhuma vaidade, eu não preciso de cargo, mas eu não posso deixar de ter a ferramenta, para a transformação que Palmas requer neste momento. Não será uma disputa de quem fez mais por Palmas, mas sim de quem pode fazer mais. De quem tem mais compromisso com esta terra. Eu terei os olhos do mundo sobre mim. Eu terei uma população inteira esperando o que fará Eduardo Siqueira Campos. Mas para não ser uma aventura, basta olhar para trás e ver o que eu fiz. Ganhei na oposição. Mas conquistei a todos. Inclusive o então governador, que mesmo sendo de oposição enxergou que eu queria ser um bom prefeito. Eu não tenho inimigos. O inimigo é a miséria, a fome, a dificuldade, a falta de teto, o abandono e o sofrimento. Que não tem um culpado. Não apontarei meu dedo pra ninguém. Eu apontarei meu dedo para o futuro. Olhando para os horizontes desta terra que meu pai fundou. Com um pequeno retrovisor para enxergar de onde viemos. Mas para conduzir este povo para um grande salto de progresso. Sou candidato a prefeito de Palmas. Obrigado.
Eduardo Siqueira Campos