Deputado e governador interino pode ser eleito governador-tampão com larga vantagem. Tem mais a oferecer aos eleitores que os concorrentes e aprendeu que estando no poder tudo se torna mais fácil

Ex-governador Carlos Henrique Gaguim: inspirador da estratégia siqueirista /  Edilson Pelikano/ Jornal Opção
Ex-governador Carlos Henrique Gaguim: inspirador da estratégia siqueirista / Edilson Pelikano: Jornal Opção

Ruy Bucar

O presidente em exercício da Assembleia Le­gis­la­tiva, deputado O­sires Da­maso (DEM), deu o tom do debate em torno da eleição in­direta para o governo do Estado co­mandada pelo Parlamento, cuja data está prevista para o dia 4 de maio. Declarou que depende dos pró­prios deputados não haver aliciamento dos eleitores durante a eleição. E quando é que deputado rejeita al­gum tipo de benefício para exercer o seu direito de voto? Ele, que participou da eleição do ex-governador Car­los Henrique Gaguim pela via in­di­reta, sabe bem o que isso quer dizer.

Gaguim, ao fazer de forma pública e escancarada para que todos tivessem conhecimento com a clara intenção de aumentar o comprometimento dos eleitores, praticamente oficializou a prática de troca de interesses que o levou a ser eleito governador. Retalhou o seu governo com os eleitores, cada deputado ganhou a condição de comandar um órgão e utilizá-lo da forma que lhe conviesse para suprir as suas necessidades eleitorais, com direito de indicar e exonerar o gestor. Muitos deixaram o Parlamento para cuidar diretamente do órgão com o qual foi agraciado. Outros indicaram prepostos.

O ex-governador Siqueira Cam­pos (PSDB) e o seu filho, Eduardo Siqueira Campos (PTB), ao assumirem o governo em 2011, fizeram graves denúncias contra essa prática que declararam considerar danosa ao bom andamento da gestão pública. Agora a perseguem como estratégia inteligente que pode salvar o siqueirismo. Não se coloca aqui os benefícios financeiros que os deputados teriam recebido como ajuda de campanha, assunto largamente comentado nos bastidores da votação. Deixamos de mencionar por falta de provas, mas não deixamos de lembrar dos comentários da época.

A declaração de Osires Damaso embora tivesse ao que tudo indica a intenção de condenar a prática de abuso de poder, na verdade, marca a abertura desse mercado de troca de interesses que envolve uma eleição extemporânea como esta, com regras estabelecidas pelos maiores interessados, em que os eleitores são ao mesmo tempo os principais candidatos. A fala do deputado não deixa de ser um alerta grave sobre o risco da volta do fenômeno como aconteceu num passado recente.

Por estas e por outras o governador interino, Sandoval Cardoso, do SDD, deve ser eleito governador na eleição indireta coordenada pela Assembleia Legislativa para cumprir mandato de oito meses em função da vacância do cargo provocada pela renúncia de Siqueira Campos e do vice-governador, João Oliveira (DEM), ocorrido no último dia 5. Qualquer candidato a vice-governador que integrar a sua chapa também tem condições de ser eleito.

Sandoval segue estratégia recomendada pelo ex-secretário de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos, que cuida diretamente das negociações com os deputados e que tem como trunfo o próprio governo. O modelo é o mesmo de 2009, adotado pelo então presidente da Assembleia Legislativa, Carlos Henrique Gaguim, que ao ocupar o governo interino conseguiu se eleger governador-tampão e se tornar um candidato a reeleição quase imbatível.

A eleição será no próximo domingo, portanto daqui a sete dias, e apesar do grande número de postulantes não terá disputa. O pleito não passará de uma mera homologação do nome do presidente da Assembleia Legislativa e governador interino, Sandoval Cardoso, conforme estratégia traçada pelo ex-secretário Eduardo Siqueira Campos, responsável pelo entendimento com os deputados. O governo tem 18 dos 24 deputados em plenário, maioria absoluta.

A vitória do governo tem maior garantia em função da divisão da oposição, que apresenta vários candidatos, nenhum com chances reais de ameaçar o candidato do Palácio Araguaia. Os três pré-candidatos do PMDB – o deputado José Augusto Pugliesi, o funcionário público Luciano Coelho e o empresário Benedito Faria, Dito do Posto – por exemplo, são mais governistas que oposição e disputam a eleição com intenção não de vencer, mas talvez de legitimar o pleito, senão de dividir e enfraquecer a oposição.

A única possibilidade de a oposição competir com alguma chance seria se unir em torno de um candidato. O deputado Marcelo Lelis (PV) seria o nome com maior possibilidade de atrair voto de parlamentares descontentes com o governo. O foco dessa ação poderia ser os candidatos de oposição, que recentemente aderiram ao governo e estariam insatisfeitos. Com o apoio de mais quatro deputados a oposição ameaça levar a eleição para o segundo turno e desbancar o governo. Dividida como está hoje a oposição não tem a menor chance de tentar conquistar este feito.

O grupo do deputado Júnior Coimbra é o principal obstáculo para que isso aconteça. Se depender deste grupo o candidato do PMDB, em vez de trabalhar para derrotar o siqueirismo, pode se aliar a ele indicando o candidato à vice. E não faltarão nomes para a missão. O deputado José Augusto Pugliesi e o empresário Dito do Posto têm voto e dinheiro para ocupar a função. O que seria uma tremenda derrota para o ex-governador Marcelo Miranda, que perderia de vez a legenda para o siqueirismo.

Se isso vier a acontecer ninguém poderá dizer que Eduardo Siqueira não será capaz de transformar o caos do governo do pai numa semente de renascimento do siqueirismo. Como os próprios deputados dizem, no Tocantins não tem nada impossível nem improvável. Depois da renúncia do governador e do vice tudo pode acontecer.