Eduardo Siqueira: “Meu pai me disse para devolver a Palmas a importância do político”
28 maio 2023 às 00h01


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O ex-deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (UB) não esconde o entusiasmo com a possibilidade de vir a ser candidato a prefeito de Palmas em 2024. Decisão que tomou no início do ano ao constatar que a cidade está desguarnecida, com a crescente desmoralização da política e dos políticos que segundo ele, teve início em 2012 e de lá para cá vem aprofundando. “Me deparando com o cenário de 2024, disse, sou candidato a prefeito. E olha, isso me inundou de sentimento, de motivação, de alegria, de desejo de debate, de participação” comenta o ex-deputado.
Eduardo revela que tudo que faltou de motivação para continuar na Assembleia Legislativa em 2022, sobra de motivos para disputar as eleições da capital. “Eu não posso renunciar a importância que a participação de meu nome pode dar a este processo. Por tudo que fui, por tudo que sou, por tudo que continua ser”, defende, o ex-prefeito citando o texto da sua primeira decisão como prefeito. “Respeitada as disposições da Lei 866/93, abre-se a contratação de projeto arquitetônico para construção do Hospital de Urgência e Emergência de Palmas, em seguida da contratação da sua obra física”, relata, citando quais podem ser suas primeiras decisões num eventual segundo mandato de prefeito da Capital.
José Eduardo Siqueira Campos é paulista de Campinas, 64 anos, filho e herdeiro político do ex-governador Siqueira Campos. A carreira política começou junto com o novo Estado. Em 1988, se elegeu deputado federal, na primeira eleição do Tocantins, reelegendo-se em 1990. Em 1992, conquistou a Prefeitura de Palmas, tornando-se o primeiro prefeito eleito na nova capital. Em 1998, se elege senador, compondo chapa com o pai reeleito governador para exercer o terceiro mandato. Após o fim do mandato no Senado, em 2006 tenta a reeleição e é derrotado pela agropecuarista Kátia Abreu. Após a derrota, Eduardo ficou oito anos sem exercer mandato eletivo. Em 2014, volta às urnas e conquista uma cadeira na Assembleia Legislativa, reeleito em 2018. Durante seu último mandato, chegou anunciar que abandonaria a vida pública, deixando de disputar as eleições de 2022. Agora ressurge, entusiasmado e cheio de planos para governar Palmas.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, da série 34 Anos de Palmas, o ex-deputado revela um pouco do que pretende fazer pela capital a partir do 1º de janeiro de 2025, se acaso for o ocupante do Paço Municipal. Eduardo conta ainda um pouco sobre os bastidores dos estudos que levaram à escolha da área geográfica para a construção de Palmas, bem como o que inspirou a elaboração do seu Plano Diretor. Eduardo começou esta entrevista citando o poema Testemunho, do saudoso poeta e jornalista Gilson Cavalcante, que reproduzimos aqui alguns fragmentos.
Nem cremado
nem sepultado.
Quando me desvencilhar
dessa carne hipocondríaca
e enxugar todos os pecados
quero ser crucificado
na lavoura de milharal.
Vou servir de espantalho
com os trapos que rasguei
dos meus fantasmas.
Espalhado em grãos meu corpo,
todos os meus órgãos doarei
aos reinos da natureza,
sem nenhuma restrição.
(Gilson Cavalcante)
É muito difícil ser oposição no Tocantins a qualquer governo
O que o motiva a tentar voltar a ser prefeito de Palmas?
Para falar da motivação, tenho de falar da falta de motivos. Eu, durante minha longa vida pública, travei embates no Senado da República. Saí de lá com o reconhecimento de um bom presidente, presidi 204 sessões do Senado e muitas do Congresso Nacional. Independentemente de ter sido da mesa do Senado, quando se juntam Câmara e Senado, eu era o vice-presidente dessa mesa do Congresso Nacional. Eu também presidi sessões conjuntas. Mas, mais importante do que isso, o uso da tribuna. Eu ouvir certa vez de [José] Sarney [ex-presidente da República e senador por vários mandatos] de que a excelência da política se atinge quando se ouve e não quando se fala. Eu deixei no Senado e nos anais da Assembleia, de galerias abarrotadas, duelos de discursos de conteúdo com o deputado Paulo Mourão (PT). Aquilo me trazia uma motivação, dava tanta vontade de ir para o debate, de discutir, de buscar argumentos, de buscar história e trazer e discutir conteúdo de leis, de estratégia de votação. Eu perdia, às vezes de 23 a 1, é muito difícil ser oposição no Tocantins a qualquer governo. Aqui é muito raro se fazer oposição e eu fui ícone da oposição com modéstia e tinha muita luz, muito brilho naqueles embates com Paulo Mourão. Aquilo fez bem a ele e fez bem a mim, porque entre nós há um profundo respeito, que permanece até os dias de hoje. Então, estou falando de minha motivação.
