A eleição para o Senado se projeta como a mais disputada em toda a história do Tocantins. Não apenas pelo grande número de concorrentes – ao todo 12 nomes encaminharam solicitação de registro de candidatura junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO) e aguardam julgamento –, mas principalmente pelo equilíbrio entre os principais postulantes.

Constam da lista dos postulantes ex-governador, ex-senador, senadora, deputada federal, ex-prefeito, suplente de senador, empresário e trabalhador. O grande número de concorrentes acirra o processo de disputa e deixa a eleição aberta. Com governador ou sem governador, muitos estão mostrando que têm liderança e capacidade de chegar.

Dos 12 concorrentes pelo menos 4 – o ex-senador e empresário Ataídes Oliveira (Pros); a deputada federal Professora Dorinha (UB); a senadora Kátia Abreu (pP); e o ex-governador Mauro Carlesse (Agir) – disputam com chances reais de conquistar a única cadeira disponível nestas eleições de 2022. Esses são os nomes mais bem posicionados na disputa, o que não quer dizer que só eles tenham chances de vencer.

Kátia Abreu, no cargo há 16 anos, tem experiência e enorme capacidade de articulação. Busca o seu terceiro mandato consecutivo e tem trabalhado muito para continuar ocupando a representação do Tocantins no Senado. Seus apoiadores contabilizam a adesão de mais de 50 prefeitos, a maioria integrante do bloco de partidos pP, PSD, PRTB e Avante, que dá sustentação à candidatura do senador Irajá Abreu (PSD) ao governo do Estado.

Kátia tem trabalho prestado e ainda exerce forte liderança em todo o Estado, com maior predominância no agronegócio. Tinha eleição quase garantida na base do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), mas teve seu projeto alterado com a opção do governador pela candidatura da deputada Professora Dorinha (UB). Kátia lidera as pesquisas, mas enfrenta um grande adversário invisível, a rejeição. Algo em torno de 38%, o que, segundo analistas, representa um enorme desafio, mas nada que o trabalho não consiga demover.   

Quem também vem trabalhando com enorme determinação para voltar ao Senado é o empresário e ex-senador Ataídes Oliveira (Pros), que chegou à convenção com apoio declarado de mais de 800 vereadores em todo o Estado, um invejável exército de cabos eleitorais. Com esse volume de apoio, Ataídes esperava ser convidado para integrar uma chapa majoritária de peso, o que ainda não aconteceu. O fato não o diminuiu na disputa.

O ex-senador registrou candidatura isolada, mas ainda aguarda fechar parceria com algum candidato a governador. Ataídes manteve diálogo com todos os nomes e, após a convenção, afunilou conversações com o ex-prefeito Ronaldo Dimas (PL), que já tem Carlos Amastha (PSB) como candidato ao Senado. Ataídes é um nome forte, tem trabalho prestado e disputa a vaga em pé de igualdade com outros concorrentes mais conhecidos.

O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) vem comendo pelas beiradas. Rejeitado pelo meio político e tido como inelegível, o ex-governador vem aos poucos restabelecendo sua liderança, profundamente abalada com a renúncia para não ser cassado pelo impeachment. Carlesse segue no propósito de resgatar a liderança que um dia teve no Tocantins. Se vai conseguir registrar a candidatura ou não, o que o ex-governador mais quer é voltar aos palanques, o que já conseguiu.

Pouco importa se, caso eleito, não tome posse. Carlesse precisa provar para ele mesmo que ainda tem liderança para disputar algum cargo político. Graças às suas realizações tem conseguido aglutinar apoio pelo interior afora. No meio político, é visto como um candidato forte que pode surpreender, principalmente pela relação que mantém com as camadas populares do Estado. A prefeita de Gurupi Josi Nunes (UB) é a principal entusiasta da reabilitação do carlessismo, talvez em retribuição à sua eleição, na qual contou com o apoio do então governador.

A deputada federal Dorinha Seabra Rezende, a Professora Dorinha (UB), é um nome que somou muito à chapa governista. Dorinha é uma política que não faz barulho com obras que consegue para os municípios nem faz discurso inflamado para agradar plateias, mas é extremamente coerente com o que defende. Um bom exemplo é sua lealdade às bandeiras da educação. Por essa forma de trabalhar, focada em resultados e não em ideologias, é muito respeitada pelos prefeitos.

