Deputado denuncia esquema de “bandidagem eleitoral” na região do Bico do Papagaio
18 outubro 2014 às 09h14

COMPARTILHAR
No decorrer da campanha deste ano, vários candidatos da região desistiram da disputa eleitoral sob a alegação de que a diferença de poder econômico torna a luta desigual

Gilson Cavalcante
As eleições proporcionais deste ano podem ter sido a mais cara da história do Tocantins, o que levou alguns candidatos, no meio da campanha eleitoral, a desistirem da disputa sob a alegação de que estariam numa aguerrida luta desigual, tamanho o derrame de dinheiro, principalmente na região do Bico do Papagaio, uma das mais pobres do Estado.
Ainda no decorrer da campanha, surgiram denúncias de que naquela região o abuso de poder econômico não tinha nenhum controle. Candidatos que disputavam uma das 24 vagas de deputado estadual – alguns tentavam a reeleição – pela coligação governista se viram como verdadeiros adversários. Vendo sua reeleição sendo ameaçada pelo que classificou de compra descarada de votos por correligionários, o deputado José Bonifácio (PR) pôs a boca no trombone.
O assunto voltou à tona na Assembleia Legislativa, dez dias após o resultado das eleições. Reeleito, Bonifácio voltou a denunciar o que denominou de crime eleitoral. Sem citar nomes, o parlamentar disse que um candidato, a quem chamou ironicamente de “príncipe”, deixando implícito que se tratava de Eduardo Siqueira Campos (o mais votado), chegou a oferecer 15 mil para uma presidente de colônia de pescadores.
Bonifácio não poupou críticas também ao colega Amélio Cayres (reeleito) ao acusar que assessores deste tentaram tomar os votos dele em Tocantinópolis, principal base eleitoral do parlamentar do PR. Denunciou ainda o deputado eleito Olyntho Neto que, segundo ele, conseguiu “milionariamente” comprar alguns votos dele. “Consegui vencer porque sou mais duro que a rocha”, desabafou.
Polêmico por suas posições, Bonifácio disse que predominou nessa campanha eleitoral, na região do Bico do Papagaio, o “engodo, a mentira e o abuso de poder econômico”. “Meu partido errou ao nos jogar num chapão suicida na intenção de eleger um deputado federal que nem chegou perto”, observou o parlamentar. “Fui dado como derrotado, mas fiz uma eleição contra tudo e todos. Fui perseguido na minha região, onde compraram votos dos meus amigos”, acrescentou Bonifácio, que rompeu com o siqueirismo ainda durante a campanha eleitoral.
Acusados exigem provas
O deputado Amélio Cayres (SD) utilizou da seguinte retórica para responder às acusações de Bonifácio: “Eu parto do princípio de que ninguém toma ninguém de ninguém, apenas ocupa o espaço que estava desocupado e foi isso o que aconteceu”. Cayres exigiu do colega provas de que praticou crime eleitoral.
Na réplica, da tribuna, Bonifácio ameaçou denunciar Cayres formalmente no Ministério Público Eleitoral. “Posso provar que, pelo menos, três pessoas de sua assessoria compraram votos lá em Tocantinópolis. Não estou de brincadeira, o que aconteceu em Tocantinópolis foi bandidagem”, engrossou.
Em nota à imprensa, Eduardo Siqueira Campos (PTB) retrucou as acusações de Bonifácio argumentando que em todas as eleições, “tanto o deputado José Bonifácio quanto o companheiro querido Fabion Gomes fizeram questão da presença minha e de meu pai em seus palanques. Assim foi nas vitórias e também nas derrotas”, o que, no seu entendimento, é a demonstração de que ele (Bonifácio) reconhece “a nossa história política, as realizações, todas em prol do povo tocantinense”.
A exemplo do deputado Amélio Cayres, Eduardo Siqueira também desafiou Bonifácio a apresentar provas de que ele praticou compra de votos no Bico do Papagaio. “Para se fazer acusações o caminho correto é procurar o órgão responsável, sempre munido das devidas provas. Ao se utilizar da Tribuna, suas acusações tornam-se meras elucubrações que desmerecem o resultado das eleições e se configuram como um ato desrespeitoso aos 28.841 eleitores que me escolheram para representá-los”, disse Eduardo.