Em 2018, quando me reelegi, olhei para aquela Assembleia [Legislativa] e não me vi mais ali. Fiquei pensando, será se outra pessoa, com um pouco menos idade, talvez de outro segmento, não estaria melhor nesta tribuna do que eu? Então anunciei que não seria candidato em 2022. E nisso tenho de dar minha mão à palmatória, porque o homem é escravo daquilo que diz. Eu não vi onde me encaixaria mais. Não queria voltar a Brasília. Depois da perda de meu filho [Gabriel Siqueira Campos], eu meio que fiz um compromisso com essa terra, com minha mulher [Poliana Siqueira Campos] e nós decidimos que a gente não se muda mais de Palmas, por nada, para lugar nenhum. Estou falando de falta de motivação.
Quando veio o 19 de março, dia do Padroeiro de Palmas [São José], eu acordei e olhei para esta cidade. Pensei nas opções que eu estava enxergando, vi que estava faltando alguma coisa. Peguei o telefone e liguei para a professora Nilmar [Ruiz, ex-prefeita de Palmas de 2001 a 2004]. Nilmar, meu anjo. Se Odir [Rocha, ex-prefeito de Palmas de 1997 a 2000] estivesse vivo, a ligação primeira seria para ele, mas ele já partiu. Perguntei a ela “me responda, você vem para candidata a prefeita?”. Ela disse que não. Disse para ela que primeiro precisaria conversar com meu pai e que só recuaria dessa posição se ouvisse alguma coisa diferente, mas que eu seria candidato a prefeito.


Conseguiram, através de um discurso fácil, desconstruir a figura política
Como foi a consulta a seu pai, o ex-governador Siqueira Campos?
Eu saí dali, são pouco metros até a casa de meu pai. Da minha janela, vejo a casa dele sempre, até porque de vez em quando vejo uma ambulância na porta, uma movimentação diferente, nem sempre consegue me avisar a tempo, meu pai vai fazer 95 anos. Eu fui até ele. Foi um choro profundo, uma alegria imensurável, foi ele olhar e me dizer assim: “Meu filho, você tem que devolver a Palmas a importância do político e da política”. A cidade está desguarnecida. Conseguiram, por meio de um discurso fácil, desconstruir a figura política. Palmas nasceu de uma decisão política muito contestada. O Tocantins, não; o Tocantins era uma unanimidade. Foi um trabalho de apenas levar aquela bandeira que nasceu lá atrás. E vejo esta cidade desguarnecida porque hoje parece vantajoso dizer “eu não sou político”. Isso aconteceu na eleição de 2012, não quero fulanizar.
Tudo foi falta de motivo em 2022 no sentido do Legislativo, além de de minha impossibilidade de disputar o governo – não havia nenhum cenário para isso, ao contrário, eu fui um dos primeiros a anunciar apoio a Wanderlei. Eu, me deparando com o cenário de 2024, já disse: sou candidato a prefeito. Isso me inundou de sentimento, de motivação, de alegria, de desejo de debate, de participação, de pesquisa. Confesso que tenho todos os motivos do mundo e, desculpem-me, não vi na população nenhuma resistência. Temos o maior orçamento da história de Palmas e já existe uma cidade de exclusão. Nosso orçamento já não é mais um objeto de inclusão social.
