A 15 dias das eleições, a deputada federal Dorinha Seabra Rezende (UB), a Professora Dorinha, mantém a dianteira na disputa para o Senado. Mais do que isso, agora a uma distância relativamente folgada da principal concorrente, a senadora Kátia Abreu (pP), que vinha fazendo de tudo para não ceder pontos na corrida, mas que se viu atropelada na reta final pela professora de fala mansa e postura coerente.

A última pesquisa realizada pelo instituto Vetor, encomendada pelo Federação das Indústrias do Tocantins (Fieto) em parceria com a TV Jovem Palmas/Rede Record, divulgada na quinta-feira, 15, mostra que Dorinha mantém a liderança e vem aumentando cada vez mais a distância para a 2ª colocada. Dorinha tem 30% das intenções de voto na estimulada, contra 21% da senadora Kátia Abreu. Na espontânea, Dorinha alcança 23%, contra 16% de Kátia. A senadora Kátia Abreu tem o maior índice de rejeição entre os candidatos ao Senado, 23%; Dorinha tem um dos menores índices, 4%.

Em comparação à rodada anterior da mesma pesquisa, se observa um crescimento notável da Professora Dorinha. No levantamento divulgado no dia 31 de agosto, a deputada tinha 23% de intenções de voto contra 20% da senadora Kátia Abreu – empate técnico, considerando a margem de erro de 3%. Observando o índice de rejeição, que mede o potencial de crescimento de um candidato, revela-se um dado importante: o crescimento da rejeição da senadora . Na primeira rodada, ela era rejeitada por 17%, o que agora subiu para 23%. Dorinha tinha 3%, ou seja, subiu apenas um ponto.

A nova rodada da pesquisa Fieto é a primeira após a renúncia de Mauro Carlesse (Agir), que já detinha cerca de 10% de intenções de voto. O crescimento da deputada pode ter relação com a renúncia do ex-governador. Nesse caso, se pode concluir que Dorinha foi a principal beneficiária da saída do Carlesse da disputa. Essa questão não foi contemplada pela pesquisa, mas se pode inferir que os eleitores de Carlesse, em sua grande maioria, estão migrando para Dorinha. A expectativa era de que fossem para Kátia, em função do perfil dos eleitores de Carlesse, que consideram Wanderlei um “usurpador” do poder e torcem por sua derrota. É bom frisar que Carlesse, em seu pouco tempo de campanha, direcionou sua artilharia contra a senadora, a qual acusa de não trabalhar pelo Tocantins.

Outro dado que chama a atenção é que Dorinha mantém a trajetória de crescimento e tem baixa rejeição, um dado importante numa disputa tão acirrada, em que a vitória pode ser decidida nos detalhes. Ao que tudo indica a estratégia de colar a imagem de Dorinha na de Wanderlei vem dando certo. Dorinha apresenta uma trajetória de crescimento que parece acompanhar a do governador. Se a estratégia está positiva, mostra ainda que Dorinha ainda pode crescer muito mais, tendo em vista trajetória ascendente do Wanderlei.

Por outro lado, a principal concorrente, Kátia Abreu parece perder terreno na disputa, dando sinais de que talvez esteja chegando ao teto de crescimento. Óbvio que muita coisa pode acontecer e influenciar na disputa, que, na reta final, deve se intensificar, com acontecimentos podendo mudar os rumos das eleições – renúncias, denúncias escândalos etc. – e que costumam “estourar” às vésperas do pleito.

Pelos dados da pesquisa, se fosse hoje Dorinha estaria eleita com uma grande margem de votos na frente de Kátia. Mas, como será somente daqui a 15 dias, há tempo suficiente para reviravoltas, que aliás, vem acontecendo aos borbotões.

Disputa acirrada
Dorinha e Kátia protagonizam uma disputa, acima de tudo, qualitativa e emocionante. Com lances incríveis. Sem ataques pessoais e muita movimentação nas ruas, nos bastidores e sobretudo nas redes sociais, nova plataforma das disputas eleitorais.

As duas têm trabalho prestado ao Estado. Representam segmentos diferentes, mas são autênticas e verdadeiras no que defendem. São intensas, fortes e guerreiras. Talvez isso explique o porquê de, com tantos candidatos de peso, elas manterem a polarização da disputa, não cedendo nenhum espaço para um terceiro nome se projetar entre elas. O ex-senador Ataídes de Oliveira (Pros) e o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), estão na briga, mas em posição bastante desfavorável em relação a elas. Eles apostaram tudo que o confronto entre ambas geraria tamanho desgaste que viabilizaria a terceira via. Isso não aconteceu. Seria porque são duas mulheres na disputa e não dois homens?

