Pré-candidato ao governo muda de partido e tática, passando atuar como ponta de lança na articulação de aliança competitiva

Laurez Moreira, pré-candidato ao governo: “Venho me preparando para governar o Estado” | Foto: Ruy Bucar

O ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira desembarcou esta semana no PDT provocando um abalo na disputa pelo Palácio Araguaia. A decisão aproxima Laurez Moreira do governador em exercício Wanderlei Barbosa (sem partido) e aponta para a construção de uma aliança que pode contar ainda com a senadora Kátia Abreu (PP). Ao trocar o Avante pelo PDT, Laurez Moreira dá um passo importante para a formação de uma frente que pode polarizar a disputa pelo Palácio Araguaia.

Laurez nega veementemente que sua filiação ao PDT tenha envolvido negociação com o governador que também está sendo esperado no partido, mas admite que tem aproximado do Palácio Araguaia após a queda do governador Mauro Carlesse (União Brasil). “Hoje nós temos um bom relacionamento com o governador, não resta dúvida. O Wanderlei é um amigo pessoal, fizemos dobradinha eu para federal e ele para estadual, mas isso não inviabiliza minha candidatura ao governo do Estado”, garante.

O ex-prefeito avalia que Carlesse não tem nenhuma chance de voltar ao governo. A queda não o surpreendeu, pelo contrário, acha que ficou tempo demais no poder, tendo em vista as graves acusações que vinham sendo feitas. “Eu até lamento ter demorado tanto, porque quando eu vi o início do governo dele eu disse ‘isso aí não vai ficar uns seis meses, um ano no máximo’. Acho até que durou muito. Mas graças a Deus as providências foram tomadas e para diminuir o prejuízo para o Estado do Tocantins, foi afastado.”

Laurez Moreira iniciou a carreira política em 1982, ao se eleger vereador na sua cidade natal, a pequena Dueré, no vale do Araguaia. Foi três vezes deputado estadual e duas vezes deputado federal, além de prefeito reeleito de Gurupi. A boa gestão à frente do Executivo da terceira maior cidade do Estado projetou seu nome entre as lideranças emergentes do Estado.

Nessa entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o ex-prefeito fala do seu plano de governo, estruturação do PDT, choque de gestão e muito mais. Laurez ainda responde as críticas do pré-candidato ao governo do Estado Ronaldo Dimas (Podemos) à qualidade das obras de sua gestão. “Andou o Estado inteiro falando bem de mim, dizendo que eu era a pessoa que ele sonhava em fazer parceria e de repente ele vai lá na minha cidade querer falar mal de mim”, ironiza o ex-prefeito, comentando que Dimas merece a indiferença como resposta à sua grosseria. A entrevista foi concedida na terça-feira, 8, em seu escritório político em Palmas, logo após a filiação ao PDT.

O que o motivou a mudar de partido, nesta altura da corrida pelo Palácio Araguaia?

Eu, de muito longe venho me preparando para governar o Estado. Sou filho do Tocantins, conheço a sua realidade de norte a sul, de leste a oeste e sei das principais necessidades de nossa gente. Eu sou uma pessoa que acredita muito na boa política. Acredito que quando você faz uma boa gestão você pode mudar a realidade de um povo dentro de um curto espaço de tempo. Não tenho dúvidas que o Estado do Tocantins tem um potencial enorme em diversas áreas. Onde é possível fazer um belo trabalho.

“Uma boa gestão pode mudar a realidade de um povo dentro de curto espaço de tempo”

Porque a escolha pelo PDT de Ciro Gomes e Wanderlei Barbosa?

O que fez eu mudar de partido foi a necessidade de termos uma legenda com maior representatividade. O Avante é um partido bom, tem uma boa história, mas eu precisava de um partido com mais capilaridade, tivesse um envolvimento maior com o Estado, essa foi a razão principal da vinda minha para o PDT. É um partido que eu admiro por suas bandeiras, sempre teve a educação uma das metas prioritárias do seu programa. Nós tivemos as escolas de tempo integral no Brasil foi uma iniciativa do PDT no rio de Janeiro. É um modelo de educação que eu admiro e acho que deve se implantar em todos os municípios brasileiros. Nós temos convicção que temos que caminhar para isso no Estado do Tocantins. Escola de Tempo Integral é a saída. Então, o PDT é um partido que tem uma bela história e, quero continuar o meu trabalho evidente, dentro de um partido grande.

Em outras palavras, o sr. está abrindo mão de ser candidato a governador para compor a chapa majoritária com o governador Wanderlei Barbosa, como foram as negociações neste sentido?