Palmas não faz jus ao orçamento que tem. A cidade já tem bolsões de miséria que estão avançando. Nós tínhamos grandes obras: aeroporto, ponte, Espaço Cultural, Ginásio Ayrton Senna, HGP [Hospital Geral de Palmas, duplicações, 3 mil casas, mais programas sociais, vários programas de inclusão, de renda mínima. Antes da bolsa escola do professor Cristovam Buarque [ex-governador do DF e ex-ministro do primeiro governo Lula], que virou Bolsa Família, já havia o Pioneiros Mirins. Isso tudo desapareceu. Então, posso dizer que minha pré-candidatura não é uma candidatura de mim mesmo, não pertence apenas a mim. Eu tenho encontrado nas pessoas, nos bairros, no centro, no meio dos empresários, queremos uma campanha de natureza política. Nós queremos um político de essência. Daquilo que você traz do seu pai, daquilo que vocês têm de compromisso com a cidade. O que mais tenho ouvido é “por favor, não desista”. Eu diria que é algo irreversível, que estou carregando com muita leveza, que minha família aceitou com muita alegria e meu pai, principalmente.
O resgate da política ao que o sr. refere é o instrumento para solução de problemas que estão afetando o desenvolvimento da cidade, a exemplo da falta de transporte coletivo eficiente, do hospital pronto-socorro e da favelização do cinturão verde?
O momento logo após a eleição de Moisés Nogueira Avelino que, considero, foi algo muito saudável para a democracia, trouxe aquele tempero de alguém que tinha sido um grande prefeito de Paraíso [do Tocantins], um nome para se colocar na história desse Estado, um homem da maior honradez. Mas veja o que poderia ser um duelo político entre Eduardo Siqueira Campos, prefeito, eleito pelo oposição, e Moises Avelino, governador do Estado. Com menos de dois anos de governo dele, eu já estava prefeito da cidade, mas ao contrário de um duelo ou uma guerra, algo negativo, nós acabamos construindo dois polos de poder importantes. Em determinado momento de 1994, modéstia à parte, a Prefeitura de Palmas era mais importante, o Paço Municipal era mais cheio que o Palácio Araguaia. A Prefeitura ganhou importância, foi preponderante para eleição de 1994, quando meu pai derrotou o grande líder João Lisboa da Cruz. O candidato de Avelino era Paulo Sidnei, mas o João Cruz correu o Estado, conseguiu colocar a candidatura dele, não era candidatura de palácio, era a candidatura do povo. Aí Gurupi não conseguiu transferir esse sentimento para outros lugares e meu pai voltou em 94 com muita força. Tudo que eu quero nas minhas falas é não fulanizar. Mas eu penso que o Paço Municipal pode ter uma importância capital, fundamental, imprescindível nessa discussão. E nesta hora eu quero encontrar um ator como eu encontrei Moisés Avelino lá atrás. Se eu estiver prefeito junto com Wanderlei Barbosa, o governador vai ter um operário do municipalismo, porque Palmas hospeda o governo do Estado. Ele é um inquilino nosso. Ele mora aqui dentro. E o governador tem as suas raízes aqui. O governador não nega nada a Palmas, aliás, ele nada tem negado ao Estado.
O Hospital de Urgência e Emergência de Palmas é imprescindível
Tem pessoas tentando entrar nesse debate para contrapor a prefeita ao governador, que são duas pessoas que querem encontrar a solução. Eu não quero entrar nesse debate porque eu vejo pessoas tentando o oportunismo – a oportunidade é boa, o oportunismo é indesejável – e têm pessoas tentando entrar nesse debate para contrapor a prefeita ao governador, que são duas pessoas que querem encontrar a solução. Desde que desmontaram o Hospital Comunitário, na 51 [504 Sul] o HGP acabou assumindo um papel que não é sua gênese, de ser um hospital fechado de cirurgias eletivas. Não, hoje ele é um hospital de portas abertas. Mas a grande verdade é: o Hospital de Urgência e Emergência de Palmas é imprescindível, ele é o ato “001”, eu diria, de qualquer prefeito que for eleito, respeitadas as disposições da Lei 866/93; abre-se a contratação de projeto arquitetônico para construção do Hospital de Urgência e Emergência de Palmas, em seguida o da contratação da sua obra física. Disso eu entendo muito. Fui eu quem começou a Escola Técnica Federal; fiz outras dez escolas importantes; eu fiz o Espaço Cultural, o Ginásio Ayrton Senna, o ginásio de Taquaruçu. Então, obra eu sei como se toca. Eu conheço orçamento, conheço tempo para a entrega de uma obra. Eu acho que a Prefeitura pode ter um protagonismo saudável e nós instalarmos duas praças de poder. A prefeita Cinthia [Ribeiro, PSDB] tem um projeto – e fico muito feliz em ver ela falar sobre isso, de o Paço Municipal voltar para lá [antiga sede] de onde não deveria ter saído. O Paço não deveria ter saído dali. O gabinete do prefeito eu pretendo que seja naquele andar térreo.