Kátia Abreu, eleita senadora pela primeira vez em 2006, reeleita em 2014, busca a terceira oportunidade de conquistar o direito de continuar representando o Tocantins no Senado. Foi a primeira mulher a dirigir um sindicato rural no Estado; primeira mulher a comandar a Federação da Agricultura do Tocantins; a primeira mulher a dirigir a poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a primeira mulher a exercer o mandato de senadora pelo Tocantins.

Muito parecidas no dinamismo, são ao mesmo tempo muito diferentes

No início a senadora tentou mostrar que poderia contar com apoio do presidente Lula, a ideia não vingou. Lula exigiu que o seu apoio estava condicionado ao apoio à candidatura do PT no Tocantins, Paulo Mourão. Kátia mantinha na época forte relação com a candidatura à reeleição do governador Wanderlei Barbosa.

Dorinha, três vezes deputada federal, é o nome indicado pelos prefeitos por seu cuidado nas relações com os gestores municipais. Considerada a mãe do novo Fundo de Manutenção do Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), Dorinha é uma das parlamentares que mais repassaram aos municípios por meio de emenda. Sua indicação somou para a chapa do governador por seu enorme engajamento no meio do professorado. Wanderlei retribuía a contribuição da deputada se empenhando em sua eleição.

Muito parecidas no dinamismo, são ao mesmo tempo muito diferentes. Kátia é de centro-direita; Dorinha, também; Kátia é representante do agronegócio; Dorinha, da educação; Kátia encantou e serviu ao petismo; Dorinha, também – ainda que de forma indireta, na organização da educação; Kátia flerta com o bolsonarismo sem se deixar alinhar automaticamente; Dorinha compõe a bancada do governo, mas vota com a sua consciência. Cada uma a seu modo, defendem com competência as bandeiras que assumiram o compromisso de defender.

Kátia iniciou a pré-campanha na liderança, muito à frente da deputada Dorinha. O quadro começa a mudar quando Dorinha faz opção para compor chapa com o governador Wanderlei Barbosa, em vez de Ronaldo Dimas (PL), como se cogitava no meio político. A partir dessa decisão começa um movimento lento de inversão das posições. Dorinha inicia uma fase de crescimento e Kátia parece estacionar ou recuar.

A senadora surpreende na ousadia. Em Palmas, conquista o apoio da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), que primeiramente se aproximou do Palácio Araguaia, pela relação com Dorinha. Todavia, no afunilar das negociações, a deputada não tinha colégio eleitoral para repassar para o candidato a deputado estadual da prefeita, seu marido Eduardo Mantoan (PSDB). Kátia sacrificou os candidatos a deputado estadual do seu partido para facilitar o acordo e terminou por conquistar o que considerou uma parceria histórica.

Dorinha devolve o ataque no mesmo estilo. Entrega ao ex-deputado César Halum a missão de organizar uma coordenação de campanha junto ao segmento do agronegócio. E anuncia o nome do produtor Maurício Buffon, ex-presidente da Associação os Produtores de Soja (Aprosoja-TO), como candidato a segundo suplente em sua chapa. O movimento segue de vento em popa. Dorinha agora promete ser a senadora da educação e do agronegócio, tendo em vista a vocação do Tocantins para o agronegócio.

Kátia vai mais longe. Consegue reatar as relações políticas de um dos seus maiores adversários, o ex-governador Marcelo Miranda (MDB), com quem rompeu logo após uma vitória consagradora de 2014 e antes de começar o governo dele. Kátia reconhece que o rompimento foi um erro político. O ex-governador Marcelo Miranda e a deputada Dulce Miranda anunciaram que o apoio é a retomada de uma parceria de sucesso que fortalece seus projetos políticos.

Essa disputa vai continuar cada vez mais acirrada até o último dia da campanha. Dorinha lidera, mas não está eleita. Kátia já liderou, e se mantém na segunda posição, por mérito. Os indecisos, que são apenas 14%, podem decidir, embora o mais provável seja que não. Em uma disputa tão acirrada como essa não se faz qualquer previsão. Tudo é possível. A disputa, acima de tudo valoriza o voto. Que seja eleita a melhor, ou o melhor.