Depois de Gaguim e Sandoval, o filho de Siqueira Campos espera se eleger deputado estadual, virar presidente da Assembleia Legislativa e conquistar o Palácio Araguaia pela via indireta. Pretensão esbarra na baixa cotação junto ao eleitor

Ruy Bucar

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Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O ex- senador Eduar­do Si­queira Campos (PTB), principal her­deiro do siqueirismo, inexplicavelmente abriu mão de ser candidato ao governo do Estado, contrariando um projeto que vinha sendo articulado desde o primeiro dia do governo do pai e que ele co­mandou até o dia da renúncia. As suas atitudes indicam que também comanda o governo do sucessor, Sandoval Cardoso (SD), com o qual tem voz decisiva, como se vê por meio de atos e declarações insuspeitas.

Eduardo abriu mão também de ser candidato ao Senado e à Câmara Federal, mas não desistiu de ser governador. Pelo menos é o que revelam aliados próximos que dizem que o ex-senador mudou de estratégia, mas mantém ambição pelo cargo. Para tanto está disposto a bancar uma estratégia que pode custar caro, mas que acredita poder levá-lo com segurança ao comando do Palácio Araguaia.

Em vez de se submeter ao voto popular, Eduardo Siqueira Campos persegue agora outro caminho que considera mais fácil e seguro, sem passar por desgaste de campanha eleitoral nem sofrer o risco de perder eleição. O plano é se eleger deputado estadual, de preferência o mais votado, o que facilita conquistar a presidência da Assembleia Legislativa, e daí a dois anos se eleger governador pela via indireta. Essa estratégia leva em consideração o histórico dos últimos seis anos em que dois governadores — Carlos Henrique Gaguim e Sandoval Cardoso — foram eleitos por esta via. A estratégia parece simples, mas é por demais complicada e depende de muito fatores que não estão ao alcance de um herdeiro do siqueirismo, que considera o Estado um feudo.

Eduardo sequer tem garantida a sua eleição para a Assembleia Legislativa. Invadindo colégio eleitoral de aliados ele já criou uma guerra na base governista e está aumentando a rejeição ao seu nome. Por isso mesmo, Eduardo é um dos líderes com maior rejeição no Tocantins.

Em meio à perplexidade do pai, que foi convencido a renunciar ao mandato para abrir vaga para ele e o viu desistir da postulação, e de aliados próximos que articulavam a sua candidatura, Eduardo decidiu ser candidato a deputado estadual. Ele acredita que esse é o caminho mais curto para chegar ao Palácio Araguaia. Pode ser o mais curto, mais seguro e menos complicado, mas não dispensa o voto popular, como ele imagina. Então vejamos.

Para chegar ao governo do Estado Eduardo Siqueira Campos precisa ser eleito deputado, e não basta apenas ser o mais votado. Precisa contar com uma combinação de fatores que inclui a reeleição do governador Sandoval Cardoso e da disposição deste em renunciar, como também o vice, deputado Ângelo Agnolin (PDT), o que provocaria uma eleição indireta a ser conduzida pela Assembleia Le­gislativa. Só nestas condições Eduardo Siqueira pode triunfar.

Pesquisas qualitativas, que buscam não apenas saber a opinião do eleitor, mas investigar as razões das suas escolhas eleitorais, começam a identificar com muita clareza o temor dos eleitores do Tocantins em votar em Sandoval Cardoso temendo um novo “golpe”, qual seja a renúncia do governador eleito para ceder lugar para outro governador que será eleito não por eles, mas pelos deputados. O temor do eleitor aumenta a rejeição da chapa governista, que abusou do recurso da eleição indireta e deixou uma imagem negativa, de manipulação, de golpe.