Eu não posso renunciar a importância que a participação do nome pode dar a este processo. Por tudo que fui, por tudo que sou, por tudo que continuo a ser. Acertos, erros, defeitos, saber, desafetos, embates, isso faz parte do pacote. Só que estou com 64 anos, tive o cuidado ao longo desse tempo – com todas as perdas que eu tive, as dores que amarguei – de vir tentando parar as vaidades, me apegar mais a história, de me apegar a questões de gestão. Existem no Brasil coisas que estão acontecendo que são importantíssimas do ponto de vista de gestão, que eu acho que podem ser aplicadas de imediato em Palmas.
Calculo 10 mil famílias que passarão imediatamente a entrar num programa com renda mínima
Além do Hospital de Urgência e Emergência de Palmas, que outros projetos devem constar de seu plano de governo?
Eu não incorreria no erro de falar em plano de governo porque, se a gente esquecer hoje, por exemplo, os cuidadores de animais, a falta do hospital veterinário, pode complicar – e eu acho que nem seja coisa para o município construir. Eu, credenciaria todas as clínicas veterinárias para fazer castração, os cuidadores de animais para nos ajudar na captação de animais e acabar com essas epidemias de cães e gatos abandonados que impactam na saúde.
Não vou falar, então, de plano de governo, mas de coisas emergenciais que estariam no meu primeiro Diário Oficial. Primeiro ato, sem dúvida, contratação e construção do Hospital de Urgência e Emergência de Palmas; ato 2, a criação da rede de proteção social denominada de Pioneiros Mirins do Futuro, Amigos do Meio Ambiente, Pão Nosso de Cada Dia, Mãos no Barro, todos reunidos. Calculo de início 10 mil famílias que passariam imediatamente a entrar num programa com renda mínima de 500 reais. Isso impacta em torno de 2,5% do que Palmas tem por mês. Será possível que eu não posso vislumbrar a participação de 10 mil famílias vindo de fora para dentro? Vamos entrar na Capadócia, no Irmã Dulce, vamos entrar nesses bairros, que não são bairros, são comunidades de excluídos, o próprio Taquari, regiões de Taquaralto e dos Aurenys, nós temos verdadeiras áreas de exclusão explícitas, que essas pessoas não têm consumo.

Não adianta pensar em qualquer outra coisa a não ser fomentar renda
Essa discussão que vai chegar daqui a pouquinho, temos de industrializar Palmas para que ela não dependa do poder público. O comércio de Palmas tem de ter gente para consumo nestas localidades. A época de Palmas em que o comércio local mais teve dinheiro foi quando a empreiteira “oreia seca” estava dando emprego, naquelas escavações de valas, era quando as mães dos Amigos do Meio Ambiente, dos Pioneiros Mirins, do PET, ou do Mãos no Barro, Pão Nosso de Cada Dia, quando elas recebiam a bolsa e compravam no mercado local. Então, a cidade tinha consumo em todas as áreas. Não adianta pensar em qualquer outra coisa a não ser fomentar renda. Você pode falar, emprego e renda. Então tá. As obras que nós vamos fazer, elas vão gerar renda, mas você tem de ter consumo, nesse momento.