O partido tinha na condução o Jairo Mariano que fez um excelente trabalho como presidente do partido, é uma pessoa que tem muita credibilidade e está no governo. No ato da filiação o presidente deixou bem claro para a militância que o partido vai apoiar o projeto que decidirmos. Então nós temos carta branca do partido para construir uma candidatura para o governo e nós vamos trabalhar para isso. Nós vamos percorrer o Estado de norte a sul, e vamos intensificar muito mais de agora para frente. Porque é importante o partido fazer isso. Hoje nós temos um bom relacionamento com o governador, não resta dúvida. O Wanderlei é um amigo pessoal, fizemos dobradinha eu para federal e ele para estadual, mas isso não inviabiliza minha candidatura ao governo do Estado. Ele tem o projeto dele, eu tenho o meu, vamos continuar tocando e cada qual faça o seu trabalho para viabilizar a sua candidatura.

O sr. está sendo recebido no PDT como o grande líder capaz de oxigenar o partido para disputa pelo governo. Como foi a negociação com a direção nacional e com o governador em exercício Wanderlei Barbosa?

Não tive conversa com o governador em relação ao partido. Tive conversa com Jairo Mariano, com quem tenho bom relacionamento, formos prefeitos juntos e mantemos diálogo. O Jairo me disse que estava sem condições de cuidar do partido porque estava muito ocupado. A secretaria da envergadura da Infraestrutura tomava muito o seu tempo. E me foi feito o convite. Também fui convidado pelo Ciro (Gomes), formos deputados juntos, militantes do mesmo partido e Luppi também que é um amigo, uma pessoa que a gente tem um bom relacionamento, eles me convidaram e evidente que isso pesou muito na decisão de ir para o PDT.

O que o sr. tem de planos para transformar o PDT num forte que dê suporte para uma candidatura vitoriosa ao governo do Estado?

Eu sou uma pessoa que faço política por vocação. Por gostar da política. Eu tenho um bom relacionamento no Estado inteiro, eu vou visitar as diversas lideranças desse Estado e convidar para vir para o partido. Eu quero construir um grande partido. Quero continuar a construção do PDT para que cada vez mais ele cresça e seja importante no desenvolvimento do Estado do Tocantins. Hoje é um dos grandes partidos do país, tem uma representatividade muito boa e nós temos que fazer com que aqui no Estado ele tenha também tenha esta força.

O sr. tem dito que vai continuar conversando com todos, mas ao se aproximar de Wanderlei necessariamente se distancia dos pré-candidatos Dimas e Gomes com quem vinha mantendo diálogo. Dimas fez críticas à sua gestão, diálogo interrompido?

Muito estranho. Muita gente pediu que eu desse uma resposta para o Ronaldo Dimas. Eu achei que foi um momento infeliz dele. Andou o Estado inteiro falando bem de mim, dizendo que eu era a pessoa que ele sonhava em fazer parceria e de repente ele vai lá na minha cidade querer falar mal de mim. Acho que não ficou bem para ele. Eu até nego a dar resposta que ele merece. Acho que quando a pessoa age assim é melhor a gente nem responder por que ele foi de uma falta de habilidade tão grande que ele já deu a resposta que merece. Eu até fico calado em relação a ele.

Eu venho conversando com todo mundo e é evidente que tenho me aproximado do governador Wanderlei. Antes quando o Carlesse estava no governo a possibilidade de aproximação com o Palácio (Araguaia) era zero. Carlesse era uma força que eu não conversava. Isso fez com que eu conversasse mais com outras lideranças da política do Estado. Com a entrada do Wanderlei no Palácio muita coisa mudou porque com o Wanderlei nós nunca tivemos problemas políticos. Pessoa que faz política igual eu. É um político vocacionado. Gosta da atividade política. Diferente do Carlesse que não fazia política no Palácio fazia negócios. Quer dizer, um cidadão desses não tem o que conversar de política. Eu gosto de fazer política, não negócio na política.

Que avaliação o sr. faz do governo Wanderlei Barbosa, pouco tempo já é possível saber para onde vai?

Olha, uma coisa é certa a gente não viu mais falar em negociata dentro do Palácio. Isto já é muito bom. O respeito ao servidor, reconhecendo seus direitos que há muito tempo eram ignorados. Uma mudança de comportamento. A gestão, eu que fui gestor público por oito anos, fora o período que fui secretário de estado, a gente sabe que depende de um planejamento. Os resultados mesmo que venham acontecer com algum tempo depois a gente observa que ele está no caminho certo. Está fazendo o que deve ser feito. É evidente que tenho um estilo um pouco diferente do dele (governador), mas não posso criticar quem está começando o governo.

Como o sr. avalia o afastamento do governador Carlesse, é mais um escândalo a afetar a desgastada imagem do Tocantins. O que aconteceu?

Para mim esse governo demorou muito a cair. No palácio todo mundo até o pessoal que cuidava da limpeza sabia quem que era o operador das negociatas dentro do Palácio. Todo mundo sabia que era o sobrinho do governador (Claudinei Quaresmin) que fazia os negócios no governo, negócios não republicanos, coisas de arrepiar. Eu até lamento ter demorado tanto porque quando eu vi o início do governo dele eu disse isso aí não vai ficar uns seis meses, um ano no máximo, acho até que durou muito. Mas graças a Deus as providências foram tomadas e para diminuir o prejuízo para o Estado do Tocantins, foi afastado.

É um afastamento sem volta?