O temor dos eleitores que dizem claramente não querer votar em Sandoval Cardoso, para não correr o risco de eleger outro nome que eles nem sabem quem pode ser, revela que o plano de Eduardo Siqueira está fadado ao fracasso. O plano pode ser legal, mas é imoral. E se pode fortalecer a figura do ex-senador, está ajudando a enfraquecer a combalida candidatura de Sandoval Cardoso.
Sem a reeleição de Sandoval tudo irá de água abaixo. E não será a primeira derrota. A primeira foi a renúncia do pai para que o filho pudesse ser candidato ao governo e no final nem sequer pôde compor a chapa majoritária. Aliás, nenhum dos dois. Daí talvez a ideia do “golpe” com uma eleição indireta para tentar recuperar aquilo que já foi perdido: o poder.

A rejeição dos eleitores à eleição indireta tem explicação. Nos últimos seis anos o Tocantins teve quatro governadores — Marcelo Miranda, Carlos Henrique Ga­guim, Siqueira Campos e San­doval Cardoso —, sem falar do próprio Eduardo Siqueira Cam­pos, que mesmo sem ter sido eleito foi o que mais governou neste período. Neste contexto fica difícil a gestão deslanchar.

Para a senadora Kátia Abreu (PMDB) esse processo de troca de gestores é a principal razão do fracasso da gestão pública. Segundo ela, Gaguim já entrou no governo pensando não em governar, mas em se reeleger. Em seguida Siqueira venceu a eleição e entregou o governo ao seu filho, que desde o primeiro dia trabalhou pela sua campanha. “Desde Gaguim para cá não há gestão, há apenas campanha eleitoral”, observa a senadora, que condena este tipo de golpe violentador da democracia e que tem comprometido o desenvolvimento do Estado.

A exoneração do radialista PC Lustosa da Rádio FM 96,9, supostamente a pedido do ex-senador Eduardo Siqueira Campos, causa um grade estrago na campanha do candidato a deputado. O caso é grave e prejudica não só Eduardo como o governador Sandoval Cardoso. Na conclusão dos eleitores, além da perseguição que todos sabem que Eduardo é capaz, ainda tem um problema adicional, que é a confirmação da suspeita de que continua governando, o que inclusive pode suscitar a impugnação de sua candidatura. Um escândalo desnecessário que tem muito a ver com o estilo do ex-senador. Se foi ele ou não o estrago já está feito.

Ao desistir de se candidatar ao governo por absoluta falta de condições políticas o ex-senador mandou espalhar a ideia que estava refluindo para voltar mais forte. A ideia era mostrar força e poder. Demonstrar que ainda comanda o governo, que será usado como trampolim para a sua eleição. Seria um recado para levantar a autoestima dos siqueiristas meio desanimados depois da renúncia do velho líder.

A notícia se espalhou rapidamente por todo o Estado, só que fez efeito contrário. Mesmo os eleitores simpáticos ao governo dizem que se Sandoval for eleito, dentro de dois anos haverá uma nova eleição, levando para o governo alguém que não consegue vencer uma eleição direta, no caso Eduardo Siqueira. O que as pesquisas qualitativas perceberam o senso comum já vinha denunciando. A eleição de Sandoval Cardoso prenuncia um novo golpe político no Tocantins, colocando no comando do Palácio Araguaia alguém que não foi eleito pelo povo.

No marketing político, quando uma ideia faz efeito contrário é considerada erro tático. Uma ideia fora do lugar. A ideia pode até ser boa, mas talvez não apropriada para aquele momento ou aquela realidade. Foi o que aconteceu em maio de 1992, no auge do movimento pelo impeachment do presidente Collor de Melo. Alguém sugeriu que ele convocasse a sociedade para vestir verde e amarelo em apoio ao seu governo. No outro dia as pessoas amanheceram de preto, dando origem ao domingo negro. Tempos depois o ex-presidente confessava que quando viu chegar as informações sobre o que as pessoas estavam vestindo, concluiu: “a Presidência está perdida”. Collor considerou que a ideia foi um erro tático absurdo que apressou a sua queda.

A ideia de mais uma eleição indireta para levar Eduardo Siqueira ao Palácio Araguaia pode estar seguindo este mesmo caminho. Distanciando ainda mais o siqueirismo do poder.