Terceiro ato, contração e construção de dez creches. Nós precisamos de dez creches, assim como precisávamos de dez escolas e eu fiz as dez, agora são dez creches de uma só vez. Nós precisamos de uma nova rodoviária na região sul, nós precisamos de policlínicas. Há uma distância abissal daquelas populações concentradas na região sul onde o acesso é taxativo, a pessoa morre antes de chegar no HGP. Depois, posso ir derivando para outras áreas. Por exemplo, eu não faria mais um espaço cultural, aquilo foi importante naquele momento, Cicero Belém que o diga, mas se pegar a prefeitura de Belo Horizonte ou o que está acontecendo em São Paulo, com o projeto Gerando Falcões – eles chamam de “favela 3D”: desenvolvimento, dignidade, digitalização. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) tem ido ao encontro de pequenas comunidades, eles não têm medo de falar favela e dizer “nós somos assim e nós queremos assim” e ali se faz um centro de cultura, com digitalização, desenvolvimento e dignidade. Então, imagino pelo menos 10 unidades descentralizadas de cultura em Palmas. Nossa maior expressão da cultura hoje nas festas juninas, o Arraial da Capital, modéstia à parte, nasceu em 1993, comigo na Prefeitura, numa competição entre escolas. Hoje é a maior festa da capital. Aí vem o Quadrilhódromo, meu quarto projeto. Todos são no primeiro dia.
Do encontro de Siqueira Campos com Luiz Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes nasceu Palmas
Qual a sua participação no processo de construção de Palmas?
Eu tenho de render aqui uma homenagem. O que é uma vontade política aliada à força de profissionais habilitados para empreender, buscar a solução, oferecer projeto técnico e a parte política determinar a sua execução. Juscelino pensou em Brasília e foi buscar Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Assim nasceu Brasília. Do encontro de Siqueira Campos com Luiz Fernando Cruvinel Teixeira e Walfredo Antunes, eu já de avião viajando com meu pai entre 1978 e 1980, ele pediu para o piloto derivasse à direita depois de Porto e falou: “Dudu, olha aqui para a direita, aqui será a capital do Tocantins.” Ele sempre teve isso na cabeça. Margem direita, você sabe que a luta da margem direita, chamada de corredor da miséria, quadrilátero da fome, ele resolveu com ligação asfáltica Dianópolis à Bahia, com a Rodovia Coluna Prestes até Arraias, ele integrou essa região via asfalto. Mas a presença de Palmas na margem direita [do Rio Tocantins] era um sonho, uma reivindicação, e um princípio de justiça da sua equidade de distância entre os demais municípios. Centralizada, no meio do Estado, no meio do centro geodésico do país, não quero entrar na discussão geográfica.
No dia 1º de janeiro de 1989, Siqueira Campos toma posse, começa a Constituição do Estado, em 1988 foi a do Brasil, começa a escrever a Constituição do Estado, com Raimundo Nonato Pires dos Santos presidente da Assembleia. Enquanto está se fazendo isso, ele encomenda o estudo ao Grupo 4, com Walfredo Antunes e Luiz Fernando. Vem a primeira ideia, o quadrilátero de 100 por 100 quilômetros e a definição da área, o desenho completo e eu saí com Luiz Fernando Teixeira e Walfredo, estivemos nos Estados Unidos, na Europa em três lugares diferentes, na França, na Inglaterra, na Inglaterra eu não fui, fiquei em Paris, talvez o Walfredo escreva sobre isso, e o Luiz Fernando, são coisas até engraçadas que a gente viveu junto, mas principalmente nos Estados Unidos, na West House, existia um processo de uma cidade que eles faziam para aposentados na Flórida. Assim como nós fomos na França porque naquela época estava se fazendo em Marne la Vallée-Chassy, a Eurodisney que estava sendo construída ali. Então, nós fomos em vários lugares, mas o encontro mais importante e talvez o mais inesquecível tenha sido com Oscar Niemeyer.
Niemeyer escreveu para Siqueira Campos quando ele doou o projeto do Memorial Prestes
Como foi esse encontro e onde foi?