É bom lembrar que a preferência por Dorinha não foi uma escolha isolada do governador Wanderlei Barbosa, mas uma recomendação da sua base de apoio. Wanderlei, segundo dados da sua campanha, reúne quase cem prefeitos e mais de mil vereadores. É com essa máquina eleitoral que Dorinha conta para tentar chegar ao Senado. Seu trunfo está na coesão da chapa governista – Laurez e Wanderlei estão comprometidos com a eleição da chapa como um todo.

Assim como somou à chapa governista, Dorinha também deve ser beneficiada enormemente com a estrutura partidária que o governador Wanderlei Barbosa conseguiu montar, uma frente ampla que inclui sete grandes partidos (PSDB/Cidadania, Republicanos, PDT, PTB, União Brasil e Solidariedade) e que tem o maior tempo de propaganda eleitoral gratuita: 4 minutos e 36 segundos. Dorinha tem trabalho prestado, experiência política e é nome preferido dos prefeitos e lideranças do interior.

Alterando cenários
A disputa pela representação do Tocantins no Senado está tão acirrada que já conseguiu inclusive influenciar outros níveis de disputa. A briga pela cadeira do Senado já derrubou até candidato a governador. A desistência do deputado federal Osires Damaso (PSC) de concorrer ao governo e a entrada de última hora do senador Irajá Abreu (PSD) na disputa pelo Palácio Araguaia têm a ver não com o cargo de governador, mas com o de senador.

Damaso desistiu da disputa depois de ver a sua pré-candidatura esvaziada quando Irajá entrou no vácuo do deputado na tentativa de aglutinar forças para o bloco político de qual faz parte a senadora Kátia Abreu (PP), candidata à reeleição.

Como consequência, ou como parte do processo de esvaziamento da candidatura de Damaso, o ex-prefeito de Palmas, Carlos Amastha, presidente do diretório regional do PSB, com o aval da direção nacional, retirou a pré-candidatura de senador do técnico de futebol e da seleção brasileira Vanderlei Luxemburgo para ocupar seu lugar. Amastha registrou candidatura avulsa. A queda de Vanderlei retirou o partido da base de Damaso, contribuindo para o esvaziamento da sua postulação.

É preciso entender que Luxemburgo foi retirado do processo não porque não tinha prestigio político para concorrer ao cargo; pelo contrário, seu crescimento nas pesquisas começou a incomodar outros concorrentes mais bem colocados. Seu crescimento rápido causou preocupação na elite política do Estado, que, embora adversários em algumas disputas pontuais, são sempre parceiros na divisão do poder – é melhor dividir com os de casa, do que permitir que um de fora venha e o conquiste.

Independente
Outro aspecto importante nestas eleições é que agora, para concorrer ao Senado, não precisa necessariamente compor uma chapa majoritária. Dos 12 candidatos que concorrem às eleições, pelo menos 4 registram candidatura avulsa – Mauro Carlesse (Agir), Ataídes Oliveira (Pros), Kátia Abreu (pP) e Carlos Amastha (PSB) – sem compor alguma chapa majoritária. Isso implica que, pela primeira vez, o Tocantins poderá eleger um senador independente, sem nenhuma relação com a candidatura ao governo do Estado.

Mais importante do que poder concorrer de forma independente é conseguir se eleger. Antes, para se eleger senador, era preciso compor uma chapa majoritária competitiva. A disputa equilibrada nesta eleição está mostrando um outro cenário, que poderá ter impacto na organização do poder no Estado.

Nas nove eleições anteriores, desde a criação do Estado do Tocantins, em 1988, em apenas duas vezes foi eleito senador integrante da chapa derrotada. Em 1990, foi eleito o senador João Rocha, que integrava a chapa do senador Moisés Abrão, o qual perdeu a eleição no segundo turno para o ex-prefeito Moisés Avelino; em 2018, Irajá Abreu (PSD) foi eleito para a segunda vaga, como integrante da chapa do ex-prefeito Carlos Amastha (PSB), que perdeu a eleição para o ex-governador Mauro Carlesse.

Nas outras sete eleições, os senadores eleitos integravam a chapa do governador eleito. O que pressupõe que, para se eleger senador no Tocantins, seria preciso compor a chapa do candidato a governador vitorioso ou, no mínimo, a do segundo colocado. Desta vez, um candidato a governador competitivo não é mais condição indispensável para a eleição ao Senado.

Esta é uma eleição que vai revelar o prestígio eleitoral e força de liderança de cada candidato, independentemente de ele integrar ou não uma chapa majoritária. Nestas condições, quem for eleitor senador do Tocantins sairá das urnas com um pé no Palácio Araguaia. É questão de tempo para requerer esse direito de disputar o cargo máximo do Estado – ou levar alguém a conquistá-lo.