Eu entendo que sim. O que ele fez neste Estado e pelas acusações que têm sido apresentadas, não vejo possibilidade nenhuma de retorno dele.

O sr. foi duas vezes prefeito de Gurupi e deixou o cargo muito bem avaliado, algo em torno de 90% somando, ótimo, bom e regular, por pouco não fez o sucessor. O sr. atribui o sucesso do seu governo ao choque de gestão. Essa receita pode ser aplicada ao Tocantins, o que é um choque de gestão?

É o zelo pelo dinheiro público. Você tem que planejar onde vai aplicar os recursos. Ter uma equipe muito competente, saber todos os lugares onde é possível viabilizar recursos para o município. Então quando você faz um planejamento e tira a corrupção de dentro do governo você tem um bom resultado. O Brasil é um dos países que cobra uma das mais altas cargas tributárias do mundo. Então não dá para o gestor dizer que não tem recursos para fazer uma boa gestão. Nós temos e muito. Eu percebi isso em Gurupi. Deixei praticamente cem por cento pavimentado. Resolvi a questão da previdência que tinha 21 anos de fundo previdenciário tinha apenas três milhões de reais e eu deixei com 114 milhões de reais. Tinha um plano de saúde numa situação terrível, deixei um plano de saúde mais barato para o servidor pagar e com atendimento porque quem prestava serviço, as pessoas tinham interesse em prestar serviço porque sabiam que no dia cinco o pagamento estava na conta. Então são várias áreas que nós atendemos, na área do meio ambiente, ciência e tecnologia, agricultura familiar, então o segredo de uma boa gestão é você se preocupar com todas as áreas, desde a agricultura familiar à ciência e tecnologia, passando pela infraestrutura, saúde; eu construí oito unidades básicas da saúde em Gurupi, reformei todas, construí o Centro de Reabilitação, Centro de Especialidade Odontológica, fizemos muitas obras em todas as áreas. Sempre tivemos essa preocupação da saúde com qualidade. Durante a minha gestão Gurupi registrou os menores índices de nas doenças como calazar, dengue, nas epidemias de modo geral. Fizemos um trabalho preventivo, de limpeza das ruas, limpeza nos quintais, conscientização das pessoas que contribuíram para Gurupi registrar os menores índices.

A cidade passou por uma revitalização dos espaços públicos e ganhou um novo paisagismo, um trabalho delicado que revela planejamento e zelo. Aspectos importantes de uma boa gestão?

Gurupi quando eu assumi não tinha nenhuma praça que o cidadão pudesse ir com a família. Construí diversas praças, com área de lazer, as famílias precisam disso. O pai de família humilde chega no final da tarde às vezes não tem dinheiro vai para uma praça que tem academia, biblioteca, espaço para apresentação de obra de arte, coreto para apresentações culturais, parque infantil para as crianças, então praça tem que ter isso. Tem que ser um lugar agradável. Um lugar do povo. A praça é um lugar do povo.

Em síntese, qual é a ideia central do seu plano de governo para retomada do desenvolvimento do Tocantins que vem sofrendo um processo de desaceleração?

O que o gestor precisa fazer é zela dos recursos públicos. Isso é primordial. A partir do momento que você vai investido, fazendo obras, se cria um ciclo virtuoso no Estado e nos municípios e isso vai proporcionando mais emprego, mais arrecadação para o Estado, mais desenvolvimento. Então o gestor precisar ter a consciência de que ele precisa investir, pois quando se investe melhora a construção civil, melhora o emprego no comércio de um modo geral, gera renda e desenvolve. O Tocantins é um estado que tem um potencial muito grande. Se você comparar com os cinco países menores da Europa vai ver com somos maior que os cinco países juntos. Se dividirmos o Tocantins em três partes, cada parte ainda seria maior que Portugal. Para você o tamanho deste Estado. Tem um potencial para produzir alimentos muito grande, soja, milho, alimentos de um modo geral, carne, peixe, então você tem enorme possibilidade de desenvolver na área de mineração, energia solar, são poucos lugares do mundo que tem a capacidade de produzir energia como o Tocantins. Então o gestor tem que ter a consciência de que ele tem que investir, pois quando ele investe melhora na construção civil, comercio de um modo geral.  Vou ter no governo o foco no desenvolvimento em várias áreas. O turismo, nós temos um potencial muito grande, e infelizmente nunca foi investido nada nessas áreas, você vai num ponto turístico do Estado, a não ser aquilo que a natureza nos deu de presente você não encontra outra coisa para tirar uma foto para levar de lembrança. O Estado tem que investir onde tem retorno. Você a natureza lhe proporcionou várias belezas você tem que aperfeiçoar aquele atrativo com investimentos em estrutura que facilitam a vida do turista. Você precisa fazer com que os lugares turísticos nossos tenham um atrativo maior. Não podemos continuar da maneira que estamos, sem investimentos nestas áreas, sem as melhorias das condições de nossos atrativos. Então eu sonho com um estado que realmente venha a desenvolver essas áreas de enorme potencial.