A campanha eleitoral para o governo do Tocantins começa projetando um novo cenário da disputa, bem diferente do que foi a pré-campanha. Alguns nomes desistiram de concorrer ao Palácio Araguaia – Laurez Moreira (PDT) e Osires Damaso (PSC) – e outros surgiram na reta final das convenções. Laurez agora é candidato a vice-governador e Damaso concorre à reeleição, ambos na chapa do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Irajá Abreu (PSD), Karol Chaves (PSOL), Coronel Ricardo Macedo (PMB) e Carmen Hannud (PCO) entraram na disputa de última hora.

Essas mudanças alteram o panorama da disputa, que parecia apontar para a liderança isolada do governador e candidato à reeleição Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a disputa entre o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL), o ex-deputado Paulo Mourão (PT) e o deputado federal Osires Damaso (PSC), pelo segundo lugar. O número de candidatos também foi alterado. Saíram dois e entraram seis, num total de oito candidatos chancelados por seus partidos para concorrer ao Palácio Araguaia, na eleição mais concorrida desde a criação do Estado do Tocantins, em 1988.

O cenário da disputa divide os candidatos em dois grandes blocos: os que disputam motivados unicamente pela possibilidade de vitória e os que disputam motivados pela oportunidade de participar. Os primeiros só entram porque vêm alguma chance de vencer as eleições. Os demais, aproveitam a oportunidade de disputar e criar alguma chance.

No primeiro bloco, estão os candidatos que disputam as eleições com chances reais de vencer. São nomes conhecidos dos eleitores, testados nas urnas, já disputaram ou exercem cargos eletivos, tomam decisões com base em pesquisas, sabem bem o tamanho do espaço que ocuparam no imaginário do eleitorado, o que os tornam não apenas concorrentes, mas sérios candidatos ao cargo de governador. Contam ainda com estrutura partidária, recursos financeiros e organização profissional de campanha. Alguns mais, outros menos, mas todos com possibilidade de crescer e surpreender. Integram o bloco, Wanderlei, Dimas, Irajá e Mourão.

O segundo, o bloco dos alternativos, reúne candidatos que estão entrando na disputa para participar, independentemente de ter mais ou menos ou nenhuma chance de vencer. Partem do princípio de que o mais importante é participar e que só ganha eleição quem a disputa. São nomes pouco conhecidos dos eleitores, lançados por partidos considerados pequenos, ou nanicos, com poucos recursos, na base do amor à causa, ideológica, ou outra qualquer, motivados pela busca de ocupar espaço. Alguns são estreantes, outros já disputaram pleitos, mas ainda não venceram nenhum. O bloco é composto por Luciano, Karol, Hannud e Macedo.

Polarização

Não há eleição sem polarização. E é a polarização que indica a posição de cada candidato na disputa. O resultado final das convenções deixou mais evidente que a polarização deve caminhar para confrontar as duas novas forças políticas que se formaram em torno do governador Wanderlei Barbosa e do ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas. São os dois candidatos que demonstram que tem maior capacidade para crescer com a campanha e consolidar posição.

Ambos são da base do presidente Jair Bolsonaro (PL). Dimas explora a imagem de homem de confiança do bolsonarismo. Wanderlei aproveita a condição de ser governo, para mostrar que já está fazendo e sugere que a gestão merece ter continuidade. Chamado de “curraleiro”, Wanderlei é o que melhor tira proveito de ser o filho da terra, que remete à ideia de legitimidade, conhecimento da realidade, e aproximação com o povo, por ser um dos seus.

Na pré-campanha Dimas começou na frente e perdeu força na reta final. Pela dificuldade que enfrentou ao compor chapa majoritária permitiu ser alcançado por Mourão e Damaso, na briga pela segunda posição. Em determinado momento havia um equilíbrio entre os três postulantes. Todos passando dos dois dígitos de intenção de voto. Dimas um pouco mais à frente com algo em torno de 20%. O quadro mudou completamente após as convenções.

Damaso deixou um vazio ao desistir de disputar o cargo de governador, depois de experimentar um crescimento significativo, saindo de 7% chegando a 14% ou 15%, segundo pesquisas internas. A desistência afetou diretamente as chances da terceira via de disputar a segunda posição. Sem Damaso a disputa voltou a ter dois nomes equilibrados na frente, com mais dois disputando espaço na terceira via, mas bem distantes dos primeiros e o restante correndo por fora.

Irajá que decidiu entrar na disputa na última hora, ainda é uma incógnita. Nas melhores das hipóteses deve ficar com a quarta posição. As mudanças empurram Dimas para o pelotão da frente, junto com Wanderlei, consolidando a polarização tão propalada. Se as mudanças evidenciaram a polarização entre Wanderlei e Dimas, também consolidaram Paulo Mourão na terceira posição. Luciano, Karol, Hannud e Macedo, correm por fora nesta disputa. Karol e Luciano devem sobressair nos debates e podem surpreender em termos de votação. Macedo e Hannud, cumprirão o dever cívico de participar.

Dimas versus Wanderlei

Wanderlei conseguiu consolidar a ideia de favoritismo, em função de comandar a máquina do governo. É o candidato que conseguiu mobilizar mais forças políticas em sua volta. Apresenta uma invejável estrutura partidária, reúne quase 100 prefeitos e mais de mil vereadores, segundo dados de aliados; reúne quase todos os deputados estaduais e quatro dos oitos deputados federais. Qualquer um candidato com uma estrutura como essa vence as eleições. Wanderlei é o único dos candidatos que tem condições de vencer no primeiro turno.

Dimas, que teve enorme dificuldade para compor a chapa majoritária. Tudo que sonhou construir não vinha dando certo, mas na reta final das convenções terminou sendo enormemente beneficiado pelas mudanças ocorridas no cenário da disputa. A desistência do deputado federal Osires Damaso e a decisão do ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) de retirar a candidatura do treinador de futebol Vanderlei Luxemburgo e ocupar o seu lugar, como candidato a senador. É que a manobra do ex-prefeito levou o PSB para a sua base e de quebra, garantiu à chapa um candidato competitivo ao Senado.

Dimas não apenas recuperou a posição de principal adversário do governador Wanderlei como conseguiu formar uma chapa competitiva, que tem ainda o ex-deputado Freire Júnior (MDB) no cargo de vice-governador e o apoio do MDB, de Marcelo Miranda, Dulce Miranda, Elenil da Penha, para ficar só nos que estão empenhados na sua eleição. O que se pode prevê é que será uma disputa acirrada entre duas máquinas governistas. Uma estadual e outra federal. Wanderlei pela continuidade, Dimas pela mudança.

É preciso esperar a campanha deslanchar para se avaliar a posição de cada candidato nesta corrida. Dimas e Wanderlei largam na frente. Logo atrás vem Paulo Mourão que ainda não conseguiu arrebanhar todos os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Tocantins. Se conseguir este feito pode continuar sonhando com vaga no segundo turno. Do contrário corre o risco de perder a terceira posição que ocupa no momento, muito mais por um processo natural da disputa, do que por conquista. A partir de segunda-feira, 15, quando a campanha começa para valer, vai ser possível avaliar quem é quem nesta corrida, que indiscutivelmente vai dará início a um no ciclo político no Estado.