Nós fomos ao escritório dele no Rio de Janeiro, no estúdio que está lá até hoje. De frente para o mar. Nós entramos e passamos três horas com ele. Eu queria ter pego os rabiscos, as anotações que ele fez. E ele ficou muito entusiasmado. E disse assim: “Vou ser muito sincero com vocês. Depois de Brasília, não acredito que o poder público tenha capacidade de uma região da Amazônia Legal, com o PIB de miséria que existe nesses Estados. Não acredito na força econômica para essa construção, me desculpem, mas é um projeto bem-concebido, coisa maravilhosa, só posso desejar boa sorte.” Aí fomos atrás de Burle Marx. Ele não estava, conversamos com o pessoal da equipe. Andar com aquele projeto de Palmas foi tão espetacular, tão maravilhoso, que hoje, quando vejo o Marcelo Tas que veio com aquele programa humorístico a Palmas e zoaram a vida da cidade, como uma capital de poeira, de funcionalismo público, que era nada, senão um palácio suntuoso, diante de uma miséria…
Palmas é um caso completo de sucesso. Eu me emociono, como um pai que embala o filho. Quando meu pai me entregou esse estudo para que a gente fosse buscar algumas soluções – como é que seria vendido o metro quadrado, quais as formas de modalidades negociais, qual seria o êxito de Palmas – eu passei a dever muito a Walfredo Antunes, que considero um idealista, e Luiz Fernando Cruvinel Teixeira. Meu pai foi chamado até de Odorico Paraguaçu, teve uma zombaria na imprensa nacional, que eu não vou esquecer nunca. Quando aquela ponte foi inaugurada, eu falei “nós não tínhamos um Odorico Paraguaçu, tínhamos um outro tipo de Juscelino”. E aqui vou fazendo revelações históricas. Oscar Niemeyer escreveu uma carta para Siqueira Campos. Quando ele doou o projeto do Memorial Prestes, ele fez uma carta de punho para meu pai, doando o projeto e fazendo um testemunho de regozijo de Palmas ter ocupado este sucesso e ele poder participar, doando este projeto. Ele não cobrou nenhum centavo. É coisa dele, fez isso com várias coisas mundo afora. Ele era em sua essência um comunista, um idealista. Então, não quero neste momento de candidatura qualquer tipo de protagonismo. O protagonismo é de José Wilson Siqueira Campos, de Walfredo Antunes, Luiz Fernando Cruvinel Teixeira. Nós fizemos muito da parte legislativa. Minha participação se deu de forma muito intensa aqui no Palacinho, ajudei a fixar aquela cruz no cruzeiro. Tem muita gente com dinheiro, mas dinheiro não compra história. E em mim, graças a Deus, sobram histórias. Eu faço parte desta história. Mas acho que este novo ciclo é crucial para Palmas. Quero participar dele e acho que tenho o direito de participar.

Pode faltar qualquer coisa para a prefeita, mas não pulso. Ela tem pulso
Que avaliação o sr. faz da gestão da prefeita Cinthia Ribeiro? Falta pulso para superar os enormes desafios que se apresenta?
Primeiramente, se você falou em pulso, eu digo o seguinte: pode faltar qualquer coisa para a prefeita, mas não pulso. Ela tem pulso. Discute-se, por exemplo, se intervir no transporte coletivo urbano para estatizá-lo, se é uma medida positiva. O tempo dirá. Eu teria feito diferente. Teria feito um chamamento público, tinha prazo para o contrato acabar, teria chamado as maiores empresas deste País. Palmas desperta o interesse de todo mundo nesta área. Não faltariam candidatos. Sabe o que eu temo? Que o poder público na hora, quando precisar da graxa, do pneu, das baterias… será que é carreira de Estado ter mecânico do transporte coletivo urbano? Pode ser que a Prefeitura esteja fazendo uma preparação para este chamamento.
Se você perguntar o ponto mais positivo da administração da prefeita Cinthia, é o cuidado que ela tem com as carreiras de Estado, com o funcionalismo público. A prefeita deve ter, acho, 99% de aprovação do servidor público municipal. E ela desperta no estadual também esse anseio. Isso faz dela uma pessoa de importância política para outro espaço, mas é lógico que ela tem seus desafios políticos a enfrentar. Um deles, eu diria, o transporte coletivo urbano. Esse a gente pode falar com mais facilidade que a saúde, sem querer entrar no debate de oportunismo, mas de oportunidade. Ela primeiramente deu uma gratuidade, assumiu, teve pulso sim, assumiu, conseguiu superar os primeiros momentos, mas ainda tenho o sentimento que essa atividade não é precípua da governança municipal.